sexta-feira, 29 de agosto de 2014

BARRANCOS DE CEGOS


"Somos os únicos animais cruéis que existem sobre a face da Terra" (José Saramago)

Começaram ontem, e prolongam-se até domingo as tradicionais festas de Nossa Senhora da Conceição, em Barrancos (a "Fêra de Barrancos"), ali mesmo à sombra da imponente fortaleza de Noudar.
Graças a uma "excepcional excepção" da Assembleia da República, de 2002, é autorizada a lida de touros de morte durante esse evento, que mistura o religioso com o pagão.
E, decerto, tudo em nome da "tradição", da "cultura". Talvez, até, abençoada pelo pároco local e pelos poderes autárquicos que até pertencem a um partido que se absteve na votação da lei que criminaliza os maus tratos e abandono de animais.
A que só faltará a pressurosa transmissão em directo pela RTP, a estação televisiva para a qual serviço público deve ser a divulgação e promoção da barbaridade e da boçalidade como larga e exageradamente tem feito, apesar de todos os legítimos protestos. 
Como disse o sempre atento Maestro Vitorino de Almeida, "se tourada é cultura, então canibalismo é gastronomia".
No ano em que foi aprovada, também na Assembleia da República, uma lei que criminaliza o mau trato e o abandono de animais, como atrás se referiu (com a "ressalva" que o CDS impôs ao parceiro, quanto a animais de "trabalho" e de espectáculos "culturais" -vd. touradas), começa a tornar-se obrigatório legislar no sentido de, por uma vez, pôr cobro a essa manifestação bárbara e cruel que é a tourada.
Lembra-se que o Código Civil Francês foi este ano alterado incluindo um artigo que define os animais como "seres vivos dotados de sensibilidade".
De facto os animais têm muito mais sensibilidade que os brutamontes humanos, de barrete ou de collants rosa e lantejoulas, que descarregam as suas frustrações e impotências, incluindo sexuais, em seres indefesos, perante o gáudio e o aplauso de alguns igualmente brutamontes. 
Felizmente, cada vez mais vozes se levantam e pugnam pelo fim desta "tradição", tão tradicional como a escravatura do homem negro, como a interdição do voto feminino.
Basta de touradas, até porque o povo barrenquenho e o vasto, belo e eterno Alentejo merecem muitissimo mais!

"...É uma distância de árvores e colinas quase rasas, simples cômoros que se confundem com a planície. Já se pôs o Sol, mas a luz não se apaga. obre o campo uma cinza dourada, depois empalidece o ouro, a noite vem devagarinho do outro lado, acendendo estrelas. Chegará mais tarde a Lua, e os mochos chamarão uns pelos outros. O viajante, diante do que vê, sente vontade de chorar. Talvez tenha pena de si mesmo, desgosto de não ser capaz de dizer em palavras o que esta paisagem é. E diz apenas assim: esta é a noite em que o mundo pode começar."
("Viagem a Portugal" - José Saramago - no Alentejo)

terça-feira, 26 de agosto de 2014

MULHER - IGUALDADE (?)

