sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

ROLLING STONES

 
Faria hoje 72 anos.
Morreu a 3 de Julho de 1969, em circunstâncias ainda polémicas, menos de um mês depois de ter sido despedido dos Rolling Stones (8/06/1969), por alegado excessivo consumo de drogas e álcool.
Era o único do grupo que sabia ler e escrever partituras.
Inventivo, criativo, especialmente nas técnicas de guitarra, e também cítara, harmónica, harpa, saxofone e acordeão.
Foi, por muitos especialistas, considerado a alma mater dos Rolling Stones.
Chamava-se Brian Jones.
("You Got The Silver" - do album "Let It Bleed" de 1969. Última colaboração de Brian com os Stones)

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

PORTUGUESES PIOR, PORTUGAL MELHOR (?!?!)

("Sôtôra, foi este menino, foi este!!! Eu cá não!!!")

"A vida das pessoas não está melhor, mas a do país está muito melhor.".
Ninguém se ri? Ou chora? Ou se zanga?
Esta frase lapidar foi proferida por Luís Montenegro, chefe da bancada parlamentar do PSD durante o XXXV congresso deste partido que, de 21 a 23 de Fevereiro de 2014, decorreu em Lisboa, no Coliseu dos Recreios.
Só faltou o Palhaço Batatinha!
Mas este é artista a sério.
Porque, de acordo com os outros "artistas" do magno conclave,
Conclui-se que a vida dos portugueses está pior,
Mas que a do país está melhor!
De onde se pode deduzir que
Os milhares de portugueses atirados para o desemprego;
Os milhares de portugueses empurrados para a emigração;
Os milhares de investigadores e cientistas privados de bolsas;
Os milhares de pensionistas a quem foram esbulhadas as pensões;
Os milhares de trabalhadores, públicos ou privados, a quem foram cortados os salários;
Os milhares de doentes a quem são negados os atrasados os tratamentos;
Os milhares de pobres envergonhados que a crise gerou;
Os sem-abrigo, cada vez mais, atirados para as sombras dos becos;  
Afinal, não são portugueses, porque o seu país não é Portugal!
O país, o tal, Portugal, no fim de contas,
É terra de leite e mel,
De batatas e bacalhau,
Embora o primeiro-ministro Coelho não tenha dinheiro para bacalhau, diz ele,
É caso de sucesso, case study, case case,
É milagroso económico-financeiro,
É pujante de inovação, investimento, emprego,
Não é o tigre celta,
Mas pode ser o jumento ibérico!
Salvaguardando o bom nome do jerico, claro!
O país respira saúde, alegria,
Futebol e Fátima,
Praxes e touradas, e escorra o vinho,
Ou a cerveja, os shots, os jotas!
Portugal é sucesso, e será ainda mais sucesso, ad aeternum!
Só que, nisto do sucesso, do estar melhor,
Há um problema chato,
Grave,

É que Portugal está cheio de pessoas, de portugueses.
Não se pode pedir ao estimado Governo que
Mande varrer os portugueses para debaixo do tapete?
Ficava um brinquinho...


(Reflexão a sério, de um Homem vertical, Eduardo Lourenço, nas Correntes d'Escrita, este ano:
"Dá a impressão de que, de repente, fomos invadidos...por uma espécie de vampiros."
  

UCRÂNIA

 
Para quem esteja distraído, a fronteira acima traçada a vermelho respeita aos limites do Império Austro-Húngaro, entre 1867 e 1918 ano em que, por imposição do Tratado de Versalhes, no final da I Guerra Mundial, foi dissolvido.
A norte, está a mãe protectora, a Confederação Germânica do século XIX, que agora conhecemos como Alemanha.
A Leste, perfila-se a Rússia, que já foi União Soviética, e que já tinha sido Rússia.
Um Império na sequência do Congresso de Viena, que "pacificou" a Europa depois do vendaval napoleónico, e do despertar das nacionalidades, como na Grécia e Bélgica.
Enfim, o statu quo europeu.
E nas franjas desse império, de clara influência germânica, vemos, por exemplo, Eslovénia, Croácia e...Ucrânia.
Pois...
A guerra na ex-Jugoslávia já foi há 20 anos, a UE varreu-a para debaixo do tapete, eslovenos e croatas eram todos santos inocentes, os sérvios e seus aliados russos eram os que comiam criancinhas ao pequeno-almoço. Agora, a Croácia e a Eslovénia são "bons alunos" da UE. E o Kosovo separado da Sérvia. Jawohl, Frau Angela?
Pois...
Na Ucrânia, um déspota corrupto, mas livremente eleito, sem contestação, é deposto num golpe de contornos ainda mal definidos, com muitas saudades nazistas à mistura, os arcabuzes da Praça da Independência são heróis impolutos, os russófilos estão sedentos de sangue, a esquadra russa de Sebastopol está quase a avançar sobre esquis a caminho de Kiev. E a Crimeia está proibida de se separar. Jawohl?
Na sua cegueira e incompetência, a UE, agora, na ex-Jugoslávia então, faz as delícias de Putin, fortalecendo uma Rússia isolada, forte, de costas voltadas para a Europa, tudo ao contrário do que defendia, por exemplo, o velho general Charles de Gaulle, quando defendia "..a Europa do Atlântico aos Urais.". Uma Rússia fora da Europa pode vir a ser o pior pesadelo de Merkel e seus lacaios.
E nunca deu bons resultados.
Pelos vistos, ninguém leu a história de Hitler e o seu atoleiro de Estalinegrado, ou de Napoleão e o gelo da Ponte do Berezina.
Este, ao menos, ainda teve a lucidez de, no seu leito de morte, proclamar: "Deixo atrás de mim dois gigantes: Os Estados Unidos e a Rússia".
E a Europa entalada entre os dois! Sem respirar nem falar.
Cega, surda, muda!
Jawohl?

