segunda-feira, 30 de junho de 2014

THE WHO : ROCK PURO A 90 o

 
Em Junho de 1964, quatro rapazes ingleses, de seu nome Peter Townshend, Rogar Daltrey, Keith Moon e John Entwistle, formavam um grupo rock que, pouco tempo depois, se tornaria famoso quando, num final de espectáculo na "Railway Tavern", Townshend, por acaso, partiu a guitarra. O público riu-se. Peter pega noutra guitarra e, literalmente, desfá-la perante uma audiência atónita.
A moda ficou, e as pessoas esgotavam os espectáculos para assistirem àqueles finais apocalípticos, em que também o baterista Keith Moon ajudava à festa escaqueirando pratos, tambores, o que apanhasse pela frente.
Quem chegasse a Londres poderia perguntar a um autóctone : "Who are they?". Resposta:
"The Who", uma das maiores bandas de rock que surgiram no Olimpo da Grande Música.
("Baba O'Reilly - do album "Who's Next" de 1971)

Agressivos, inovadores, aliando a rebeldia, personalizada por Daltrey, ao talento e conceptualismo de Townshend, com Entwistle e Moon também a compôr, passam para a posteridade os álbuns que, no seu todo e nas suas canções contam uma história do princípio ao fim, onde Peter executa os seus riffs únicos de guitarra e onde, da sua criatividade, nasce a primeira grande "ópera rock": "Tommy" de 1969.

("Pinball Wizard", da ópera "Tommy")

"Who's Next", de 1971 é considerado uma das obras-primas da história do rock, e "Live at Leeds" (1970) o melhor album de sempre gravado ao vivo.

("Won't get fooled again", do album "Who's Next")

E em 1973 voltariam a surpreender, ao lançar a sua segunda ópera-rock, "Quadrophenia", que deu nome a uma tournée que ainda dava a volta ao mundo em 2012 e 2013, superadas as trágicas mortes de Moon (1978) e Entwistle (2002).

("Love Reign O'er Me" de "Quadrophenia")

Este post é apenas um aperitivo em que se sugere, e convida, a estudar a sua influência, a ler a história do seu percurso, e, acima de tudo, a ouvir essa mítica banda, de qualidade inatacável, e que marcou toda uma geração.

("My Generation" do album do mesmo nome, de 1965. Em 2012 The Who encerraram os Jogos Olímpicos de Londres com esta música. 47 anos decorridos....Intemporais!)

    

sábado, 28 de junho de 2014

A MINHA PÁTRIA É A MINHA LÍNGUA

(Testamento de D.Afonso II, datado de 27/06/1214)

Rezam a crónicas que, ontem, 27 de Junho, passaram 800 anos sobre a publicação do primeiro documento em Língua Portuguesa, o denominado "Testamento" de D. Afonso II.
Isto que diz respeito à comunicação escrita.
Quanto à oral, foi evoluindo desde os tempos de barbudos "Homens do Buçaco", passando pelas legiões romanas, árabes das hortas, celtas e visigodos.
Língua Portuguesa (escrita e falada) que foi sempre evoluindo, incorporando, transmitindo, deitando-se nas praias de África, nos palácios da Índia ou China, nas margens do Amazonas, nas águas de Porto Seguro.
Sempre viva, sempre inventando-se, sempre dando ao mundo poetas, romancistas, dramaturgos, cantautores, tradições, lendas, o pulsar das veias e artérias vivas que a transformam na quarta língua mais falada do mundo.
Se querem honrar e prosseguir estes 800 anos, então deixem-na respirar e continuar a inovar-se, a nascer e a renascer.
Não a sepultem debaixo de um qualquer "Aborto" Ortográfico!
Não se nasce impunemente com aa riqueza desta Língua Portuguesa!

("Língua" - Caetano Veloso e Elza Soares)


 