 
Hoje, dia 26 de Agosto, comemora-se o Dia Internacional da Igualdade Feminina e, simultâneamente, o dia em que, em 1789, em França, foi votada a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.
Portanto, não faltarão por aí excelentes e sinceras almas a declarar que hoje é dia de comemorar a igualdade entre mulheres e homens?
Será?
Os dados da PORDATA, relativos a 2013 desmentem-no:
Taxa de actividade por sexo - Homens (H) 65 % ; Mulheres (M) 54,1%
Taxa de inactividade por sexo - H  34,8%  ; M 45,8%
Ou, por exemplo, indicador de 2012:
Remuneração média de "profissionais qualificados" - H  940,00 euros ; M 805,00 euros
Ganho médio por sexo: H  1.212,30 euros ; M 955,80 euros.
Igualdade?
Não obstante todos os avanços conseguidos, nomeadamente nos últimos 40 anos, o certo é que a discriminação aumenta. 
As mulheres continuam com menor possibilidade de acesso a situações profissionais mais qualificadas, à carreira política e diplomática, a uma série de posições sociais e laborais que ainda são uma coutada de machos, não obstante, como é constatado, que a maior parte da população mais qualificada em termos académicos é mulher!
E, com o arrastar da crise, verifica-se que muito do desespero, da ansiedade, da frustração, é descarregada sobre as mulheres, não só restringindo a acesso à profissão, à remuneração igual, a direitos iguais, fruto de uma conjuntura de desemprego sufocante,  mas, muito mais grave, no aumento preocupante da violência doméstica, que é outro e disfuncional sintoma da existência de desigualdades.
E, não saindo deste cantinho, e preocupantemente, aparece uma nova geração que parece querer voltar a comportamentos que se julgavam ultrapassados, como o assédio sexual, o léxico insultuoso e humilhante, até a "bofetada", a praxe, a menorização da mulher. Sinais de tempos que destroem todas as esperanças a quem ainda agora abriu os olhos para a vida.
E, por favor, não falem em igualdade quando, no que à mulher trabalhadora diz respeito, se esquece que sobre 8 ou 10 horas de trabalho diário, teremos que acrescentar as horas incontadas de trabalho na família, no lava, arruma, cozinha, passa. 
Em quantas famílias existe, de facto, divisão de tarefas domésticas?
É que, ilustres senhores, a igualdade começa na consciência de cada um e na mudança de uma mentalidade que, infelizmente, custa a evoluir e que, nas presentes condições, custará ainda mais, com um discurso do poder que convida à invenção de "bodes expiatórios".
Que podem ser as "fadas do lar".
Que triste fado o nosso...
Apesar de tudo, mulheres do meu país, levantemo-nos, lado a lado.
Talvez ainda haja lugar à esperança!
 
("Woman" - John Lennon)

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

PARIS, A LUZ DA LIBERDADE

"Paris ultrajada! Paris Martirizada! Mas Paris Libertada!" (Charles de Gaulle, Paris, 25 de Agosto de 1944)

No dia 25 de Agosto, as tropas nazis renderam-se aos aliados e forças da R francesa, culminando 7 dias de combates que devolveram a Liberdade à cidade-luz.
Tal feito terá evitado, também, a destruição dos monumentos parisienses, que Hitler teria ordenado caso fosse impossível manter a ocupação.
Nesse dia Paris explodiu de alegria e soltou as emoções.
"Paris é uma Festa", como chamou Hemingway ao seu livro das memórias parisienses, ele que a 25 de Agosto resolveu "salvar" a garrafeira do Hotel Ritz.
Mas Paris é, de facto, uma festa.
E não é necessário correr para os locais mencionados em tudo quanto é guia turístico.
Porque não percorrer a cidade e misturar-se com os parisienses? Nos mercados, por exemplo
Como o da Rua Mouffetard (metro Place Monge ou Censier-Daubertin), onde se misturam sons e cheiros, frutas, legumes, peixes, mariscos, queijos, o mercado mais latino e mais popular da cidade.
E ali ao lado, porque não deambular pelo Jardim das Plantas ou visitar a Grande Mesquita de Paris?
 
(Grande Mesquita de Paris)

Ou, então, percorrer o mercado onde deambulam mais turistas, o animado mercado da Bastilha (metro Bastilha), procurado para as compras habituais do dia a dia, repleto de produtos regionais, e que nos pode sugerir um passeio ao longo do Canal de Saint Martin, ali mesmo ao lado, que nos poderá conduzir, se as pernas a tanto nos ajudarem e o ânimo não desfalecer, até La Villette, o parque temático da ciência e inovação ou, se tomarmos a Rue du Chemin Vert, à direita, uma peregrinação a esse verdadeiro monumento da história de Paris, que é o belo cemitério Père Lachaise, onde pode ver, entre muitos outros, os túmulos de Edith Piaf ou Yves Montand, Oscar Wilde ou Jim Morrison.
Mas, na Praça da Bastilha, se optar pela Rue Saint-Antoine, volta à direita e pode admirar, e percorrer, muito devagar, a imponente Place des Vosges, e calcorrear a zona circundante, designada por Marais, onde moda e cultura alternativas vão florescendo. Paris não fica parada.
 