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

PACO DE LUCIA

 
Morreu ontem, aos 66 anos, este andaluz de Algeciras, um dos maiores guitarristas de sempre, Prémio Princípe das Astúrias em 2004, artista universal.
E já temos saudades...
("Labarrosa")

JOHNNY CASH

Aquele que foi conhecido como "O Homem de Negro", pela roupa que usava em palco, faria hoje 82 anos.
Nascido em Kingsland, no Arkansas, e após uma infância sofrida, mudou-se para Nashville, a capital da música country.
E foi como músico country que construiu uma carreira única, ficando célebres os seus concertos em prisões americanas, contra a opinião de autoridades, agentes e, até, colegas.
("Folsom Prison Blues")
Aliás, os seus dois discos de maior sucesso são, precisamente "Johnny Cash at Folsom Prison", de 1968, e "Johnny Cash at San Quentin", de 1969.
Figura controversa, cultivando amizades com figuras como Bob Dylan ou Kris Kristofferson, Willie Nelson ou Tom Waits e, até, com o pastor evangélico Billy Graham, foi, no entanto, um dos grandes embaixadores da música country, e da country alternativa, e um dos grandes trovadores da América.
Para quem tenha oportunidade de ver, recomenda-se o filme de James Mangold, de 2005, "Walk The Line", com Joaquin Phoenix e Reese Witherspoon, a qual viria a ganhar o Óscar de melhor actriz. 
("I Walk the Line")  

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

CESÁRIO VERDE


Nasceu em Lisboa a 25 de Fevereiro de 1855, e ali viria a falecer a 19de Julho de 1886, no Lumiar, vítima de tuberculose.
A sua obra poética só veio a público em 1901, graças ao amigo Silva Pinto, que conhecera ao frequentar o Curso Superior de Letras, e que edita "O Livro de Cesário Verde".
Poeta do campo e da cidade, Cesário recusa o lirismo tradicional, trata o campo como algo concreto, palpável, vivo, a cidade com as suas ruas "macadamizadas", os quintais vazios, as casas apalaçadas, edifícios sujos, retrata calceteiros, padeiros, varinas, vendedeiras, trabalhadoras, burguesinhas, fúteis, para além do realismo e, até, do impressionismo, anunciando a poesia do século XX, que não dispensa o retrato social e a intervenção crítica.
"Vaidosa
Dizem que tu és pura como um lírio
E mais fria e insensível que o granito,
E que eu que passo aí por favorito
Vivo louco de dor e de martírio.
Contam que tens um modo altivo e sério,
Que és muito desdenhosa e presumida,
E que o maior prazer da tua vida,
Seria acompanhar-me ao cemitério.
Chamam-te a bela imperatriz das fátuas,
A déspota, a fatal, o figurino,
E afirmam que és um molde alabastrino,
E não tens coração como as estátuas.
E narram o cruel martirológio
Dos que são teus, ó corpo sem defeito,
E julgam que é monótono o teu peito
Como o bater cadente dum relógio.
Porém eu sei que tu, que como um ópio
Me matas, me desvairas e adormeces,
És tão loira e doirada como as messes,
E possuis muito amor... muito amor próprio." ("O Livro de Cesário Verde")
 

O seu poema mais conhecido será, possivelmente, "De Tarde". E como não ligá-lo, por exemplo, aos movimentos estéticos que surgiam na Europa, aqui retratados na obra-prima de Edouard Manet, "Le Déjeuner sur L'Herbe", ilustração para o citado poema, de um poeta que merece ser lido.  
("Le Déjeuner sur L'Herbe")

"De Tarde

Naquele pique-nique de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.
Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.
Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, inda o Sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos,
E pão-de-ló molhado em malvasia.
Mas, todo púrpuro a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas!" ("O Livro de Cesário Verde")

 
 


GEORGE HARRISON

 
Nasceu a 25 de Fevereiro de 1943.
Deixou-nos a 29 de Novembro de 2011.
O Beatle tranquilo, discreto, deixando a rib alta para a dupla Lennon-McCartney.
Mas deixou-nos canções inesquecíveis.
("Something")

