quinta-feira, 25 de maio de 2017




GRÉCIA : DAS PUTAS E DO VINHO VERDE

Grécia, não sei se foste tu que me abraçaste, se sou eu que te abraço e adopto.
Quanto mais te conheço mais aprecio os versos com que Sophia de Mello Breyner genialmente te mostrou.
Mas sabes Grécia, há quem não pense assim...
Há por aí um Disselcoiso e outros Coisos lá do Norte que, olhando para os teus mais de três mil anos de vida, dizem que passaste o tempo a pedir dinheiro emprestado os tipos para o gastares todo em putas e vinho verde.
Aqui para nós, Grécia, não sei, nem vi, ou então sofro de miopia, se lá nas tuas cidades existem Bairros da Luz Vermelha...fica-me a dúvida. 
Como sabes, bairros desses, de donzelas expostas em vitrinas como coisas fossem, é algo que não existe nas terras dos Coisos.
Nem pensar!
Tal como o vinho verde, que, se existir nos teus mercados, é capaz de ser uma mistela marada exportada por galegos que assaltaram os segredos guardados nas caves de Monção ou Ponte de Lima, logo, põe-te a pau com isso, Grécia.
Como perfeito contraste, bem sabemos, tu e eu, que nas urbes dos Coisos, não há vinho, verde, branco ou tinto, muito menos consumo de alcoois.
Como bem se sabe vendo o comportamento deles, serenos e delicados, quando acompanham as suas equipas de futebol...Perfeitos gentlemen!
Portanto, putas e vinho verde é contigo Grécia, e outros devassos do Sul...
Mas...aqui para nós, talvez não seja bem isso.
Sabes, para mim é pura inveja.
Nos tempos idos em que tu representavas, declamavas ou cantavas no Epidauro, edificavas o Parthenon ou a Acrópole de Micenas, discutias na Agora o destino, o passado, o futuro, os desafios que se colocavam ao Homem, andavam os Coisos hirsutos, sujos, com tanga em pele de urso, a perseguir a pé, armados de paus toscos com pontas de metal mal ajambradas, para perseguir e comer veados e javalis, a sonhar em serem, apenas, uns quaisquer figurantes numa qualquer Guerra dos Tronos, e a viver em buracos cavados nos rochedos.     
Portanto, Grécia, deixa-os lá roerem-se...
E por cada desfeita mesquinha que te façam, ri-te na cara deles e dança.
Dança até não haver amanhã.
Porque quando eles estiverem sob sete palmos de terra, esquecidos, tu continuarás a refulgir nos teus jovens três mil anos e a ser uma inspiração e um exemplo!