(Place des Vosges)    
E depois pergunta-se: e uma vista panorâmica de Paris? Torre Eiffel, Arco do Triunfo...esqueça, não fique espremido ente filas incontáveis, sujeito a insolações, eimpaciências, com aumento da tensão arterial, o que não é conveniente
Vá até aos chamados Grands Boulevards, especificamente ao 69 do Boulevard Haussmann (metro Opéra ou Havre-Caumartin), onde se situam os Armazéns Printemps e suba ao terraço. Desfruta de um vista inesquecível, e pode limpar a garganta no bar.
Outro local para admirar esta cidade única? Suba até ao Sacré-Coeur (metro Abbesses ou Anvers) subindo, depois, a pé ou utilizando o funicular. E se for a pé, porque não pelos degraus da Rue Foyatier, homenageando, talvez já exangue e de língua de fora, Gene Kelly e "Um Americano em Paris".
Junto à Basílica a vista regala-se com Paris aos nossos pés. Depois, aprecie os artistas de rua na Place du Tertre (cuidado com os preços e os "cravas"!) e, depois, vá pela Rue Saint-Vincent e pela Rue des Saules onde pode contemplar a última vinha de Paris que, ainda hoje produz uvas e vinho o qual, todos os anos em Outubro é vendido em leilão (não se queira saber o preço!), e cujo produto reverte para  obras sociais.
Depois, desça a colina, de seu nome Montmartre (a última de Paris), em direcção à Ópera, e deixe os olhos perscrutar as ruelas, escadinhas, becos, os antigos e renovados cabarets "Moulin de La Gallette" e "Le Lapin Agile".
(Ruelas de Montmartre)
E então não há monumentos, igrejas? Claro que há, mas, e já que evocamos o dia da Libertação de Paris, vamos até ao terreiro onde se situa Notre Dame, em frente à qual se situa a Prefeitura de Polícia.
Aqui, a Resistência ocupou o edifício expulsando os nazis. Se apurarmos a vista, podemos, ao longo das paredes da praça, descobrir placas que evocam os nomes de alguns dos heróis franceses que tombaram nesse dia.
Mas já que falamos de igrejas, porque não atravessar para o outro lado do rio, para a histórica "Rive Gauche", ali onde os Boulevard Saint Germain e Saint Michel (o "Boul'Mich") evocam os idos de Maio de 1968, e onde dá gosto viver e...deixar-se levar. Depois, podemos ir até perto do Panteão bonapartista, a pé de preferência ou transporte (metro Cardinal Lemoine), e ali admirar a singela igreja Saint-Étienne du Mont onde, reza a tradição, está o sarcófago de Sainte Geneviève, a padroeira da cidade. E se for até Á fachada norte da igreja, pode ver os degraus nos quais se sentou a personagem interpretada por Owen Wilson, antes de um táxi o levar para junto de Hemingway, Dali, Picasso, nessa verdadeira declaração de amor que é o filme "Meia Noite em Paris" de Woody Allen.
(Degraus na fachada norte da igreja de Saint-Étienne du Mont)

Agora tem fome? Olhe, dias não são dias, e noites também não! Assim, vamos até a uma ruazinha chamada Rue de L'Ancienne Comédie onde, no número 13, se situa o restaurante, perdão, o botequim "Le Procope", de pedra e cal, entre outros materiais, desde 1686. Aprecie a excelente cozinha e, acima de tudo, o ambiente. Paris Antigo, Paris Moderno.
Depois, se lá estiver num dia 25 de Agosto, vá divertir-se na noite, celebrar a Libertação, não tenha medo dos bailes populares, seja junto à Câmara Municipal ou na Praça da Bastilha.
É que de Paris, cidade única e belíssima, irradia sempre a Luz da Liberdade.


