quinta-feira, 30 de maio de 2013

PALHAÇADAS

Ontem, 29/05/2013, começou a ser julgado Duarte Lima, arguido em diversos processos de que podem resultar penas de prisão.
Arguido também é Oliveira e Costa, presidente do BPN, BPN também ligado aos processos de Duarte Lima, Oliveira e Costa homem de confiança de Cavaco Silva, Sr. Silva também ligado ao BPN e que, enquanto 1º. Ministro teve como líder parlamentar Duarte Lima.
Arguido também foi Isaltino de Morais, autarca modelo do PSD, ministro de Durão Barroso, Durão Barroso que foi ministro de Cavaco Silva.
E pairando como uma sombra, Dias Loureiro.
Se a nacionalização do BPN pode ser considerada uma péssima opção, os factos acima sucintamente relatados representam, não o julgamento de um regime mas, talvez mais profundo que isso, se a nossa justiça atentasse nos julgamentos a crimes idênticos nos Estados Unidos ou Inglaterra, o julgamento do pai do monstro, dos tentáculos do polvo, enfim, o julgamento do Cavaquismo. Sem palhaçadas!
  

COMPETÊNCIA

"Numa rua de Lisboa

Ardeu um prédio de oito andares na Avenida António Augusto Aguiar, em Lisboa, na madrugada de terça-feira. Oito andares, mesmo num prédio abandonado que ia ser recuperado, é muito andar e muito fogo: 51 bombeiros apoiados por 15 carros de socorro chegaram depressa e a apitar, toda a gente reconhece o silvo. O alerta foi dado às 3h38. Às 3h40, contam os jornais, já estavam em ação. Os dois prédios ao lado foram evacuados, chegou a proteção civil, algum tempo depois também uma nuvem de repórteres ensonados. Tiraram as primeiras imagens, entrevistaram quem andava por ali. O chefe dos bombeiros, 50 anos, talvez menos, logo que pôde fez o ponto da situação. Disse: está tudo controlado, embora ainda haja trabalho a fazer, o rescaldo tem de ser metódico, sem pressa. O bombeiro falava com clareza, livre de palavras retorcidas. Tinha um português límpido que dava gosto ouvir.
A reportagem da RTP, onde vi tudo, cortava a seguir para a senhora da proteção civil, que também já lá estava. Vestida com aqueles impermeáveis amarelo-fluoroscentes mostrava mais do que preparação: queria ser útil. Vinha bem equipada, com uma daquelas carrinhas tipo canivete suíço. Ventanias, convulsões, incêndios, tremores, gatos nas árvores, o que for - era reconfortante tê-la por ali. Além disso também se explicava sem enfeites. Que madrugada: todos ali falavam uma língua francamente sem pretensões.
A reportagem cortava a seguir para uma moradora de um dos prédios evacuados. Eram três e pouco da manhã quando ouviu barulhos esquisitos, insistentes. Não dava para dormir. Pensou: um assalto, um ladrão. Foi à janela e viu que era melhor sair dali. Não há fumo sem fogo, não é? Os vizinhos pensaram o mesmo e desceram todos pelas escadas, parece que ninguém se empurrou. Os bombeiros informaram: atenção, ia demorar algum tempo para ficar bem feito. Efetivamente, o rescaldo acabou às onze da manhã. Entretanto, a proteção civil deu cobertores, água, abrigou aquela gente despejada para a rua numa madrugada de maio, maio que parecia fevereiro, não fossem os jacarandás em flor noutras ruas acima. Correu tudo tão bem que parecia um treino, apesar do medo. O fogo é das coisas mais assustadoras que há. Os moradores ajudaram-se, bombeiros agiram. Bom mesmo.
Um prédio arde na António Augusto Aguiar, daqueles antigos, com a estrutura em madeira, alvenaria em pedra. Os arquitetos chamam-lhe gaiola pombalina, foi construída para resistir aos abalos de terra. Aquele prédio lambido em chamas no coração de Lisboa, dizia eu, podia acabar num pavor, mais um, outro. Podia - mas não acabou. Os bombeiros trabalharam sem heroísmos. A reportagem contou a história sem devaneios sociólogos, sem política, sem crise, sem nos cravejar de opiniões e diagnósticos. Já ninguém os aguenta, aos diagnósticos. O que fazer quando tudo arde? Isto. Talvez alguma coisa ainda possa dar certo por aqui."

Lapidar, esta excelente crónica de ANDRÉ DE MACEDO no "Diário de Notícias" de hoje.
Os Coelhos, Silvas e Gaspares deste país deviam lê-lo e emoldurá-lo.
Afinal, é tão simples ser competente...
Só que deve ser um adjectivo que desconhecem em absoluto!

quarta-feira, 29 de maio de 2013

RUGBY

No próximo dia 1/06 começa a digressão dos British & Irish Lions (selecção dos melhores jogadores de rugby de Inglaterra, Escócia, Irlanda e País de Gales) à Austrália, com um aperitivo em Hong-Kong.
Comemoram-se 125 anos da primeira digressão dessa equipa ao hemisfério sul.
Recorda-se que tais digressões, quadrienais, abrangem, de cada vez, a Austrália, África do Sul e Nova Zelândia, defrontando, em diversos jogos durante um mês, as respectivas equipas nacionais ou selecções regionais.
Para estes jogadores, ser British & Irish Lion chega a ser mais importante do que representar a sua selecção.
É a mística única do rugby!
E junta-se um aperitivo:
   

segunda-feira, 27 de maio de 2013

MARQUÊS DE POMBAL

 
 
 
 
ALUGA-SE.
PARA FESTAS, COMEMORAÇÕES, ANIVERSÁRIOS, CASAMENTOS.
ORÇAMENTOS GRÁTIS. VOU A CASA.

Contacto: Jorge Jesus, Estádio da Luz, 2ª. Circular, Lisboa
Tel: 121212

WAGNER

No passado dia22 de Maio, celebraram-se 200 anos do nascimento de um dos maiores vultos da cultura mundial: Richard Wagner.
Maestro, compositor, director de teatro, ensaísta, revolucionário, Wagner teve uma vida cheia e deixou um legado musical portentoso. Com certo exagero, Gustav Mahler dizia que o esplendor da música se devia dois génios: Beethoven e agner.
Não obstante ter diversos amigos judeus, Wagner também foi acusado de anti-semitismo, o que se deve, talvez, ao seu opúsculo "Der Judentum in der Musik", no qual atacava a influência judia na música, e defendia que os judeus deviam abdicar da sua cultura e modo de vida, e integrarem-se completamente nas tradiçôes e vivências germânicas. Aliado ao facto de as suas grandes obras beberem das tradições e sagas nórdicas, tal bastou para lhe colocarem o epíteto de compositor "oficial" do nazismo.
Nada de mais falso. Ao contrário de outros que, no auge do poder de Hitler, se lhe tornaram fiéis vassalos (como Richard Strauss), Wagner sempre lutou contra as tiranias, desde a revolta de 1848 (aliado aos anarquitas de Bakunin), o que lhe valeu um exílio de 11 anos, até à sua simpatia pela causa da independência italiana e à amizade com Garibaldi.
Wagner nunca seria, se fosse vivo na altura, um seguidor de Hitler e da sua ideologia.
Desde o início da sua carreira de compositor, nomeadamente na área da ópera, sempre defendeu que esta deveria ser um espectáculo total, desde a música, ao libreto, à cenografia, à encenação, à direcção de orquestra. Um drama musical completo, em que até o maestro, mais que um sincronizador de instrumentos, seria um actor interveniente na obra.
Da audição da sua vasta obra, ressaltam as texturas complexas, harmonias ricas, orquestração pujante, elaborado uso dos leitmotiv, temas musicais associados com o carácter individual, com lugares, ideias ou outros elementos, misturando a lenda germânica, os temas do cristianismo, o esoterismo.
Escreveu sempre as músicas e os libretos, dentro do princípio do drama musical total e completo.
A sua genialidade perpassa logo nas suas primeiras óperas, designadamente "O Holandês Voador" (1840/1841), "Lohengrin" (1845/48), e "Tannhäuser" (1842/45)
Entre 1849 e 1852 publica diversos ensaios explicativos dos seus conceitos, já atrás resumidos, e a justificação da teoria da síntese de todas as artes poéticas, visuais, musicais e dramáticas numa obra.
Conceitos que seriam amplamente visíveis na tetralogia conhecido por O Anel do Nibelungo - um prólogo, "O ouro do Reno", e três óperas, "A Valquíria", "Siegfried" e "O Crepúsculo dos Deuses".
Veja-se, se possível, a magnífica encenação de Patrice Chéreau, e a condução de orquestra por Pierre Boulez (Bayreuth, 1980).
A estreia desta portentosa obra aconteceu durante o Festival de Bayreuth (inaugurado a 13/08/1876), cidade que viu nascer uma teatro essencialmente vocaciondo para a exibição das obras de Wagner, que tal, e muito mais, deve ao seu patrono e amigo, o idealista imperador Luís II da Baviera que, além de tal patrocínio, apoiou a construção de castelos que dariam a conhecer o dito "romantismo alemão" como Neuschwanstein, considerado um monumento dedicado a Wagner, já que o nome é uma alusão ao Cavaleiro do Cisne, ou seja, Lohengrin.
Wagner, em pleno século XIX, avança de tal modo a linguagem musical (cromatismo, rápida mudança dos centros tonais, encenação, etc.) que projecta a música do século XX, e mais adiante.
A sua influência estende-se de compositores como Anton Brückner, Claude Debussy ou Arnold Schonberg, a maestros como Herbert von Karajan, a autores de bandas sonoras para filmes como John Williams ("Star Wars") ou a grupos de heavy metal (os Manowar dedicaram a Wagner os seu tema "The March".
E, até, a cineastas de eleição, como Francis Ford Coppola ("Apocalypse Now").
 