I GUERRA MUNDIAL : 100 ANOS

 
Passam hoje 100 anos sobre o dia em que, em Sarajevo, foi assassinado o herdeiro do trono do Império Austro-Húngaro, arquiduque Francisco Fernando, incidente que foi o pretexto próximo para o eclodir da Primeira Guerra Mundial que, durante quatro anos, varreu a Europa, o Próximo e Médio Oriente e África.
Afirmação do pangermanismo, designadamente depois da unificação alemã desde 1870, tentando a hegemonia sobre as nações da Europa Central, e estendendo a influência aos países periféricos, conflitos regionais a nível europeu, redesenhar das fronteiras, designadamente nos Balcãs, feroz competição entre os grandes blocos industriais e financeiros (Alemanha, França, Grã-Bretanha), tentativas de obter, para cada lado, o apoio do grande Império Russo, afirmação perante os emergentes Estados Unidos.
E depois da I, a II Guerra Mundial.
E depois de mais de 70 milhões de mortos nos dois conflitos, e 100 anos passados, olha-se para a Europa e vê-se...o quê?
Domínio económico e financeiro da Alemanha, conflitos regionais e novas fronteiras (ex-Jugoslávia, Ucrânia...), renascer do Império Russo, Grã-Bretanha receosa de uma União Europeia governada a partir de Berlim, crise financeira global a níveis quase paralelos com 1929/32, eclosão de movimentos nacionalistas, xenófobos e racistas.
Familiar, não é? 
Alguém aprendeu alguma coisa?
("The pipes of peace" - Paul McCartney)

sexta-feira, 27 de junho de 2014

CAVACO : AS REGUADAS DO MESTRE-ESCOLA

 
"Aprendemos a lição dos últimos anos."
Foi algum digno, mas ultrapassado, mestre-escola que disse isto aos seus cabisbaixos alunos?
Paulo Bento a Ronaldo y Sus Muchachos após as derrotas no pontapé na bola?
Algum economista dos círculos governamentais, depois da política de terra queimada seguida nos últimos anos?
Portas a confidenciar a Passos, com Poiares Maduro a salivar e a abanar o rabo?
Não!
Foi S.Exª. o Presidente da República, o tal de Cavaco Silva, em cerimónia pública, perante um alto dignatário estrangeiro, nem por acaso, o presidente da potência ocupante, perdão, da Alemanha.
O que o Sr. Silva disse foi um grave insulto a todo o povo português.
Na sua visão mesquinha, vingativa, o povo de Portugal mereceu ser fustigado.
Empobrecido,
Desempregado,
Emigrado,
Doente,
Analfabeto,
Vergado.
Na sua, na visão do Governo que sempre apoiou, e na da ideologia que sempre professou nos últimos 35 anos de permanente vida pública.
O general Garcia dos Santos tem razão: este homem é uma nulidade!
Enquanto economista, que nada sabe de crises financeiras ou de união monetária.
Enquanto político, quando incessantemente persegue o desejo de voltar a ver o país amordaçado.
Enquanto ser humano pela falta de carácter e de coragem.
Presidente da República?
O que nós queremos é futebol....  

Partido Seguro : O PASSADO NÃO PERDOA

"Eu não trago nenhum passado de volta." 
António José Seguro dixit.
E o título deste post ("O passado não perdoa") é o de um grande western de John Houston, de 1960.
E qual é o passado que AJS não traz de volta?
Decerto que não é do "tralha socrática", como elegantemente se anda para aí a escrever.
Nunca defendeu o anterior Governo do seu partido.
Achincalhou-o, deixou o insulto correr à roda livre, aquiesceu às mentiras da direita.
Nunca criticou, aberta e lealmente os erros, que existiram, e não pouco.
Mas nunca defendeu o que foi bem executado, e não foi pouco.
Colou-se à coligação PSD/CDS, sendo o seu verdadeiro Seguro de vida.
Abstenção violenta! O que foi isso?
Também não deve ser esse passado que não volta!
Mas o que não volta, ainda é mais grave.
Não volta a matriz ideológica do Socialismo ou da Social-Democracia.
Tal como os seus amigos da dita "3ª. Via".
Tal como Blair, Schroeder ou Hollande.
A rendição socialista às teses ultra-liberais e monetaristas.
O ajoelhar perante o domínio pangermanista, que a Alemanha sempre tentou desde os 70's do século XIX.
Fechar na gaveta Marx, Jaurès, Proudhon, Keynes, até José Fontana ou António Sérgio.
Esquecer o passado, não aprender com ele.
Os erros e as virtudes.
A frontalidade.
A ideologia.
Mas talvez volte outro passado.
Como o das chapeladas eleitorais.
Em forma de "receita farmacêutica".
Não interessa onde se vota nas legislativas.
Interessa votar Seguro.
E depois votar PSD ou CDS.
Compromisso escrito dos "simpatizantes"?
Deve ser para rir. Só pode...
E depois de Seguro ganhar as primárias? (se ganhar....).
Possivelmente acabam as tiradas inflamadas contra o Governo e a favor da Constituição.
Possivelmente recorda-se o consenso que Cavaco pediu até à apresentação do Orçamento para 2015, ou seja, até 15/10/2015 (recorda-se: as primárias no PS são a 28/09.).
Possivelmente, e face à miragem de uma maioria nas legislativa, Seguro, mais uma vez, cede.
Tudo em nome da estabilidade e do pagamento da dívida.
Argumentando, bom aluno, que, de facto, os portugueses viveram "acima das suas possibilidades"...
E possivelmente teremos consenso.
E Orçamento aprovado.
E maioria de 2/3 para rever a Constituição.
E rasgar ideologia e princípios.
E rasgar o PS.
E rasgar a Constituição.
E rasgar o País!    
E, além do passado, milhões não perdoarão!