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

RUGBY : O ÁRBITRO

 
(Alain Rolland, árbitro internacional de Rugby)

Há desportos em que o árbitro é uma figura considerada quase como um estorvo, alguém que pode ser contestado em altos berros, enxovalhado, humilhado em vez de criticado, agredido por palavras e actos.
Desportos onde os protagonistas, a todos os níveis, mais parecem membros de gangs ou de associações mafiosas.
No Rugby, desporto de intenso contacto físico, o árbitro é um interveniente activo.
Respeitado, apesar de poder ser criticado, como é natural.
As suas decisões são acatadas sem polémicas em campo, ou atitudes agressivas.
É um pedagogo, quando previne possíveis infractores, explica as razões das faltas que assinala, recomenda aos capitães de equipa que serenem e aconselhem os seus jogadores.
E dispõe, em caso de dúvidas, não só o recurso à opinião dos seus árbitros auxiliares, que não são meras figuras de corpo presente, como, também, o recurso às novas tecnologias, através do vídeo-árbitro, para dissipar as últimas dúvidas.
No Rugby, o árbitro é uma figura prestigiada.
Daí também o prestígio da modalidade.
E, no passado dia 21, um dos maiores árbitros da actualidade, o irlandês Alain Rolland despediu-se dos jogos internacionais após o Gales-Escócia que arbitrou para o Torneio das 6 Nações.
Já temos saudades deste filho da Irlanda, que falava francês com os jogadores franceses, e inglês com os britânicos.
Um exemplo para a arbitragem e para o desporto em geral. 

JOBS

 
Nasceu a 24 de Fevereiro de 1955.
Deixou-nos a 5 de Outubro de 2011.
Pode ter tido uma actividade envolta em polémica.
Mas foi um  dos grandes homens que nos colocou o mundo e a informação, literalmente, na palma da mão.
Só por isso, e que é tanto, é uma referência perene.
Temos o mundo aqui ao nosso lado.

DAVID MOURÃO-FERREIRA

 
(David Mourão-Ferreira por António - Estação do Metro no Aeroporto de Lisboa)

David Mourão Ferreira é um nome incontornável da cultura portuguesa.
Nascido em Lisboa a 24 de Fevereiro de 1927, foi poeta, ensaísta, romancista e, acima de tudo professor, deixando uma marca bem vincada, e única, na cadeira de Teoria de Literatura na Faculdade de Letras de Lisboa.
Deixou.nos vasta e importante obra poética, espalhada por 16 livros, quatro romances, de que se destacam "Gaivotas em Terra" e "Um Amor Feliz", e o livro de contos "Os Amores".
Também foi um excepcional divulgador da poesia, portuguesa e não só, através da televisão, com os programas da RTP "Hospital das Letras" e "Imagens da Poesia Europeia".
Opositor ao salazarismo, viria, depois do 25 de Abril, a desempenhar o cargo de Secretário de Estado da Cultura, sendo o responsável pela criação da Companhia Nacional de Bailado (1977).
Mas David foi, acima de tudo um poeta, que cantava, com técnica bem pessoal e expressiva, o amor, a beleza, até as tentações da carne, a perturbação existencial, a claridade e a sombra, os Natais, tendo, até, composto, propositadamente, poemas para Amália cantar, como "Fado Peniche", Maria Lisboa", "Sombra" ou "Barco Negro".
(Amália Rodrigues - "Barco Negro")

David foi um amante de Lisboa, e, também, da Itália.
Mas acima de tudo, amava a vida e amava vivê-la.
Porque a poesia também é vida.
Obrigado, David Mourão-Ferreira.
(David Mourão Ferreira - "Ladainha dos Póstumos Natais")

 
 
 

domingo, 23 de fevereiro de 2014

"O MESSIAS"

Nasceu a 23 de Fevereiro de 1685, em Halle, Alemanha, chamou-se Georg Friedrich Handel e, com Johann Sebastian Bach, elevou a música barroca aos céus e abriu as grandes alamedas por onde passariam Haydn, Mozart, Beethoven, e tantos outros, até aos nossos dias e mais adiante.
("Every valley shall be exhalted" - de "O Messias")
  
Compositor altamente prolífico (mais de 600 obras), começou como violinista e mestre de orquestra de ópera em Hamburgo, tendo ainda passado por Itália, onde conheceu os primeiros sucessos, especialmente com oratórios, até porque o Papa proibia a ópera, alegadamente considerada obscena...
No entanto, é com o cargo de mestre-capela do Eleitor de Hanover que vem a consolidar a sua carreira, especialmente quando este se torna Jorge I de Inglaterra, e Handel fixa a sua residência em Londres, vindo a ser naturalizado inglês em 1726.
Compõe óperas, oratórios, cantatas, música instrumental (concertos, suites, sonatas), sendo fundamental no ressurgir da música inglesa, órfã da morte de Henry Purcell em 1695.
O seu sucesso torna-o popular (até como refinado gourmet que se diz ter sido...), sendo conhecido, na época, como "O Divino".
Com enorme facilidade no domínio da escrita musical, ficam para a posteridade as obras de grandes proporções como, por exemplo, a mais famosa de todas, o oratório "O Messias", composto em Londres.
Como se disse, Handel é um dos grandes mestres do barroco, e as suas tonalidades musicais ficarão para toda a eternidade, muito embora, abra-se um parêntesis, a grande divulgação e interesse sobre o seu trabalho só tenha tido expressão global a partir do início da segunda metade do século XX.
Felizmente, podemos desfrutar, nos nossos dias, da magnífica música de Handel.
("Hallelujah" - de "O Messias")