   
     

sábado, 25 de maio de 2013

PALHAÇOS

 

PALHAÇO: "Actor cómico ou profissional que tem intenção de divertir o público, em especial no circo; pessoa que diz ou faz disparates ou coisas engraçadas, ou que não é habitualmente levada a sério".
(Dicionário Priberam Da Língua Portuguesa)

Sobre a palavra Palhaço já se escreveram muitas palhaçadas, que pouco terão a ver como aquilo que a mesma significa.
A nobreza do Palhaço é inquestionável, se nos lembrarmos de alguns que cruzaram a nossa vida:
Harold Lloyd, o palhaço de óculos, elegante e temerário; Buster Keaton, de cara de pau, imaginando sempre gags inovadores; Laurel e Hardy, a pieguice do estica e a truculência do Bucha; Max Linder, o palhaço de fraque e chapéu alto; Charles Chaplin, talvez o maior, palhaço poeta, humano e vagabundo, abrindo-nos o mundo e o coração; os Irmãos Marx, anarquistas intemporais, onde o riso não deixa pedra sobre pedra; António Silva e Vasco Santana, dupla impagável, que tiveram o azar de não nascer em Hollywood; Jerry Lewis versátil, inteligente,  demolidor, que fez do palhaço o mau de uma das suas fitas ("Jerry e os Seis Tios"); Raul Solnado, mestre do humor, em teatro, cinema e televisão; Alberto Sordi, e a comédia italiana de costumes; e o seu conterrâneo Roberto Benigni, com muita sensibilidade; Peter Sellers, verrinoso, sarcástico, homem das mil caras; os Monty Python, burlescos, anárquicos, demolindo mitos; Jerry Seinfeld, o mestre das sit-com; Herman José, que reinventou a comédia na televisão; Rowan Atkinson, a fleuma, a ironia, o silêncio; Gato Fedorento, o non-sense, o disparate lúcido; Jim Carrey, émulo de Jerry Lewis, talvez ainda à espera de um momento único de grandeza; Bruno Nogueira, inteligente, contido e espontâneo.
E tantos outros de que o escriba se penitencia por involuntária omissão.
Uns e outros que nos fizeram rir e chorar. E pensar.  

E QUEREM COMPARAR O SR. SILVA A ESTES GÉNIOS???
Só pode ser anedota de palhaço....

sexta-feira, 24 de maio de 2013

GEORGE MOUSTAKI

Ontem, aos 79 anos, faleceu um cantor universal, de seu nome Georges Moustaki.
Filho de pais gregos, nascido em Alexandria (Egipto), radicado em Paris.
Compositor e poeta, com mais de 300 obras, escreveu para artistas como Edith Piaf ("Mylorde"), Serge Reggiani, Juliette Gréco, Yves Montand.
Escreveu uma canção mítica, "Le métèque" (do grego metoikos - pessoa que terá vindo de longe, fora da cidade e vindo a residir nela), na qual autobiograficamente se poderia rever, popularizada no inesquecível Maio de 1968, do qual disse que, nos nossos dias, "...resta uma certa arte de viver, um certo código ético que, mesmo que não seja unânime, impregnou-se na nossa cultura".

Moustaki esteve em Portugal logo a seguir ao 25 de Abril, solidarizando-se com a revolução dos cravos, e adaptando a magnífica canção de Chico Buarque "Fado Tropical", rebaptizado "Portugal".
Convém aqui destacar que Moustaki trabalhou com dois dos maiores nomes da música de Portugal e Brasil: José Afonso e António Carlos Jobim.
Por tudo o que fez e nos deu, nesta data, e agora, um cravo vermelho para Georges Moustaki

BOB DYLAN




A 24 de Maio de 1941 nascia em Duluth, no Minnesota, Robert Allen Zimmerman, que o mundo viria a conhecer sob o nome de Bob Dylan.
Aos 10 anos começou a escrever os seus primeiros poemas, e formou, na escola secundária, diversas bandas, ainda sob a influência rock de Little Richard e Buddy Holly.
Na universidade de Minneapolis tocou na cafetaria do campus, voltando-se agora para a folk americana, inspirando-se no estilo musical e poemas de Woody Guthrie, o cantor da Grande Depressão, e das Guerras de Espanha e II Mundial, que na guitarra pintou a frase "This machine kills fascists" e do qual muitas músicas estão preservadas para a posteridade na Biblioteca do Congresso como, por exemplo "This Land is Your Land".
 
Também em Minneapolis integrou o chamado Círculo de Dinkytown, onde se reuniam músicos folk da cidade, para pequenos concertos.
Nessa altura, e por influência do poeta galês Dylan Thomas (1914/53), mudou o nome para Bob Dylan, tendo mesmo fixado o nome, legalmente, em Robert Dylan (1962).
Em 1961, sem acabar os estudos universitários, muda-se para Nova Iorque, tendo visitado, por mais de uma vez, Woody Guthrie no hospital, já muito enfraquecido por uma doença degenerativa (viria a falecer em 1967). Dele dirá Dylan : "Podem escutar as suas canções e aprender a viver".
Em Fevereiro de 1961 começa a tocar em clubes da mítica Greenwich Village, o bairro novaiorquino dos artistas e da cultura, especialmente da beat generation (Andy Warhol, Allen Ginsberg), tendo as suas actuações chamado a atenção do New York Times, culminando num contrato com a editora Columbia Records assinado em Outubro.
Em 1962 lança o primeiro dos seus 34 álbuns de estúdio: "Bob Dylan", com influências folk, gospel e blues.
Poder ser considerado um  fracasso, uma vez que só vendeu 5.000 cópias. No entanto, a Columbia manteve o contrato, até pela defesa acérrima que lhe fez um então consagrado de nome Johnny Cash.
Entre Dezembro de 1962 e Janeiro de 1963 desloca-se ao Reino Unido onde, na BBC, toca em público, pela primeira vez, "Blowin´ in the wind".
Em Maio de 1963, todo o seu enorme talento musical e poético revela-se.
Publica "The Freewheelin' Bob Dylan", fortemente marcado por Woody Guthrie e por outro grande nome da música folk, Pete Seeger (nascido em 1919 e, felizmente, ainda vivo).
O disco é um repositório de canções de vínculo político em forma de música folk, com temas sobre a guerra fria, a guerra do Vietnam, o racismo (a canção "Oxford Town" é dedicada a James Meredith que, em 1962, se tornou o 1º. estudante negro da Universidade de Mississipi), e, também, canções de amor com lírica irónica.
Desta obra ressaltam dois temas icónicos e sempre actuais: "Blowin' in the Wind" e "A Hard Rain a-Gonna Fall".
         