quinta-feira, 19 de junho de 2014

CHICO BUARQUE : TANTO MAR...

 
Caro Chico,
Parabéns pelos teus 70 anos.
Tímido como és, não deves gostar de muitas celebrações, talvez estejas retirado, em Paris, quem sabe se à sombra de um copo de cachaça bem brasileira que te tenham oferecido.
Por falar em retiro, contam as histórias que Elis Regina, cansada da tua timidez, não teve paciência e não gravou as tuas primeiras obras. Corria o ano de 1965 e ela tinha vencido o 1º. Festival da Música Popular Brasileira com "Arrastão" de Edu Lobo e Vinicius de Moraes.
Só que tu, puto metido às músicas, com experiência de Brasil e Itália (atrás do teu pai, diplomata), no ano seguinte com uma música que parece simples, trivial mas que, ouvindo bem, revela o teu génio: "A Banda"
Neste teu dia de aniversário, como sabes, está a decorrer no teu Brasil o Campeonato do Mundo do Futebol, com aqueles gangs da FIFA, UEFA, etc., acolitados por cães de fila como o triste Edson Arantes do Nascimento, de seu nome Pélé, a vendem a imagem de que a tua Pátria é só samba e futebol.
Já viste isto, Chico, tu que sempre combateste a censura, a ditadura militar, os grupos armados de esbirros que invadiam teatros, salas de espectáculos, espancando, prendendo, matando.
E nesses anos de chumbo cantavas a liberdade e a dignidade dos brasileiros.
("Pedro Pedreiro")
("Construção")

Felizmente para o Brasil, e para todos nós, o Brasil é muito mais, muitpo maior, muito povo.
E para esse povo não te limitaste a compor e a cantar. Cantaste o que produzias, e davas a cantar a colegas como Elis Regina, Nara Leão, Elba Ramalho, Simone, Gal Costa, Milton Nascimento ou Ney Matogrosso. E cantaste Tom Jobim, Vinicius, Caetano Veloso, Edu Lobo, entre muitos outros.
Do teu Brasil Brasileiro.
Mas não te ficaste pela música, jovem setentão. Compuseste para filmes e peças de teatro, foste actor.
Referir apenas, entre tantos trabalhos "Quando o Carnaval Chegar" (filme de Carlos Diegues), "Roda Viva", peça que escreveste e que fizeram o favor de proibir, assim como "Calabar", "Gota de Água", ou a famosa "Ópera do Malandro", em que revisitaste John Gay ("Beggar's Opera") e Bertolt Brecht ("A Ópera dos Três Vinténs").
("Geni e o Zepelim" da  "Ópera do Malandro")

Não satisfeito, puto irrequieto de 70 anos, também abraçaste o romance, tendo ganho por 3 vezes o Prémio Jabuti, o mais prestigiado galardão literário do Brasil: 1992 com "Estorvo", 2004 com "Budapeste" e 2010 - polémico - com "Leite Derramado". Um prémio que já havia distinguido Jorge Amado, Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector, João Cabral de Melo Neto, Erico Veríssimo.
És a "unanimidade nacional", como bem escreveu Millôr Fernandes.
O Brasil precisa de gente como tu, velhote!
Até de pedaços de ternura.
("Valsinha", com poema de Vinicius de Moraes)

E não desesperes, porque depois da "festa" do pontapé na bola, és necessário para dar outra ou outras festas, mas a serio, ao teu povo: a festa da saúde, a festa da educação, a festa do desenvolvimento, a festa da habitação, a festa dos índios, a festa de todas as etnias, a festa brasileira.
E não há assim tanto mar a separar-nos.
Manda-nos um cheirinho de festa, para esta apagada e vil tristeza.

 
   

O "CONSENSO" : TIRO AO TRIBUNAL CONSTITUCIONAL

  
( a vermos se acerto no TC...)