sábado, 22 de fevereiro de 2014

VÍTIMAS DE CRIME

Celebra-se hoje o Dia Europeu da Vítima de Crime.
De acordo com os dados oficiais da Comissão de Protecção às Vítimas de Crime, no ano de 2013 foram abertos 257 processos, sendo 135 de violência doméstica e 122 de outros crimes violentos.
E estes números dizem apenas respeito aos casos oficialmente participados.
Que, como se sabe, são a minúscula ponta do iceberg.
E quantos mais casos de mulheres violentamente agredidas no corpo e na dignidade?
E quantas mais crianças violentadas por predadores sexuais?
E as vítimas da violência que nos cerca são só estas?
E então aquelas que nos cercam pela rádio, jornais, televisões, internets?
Não é violência rasgar um contrato social e esbulhar as pensões de quem trabalhou uma vida?
Ou despedir, friamente, dezenas de trabalhadores cujos ordenados eram, já por si, reduzidos?
Ou mandar crianças às escolas sem pequeno-almoço ou outra refeição, porque não há dinheiro?
Ou cortar sem critério bolsas a investigadores, cientistas, inovadores, criadores, e mandá-los para fora do país?
Ou reduzir a educação básica, não ao "eduquês", mas ao grau zero da escrita?
Ou despovoar o interior, secá-lo, deixar idosos e idosas ao deus-dará, à míngua, sentados num banco à espera do inevitável?
Ou tratar mal, desprezar, mutilar, ferir, os animais, todos eles, desde os domésticos àqueles que são torturados numa orgia "tradicional" a que se chama tourada?
Ou humilhar, escarnecer, vergar, em praxes alcoolizadas os estudantes que são mais novos e desprotegidos?
Ou, com enxurradas de demagogia, lançar para combate na arena, como gladiadores escravizados, velhos contra novos, funcionários públicos contra privados, activos contra pensionistas, estudantes do público contra os do privado, tudo e todos contra todos e tudo?
Ou aniquilar, pela raiz, os sonhos de esperança e felicidade?
E mais do que condenar os algozes, há que apoiar as vítimas, acima de tudo.
Porque quando caem, não as vamos levantar.
Vamos ajudá-las a levantar-se e a reaprender a dignidade.
Porque o tempo dos vampiros um dia acabará!
 
(e como, cinquenta anos depois, a canção "Vampiros" do Zeca Afonso, continua viva. Zeca que nos abandonou, passarão amanhã 27 anos).
 
  
   

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

PROLETÁRIOS DE TODOS OS PAÍSES, UNI-VOS!









"A burguesia (...) Afogou os fervores sagrados do êxtase religioso, do entusiasmo cavalheiresco, do sentimentalismo pequeno-burguês nas águas geladas do cálculo egoísta. Fez da dignidade pessoal um simples valor de troca; substituiu as numerosas liberdades, conquistadas com tanto esforço, pela única e implacável liberdade de comércio. Em uma palavra, em lugar da exploração velada por ilusões religiosas e políticas, a burguesia colocou uma exploração aberta, cínica, direta e árida.
A burguesia despojou de sua auréola todas as atividades até então consideradas dignas de veneração e respeito. Transformou em seus trabalhadores assalariados o médico, o jurista, o padre, o poeta, o homem de ciência.
A burguesia rasgou o véu de sentimentalismo que envolvia as relações de família e reduziu-as a simples relações monetárias." (Manifesto do Partido Comunista)

Este texto pertence ao "Manifesto do Partido Comunista" , publicado em Londres a 21 de Fevereiro de 1848, da autoria de Karl Marx e Friedrich Engels.
Passaram 166 anos...
Estará assim tão desactualizado ou...talvez não...?
 


 

LÍNGUA PORTUGUESA

 

Comemora-se hoje o Dia Mundial da Língua Materna, proclamado em 17 de Novembro de 1999 pela UNESCO.
E a nossa língua materna é o Português, a nossa Pátria, como escreveu Pessoa.
Língua falada aqui, no Brasil, em África, em partes da Índia, na península de Malaca, com descendentes no Japão.
Língua que viajou no mundo, no tempo, entre e fora de portas, evoluindo, adaptando-se, sempre viva, sem necessitar de qualquer absurdo "Aborto Ortográfico" ou quejandos.
Língua que se espraia nas areias de todos os continentes, ligada à História, à Poesia, à Prosa, que urge divulgar cada vez mais, já que o retorno de tal divulgação é incontável.
Excepto para os cavernícolas que cortam, sem qualquer competência e visão, os apoios aos cientistas e investigadores da Língua e da História, os quais, na santissima ignorância dessa gentalha, não interessam às empresesas e  à economia. De facto, Shakespeare é um estorvo para a economia inglesa, e não se contam os prejuízos que Miguel de Cervantes causa às empresas espanholas.
Cabe-nos  defender a língua mais falada a sul do Equador, falando-a, escrevendo-a, lendo-a.
E que maravilhas esta bela língua produziu:

"Descalça vai para a fonte
Lianor pela verdura;
Vai fermosa, e não segura.