 
Datam desse ano a amizade e o namoro com outro grande nome da música folk, e grande divulgadora da sua música: Joan Baez.
A partir daqui, Dylan começa a tornar-se referência para outros músicos, mesmo de estilos diferentes, como The Beatles (especialmente Lennon e Harrison), The Byrds, Sonny and Cher, Peter Paul and Mary, The Hollies, Manfred Mann, The Turtles, muitos dos quais gravam originais seus.
A partir de 1964, o seu estilo muda, passando a ilustrar desinteresses amorosos, vagabundos errantes, liberdade pessoal, viagens oníricas e surrealistas, aproximando-se da poesia beat e do rock clássico que, aliás, já tocara na juventude.
É dessa época o album "Highway 61 Revisited" que inclui a canção "Like a Rolling Stone", que a revista Rolling Stone considera, com tudo o que estas classificações contêm de subjectivo, a melhor canção de sempre.

 
Em 1966 sofre um grave acidente de moto, do qual só viria a recuperar no ano seguinte, reiniciando as gravações em 1968 ("John Wesling Hardin").
Em 1969 participa no festival da Ilha de Wight e lança o magnífico "Nashville Skyline".
Em 1971, a convite de George Harrison, colabora no Concerto para o Bangladesh.
Entre 1975 e 1976 realiza uma das suas mais aclamadas tournées e, neste último ano publica "Desire", do qual ressalta a canção "Hurricane", dedicada ao boxeur Rubin "Hurricane" Carter, injustamente preso devido a um complot racista, episódio que viria, também, a inspirar o filme do mesmo nome, de Norman Jewison (1999), com, entre outros, Denzel Washington e Rod Steiger.
Em 1977, o divórcio da esposa, Sara Lownds, mergulha-o numa crise pessoal e depressiva, voltando-se para o gospel e abraçando o cristianismo. As suas novas canções abordam temáticas cristãs, e o divórcio com o público começa e acentua-se.
Refira-se apenas que a interpretação de temas clássicos de Dylan por grupos gospel ( ex: "The Gospel Songs of Bob Dylan"), fez penetrar a sua música noutras culturas e hábitos, elevando-a a novos patamares, como salientou The Herald Tribune.
Em 1983, finalmente, regressa às origens, com o album "Infidels", a que se seguiriam outros 13, designadamente "Good as I been to you" (1992), o 2º. album inteiramente acústico desde 1964, "Time Out of Mind", de 1997, vencedor de 3 Grammy's e "Modern Times" (2006), com mais 2 Grammy's.
Em 2005 Martin Scorcese realiza o filme-documentário "No Direction Home", sobre os primeiros anos de êxitos de Dylan (1961/66).
Dylan também se dedica à pintura, tendo exposto em 2007/8 em Chemnitz (Alemanha).
Além dos albuns de estúdio já mencionados, Bob Dylan gravou ainda 3 albuns de vídeo, 13 ao vivo, 14 compilações, 58 singles e 6 em colaboração.
Ganhou 10 Grammy's, 1 Globo de Ouro e 1 Oscar, estes dois para a melhor música original : "Things Have Changed", do filme "Wonder Boys", de Curtis Hanson, 2000.
Foi agraciado, entre outras distinções, em 1990 com a Comenda das Artes e Letras (França), Prémio Príncipe das Astúrias (Espanha-2007), Prémio Pulitzer das Artes (EUA-2008), Medalha Nacional das Artes (EUA-2009) e a Medalha Presidencial da Liberdade (2012).
A enorme influência de Bob Dylan manifesta-se em artistas de várias gerações e estilos: John Lennon, Paul Mc Cartney, George Harrison, Neil Young, David Bowie, Patti Smith, Nick Cave, Syd Barrett, Joni Mitchell, Cat Stevens, Bruce Springsteen, Tom Waits, Eddie Vedder ou Jon Bon Jovi.
Como toda a arte superlativa, as músicas e poemas de Dylan, trovador das grandezas e misérias da América, são intemporais, e batem às portas do céu!

(a seguir, "Knockin´on Heavens Door", de 1973, pelos Guns n' Roses, e "Seven Days", de 1976, pelos Bon Jovi)
  
  
 

ZIP ZIP


Nos nossos dias, felizmente, a oferta televisiva é diversificada, os meios de comunicarmos on-line é quase incontável, mas há uma ou duas gerações atrás, o panorama era muito mais fechado, cinzento, triste, estávamos na fase pós-Salazar, quando Caetano assume o poder. E é necessário contar a história, para que esta não se repita. Porque, ao contrário do que hoje provavelmente sucederia, um programa da RTP quase parou um país e pô-lo a pensar.
No dia 24 de Maio de 1969, a televisão em Portugal mudou. Radicalmente
Aproveitando a ambígua "primavera" política proporcionada por Marcelo Caetano que, no Outono anterior, num país pobre, triste, frio, cinzento, amordaçado, massacrado pela guerra, substituíra um incapacitado Salazar, dois nomes incontornáveis da história, evolução e popularidade da rádio e da televisão portuguesas (Carlos Cruz e Fialho Gouveia), acompanhados de outro nome também obrigatoriamente incontornável na televisão, teatro e cinema (Raul Solnado) propõem à RTP um talk-show original neste país, com entrevistas, música, reportagens em directo, e periodicidade diária.
O então presidente da RTP (Ramiro Valadão), propõe a periodicidade semanal, por razões técnicas e logísticas, o que é aceite..
Para a realização deste formato inédito, é escolhido o experiente, competente e arrojado Luís Andrade, e o local das gravações seria o Teatro Villaret, com público ao vivo, interveniente e actuante, como se veria.
O genérico do programa foi da autoria do então popular conjunto Quarteto 1111 (na altura com José Cid) e o logotipo e "boneco" das mãos de Manuel Pires.
Para entrevistas aos cantautores e músicos que actuariam, foi escolhido o estudante de Letras, e apresentador de rádio, José Nuno Martins.
As gravações eram feitas ao sábado, e o programa emitida segunda-feira à noite.
Tal programa teve o nome de Zip Zip, sugerido por Raul Solnado.