Com clareza, conforme notícia que junta, o Tribunal Constitucional indeferiu o pedido de aclaração (ou seria acareação?) solicitado pelo Governo, quanto ao chumbo de 3 de 4 medidas do Orçamento de Estado para 2014 cuja constitucionalidade lhe foi suscitada.
 (Notícia do DN - hoje)
O que o Tribunal Constitucional disse (vd. "Acórdão" em anexo a este post, aprovado por unanimidade), muito simplesmente, foi que o Governo
Aprenda a ler,
Aprenda a escrever,
Aprenda a contar.
Que aprenda o básico como, por exemplo, que são as leis a adaptarem-se aos preceitos constitucionais e não o contrário.
Que não volte a passar pela vergonha de ver o próximo e quarto orçamento que apresentar (para 2015), ferido, uma vez mais, de inconstitucionalidade.
Que quem não se adapta à Lei Fundamental, ou renuncie, ou proponha a sua revisão. Afinal, a actual Constituição já foi revista por 7 vezes! (1982, 1989, 1992, 1997, 2001, 2002 e 2005).
Só que, para que o analfabetismo governamental possa rever a Constituição, necessita de um consenso de 2/3 dos deputados na Assembleia da República.
O Sr. Silva de Belém, agora, pede um "consenso" até à altura da apresentação do novo orçamento, ou seja, até 15 de Outubro.
Não será que, com esse "consenso", o que se pretende é, domesticando o PS, contar com o número de deputados suficiente para rever a Constituição e, por exemplo, eliminar essa "força de bloqueio" que é o Tribunal Constitucional e, em consequência, aplicar, sem entraves, a agenda ultra-liberal, que é a do Govderno e de Cavaco?
Com Seguro, é tudo inseguramente possível. Na luta pela sobrevivência tudo vale, não é?
Seria a saída em beleza do grande responsável pelo estado a que este país chegou...

P.S.: A "justificação" para a não actualização de subsídios de férias já pagos seria para rebolar a rir, pela sua clara ilegalidade, se não afectasse a vida de milhares de pessoas.

ANEXO: Acórdão do TC sobre o pedido de aclaração:

"ACÓRDÃO N.º 468/2014
Processo n.º 14/2014; 47/2014 e 137/2014
Plenário
Relator: Conselheiro Carlos Fernandes Cadilha

Acordam em Plenário no Tribunal Constitucional

1. A Assembleia da República, enquanto órgão autor da Lei do Orçamento do Estado para 2014, vem formular um pedido de aclaração do acórdão n.º 413/2014, na parte referente à limitação de efeitos da declaração de inconstitucionalidade das normas do artigo 33.º dessa Lei, considerando terem sido detetadas dúvidas interpretativas decorrentes de ambiguidades e obscuridades, e pretendendo que se precise o exato alcance da restrição de efeitos quanto às seguintes questões concretas:

quarta-feira, 18 de junho de 2014

JOSÉ SARAMAGO: A NOSSA LÍNGUA É A SUA PÁTRIA

 
Já passaram quatro anos quando, naquela manhã, notícias de Lanzarote, tristes, choradas, nos anunciavam a morte de José Saramago.
A obra, única, genial, ficou, como se fosse a sua herança para todos nós, todos os que amamos a Língua Portuguesa, herança trabalhada, burilada, cinzelada, torneada, pelo grande artífice que foi, que é.
Como o reconheceu o seu amigo Vasco Graça-Moura, politicamente nos seus antípodas, mas que, como intelectual lúcido que era, infelizmente desaparecido este ano, não teve pejo no elogio a quem, como ele, também se bateu pela Língua, e contra o chamado Aborto Ortográfico.  
O texto seguinte é de 23/06/2010:   

 Na morte de José Saramago - Opinião - DN

A prosa que aqui também se junta, foi escrita a meio caminho, dois anos após a morte de Saramago, dois anos antes deste post.
E no fim do caminho, juntamo-nos para ler Saramago.