Leva na cabeça o pote,
O testo nas mãos de prata,
Cinta de fina escarlata,
Sainho de chamelote;
Traz a vasquinha de cote,
Mais branca que a neve pura.
Vai fermosa e não segura.

Descobre a touca a garganta,
Cabelos de ouro entrançado
Fita de cor de encarnado,
Tão linda que o mundo espanta.
Chove nela graça tanta,
Que dá graça à fermosura.
Vai fermosa e não segura."

Luís de Camões
  Mais recente:
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas da roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama o coração.
(Fernando Pessoa)

E se a poesia já deu dois exemplos, porque não a prosa:

«E Ega voltou a falar dos inundados do Ribatejo e do sarau literário e artístico que, em benefício deles, se "ia cometer" no salão da Trindade... Era uma vasta solenidade oficial. Tenores do Parlamento, rouxinóis da literatura, pianistas ornados com o hábito de Sant' Iago, todo o pessoal canoro e sentimental do constitucionalismo "ia entrar em fogo". Os reis assistiam, já se teciam grinaldas de camélias para pendurar na sala. Ele, apesar de demagogo, fora convidado para ler um episódio das "Memórias de Um Átomo": recusara-se, por modéstia, por não encontrar, nas "Memórias", nada tão suficientemente palerma que agradasse à capital. Mas lembrara o Cruges; e o maestro ia ribombar ou arrulhar uma das suas "meditações". Além disso, havia uma poesia social pelo Alencar. Enfim, tudo prenunciava uma imensa orgia...» (extracto de "Os Maias", de Eça de Queirós)

"...não há diferença nenhuma entre cem homens e cem formigas, leva-se isto daqui para ali porque as forças não dão para mais, e depois vem outro homem que transportará a carga até à próxima formiga, até que, como de costume, tudo termina num buraco, no caso das formigas lugar de vida, no caso dos homens, lugar de morte, como se vê não há diferença nenhuma." (extracto de "Memorial do Convento", de José Saramago) 

E também esta Língua, que já é musical por excelência, quando veste a canção, produz obras-primas como esta, com música de Fernando Tordo e a palavra genial de José Carlos Ary dos Santos:


quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

REFERENDO? NÃO, OBIGADO!

 
Ontem foi conhecida a decisão do Tribunal Constitucional quanto ao projecto de referendo sobre coadopção, aprovado na Assembleia da República.
Como seria natural e expectável, tal projecto foi considerado inconstitucional, (cf.notícia em anexo).
Espera-se que, de uma vez por todas, tal projecto pertença ao mundo dos mortos e enterrados.
E seja devolvida a palavra aos nossos representantes, na Assembleia da República.
Como deveria ter sucedido, anteriormente, com a lei sobre a interrupção voluntária da gravidez  (e não "lei do aborto").
Mais do que nunca, é urgente vincar que os direitos das minorias não são passíveis de referendo, nem são susceptíveis de tratamento diferente por as opções serem diferentes do "normativo", como defendem cérebros como Hugo Soares, o putativo autor do projecto de referendo, ou D.Manuel Clemente, figura máxima da Igreja Católica em Portugal.
As minorias, chamemos assim para simplificar, são cidadãs e cidadãos de pleno direito, com deveres e DIREITOS exactamente iguais a todos os outros. Incluindo o direito à religião, preferência política, orientação sexual.
A grandeza da democracia é exercida quando as maiorias circunstanciais, obtidas através do voto popular, se esforçam, precisamente, em defender tenazmente os direitos legais e civilizacionais das minorias.
E o direito à vida e à felicidade dos seus membros. Sem qualquer discriminação. Respeitando a sua dignidade e, agora no caso da coadopção, respeitando, acima de tudo, o direito à felicidade e à dignidade das crianças. Sem hipocrisias.
Caso Hugo Soares ou D.Manuel Clemente não tenham reparado, em nenhuma parte do "Sermão da Montanha" se fala em discriminações ou tratamentos de forma diferente.