A fasquia foi, desde o início, colocada muito alto.
O primeiro entrevistado era um ícone da cultura portuguesa, que pela primeira vez aparecia na televisão, e que desde logo prendeu a atenção dos espectadores: José de Almada Negreiros, poeta do Orfeu, futurista e tudo!
Nessa noite, o cinzentismo e vulgaridade da nossa TV deu lugar a cores mais vivas e inovadoras. E desafiadoras da pacatez diária.
Era possível, afinal, juntar humor, música, poesia, pintura, cinema, teatro, conversas sobre tudo e todos, enfim cultura viva, com uma grande dose de inteligência e coragem.
Não esquecer que, na época, o guião de cada semana tinha de ser visado pela censura, até negociado com esta, e na plateia havia sempre lugar para um agente da PIDE.
Depois dessa primeira sessão, o país parava às segundas-feiras para ver o ZIP.
Pela primeira vez, entravam pelas casas dos portugueses vultos da cultura até aí quase marginalizados pelo poder instaldo e, daí, pouco familiares: Almada Negreiros, David Mourão Ferreira, Alexandre O'Neill, António Victorino de Almeida, Agostinho da Silva.
Natália Correia e José Afonso foram proibidos de participar, por imposição da PIDE.
Mas também foi possível ver vendedores de castanhas, varinas, polícias sinaleiros, poetas populares (Carlos "Dos Jornais" ao vivo, António Aleixo em evocação), cauteleiros, pessoas do dia a dia com as quais nos cruzávamos todos os dias, sem darmos por isso. Algo nunca visto até então, mesclando cultura erudita com popular, enfim, e só, cultura, sempre nova, sempre fascinante.
E intérpretes de música de intervenção até então quase desconhecidos e marginalizados pelo poder censório: Adriano Correia de Oliveira, Manuel Freire, Francisco Fanhais, José Barata Moura, José Jorge Letria, Pedro Barroso, Carlos Paredes.
Como curiosidade, diga-se que Carlos do Carmo, num dos programas, interpretou a canção "Menino de Oiro", da autoria de José Afonso. A referência ao autor foi cortada pela censura, mas deu para perceber aos espectadores mais atentos. Coisas do tal cinzentismo....
E, sempre, as rábulas de Solnado, com textos do próprio, do Fialho, do Carlos, e também do jornalista Carlos Pinhão, com activa intervenção do público. 
Pena que o arquivo da RTP não disponha de quase nenhum registo dessas sessões históricas.   
Durante 7 meses, o Zip foi um êxito. Literalmente o país parava. Cinemas e teatros encerravam nesse dia, ou alteravam horários. As ruas ficavam desertas.
Quem dizia que os portugueses não gostavam de programas inteligentes e cultos?
No entanto, as pressões da censura, cada vez mais intensas, que chegaram a desvirtuar alguns programas, e o fim da "primavera" marcelista após as eleições legislativas de 12/10/1969 fecharam as portas ao Zip.
A última emissão  foi a 29/12/1969, com um Raul Solnado lavado em lágrimas.
Como escreveria o crítico de televisão Mário Castrim: " E agora TV? Que monstruoso buraco vai ser o de segunda-feira?".
Mas a semente lançada germinou. O país já não seria o mesmo. Vieram programas análogos, parecidos, primos direitos, mas, naquelas dias, o Zip marcou uma época, uma geração e uma maneira de fazer e transmitir televisão.
Para quem queira rever, ou conhecer, esses dias, recomenda-se a leitura do livro de Helena Matos "Os filhos do ZIP-ZIP" (editora A Esfera dos Livros, 2013).


Este simples programa da RTP, conjugado com a pífia abertura política, com o debate que, ainda assim, as eleições desse ano permitiram, dentro dos espartilhos da PIDE e da censura, com os ecos dos protestos contra a guerra do Vietnam e da luta pelos direitos cívicos, as ondas de choque de Maio de 1968, com a revolta estudantil de Coimbra, que alastrou a Lisboa, o agravar da situação militar, o cada vez maior isolamento político, foi um dos factos sociais e políticos mais visíveis e estimulantes desse inesquecível 1969, e que fez despertar consciências.
E que nos deixou uma canção, um hino, conjugação perfeita entre letra e música, momento alto da nossa cultura actuante, imortal: "Pedra Filosofal", poema de António Gedeão (Rómulo de Carvalho) e música de Manuel Freire.



(e nos nossos dias, 44 anos depois, "eles" continuam a não saber e a não sonhar)


terça-feira, 21 de maio de 2013

THE DOORS ( E CHOURIÇOS)

Faleceu ontem, aos 74 anos, vítima de cancro, Ray Manzarek, teclista e fundador de um dos mais icónicos grupos de rock de todos os tempos: The Doors.
O grupo foi inicialmente formado, em 1965, por Ray, Robby Krieger e John Densmore e o genial e polémico Jim Morrison.
Como um furacão, de 1965 a 1971 (ano da morte de Jim Morrison), The Doors atravessaram o panorama musical, do rock psicadélico ao acid rock, do simples rock and roll ao hard rock.
Alimentada, também, pelas polémicas e escândalos protagonizados por Jim Morrison (live fast, die young), a carreira do grupo foi fulgurante e intensa. E brilhante. Voltaremos a eles.

( E The Doors enchem-nos mais do que a fábrica de encher chouriços situada para os lados de Belém, ontem em actividade (?)). 

segunda-feira, 20 de maio de 2013

DESPORTO

RUGBY

Na intervenção de 29/04/2013 ("Rugby Ainda"), referiu-se o inglês John Wilkinson como um dos maiores jogadores de rugby de todos os tempos.
No passado dia 18 confirmou-o em Dublin, na final da Heineken Cup (a Liga dos Campeões do Rugby europeu), na vitória do Toulon por 16-15 face ao Clermont Auvergne.
Wilkinson marcou 11 dos 16 pontos.
Quem gosta de rugby deve estar orgulhoso de ser contemporâneo deste génio.
(nas imagens seguintes, o Toulon equipa de vermelho e o Clermont de branco).


DAVID BECKHAM

No passado dia 16, David Beckham, talvez o jogador de futebol mais "comercializado" em todo o mundo, anunciou, aos 38 anos, a sua retirada dos campos de futebol.
Beckham foi campeão nacional por 4 clubes em 4 países diferentes: Manchester United (Inglaterra), Real Madrid (Espanha), L.A. Galaxy (estados Unidos) e Paris Saint-Germain (França).
Foi 115 vezes internacional pela Inglaterra.
Deixou-nos algumas jogadas e golos mágicos e, sempre, um exemplo de grande profissionalismo.
Mas terá passado ao lado de uma grande e excepcional carreira



JESUALDO

A nova Direcção do Sporting Clube de Portugal começa agora, e em termos de futebol, a sua caminhada, com a preparação da nova época.
Terá sido inteligente deixar partir Jesualdo Ferreira?
Ou já começaram os tiros no pé?

domingo, 19 de maio de 2013

CATARINA

Neste dia, em 1954, durante uma greve e manifestação de assalariados rurais, por melhores condições de trabalho e de remuneração, era assassinada, em Baleizão, Alentejo, Catarina Eufémia.
Para recordar, e alertar para que ninguém seja morto por defender direitos humanos básicos.
E, infelizmente, há muitas formas de matar...

sábado, 18 de maio de 2013

COADOPÇÃO

"Depois da interrupção voluntária da gravidez, do casamento homossexual e de outras leis "progressistas", aí temos a coadoção por casais com o mesmo sexo. Se se aprovar a despenalização das chamadas "drogas leves", na rede de quiosques que o Bloco gostaria que fosse criada, ficaremos mesmo um país fantástico. Falido mas muito moderno. Quem não pensar assim é, obviamente, retrógrado, provavelmente um fascista..."
(João Marcelino, director do "Diário de Notícias", hoje).

Surpreendente a frase acima transcrita, especialmente por se tratar de quem a subscreve.
País falido, é certo, mas os problemas a resolver não são apenas do foro da economia e das finanças. São, também, e muito, civilizacionais, políticos no nobre sentido que a palavra deve sempre ter.
Por muito que custe a João Marcelino, ou a outros Marcelinos, o país já não é só a preto e branco, sim ou não, quem não está por nós está contra nós.
A maioridade de uma democracia mede-se, também, pelo avanço (ou recuo) dos seus paradigmas civilizacionais, da sua tolerância com o que se classifica de "diferente", pela afirmação ao igual tratamento dos direitos das minorias, a tal equidade de que agora tantos falam.
"Senhor, não estou de acordo com o que dizeis, mas bater-me-ei até à morte para que o possais dizer".
Esta lapidar frase de Voltaire, que deveria ser afixada em todos os parlamentos do mundo, resume todo um conceito de democracia, liberdade e igualdade, aplica-se ao caso de que aqui se fala.
A coadopção foi ontem aprovada na Assembleia da República por 99 votos a favor contra 94 e 9 abstenções.
Não terá a grandiosidade ou as parangonas mediáticas de um Orçamento ou de uma Lei de Defesa Nacional, mas é um avanço para uma cidadania mais plena.
Tal como a lei que regulamenta a interrupção voluntária da gravidez (e não liberalização do aborto).
Ou a lei que permite o casamento entre pessoas do mesmo sexo (e não desregração dos costumes).
E quanto aos quiosques, quem conhece, por exemplo, Amesterdão, não a considera uma Sodoma ou uma Gomorra.
Acima de tudo, há que dar lugar, e cidadania, ao "diferente", ao que não é obrigado a pensar ou a viver como nós pensamos ou vivemos, ao que quer pintar a vida com outras cores diferentes das nossas.
E que é tão cidadão, com os mesmos direitos e deveres, como cada um de nós.
Claro que João Marcelino, ou quem pense como ele, não é fascista.
Mas convém sempre recordar que, para castigar os diferentes, se instituíram Inquisições, pregaram-se e pregam-se Guerras Santas, toleram-se Ku-Klux-Klans, decretaram-se pogrons, legislaram-se censuras ou exames prévios, e construíram-se campos de concentração e fornos crematórios.
Que não mais voltarão, se o diferente formos eu, tu e todos e cada um de nós.
Plenamente.   