 
("Paris en Colère" - Mireille Mathieu. Letra de Maurice Vidalin. Música de Maurice Jarre)
   


sábado, 23 de agosto de 2014

GENE KELLY - SERENATA À DANÇA

 

Voltando às velhas memórias do cinema...
A 23 de Agosto de 1912 nasceu em Pittsburgh um homem que viria a revolucionar o conceito de dança nos filmes musicais de Hollywood: Gene Kelly.
Antes dele o seu amigo Fred Astaire libertara o corpo do bailarino, "obrigando" os realizadores a filmá-lo de corpo inteiro, acompanhando, por inteiro, a coreografia e, no seu caso, a elegância, a leveza, o charme, o chapéu alto ("Top Hat" seria um dos grandes sucessos de Astaire, mas, e é uma opinião pessoal, o seu talento, já veterano, explodiria em "Band Wagon", de Vincent Minelli), e a dança no musical americano, muito lhe deve, bem como aos seus lídimos sucessores, fossem John Travolta ou Patrick Swayze, entre outros, para não referir a "promessa" nunca cumprida em grande écran, que seria, sem qualquer dúvida, Michael Jackson.
Gene Kelly, que foi professor de dança, e, posteriormente, actor, bailarino, coreógrafo, produtor e realizador, proporcionou ao musical um grande salto em frente, fruto, também, do seu intenso método de trabalho e da completa entrega ao projecto, motivando sempre os seus colaboradores.
Inova ao utilizar os jogos de luzes, os diversos movimentos da câmara, a conjugação da acção com o desenho animado, cenários justapostos ou "virtuais" (para a época), efeitos especiais, saída do estúdio para a rua, e integração da dança na narrativa do filme, como parte inteira do argumento.
E, facto importante, consegue que o ballet clássico seja adaptado ao cinema com aceitação universal.
Aquece os motores, sob direcção de Vincent Minelli com "O Pirata dos Meus Sonhos" (1948), com música de Cole Porter (que tem muito melhor...), e ao lado de Judy Garland.
Em 1949 vai para as ruas de Nova Iorque, dirigir, com o seu colaborador Stanley Donen, "On the Town" ("Um Dia em Nova Iorque"), ao lado de Frank Sinatra, com música de Leonard Bernstein e onde inclui coreogrrafia de dança clássica.
 
("On The Town" - Vera Ellen e Gene Kelly, e o restante elenco principal)

E 1951 encontra-o ao lado, mais uma vez, de Vincent Minelli, filmando Paris no estúdio, com números de dança por si coreografados, com a música fabulosa de George Gershwin, com a estreia de Leslie Caron, naquele que é considerado um dos melhores filmes musicais de sempre: "Um Americano em Paris"!
Com êxito clamoroso, e reconhecimento de público e crítica, nesse filme Kelly tem a "coragem" de apresentar um número musical (com o título do filme e da peça musical de Gershwin) com a duração de 16 minutos e onde, mais uma vez, a dança clássica tem o seu lugar. Para não falar da originalidade dos cenários e da coreografia.
Entre outros prémios, recebe 6 óscares, incluindo o de melhor filme do ano. 
(excerto do bailado "Um Americano em Paris", do filme homónimo)

Depois, vem a consagração final com "Serenata à Chuva", cuja realização "divide" com Stanley Donen, brilhante musical, com mais coreografias arrojadas, acompanhado aqui de Debbie Reynolds, Cyd Charisse e Donald O'Connor. O filme é um retrato irónico sobre o cinema dos finais dos anos 20, na difícil transição que estúdios, actores, realizadores, técnicos, experimentaram na transição do mudo para o sonoro.
O American Film Institute iria classificá-lo como o melhor musical de sempre.
60 anos depois, seria indecentemente plagiado por uma coisa chamada "O Artista".
60 anos depois, "Serenata à Chuva" ainda é visto e apreciado. 
("The Broadway Melody" - Gene Kelly e Cyd Charisse em "Serenata â Chuva")

"Serenata à Chuva" é o apogeu do musical americano começando, a partir  daí uma inexorável decadência, que "West Side Story" começaria a atenuar em 1961.
Kelly ainda actua, dirige e coreografa outros filmes, como "Brigadoon" (actor e coreógrafo), "Les Demoiselles de Rochefort" (actor) ou "Hello Dolly" (realizador), no qual junta Barbra Streisand e Louis Armstrong.
No entanto, e no final de uma bem recheada, talentosa, inovadora e profícua carreira, o que nos ficará na retina e no coração é um dos mais espantosos números musicais da História da Dança e do Cinema, da Arte em geral: "Singing in the Rain".