"Não julgueis, e não sereis julgados. Porque do mesmo modo que julgardes, sereis também vós julgados e, com a medida com que tiverdes medido, também vós sereis medidos. Por que olhas a palha que está no olho do teu irmão e não vês a trave que está no teu? Como ousas dizer a teu irmão: Deixa-me tirar a palha do teu olho, quando tens uma trave no teu? Hipócrita! Tira primeiro a trave de teu olho e assim verás para tirar a palha do olho do teu irmão." (extracto do Sermão da Montanha)  
 

KURT COBAIN

 
Nasceu a 20 de Fevereiro de 1967.
Morreu a 5 de Abril de 1994.
Suicídio ? Homicídio?
Não interessa!
Foi um génio musical que atravessou, como um meteoro incandescente, o panorama musical do início dos anos 90 do século passado.
("Smells like teen spirit")

Co-fundador da banda "Nirvana", da sua cidade de Seattle transformou o rock, alternativo, underground, anti-sexista, anti-racista, anti-homofóbico. Viria a passar à posteridade com o nome de "grunge".
Cantou a angústia, a apatia, o sarcasmo. Bebeu nas fonte do heavy metal, indie rock ou hardcore punk.
Os "Nirvana" marcaram uma época com apenas três álbuns, em vida de Cobain: "Bleach", "Nevermind" e "In Utero".
("About a Girl")

Indicaram um caminho, um som, uma estética, e Kurt foi o seu profeta, pedindo desculpa por o ser.
O seu legado pode ser reclamado e continuado por, entre outros, "Alice in Chains" ou os "Pearl Jam".
E Kurt era um rapaz com problemas na juventude, tímido, tentado pelas drogas, sujeito a depressões e com um evidente incómodo (medo também?) perante o protagonismo e as luzes da ribalta.
Perdeu-se precocemente um grande criador. Mas não deixaram viver o homem!
("Come As You Are") 

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

FERNANDO TORDO :ADEUS TRISTEZA...

 


 

"Adeus Tristeza" é uma tocante canção (música e letra) de Fernando Tordo.
Fernando Tordo que, ontem, aos 65 anos, emigrou para o Brasil.
Já se ouve alguém, ou alguns, dizer que é um privilegiado.
Pode ser.
Mas é mais, muito mais do que isso.
É um sintoma.
De uma doença grave, corrosiva, mentirosa e hipócrita.
Transmitida por este poder analfabeto e insensível que (des)governa.
Que obriga uma juventude qualificada a emigrar.
Que aplaude e empurra tal emigração.
Que corta cerce os apoios à investigação, à ciência, às novas tecnologias.
Porque lutar contra o cancro não dá dinheiro.
Descobrir o novo desenho de atacadores de botas é exportável.
E desenvolver práticas que protejam o ambiente é caro.
Enquanto modelar rolhas de cortiça é rentável.
E cultura é pura perda de tempo e dinheiro.
Não faz subir pos ratings e baixar os juros.
Artistas só carreiristas.
Investigadores da história e da língua são dispensáveis.
Vendam-se os Jerónimos e a Batalha.
E como brinde embrulhem-se os Clérigos e Os Lusíadas.
O que nós queremos é futebol!
E BigBrothers 1, 2, 3, 4, eternos!
Esta gentalha cansa!
Ainda não perceberam que a cultura
É investimento, é progresso, é libertação, inteligência.
E é factor de reprodução incessante de dividendos.
Financeiros, intelectuais, civilizacionais.
Mas dizem os "inteligentes" que se acabaram as canções....
Incluindo as do Tordo, que divulgou esse poeta único que é Ary dos Santos.
E como, 41 anos depois, se mantêm vivas, actuais e acutilantes as palavras da "Tourada": 
 

domingo, 16 de fevereiro de 2014

PAREDES, O GÉNIO

("Carlos Paredes" por Carlos Botelho)
 
Nasceu em Coimbra a 16 de Fevereiro de 1925.
Filho e neto de guitarristas, cedo começou a dedilhar a guitarra de Coimbra, desde os quatro aos, tendo como patrono e professor o pai, Artur Paredes, um dos responsáveis pela evolução técnica e musical desse instrumento icónico da Lusa Atenas.
Em Lisboa, e por influência da mãe, também recebeu aulas de piano e violino, estas na Academia dos Amadores de Música, de Fernando Lopes Graça.  
Entretanto, em 1949, emprega-se como funcionário administrativo do Hospital de S.José, em Lisboa, onde residia desde 1934, ao mesmo tempo que exerce a sua cidadania nas fileiras da oposição ao Estado Novo, vindo a ser preso pela PIDE em 1958. Seria libertado no ano seguinte e, passados anos, ainda viria a apertar a mão ao colega que o denunciara. Depois do 25 de Abril recusou sempre o epíteto de resistente ou herói da resistência , porque, dizia, "havia pessoas que tinham sofrido mais do que eu"! 
Porque Carlos Paredes era um ser Humano superior, simples, modesto, às vezes até demais, como só os grandes génios sabem ser.
Tão grande, que até Paul McCartney, na sua digressão mundial de 1989, integra a música "Dança" no ambiente musical da mesma.
("Dança")