sexta-feira, 17 de maio de 2013

CASABLANCA

Neste dia, em 1945 (depois da vitória dos aliados, claro...) estreava-se no Politeama, em Lisboa, o clássico dos clássicos: "Casablanca", filme de Michael Curtiz, de 1942.
Para ver de mãos dadas. Pode ser o princípio de uma bela amizade...as time goes by...

(vd., neste blog, entrada de 14/02/2013 "Namorados, ou o princípio de uma bela amizade")



quarta-feira, 15 de maio de 2013

ANGELINA JOLIE

A notícia circulou o mundo, com muito de (péssimo) sensacionalismo:
"Angelina Jolie fez dupla mastectomia preventiva".
Diga-se desde já: Angelina Jolie demonstrou uma imensa coragem, coerência e deu uma ajuda poderosa à luta contra esse flagelo que é o cancro da mama.
Doença terrível, castradora, que violenta a mulher não só do ponto de vista físico como, também, psicológico.
É um trauma duplamente traumático.
Como bem nos demonstrou Desmond Morris ("O Macaco Nu", 1967), a mama, na mulher, é um órgão erógeno, acima de tudo, muito mais do que um mecanismo de amamentação. Se a função da mama se reduzisse a tal, muito mais eficientes, anatomicamente, são as tetas das macacas ou das vacas. É uma questão ergonómica.
A mama do ser humano feminino é, acima de tudo, um órgão erótico, no nobre e amplo sentido do adjectivo.
Daí, o duplo trauma do cancro da mama, que, nos casos em que é curável, passa, quase sempre, pela mastectomia e pela cirurgia de de reconstrução.
Assim, sendo Angelina Jolie, reconhecidamente, um ícone feminino e sexual, a sua opção assume um valor e simbolismo com um alcande superlativo. E isto para não falarmos aqui, e também, do seu grande trabalho a favor das Nações Unidas, designadamente trabalhando junto do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados.
A não perder o artigo que publicou ontem no "New York Times", com o título "My Medical Choice", em que partilha com os leitores a sua escolha, de que se destacam:
“Eles podem ver as pequenas cicatrizes e é só. Tudo o resto é só a mamã, tal e qual como ela sempre foi. E sabem que os amo e que tudo farei para estar com eles o máximo de tempo possível.” (referindo-se aos filhos, alguns dos quais nunca conhecerem a avó, morta aos 56 anos com cancro da mama).
“Não me sinto menos mulher”
Não, Angelina Jolie não  é menos mulher. É uma grande mulher e um grande exemplo.
Angelina é, definitivamente, Jolie!


  

DEUS, PÁTRIA, FAMÍLIA

E diz Aníbal, lá dos fundos da choupana de Belém, em êxtase, olhos virados ao céu, transe completo:
"Penso que (o fim de) a sétima avaliação foi uma inspiração de Nossa Senhora de Fátima".
A Pátria está protegida, Aníbal é o ungido do Senhor, Maria a sua apóstola.
E Gaspar o chefe dos pastorinhos!
E Ângela Merkel é a guardiã dos Três Segredos: Austeridade, Recessão, Desemprego.
E sempre que Aníbal abraçar, abençoar e promulgar mais um pacote de leis brutais e empobrecedoras, poderá sempre voltar-se para os filisteus e zelotas infiéis, ignaros e mal agradecidos, e exclamar, com um sorriso feliz e beato:
"São rosas, meus senhores...."-
  

terça-feira, 14 de maio de 2013

ODISSEIA NO ESPAÇO

Brilhante e genial a despedida de Chris Hadfield.
Para quem não saiba, esclarece-se, desde já, que Chris é um astronauta canadiano que, a 19/12/2012 assumiu o comando da Estação Espacial Internacional, que orbita a Terra a 400 Km de altitude.
No dia 12 deste mês, o comando foi transmitido a um astronauta russo, regressando Chris à Terra.
Como despedida, gravou uma versão de "Space Oddity", obra-prima de David Bowie (1969), o que, sendo original,  só revela um extremo bom gosto e um momento de inspiração espacial.

(NOTA: Este gesto simbólico é muito mais significativo que a reunião do tupperware do casal Silva, agendada para 20/05, na choupana de Belém, sob a designação de Conselho de Estado)

segunda-feira, 13 de maio de 2013

HIPOCRISIA

Hipocrisia significa fingimento, falsidade; fingir sentimentos, crenças, virtudes, que na realidade não possui. Hipocrisia deriva do latim e do grego e significava a representação no teatro, dos actores que usavam máscaras, de acordo com o papel que representavam em uma peça.

Hipocrisia é fingir sempre, e sobre tudo.
Hipocrisia é bater piedosamente no peito, dedo em riste, e afirmar alto e bom som que há uma fronteira que não se pode passar.
E passá-la sem remorsos, como cão por vinha vindimada.
Hipocrisia é chorar lágrimas de crocodilo pelos menos favorecidos e, uma semana depois, desfavorecê-los ainda mais.
Hipocrisia é ir para feiras e romarias, de boné em riste, e crivar de impostos e taxas os feirantes.
Hipocrisia é pregar austeridade e sacrifícios, sempre piedosamente, e esbanjar fortunas em inutilidades como submarinos. E a comissãozinha?
Hipocrisia é estar, permanentemente, com um pé dentro e outro fora.
A hipocrisia tem um rosto.
É este:



domingo, 12 de maio de 2013

PRAÇA DA CANÇÃO


A 12 de Maio de 1936 nascia uma das grandes vozes da poesia deste país: Manuel Alegre.
Poeta maior da liberdade, com vastíssima obra publicada, é um nome incontornável, já, da nossa história literária.
Após os estudos liceais, entrou, em 1956, na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, onde para além do mais, foi campeão de natação, pela Associação Académica de Coimbra, e internacional desta modalidade. 
Em 1958 apoia a campanha eleitoral de Humberto Delgado.
Em 1960 começa a publicar poemas nas revistas "Briosa" (que fundou), na Vértice e na Via Latina.
Juntamente com Rui Namorado, Fernando Assis Pacheco e José Carlos de Vasconcelos, publica trabalhos seus na colectânea "A Poesia Útil e Poemas Livres".
Em 1961 é chamado ao serviço militar, partindo para Angola em 1962, sendo aí preso pela PIDE em 1963, que lhe fixa residência em Coimbra.
Em 1964 foge para Paris, juntando-se à Frente Patriótica de Libertação Nacional, reunida em torno de Humberto Delgado. Na qualidade de representante desta organização, depõe nas Nações Unidas sobre a situação colonial portuguesa, particularmente a sua experiência em Angola. Nesse mesmo ano, parte para Argel, onde será o locutor da clandestina "A Voz da Liberdade", difundindo conteúdos contra o regime salazarista.
Os seus primeiros livros de poemas, "A Praça da Canção" (1965) e "O Canto e as Armas" (1967) são aprendidos pela censura, mas os seus poemas são cantados e divulgados por, entre outros, Adriano Correia de Oliveira, Zeca Afonso, Luís Cília e Manuel Freire. Refira-se que Amália Rodrigues foi uma das intérpretes da sua "Trova do Vento que Passa".
Regressa a Portugal a 2 de Maio de 1974, onde virá a desempenhar vários cargos públicos, sendo por duas vezes candidato à Presidência da República.
Entre outros ganhou o Prémio Pessoa (1999) e o Grande Prémio da Associação Portuguesa de Escritores (1998).
Em 2010 a Universidade de Pádua inaugurou a Cátedra Manuel Alegre, destinada ao estudo e divulgação da Língua, Literatura e Cultura Portuguesas.
É o único autor português incluído na antologia "Cent poèmes sur l'exil", editada em 1993 pela Liga dos Direitos do Homem, em França.
Manuel Alegre, poeta e ler e a reler. Sempre.