 
  

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

CAÇA ÀS BRUXAS


Algures por esta semana, dizem as histórias, no dia 19 de Agosto de 1692, terá começado na cidadezinha americana de Salem, no Massachusetts, o julgamento de diversas pessoas, mulheres em espoecial, acusadas de bruxaria.
Foram condenadas 20 pessoas, sujeitas a uma morte bárbara e cruel, um verdadeiro auto-de-fé.
Com base neste acontecimento histórico, Arthur Miller, em 1953, publicou a peça "As Bruxas de Salem", que se converteu numa obra-prima do teatro americano e na qual, fazendo o paralelo, denunciava a vaga censória e persecutória que, então, assolava os Estados Unidos, lançando a suspeita sobre actores, argumentistas, encenadores, realizadores, agentes culturais, acusando-os de perigosos comunistas.
Bruxaria, diziam.
Por cá, habituados a 300 anos de "Santa Inquisição" e 48 de Censura, também houve, e há, caça às bruxas.
Sendo que bruxas e bruxas apenas designam O Outro.
O Diferente.
O que Contesta.
O que Denuncia.
O que Protesta.
O que Escreve a verdade verdadeira.
O que Põe em Causa a "verdade" estabelecida.
A verdade do poder, e dos seus rafeiros e serventuários.
A verdade do dinheiro, do banqueiro, do traficante, do corrupto.
Do que compra almas e consciências.
Do que queima livros, jornais, filmes, músicas, poemas, quadros, cultura.
Do que impõe auto-censura, auto-de-fé próprio, íntimo, corrosivo, frustrante, envergonhado.
Que instila o medo, o pavor.
Medo e pavor do desconhecido, do "bruxo", da "bruxa".
Que atira novos contra velhos.
Que assanha privados contra públicos.
Que acicata empregados contra desempregados.
Que, com ferrete de fogo, rotula raças e faixas etárias.
Que nos querem obrigar a viver sem conhecer a Vida.
E a empobrecer para expiar as culpas deles.
Porque não admitem o Outro, o Diferente, o Alternativo.
E para segurar o poder,
Só geram Medo. Só Medo!
E com ele chantageiam todo um povo.
 
("Perfilados de Medo" - música de José Mário Branco" para poema de Alexandre O'Neill)
 

terça-feira, 19 de agosto de 2014

DIA MUNDIAL DA FOTOGRAFIA

 
O Dia Mundial da Fotografia, ou da 8ª arte, celebra-se a 19 de Agosto, data em que, conforme os compêndios, em 1839, a Academia Francesa de Ciências terá anunciado oficialmente o processo que deu origem ao antepassado da fotografia, o daguerreótipo, desenvolvido por Louis Daguerre na sequência dos trabalhos precursores de Joseph Niépce, autor da que foi realmente considerada a primeira fotografia, em 1826.
Isto quanto à história dentro da História.
Porque fotografia é muito mais.
É rosto, lágrima, ruga, olhar, boca, sorriso, fúria, passo, corrida, movimento, vida, morte, sentimentos, emoções, beleza, fealdade, dor, vazio, esperança, triunfo, passado, futuro.
Na fotografia bebe-se o mundo, adivinham-se estados de espírito, rimos, choramos.
Não será, talvez, necessário ler tudo o que se escreveu sobre fotografia por autores tão diferentes como Walter Benjamin ou Roland Barthes, Júlio Cortazár ou Umberto Eco.
Salta-nos aos olhos a definição do considerado pai do foto-jornalismo, Henri Cartier-Bresson:
"Fotografia é colocar na mesma linha de mira a cabeça, o olho e o coração".
E quando se fala de Henri Cartier-Bresson, fala-se também de outro grande fotógrafo, o americano Robert Capa, nascido húngaro.
Ambos fotografaram a guerra, a fome, a paz, a vitória, a alegria, políticos, vedetas, conflitos, momentos únicos do século passado. Expressões inesquecíveis que só artistas da máquina fotográfica seriam capazes de conceber.
Mesmo em cenários como a Guerra Civil de Espanha, a II Guerra Mundial ou a Guerra da Indochina. 
E mais não fosse, devemos aos dois, e aos seus sócios Bill Vandivert, George Rodger e David Seymour, também correspondentes de guerra, a fundação da cooperativa Agência Magnum -designação retirada de uma garrafa de champanhe -, ainda hoje famosa em todo o mundo, e à qual têm a honra de pertencer alguns dos maiores fotógrafos do nosso tempo e cujas imagens nos contam a história diária deste mundo. 
Ficamo-nos com fotos de Capa e Bresson:
  
