sábado, 7 de dezembro de 2013

MANDELA E...GEDEÃO

 
Nestes dias, em que Mandela enche as notícias e os corações, em que a emoção vai dando lugar à saudade e à memória, chega à memória não uma frase batida, mas um poema de António Gedeão (Rómulo de Carvalho) que, na sua essência, é aqui evocado como manifesto contra o racismo e a discriminação, duas indignas violências contra as quais Madiba lutou até ao fim.

Lágrima de preta
Encontrei uma preta
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.

Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.

Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.

Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.

Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:

Nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.


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