 (o poema seguinte foi inspirado a Manuel Alegre por uma rapariga que, no Largo do Rato, queria entregar um cartaz aos representantes da troika)

Cassandra e a Troika

Então Cassandra apareceu na rua
trazia um cartaz para entregar à Troika
saúde educação dizia ela. E havia
em seu olhar a cólera e a beleza
ela era a filha de Príamo aquela
por quem Apolo se apaixonou
nos seus ouvidos passaram as serpentes
e por isso ela ouvia o que ninguém ouvia
tinha vindo para avisar que a Troika
é o novo cavalo falso dentro da cidade
os seguranças rodearam-na mas ela falava
seus longos cabelos soltos sob o sol de Lisboa
clamava por justiça e dignidade
ouvissem ou não ouvissem ela era a sibila
e apontava o cavalo dentro da cidade.


2.3.2013
Manuel Alegre




sábado, 11 de maio de 2013

PORTO-BENFICA

Hoje é dia de Porto-Benfica!
Mas hoje também temos 1.000.000 de desempregados, 17,7% da população activa, 42% da população jovem, da geração mais habilitada dos últimos anos, que é obrigada a desesperar, a trabalhar com salários de escravo (e para ser escravo foi preciso estudar, lá cantam os Deolinda), a fugir, a emigrar, a voltar a sobrecarregar os magros proventos dos pais e/ou avós.
Mas hoje é dia de Porto-Benfica!
Mas hoje temos famílias destruturadas, abandonos, divórcios, separações, traumas, depressões, filhos e filhas olhando para todos os lados sem nada verem, filas envergonhadas para a sopa dos pobres, a misericórdia e a caridade e assomarem, como a fome e as doenças. E a morte!
Mas hoje é dia de Porto-Benfica!
Os impostos afogam a cidadania, enterram as empresas, a produção, em vez de o estado aumentar as receitas, por cegueira e incompetência (próprias ou encomendadas), as mesmas diminuem, aumenta o défice, aumenta a dívida, aumenta a perspectiva de um buraco sem fundo, de um túnel sem luz, por cima de todos os protestos, todos os gritos, todos os punhos, todas as lágrimas..
Mas hoje é dia de Porto-Benfica!
Mas hoje eles querem aumentar a dose, querem vergar ainda mais quem já está de rastos, para estes vampiros neoliberais não se esgota o sangue da manada, como canta o Zeca nos "Vampiros", são insaciáveis. Até não haver Social nem Estado. A nação é tratada a pontapé. Que se lixe e que pare o país!
Mas hoje é dia de Porto-Benfica.
E o país pára!!!


sexta-feira, 10 de maio de 2013

DONOVAN

Completa hoje 67 anos o cantor escocês Donovan Leitch, nascido e criado nos bairros operários de Glasgow, e, nos anos 60/70, denominado o "Dylan escocês", nos seus primeiros anos de intervenção.
Embora não se possa considerar como das maiores figuras dessa época de clivagem, Donovan mantém-se, no entanto, uma referência que convém sempre revisitar.
Ficam aqui dois exemplos : O desconcertante "Mellow Yellow" e o espectacular "Atlantis".


quinta-feira, 9 de maio de 2013

FERGIE



A partir de 19 de Maio, o futebol mundial vai ficar muito mais pobre.
Sir Alex Ferguson vai deixar de ser o treinador do Manchester United, deixando uma vaga quase impossível de preencher, muito embora ninguém seja insubstituível.
Trata-se, apenas, do melhor treinador de futebol de todos os tempos.
Nascido em 1941, em Glasgow, o temperamento corajoso e inflexível das Highlands da Escócia marcou a sua carreira, como jogador e, especialmente, como treinador.
Começou como jogador em 1957, no Queen's Park (da Escócia, não de Inglaterra), e acabou essa carreira em 1974 no Ayr United.
Os seus primeiros passos como treinador tiveram lugar no East Stringshire (Escócia), em 1974.
Posteriormente, de 1978 a 1986, foi treinador do Aberdeen. Em 1980 conquista o título escocês, 25 anos depois do último triunfo. A proeza repete-se em 1984 e 1985. Em 1983 o Aberdeen conquista e então existente Taça das Taças europeia, ao derrotar o Real Madrid na final, por 2-1. Nesse ano, também sairia vencedor da Supertaça Europeia.
A 6/11/1986 assina pelo Manchester United, então muito abaixo do colosso que é hoje, o que em grande parte, ou na sua quase totalidade, se deve ao trabalho de Alex Ferguson.
O primeiro título conquista-o em 1990 (Taça de Inglaterra), e o primeiro campeonato inglês em 1993, com uma equipa renovada.
Se Ferguson estivesse em Portugal, com a nossa "cultura desportiva", alimentada por "comentadores" e resmas de papel a que chamam "imprensa desportiva", não teria durado 6 meses num qualquer clube de evidência.
Mas, apesar das críticas, estávamos em Inglaterra, pátria do desporto, e onde a expressão cultura desportiva ainda faz sentido.
E não falem dos hooligans, que a sua actividade está bem documentada, e teve tudo a ver com uma senhora falecida semanas atrás, e responsável pelos anos de chumbo ingleses: Margaret Thatcher.
Voltando a Ferguson, e à sua extraordinária carreira, vale a pena recordar os seus êxitos em 26 anos, repete-se, 26 anos, como treinador principal dos Red Devils:
-13 Campeonatos ingleses, dos 20 que o clube ganhou, recordista do seu país;
-5 Taças de Inglaterra
-4 Taças da Liga
-7 Supertaças inglesas
-1 Taça das Taças
-2 Ligas dos Campeões ( a primeira, em 1999, 31 anos depois da única Taça dos Campeões ganha pelo Manchester - 4-1 sobre o Benfica)
-1 Supertaça Europeia
-1 Taça Intercontinental
-1 Mundial de Clubes
É o único treinador a ganhar 5 vezes a Taça de Inglaterra, o 1º. a ganhar a Triple Crown, em 1999 (Campeonato, Taça e Liga dos Campeões), e o 1º. a ganhar o campeonato 3 anos consecutivos (1999, 2000 e 2001).
Até hoje, como treinador, Ferguson disputou2153 jogos, tendo ganho 1252, empatado 489 e perdido 412.
Lançou para a ribalta desportiva nomes como Eric Cantona, Peter Schmeichel, Gary Neville, Phil Neville, Paul Scholes, Ryan Giggs, Van Nistelrooy, Wayne Rooney, David Beckham ou Cristiano Ronaldo. 
É esta a "pesada herança", ou, como diria alguém inteligente, "o desvio colossal" que deixa ao seu sucessor.
Que deverá prosseguir, tendo em mente o lema pelo qual Ferguson sempre se bateu:
"Nenhum jogador é maior que o clube", o que se pode aplicar em muitas situações, e não só no desporto.
Como hoje se escrevia no "Público", Sir Alex Ferguson é um treinador maior que o futebol.  