"LEVANTADOS DO CHÃO

*  A José Saramago

            Quando o teu avô pressentiu a companhia gelada da senhora de negro e gadanha nas mãos, saíu para fora de casa, andou pelo caminho e abraçou-se a uma árvore. Não sabia ler nem escrever, diziam. Mas sabia ler a pulsão fervilhante da vida da terra, da natureza, da força telúrica e seminal que emana de todos os seres vivos, dos animais, das plantas, e também das rochas, areias, águas, ares que nos rodeiam e nos enchem, pulsando ininterruptamente.
Não sabia escrever, mas nesse momento escreveu uma das mais belas odes ao sentido da existência, a uma devoção ao natural, que não necessita de grandes interpretações teológicas sobre questões de fé, ou de intermediários entre o humano e o que determina a vida de todos os dias.
Haverá algo que nos transmita tão bem a força da criação melhor do que uma árvore, que começa numa pequena e buliçosa semente, e se transforma num bom gigante de  múltiplos braços abertos para nos acolher.
Por estas e por outras, e por outros exemplos que todos os dias nos são dados por pessoas ditas “analfabetas”, as forças naturais influenciam-nos mais do que nós, os ditos “cultos”, podemos adivinhar. Leiam, por exemplo, “A um deus desconhecido” de John Steinbeck, se estiveres de acordo José. 

segunda-feira, 16 de junho de 2014

O OVO DA SERPENTE.

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"Privatize-se tudo, privatize-se o mar e o céu, privatize-se a água e o ar, privatize-se a justiça e a lei, privatize-se a nuvem que passa, privatize-se o sonho, sobretudo se for diurno e de olhos abertos. E finalmente, para florão e remate de tanto privatizar, privatizem-se os Estados, entregue-se por uma vez a exploração deles a empresas privadas, mediante concurso internacional. Aí se encontra a salvação do mundo... e, já agora, privatize-se também a puta que os pariu a todos.

José Saramago, Cadernos de Lanzarote, Diário III"

