domingo, 1 de dezembro de 2013

WOODY ALLEN

 
"As pessoas sempre se enganam em duas coisas a meu respeito: pensam que sou um intelectual (porque uso óculos), e que sou um artista (porque os meus filmes dão sempre prejuízo)".

Esta frase não foi proferida por um artista. O seu autor é um Artista, um dos maiores do nosso tempo, um privilégio sermos seus contemporâneos: Woody Allen, nascido a 1 de Dezembro de 1935 em Nova Iorque (só podia ser).
Artista precoce, aos 15 anos já escrevia nos jornais e aparecia em programas de rádio. Aos 25 era argumentista, encenador e actor de teatro, incluindo stand-up comedy, carreira que nunca abandonou, mesmo com as exigências ditadas pela sua intensa actividade cinematográfica. Escreveu e escreve livros, e toca clarinete todas as  semanas (ou quase) num bar de Nova Iorque.
Nos seus filmes, para de além de realizador e argumentista (sempre original), é responsável pela banda sonora e, na maior deles, desempenha também um dos papéis.
Admirador incondicional de Ingmar Bergman, Groucho Marx, Federico Fellini, Cole Porter ou Anton  Tchekov, os seus filmes ora optimistas, ora pessimistas, mas sempre irónicos, traduzem uma forma peculiar de ver o mundo e as pessoas, que vai da sátira mordaz e certeira a uma certa classe média com neuras e frustações psicoanalisadas, potências e impotências sexuais, e ambições e tiques intelectualóides, a simples pobres diabos incompetentes, que nem conseguem roubar um banco ou conduzir Smarts nas estradas inglesas.
Um humor que bebe no melhor que tem o burlesco e o non-sense americanos, de criadores como Harold Lloyd, Buster Keaton, Chaplin (embora inglês, a sua obra é toda estadunidense), Irmãos Marx, Jerry Lewis.
Da melancolia, da sátira, do sonho, da ingenuidade, do cinismo, das desmontagens anárquicas, do romance e do amor, tudo Woody Allen, com toque de génio, transporta para as imagens que vemos, dando-nos das melhores e mais ricas sequências da longa história do cinema.
Mesmo que alguns filmes possam parecer menos conseguidos.
Conquistou 6 óscares (apenas!), 4 por "Annie Hall" (melhor filme, melhor realizador, melhor argumento original e melhor actriz principal-Diane Keaton).
(cenas de "Annie Hall")   
Viria a receber mais 2 estatuetas, também por melhor argumento original: 1987 com "Ana e as Suas Irmãs" e 2012 com "Meia Noite em Paris". Nunca esteve presente nas cerimónias de atribuição do Óscar, com excepção de 2002, para homenagear a sua Nova Iorque, na sequência dos atentados de 11 de Setembro.
Responsável pelo brilho dado a grandes actrizes, como Diane Keaton ("Annie Hall", "O Misterioso Assassínio em Manhattan", "Manhattan", entre outros), Mia Farrow (inesquecível "A Rosa Púrpura do Cairo"),  ou Scarlett Johanson ("Match Point" e "Scoop"), Woody destacou sempre, e de forma exemplar o papel e a importância da mulher como personagem central da trama e da vida, por muito que questionem a sua vida privada que, aqui, não tem qualquer cabimento.
Novaiorquino do coração, Woody Allen terá voltado as costas à sua cidade, que considerou não o ter tratado como merecia, para filmar em Londres ("Match Point" e "Scoop"), Barcelona ("Vicky Cristina Barcelona"- que valeu a Penélope Cruz o Oscar de melhor actriz secundária), Paris ("Meia Noite em Paris") e Roma ("Para Roma com Amor").
Mas em 2013, com "Blue Jasmine", que Quentin Tarantino considera um dos melhores filme deste ano, Woody Allen regressa aos Estados Unidos, filmando em São Francisco e Nova Iorque.
E, fale-se de actrizes ou de actores, há sempre, na esmagadora maioria dos seus filmes, uma actriz principal sempre presente: Nova Iorque, a cidade que ama, e com a qual nos deu uma das melhores aberturas de filmes de sempre, emocionada homenagem à Big Apple, acompanhada pela imortal música de George Gershwin: "Manhattan", de 1979.
A verdadeira rapsódia do incomparável Woody Allen.

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