   

quarta-feira, 8 de maio de 2013

DOMINGO EM FAMÍLIA

REDACÇÃO

Aos domingos é um rebuliço lá em casa, anda tudo maluco, pudera, é dia de cozido à portuguesa, é um vê se te avias na cozinha, até porque hoje temos visitas, a minha mãe é como se tivesse seis braços, assim como aquelas estátuas que se vendem lá em baixo no Martim Moniz, sabem, aqui da Graça ao Martim Moniz é um vai num pé vem noutro, o meu pai até parece um fiscal da ASAE, ou lá o que é que ninguém mais viu, a meter o nariz nos enchidos, a arregalar o olho para o porco, a provar do garrafão do briol comprado na tasca do velho holandês Santos, com tanta prova ainda fica com uma cadela antes do almoço, enfim, o que ele quer é que o almoço acabe antes das cinco, que é para ir para a tasca com o resto da cambada dele ouvir o Benfica, e daqui a pouco chegam as visitas! Primeiro, o Sr. Silva, que é o que vende botijas de gás e pitrolim, e no verão vende farturas aos turistas em Belém, mais a esposa, a Sra. Maria, que anda sempre elegante, parece daquelas modas que estão nas montras do Martim Moniz! aqui a Graça já os topa, entram sempre mudos e saem calados, depois o puto, o Coelho, assim a modos que um estafermo de songamonga, que não diz uma prá caixa, sonsinho, aparvalhado, com um penteado amaricado, eu é que sabia onde meter os enchidos no coelho, e a seguir o Gaspar, que é o que faz as  contas do gás e do pitrolim, um enfezado acabrunhado, parece um fantasma o raio do homem, dizem aqui na Graça que faz as contas, mas nem a tabuada sabe, eu sei mais do que ele, que faz tão bem que em vez de somar só sabe tirar, e o palerma do Silva ainda se ri, ele é só erros atrás de erros, até dizem que tem uma cena em que desvia botijas e vende pitrolim às escondidas, ganda noia, não, este não veio, mas temos à porta o Paulinho, sempre delicado, vende atoalhados contrafactivos, ou lá o que é, nas feiras, mas o meu pai diz que o que o gajo vende é pó de talco, não sei o que o pó tem a ver com o Paulinho, mas o meu papá é que sabe, e por fim vem o Álvaro que vende pastéis de nata que sabem a macdonaldes, ali na esquina da esquadra da Graça, são todos amigos, o Álvaro e os bófias, lá diz o papá! E o papá agora passou-se dos carretos, Então afinal vem esta gandulagem toda, o cozido já não chega, o Silva julga que aquilo é bolo-rei, o Gaspar confiscou os enchidos todos, que é para não nos enchermos, bem feita, o Coelho julga que as couves são toalhetes de cheiro, o Paulinho atirou-se ao rabo de porco, o Álvaro pegou a vaca pelos cornos, e todos juntos mamaram o garrafão, e nenhum diz coisa com coisa! O meu pai fartou-se, pegou na minha mãe e em mim, e lá vamos comer um frango assado à tasca, e ele aos berros pelas ruas da Graça, Já que comem tudo da nossa casa, atafulhem-se e rebentem todos no meio do regabofe, vamos é ouvir o Benfica nas calmas, o Calado é o melhor, pois, mas o Eusébio é que jogava, digo eu, e são assim os domingos em família, mas pela amostra qualquer dia o meu papá acaba com o cozido, e acaba-se a mama, digo eu.  

Guidinha  

 

(NOTA: Este pequeno texto é uma sentida e modesta homenagem ao saudoso "Diário de Lisboa", que ontem completaria 92 anos, ao seu suplemento satírico "A Mosca", e ao autor das "redacções da Guidinha", o grande dramaturgo Luís de Sttau Monteiro ("Felizmente há luar", "Angústia para o jantar", etc.)

segunda-feira, 6 de maio de 2013

OTELO

Não, não se vai aqui falar de Otelo Saraiva de Carvalho.
Vamos referir a excelente peça de Shakespeare "Otelo, o Mouro de Veneza", que se recomenda vivamente a quem gosta de teatro.
Sem desvendar a trama toda, diga-se apenas que Otelo é um general mouro ao serviço da República de Veneza, combatente prestigioso, que desposa Desdémona, filha de um rico senador da cidade-estado.
Cássio é o seu lugar-tenente, promovido a este cargo em detrimento de Iago, que se julgava com direito a ser o nº. 2.
Começam aqui as falsidades de Iago, conspirando contra Cássio e Otelo, fingindo-se amigo de ambos, semeando desconfianças e suspeitas, colocando os dois aliados um contra o outro, saindo sempre por cima, como angelical inocente, e com Desdémona pelo meio, o que terá um epílogo que se adivinha trágico.
Ontem, Iago voltou aos nossos ecrãs, pelas 19 horas. Só que mudou o nome para Paulo Portas 


 ( Cássio, Iago (de pé) e Otelo)






sábado, 4 de maio de 2013

TARTUFO


"Tartufo", datada de 1664, é uma das mais peças peças de teatro do conhecido escritor francês Molière.
Representada em todos os grandes palcos do mundo, salienta-se, entre nós, a notável interpretação do inesquecível Raul Solnado.
Tartufo é um amigo de um nobre francês, que se instala, muito piedosamente, em sua casa, como conselheiro, para ganhar mais privilégios, mentindo, roubando, defraudando, especulando, manipulando, sob a capa de uma hipócrita piedade, e tudo em nome Deus.
Quase acaba a expulsar os moradores da sua própria casa, à custa de "piedosa" intriga.
Mas não cabe aqui desvendar a trama genialmente urdida por Molière.
Peça que, na altura, denunciava a corrupção, a hipocrisia religiosa, a ocupação de cargos de mando e relevo por espertalhões.
Passados 3 séculos e meio, Tartufo reapareceu ontem, às 20 horas, em Portugal.
Chama-se agora Passos Coelho e o texto não é de Molière, mas de um tal  im"piedoso"  Vitor Gaspar.

quinta-feira, 2 de maio de 2013

MAIO DE 68: A IMAGINAÇÃO AO PODER

A 2 de Maio de 1968, os estudantes da Universidade de Nanterre (arredores de Paris) marcam uma jornada anti-imperialista com interrupção das aulas. O reitor decide, unilateralmente, o encerramento da escola. O movimento de contestação propaga-se à Sorbonne e a todo o Quartier Latin (margem esquerda do Sena, Paris).
Começa a maior revolta espontânea, tanto política como cultural e social, dirigida contra a sociedade tradicional, a que a França e a Europa assistiram, até hoje.
O mal estar estava latente em toda a sociedade francesa. A sociedade de consumo tomara conta do quotidiano, sem se tomar consciência de todas as implicações e desequilíbrios mundiais daí decorrentes.
Desde há um ano que a economia se deteriorava, com 500.000 desempregados, 2.000.000 de trabalhadores com o salário mínimo e queda dos salários. O interior desertificava-se, e emigração aumentava, e a pressão urbanística criava os "bidonville" `nos arredores das grandes cidades, especialmente Paris, com relevo para o de Nanterre, mesmo ao lado da novíssima Universidade, o que faria os estudantes reflectir sobre a qualidade de vida dos trabalhadores.
A procura de quadros acéfalos para assessorar os possuidores dos meios de produção resultou na massificação do ensino superior, criando estrangulamentos a nível de apoios sociais, material, transportes, etc. 92% dos estudantes universitários provinham das classes média/alta, o que não impediu quer uma gradual tomada de consciência do seu papel na escola, quer na sociedade.
Por outro lado, a longa permanência de De Gaulle no poder (desde 1958), o paternalismo quase sufocante da sua concepção política e executiva, desgastavam o ambiente político francês. O Partido Comunista, na altura o maior da Europa, não resolvia as suas contradições internas desde o Estalinismo, e desiludia os mais jovens. A contestação unia-se no repúdio da Guerra do Vietname e da nuclearização do continente europeu.
Culturalmente, também se assistia à mudança. Desde o Concílio Vaticano II, que abalou a Igreja Católica, até aos movimentos hippie e Poder Negro do outro lado do Atlântico. Multiplicavam-se os exemplos dos padres-operários, começavam, timidamente, a aparecer as escolas mistas, mas mantinha-se a proibição de as raparigas usarem calças nos estabelecimentos de ensino, enquanto o uso da pílula era autorizado desde 1967. Acentuava-se a clivagem entre a juventude e as regras morais anquilosadas e ultrapassadas.
A juventude começa a acreditar que pode ser sujeito activo do poder político e social e pôr em causa a autoridade dos adultos e poderes instituídos. As condições estavam criadas para uma nova dinâmica social.