No dia 30 de Maio deste ano, o Tribunal Constitucional, no exercício das suas atribuições,que constam de preceitos constitucionais, chumbou três das quatro normas do Orçamento de Estado para 2014, que lhe foram submetidas para fiscalização sucessiva.
Desde já, importa clarificar que a actual Constituição da República, aprovada em 1976 apenas com os votos contra do CDS, foi já objecto de sete revisões (1982, 1989, 1992, 1997, 2001, 2004 e 2005), através de consensos entre os partidos do chamado arco da governação, designadamente PSD e PS.
E que a maioria dos actuais juízes daquele Tribunal foi escolhida também pela actual maioria no poder.
Então, porquê tanto histerismo, tanta pesporrência, tanta demonstração de ignorância em matérias de Direito e da Constituição?
Porque julgavam que os "seus" juízes iriam aplicar a prática política de Governo & Presidente, em vez de se aterem às normas constitucionais?
Porque, também eles, são uma "força de bloqueio", como melhor diria o Sr. Silva?
Ou porque tudo não passa de uma encenação, de uma cortina de fumo para distrair as pessoas de algo mais grave, que está a corroer o país e a União Europeia, que impõe a narrativa do "viver acima das possibilidades" ou a "insustentabilidade do estado social"?
Nos anos 80, Reagan e Thatcher impuseram a desregulação dos mercados, a livre circulação de capitais e a especulação, a teoria do Estado guloso e gastador, que sugava o dinheiro dos contribuintes. John Keynes estava a ser enterrado.
Com esta política, o Estado era um peso, um opressor dos povos, um "social" parasitário.
Nada de investimentos na educação, ciência, investigação, saúde, pensões, subsídios.
Quem se quisesse educar, tratar a saúde, mitigar o desemprego, Pague!
E privatize-se tudo. É o mercado a funcionar! 
O Estado limitava-se ao assistencialismo caritativo e de esmola.
E, para acompanhar este pensamento ultra-liberal (e disfunções sucedâneas como a arquitectura deficiente da moeda única...), verifica-se que, tragicamente, correntes do dito socialismo democrático, mesmo do comunismo ou até da democracia-cristã, algumas fundadoras da CEE, se sentem seduzidas por este pensamento, como forma de cortar "gastos excessivos".  
E tem de ser assim?
Se olharmos restropectivamente para as crises de 1929/32, ou para os anos imediatamente subsequentes à 2ª. Guerra Mundial, vemos o Estado (mesmo no New Deal de Roosevelt...) a regulamentar a actividade financeira e, especialmente na Europa, a dar origem ao chamado Estado Social, cientes as pessoas e os responsáveis políticos que a paz e o desenvolvimento se deveriam basear na consagração de direitos humanos fundamentais como a saúde, a educação, a habitação, a segurança social, para lá das funções tradicionais do Estado, como a defesa e segurança, ou a representação externa. Leia-se Keynes.
Assim, a riqueza produzida era distribuída preferencialmente pela componente Trabalho - aqui considerando não só os salários como, também, a escola, o hospital, o centro de saúde, as prestações sociais, pensões, reformas, transportes, polícias- em detrimento do Capital.
Com os anos 80, e a afirmação das teses liberais sobre a "asfixia do Estado", o "Estado tentacular", tenta-se (e consegue-se...) fazer vingar a teoria de que as populações seriam melhor servidas, e desfrutariam de melhores condições de vida, se o Estado se "libertasse" das suas obrigações, se reduzisse ao mínimo (Segurança e Política Externa), passando a iniciativa privada a prover as necessidades dos povos. A pagar, claro.
Escolas, hospitais, reformas, pensões, comboios e metros, correios, até polícias, seriam melhor geridas e disponibilizadas pelos detentores do Capital.
O Estado asseguraria, quando muito, a assistência caritativa para esconder a miséria e o desemprego debaixo do tapete.
A verdade é bem diferente...
A partir daí, inverte-se a lógica distributiva, e os rendimentos da produção passam em maior escala para o Capital especulativo, desregulamentado e, não produtivo, em detrimento do Trabalho. 150 anos depois, a teoria da mais-valia, desenvolvida por Karl Marx, continua actual!
Como é lógico, se o Trabalho vê os seus recursos espoliados, é evidente que "vive acima das suas possibilidades". Ninguém questiona que o Capital, esse sim, é que desbarata recursos.
Lamentável é que quem se intitula de socialista, comunista, até democrata-cristão, mande às malvas os princípios da solidariedade, igualdade e liberdade, que são pilares da Europa, e se adapte a esta "narrativa" destrutiva, onde a dita moeda única, em vez de unir, cava fossos na Europa, não já entre nações, mas entre Devedores e Credores.
Sob o domínio da lógica ultra-liberal e dos seus seguidores, como o Governo e Presidente do nosso país, por exemplo, não é só a União Europeia que está ferida de morte, é a própria noção de democracia, pelo esbatimento artificial das ideologias que corre perigo.
O que, em si, é, de facto o triunfo de uma ideologia: a ultra-liberal, especulativa, assistencialista, que aguardava o momento propício para ver a luz do sol, aproveitando a crise internacional (repete-se, internacional...) nascida em 2008.
Nestes dias de chumbo, é necessária a ideologia e a luta por valores perenes e que ainda são património da esmagadora maioria da Humanidade.
É preciso, é necessário, dar esperança aos desesperados e recuperar as bandeiras que outros tomam, mas que não sâo nem foram suas (Front National, UKIP, Marinho e Pinto...).
Nos dias de 1939/45, grande parte dos alemães não sabiam da guerra e viviam bem, à custa do esbulho e rapina de outros povos e nações.
Com menos sangue e despesa, parece que esses dias, por cegueira de uma Europa que parece conformada e colaboracionista (França, Holanda...), querem voltar.
A serpente não pode voltar a erguer a cabeça.
É urgente abafá-la no ovo!
É preciso, cada vez mais, avisar a malta.....

(José Afonso "O que faz falta!")

sexta-feira, 13 de junho de 2014

JOSÉ GOMES FERREIRA: A POESIA ESTÁ NA RUA!

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José Gomes Ferreira nasceu a 9 de Junho de 1900 no Porto.
O Poeta militante da liberdade e da solidariedade.
Aluno do mítico Lyceu Camões, licenciado em Direito mas que, enquanto advogado, abraçou as causas da literatura, quer na poesia, a sua principal ferramenta, como, igualmente, na ficção, incluindo a infantil ("Aventuras Maravilhosas de João Sem Medo"), no conto, no ensaio, no estudo, na tradução.
Poeta libertador, ainda teve a alegria de viver o 25 de Abril, pelo qual se bateu com as armas que tinha.
Na ressaca da vitoria aliada na 2ª. Guerra Mundial, quando se pensava que o salazarismo também poderia cair, foi um dos muitos que estiveram na origem do Movimento de Unidade Democrática e, em conjunto com outros poetas neo-realistas, como Carlos Oliveira, Joaquim Namorado ou João José Cochofel, escreveu versos que Fernando Lopes-Graça viria a musicar, dando-nos as eternas "Canções Heróicas", cuja primeira edição seria de 1946.
Canções de resistência, em breve proibidas pela PIDE nas rádios, colectividades e salas de espectáculo.
Da sua autoria, recordam-se "Jornada" e "Acordai", esta última dolorosamente actual.

"Jornada"

"Acordai"