Em 1967 grava o seu primeiro LP ("Guitarra Portuguesa"), encontrando-se a sua obra compilada, desde 2003, em 8 CD's. 
Colaborou com o cinema, o teatro, e outros colegas como Adriano Correia de Oliveira (outro que veio do fado de Coimbra), Carlos do Carmo, Victorino de Almeida, Charlie Haden, Madredeus, Rui Veloso, Mário Laginha, Nuno Guerreiro.
Herdeiro da tradição coimbrã, desenvolve uma técnica própria, que a vivência na capital bastante influenciou. Nas suas mãos de génio (O "Homem dos Mil Dedos", como lhe chamavam), a guitarra chorava, ria, gemia, sussurrava baixinho, gritava exaltadamente, tinha alma, tinha sonho, amava, desejava, cantava, era corpo vivo.
E com um cheiro a maresia e o perfume da tonalidade branca que embala Lisboa.
Como no tema do filme "Verdes Anos", que, em 1963, compôs para o realizador Paulo Rocha:  

"Quando eu morrer, morre a guitarra também.
O meu pai dizia que, quando morresse, queria que lhe partissem a guitarra e a enterrassem com ele.
Eu desejaria fazer o mesmo. Se eu tiver de morrer.” (Carlos Paredes)




Felizes somos nós, por termos sido contemporâneos do homem bom e simples que é o génio Carlos Paredes.

sábado, 15 de fevereiro de 2014

THE SIMPSONS

 
Hoje o cartoonista Matt Groening completa 60 anos.
Este nome não diz nada?
Se acrescentarmos que é o criador do excepcional programa que dá pelo nome de "The Simpsons", então há mesmo razões para celebrar.
Com essa série, tão humana, tão americana, tão corrosiva, tão caricatural, este criador, também autor de "Futurama", entrou, em definitivo, para o panteão dos imortais.
E que os Simpsons vivam para sempre! 

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

DIA DOS NAMORADOS

 
Hoje é Dia dos Namorados,
Como foi ontem,
E será amanhâ, 
E todos os dias,
E todas as noites,

"Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?" 
(Luís de Camões)

E é Dia dos Namorados
Sempre que dois amantes mergulhem nos olhos um do outro,
Se sintam, se toquem, se beijem,
E os corações batam em uníssono,
E o Amor seja o ar que respirem,
Enquanto o tempo for dando tempo ao tempo


OS DIAS DA RÁDIO

Ontem comemorou-se o Dia Mundial da Rádio.
A Rádio de todos os dias,
Ou "Os Dias da Rádio", genial Woody Allen,
Ou a voz que a Rádio nos trazia de Londres, Fernando Pessa sob as bombas,
Sangue, Suor e Lágrimas, nunca se renderam,
Ou a Rádio homenageada, "Radio Ga-Ga" dos Queen,
E as alegrias dos golos, gritados, chorados, Artur Agostinho e Jorge Perestrelo,
E vermos a ouvir, Eusébio a marcar, Damas a defender,
E o riso, Rádio, Parodiantes de Lisboa,
Ou os diálogos(?) de Olavo D'Eça Leal,
E os folhetins, diários, Tide, Simplesmente Maria,
E a música anos 60, Beatles, Stones, Beach Boys,
Nova civilização, revolução de costumes, Em Órbita, 
Cândido Mota, João David Nunes,
Que ainda passavam "A Lenda D'El Rei Dom Sebastião", Quarteto 1111, José Cid,
Ou as tardes do Monumental, concursos ié-ié,
Sheiks, Chinchilas, Vitor Gomes e os Gatos Negros, 
Microfones da Rádio a captarem,
E a nova música, o pós-Zip Zip, Tempo Zip,
Carlos Cruz, Fialho Gouveia, Raul Solnado, 
E a música que a censura não percebia, em surdina,
Zeca, Adriano, Godinho, Mário Branco,
A voz de Leite de Vasconcelos, Limite,
E o tempo dos blues, da soul, do jazz,
Um, dois, três, quatro, cinco minutos de jazz, José Duarte,
E Júlio Isidro e a Febre de Sábado de Manhã,
Rui Veloso, UHF, Xutos, GNR, Herman José,
Ainda as vozes, António Macedo, Rui Morrison,
E a Rádio livre, colarinho desapertado,
Nuno Markl, Vasco Palmeirim, Ana Galvão,
O Humor, Ricardo Araújo Pereira, Bruno Nogueira,
A Rádio sempre, todos os dias,
 
Especialmente no dia em que, da noite, acordámos cidadãos de corpo inteiro. 

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

FACTUROMILHÕES

 
("Não se esqueçam: só sai a quem Factura! Anda à roda, anda à roda! Só sai a quem Factura!")