IL EST INTERDIT D'INTERDIRE

SOYEZ RÉALITES: DEMANDEZ L'IMPOSSIBLE

No dia 3 de Maio, no rescaldo dos acontecimentos de Nanterre (onde Daniel Cohen-Bendit seria suspenso), a Sorbonne é ocupada por cerca de 400 estudantes, que iniciam uma reunião sobre o sucedido e questionando a política e a sociedade. Sem aviso prévio ou negociações, e a pedido do reitor, a polícia de choque invade a escola (o que estava interditado pelo estatuto universitário), espanca e prende estudantes.
O reitor de Nanterre e muitos professores protestam (entre eles Alain Geismar, presidente do sindicato dos professores universitários), protestam e muitos tomam o partido dos estudantes.
Face a estes factos, a revolta espalha-se. O Quartier Latin é palco de barricadas, com o apoio de muitos moradores, que a custo, e à custa de brutalidade, a polícia tenta dominar.



Os partidos tradicionais de esquerda, e os sindicatos "regimentais" desconfiam deste movimento.
No entanto, as bases operárias e trabalhadores compreendem que o movimento é mais amplo, e que, no fim, coloca em causa o poder político e a distribuição da riqueza em França (e no mundo).
A 13 de Maio a França está em greve geral. Um milhão de estudantes e operários desce os Campos Elísios.
A 16 de Maio centenas de fábricas são ocupadas, muitas delas começam a laborar em auto gestão.
22 de Maio é o apogeu do movimento grevista.

Para além das tradicionais reivindicações quantitativas, os trabalhadores associam, o que é significativo e inédito, reivindicações qualitativas: autonomia, responsabilização (e não automatização) dos assalariados, cogestão das empresas, auto gestão.
A nível cultural, por exemplo o teatro Odéon transforma-se em forum onde tudo e todos podem discutir sobre tudo, criticando, propondo, imaginando, dialogando, libertando a palavra, que, entretanto, se espalhara, livre, pela cidade.
Vizinhos, novos e velhos, homens e mulheres, desconhecidos, conversam, discutem, agitam as consciências.
Nestes dias, perante a demissão e a inoperância do Poder, são os sindicatos e os comités de empresas que mantêm a França de pé. E, a nível cultural, e intelectual, a rua, as escolas, as fábricas tentam acender a lutas que nasce da discussão.
LES MURS ONT LA PAROLE

Só que o Poder reage, e tenta absorver a contestação, com o consentimento tácito dos grandes sindicatos (CGT), do patronato e dos partidos tradicionais (PCF entre outros).
Os chamados Acordos de Grenelle, de 27 de Maio satisfazem, acima de tudo, as reivindicações qualitativas: aumento de 35% do salário mínimo, aumento de 10% dos salários reais, 4 semanas de férias pagas, criação de secções sindicais de empresa.
Mas estes acordos são rejeitados pelas bases.

TRAVAILLEUR: TU AS 25 ANS, MAIS TON SYNDICAT EST DE L'AUTRE SIÈCLE! 

Também a 27 de Maio, tenta-se criar um governo de salvação nacional, presidido pelo socialista Pierre Mendès-France, mas a hipótese gora-se.
Por fim, a 30 de Maio, são convocadas, para 29/30 de Junho, eleições gerais legislativas, que virão a proporcionar a De Gaulle e ao seu "partido" a maioria absoluta.
De Gaulle não caiu, mas provou-se que era substituível, como qualquer outro agente político.
Mas a explosão de Maio começa a perder força. A chantagem do poder corrói com veneno. 
No início de Junho, as greves começam a ser suspensas, muitas fábricas são desocupadas, à força bruta, pela polícia de choque, e entre 14 e 16 de Junho a Sorbonne e o Odéon são "limpos".
Daniel Cohen-Bendit é exilado e proibido de entrar em França (NOUS SOMMES TOUS DES JUIFS ALLEMANDS).
Apesar de toda a agitação, contam-se 5 mortos (1 polícia, 2 estudantes e 2 trabalhadores).


E AGORA? 

O Maio de 68 foi, inicialmente, uma revolta da juventude estudantil, alastrando ao mundo do trabalho e a toda a população, e sobre todo o território francês.
Foi o maior movimento social da França e da Europa no século XX.
Mais do que uma simples contestação ao regime, ou do que reivindicações materiais ou salariais, foi uma contestação uniforme de todos os tipos de autoridade.
Deseja-se a liberalização dos costumes, contesta-se a velha Univdersidade e o velho ensino, coloca-se em causa a sociedade de consumo e as instituições e valores tradicionais, incluindo as relações familiares e entre sexos.
O Maio inscreve-se num conjunto de acontecimentos nos meios estudantis e laborais de muitos países, como a Alemanha (movimentos dos estudantes alemães socialistas), Estados Unidos (Universidade de Berkeley, contestação à Guerra do Vietname, Poder Negro, movimento hippie), México, Brasil, Checoslováquia (Primavera de Praga).

A herança de Maio é enorme, mesmo para os que o criticaram e criticam, e muitas das suas conquistas, designadamente nos planos social e cultural, mais que puramente político, estão bem vivas.
As medidas quantitativas dos Acordos de Grenelle foram, de facto, aplicadas, a velha Universidade Napoleónica foi desmantelada, a sebenta iria dar lugar ao conhecimento e à discussão, o aluno passa de discípulo a sujeito interveniente. Fala-se em coeducação e participação. Alunos e pais passam a fazer parte da composição dos conselhos escolares.
Maio vem chamar a atenção para a Ecologia política (Cohen-Bendit, velho e grande lutador, é deputado pelos Verdes no Parlamento Europeu), as relações familiares e entre os sexos assenta em bases dialogantes e responsabilizantes, institui-se a descentralização, fala-se no regresso à terra e à preservação dos costumes locais. da cultura popular e de raiz.
A sociedade francesa abre-se, bruscamente, ao diálogo social e mediático, que se infiltra em todas as camadas sociais e familiares.O exemplo extravasa fronteiras.
A interrupção voluntária da gravidez foi despenalizada, e a maioridade consagrada para os 18 anos (em 1974).
Toma-se consciência da mundialização da sociedade moderna e põe-se em causa o modelo ocidental da sociedade de consumo.
Dá-se lugar à autonomia, à realização pessoal, à criatividade, pluridisciplinaridade, recusa e interrogação sobre as regras tradicionais e autoridade. Fala-se, e implementam-se, a auto gestão, a cogestão, o comunitarismo.  
A cultura, e a fruição da mesma, democratizam-se, multiplicam-se as Organizações Não Governamentais, muitos membros da Igreja querem regressar aos valores originais, a consciência antinuclear ganha dimensão, questionam-se as certezas dos velhos partidos de esquerda.
Enfim, toma-se consciência da dinâmica individual, da dinâmica de grupo, de tudo questionar, de não acreditar em certezas absolutas, de que tudo é relativo, como diria Einstein.
A França, a Europa e o Mundo já não eram os mesmos! Maio de 68, no fundo, valera bem a pena e será um farol para acções futuras, a nível mundial.

PRENEZ VOS DÉSIRS PAR LA RÉALITÉ
 

E como a actual e amorfa Europa bem necessitada anda de um novo sobressalto...Europeu!