Aqui no bairro anda tudo numa roda-viva, vivó Governo, vamos todos ter carros topo de gama, ou lá o que isso é, o meu pai anda todo contente, até por causa do Benfica, e agora porque vai ter uma carripana, já o avisei para pedir a factura sempre que emborca os três bagaços na tasca do Aníbal, e quando compra "A Bola" no quiosque do Barreto, que é um moço caixadóculos analfabeto que vende jornais, revistas e vídeos porno, enfim, vai ser um fartote, e até parece que cada topo de gama, ou o catrino ou o camandro do calhambeque, vem com um brinde que dizem que é um quadro, para pôr na parede por cima do elefante de trombas no pexixé, pintado por um tal Miró, que dizem que é um galego que passou a fronteira a salto para ir a Londres ter com a Cristina que parece que era a namorada dele, enfim, não sei o que é isto, não percebo nada, a culpa é do Sócrates, andando, o que conta é que com a factura do nosso querido Governo vamos ter brutas máquinas, não temos dinheiro para a gasosa, o óleo, os pneus, o seguro, as revisões, que se lixe, temos carro de luxo à porta, podemos já fazer troça do Jerónimo bate-chapas que só tem um Clio em segunda mão, é porreiro, toda a malta do bairro a fazer troça de toda a malta do bairro, vai ser porrada de ferver, uns contra os outros, vivó Governo, o que vale é que somos ricos, temos carrões, não pagamos o resto, se houver chatices vamos ser julgados nos tribunais de ricos que o lorpa cá do bairro, o Tó Zé, anda para aí a imaginar, mas a máquina é que é baril, quem precisa de saúde, casas, educação, t'arrenego, ciências, o diabo a sete, se querem bolsas vão comprá-las aos estaminés da Paulinha na Feira do Relógio ou junto à Boa-Hora, querem tudo, alambazados, mania que são gente, sempre a mandar vir os ingratos, vivó Governo, o que nós queremos é carros, e olha, se não sair nada nas rifas da factura, ficamos na mesma, que se lixe, ou que se f....., como diz a senhora americana, ou é a senhora Merkel, sei lá eu, olha encolhemos os ombros e dizemos como o padrinho do senhor nosso primeiro-ministro, "Pobrezinhos mas honrados!".
E pronto!    





Nota: Pequena e modesta homenagem a Luís de Sttau Monteiro e à "Redacção da Guidinha" no saudoso "Diário de Lisboa"

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

NUNO BRAGANÇA

 
Nuno Bragança é, infelizmente, pouco divulgado.
A sua obra, "Obra Completa 1969-1985", editada em 2009 pela Dom Quixote, vendeu pouco mais de 1.000 exemplares.
No entanto, é um dos grandes criadores da nossa literatura no século XX.
Nascido a 12 de Fevereiro de 1929 no seio de uma família aparentada com a Casa de Bragança, nem por isso Nuno, desde novo, deixou de revelar a sua preocupação com os mais desfavorecidos, consciente do significado da luta de classes, politizado, lúcido e revolucionário, por vezes próximo do exagero.

“Ora, não se deve matar pobres, porque cada um deles representa esmolas possíveis, quer dizer Boas Acções. Como dizia o Poeta, «os pobres são os degraus da escada que conduz os ricos ao Céu».”
(Nuno Bragança)


Praticante de boxe e caça submarina, foi fundador do Centro Português de Actividades Subaquática, foi, também, militante da Juventude Operária Católica, de cujo órgão "Encontro" foi redactor.
Amante do cinema e do cineclubismo, fundou o "Centro Cultural de Cinema" e, com outros católicos progressistas (João Bénard da Costa, António Alçada Baptista, Pedro Tamen), fundou a revista de cultura "O Tempo e o Modo", marco indelével das letras nacionais.
Na sua crónica "Guliveira e os Liliputianos" (em colaboração com M.S.Lourenço e Manuel de Lucena) satirizou Salazar e o salazarismo.
Em 1963 é o argumentista e autor dos diálogos de um filme de Paulo Rocha que se viria a tornar uma referencia incontornável do nosso cinema: "Verdes Anos".
Com uma visão por vezes violenta, mas com imenso amor pelas pessoas e pela vida, numa procura incessante da liberdade, que verte para a sua prosa, produz romances sólidos, em que perpassa com intensidade os anos 60 e 70, a vertigem, a noite, o bas-fond, o desejo, a frustração, os sonhos de revolução e liberdade, os copos, as ruas, as pessoas, sempre.
"A Noite e o Riso" (1969), "Directa" (1977), "Square Tolstoi" (1981), constituem uma quase trilogia, perpassada de apontamentos auto-biográficos e datados. De citar, ainda, a colectânea de contos "Estação" (1984) e o póstumo "Do Fim do Mundo".
Sugere-se, caso se consiga obter uma cópia, a visão do documentário realizado em 2008 por João Pinto Nogueira, dedicado a Nuno Bragança, e cujo título é simbólico: "U Omãi qe Dava Pulus". 
 

Às vezes, acontece num sítio destes e em hora assim que o pecado original se derreteu num shaker, acabando-se a mortalidade infantil e a Polícia. Sinto essa harmonia. Por cima dos ombros cansados, como um xaile da leveza dum suspiro de gato. Pelas luzes das mesas e fumo nos olhos trotam as mais certeiras notas de piano. (Nuno Bragança - "A Noite e o Riso")