(Morte de miliciano - polémica fotografia de Capa, durante a Guerra Civil de Espanha)
 
 (Robert Capa, Itália, II Guerra Mundial - A velha Europa ajuda os jovens Estados Unidos)
 
 (Robert Capa - II Guerra Mundial, desembarque na Normandia. Dia D)
 
(Robert Capa - Picasso e Françoise Gilot)
    
 
                      (Bresson - Albert Camus)                         

(Bresson - Au bord de La Marne -considerada uma das 13 melhores fotografias do mundo)
 
(Bresson - imagem de Hyères, França)
 
(Bresson - Marilyn Monroe)

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

14 DE AGOSTO - ALJUBARROTA DAY*

 
Aqui no bairro tá tudo enfeitado e em grandes trabalhos, pudera, hoje é dia de Aljubarrota, que é aquela data em que parece que demos uma tareia nos espanhóis, até dizem que houve uma padeira que desancou bué deles espanhóis, coitados, já não viam a padeira, também aqui no bairro há muitas que não vêm a padeira, muito menos o padeiro, o que vale é que agora somos todos irmãos, até vamos comprar caramelos a Espanha, os gajos agora são fixes, e por isso estamos alegres, embora não se veja o padeiro, pronto, olha, como o meu papá, por exemplo, comprou A Bola, e quando leu que o Jesus ia ficar sem o Enzo, ou lá o que é o gajo, foi logo à tasca emborcar uns bagaços, daqueles que o dono da coisa, o Ti Costa, diz que o Ricardito lhe deve seis garrafas, mas isso agora não conta, é mais do mesmo, o que nos vale é gritarmos pela padeira, como aquele espertalhão aqui do bairro, o brutamontes do Pintinho, que ia aos biscates nos notários, e quis ir a salto para lá fora, afinal diz que volta, que quer ir para presidente do clube recreativo, para o lugar do Silva dos Pastéis, e berra que se farta, só sabe berrar, berrar, que é para a gente não perceber nada, mete os pés pelas mãos e vice-versa, o Pintinho até berra  que bancários e banqueiros é tudo igual, deve ter apanhado sol na cachimónia com a historia dos bagaços do Ricardito, mas pronto, o que interessa para o povo do bairro é beber vinho, que é dar de comer a um milhão de portugueses, lá diz o sacana do Coelho do contrabando, ou outro qualquer da sua pandilha, como o Paulinho das pochetes, festa é que conta, o que queremos é futebol, o bairro cada vez está mais feliz, olha o Luisinho, lembram-se?, o filho do Zé Manel, aquele que foi de frosques para o lado de lá, depois de apanhado a fazer batota na lerpa e na vermelhinha, os jogos que o Pedrito, o puto que tinha a mania que era guerreiro, assim como os de Aljubarrota, organizava à sorrelfa no vão de escada, até lhe chamava, à escada, a santa casa, pois, mas o Luisinho lá arranjou emprego na tasca do Ti Costa, que remédio, o Zé Manel apontou-lhe a naifa aos gorgomilos, e embora o raio do puto não saiba o que é um copo de três ou um abafado, nem um panaché ou uma imperial, isso sim, é que é para virar bejecas, viva Aljubarrota, viva o emprego do Luisinho.
Pronto!
(Boss AC, "Sexta Feira (Emprego Bom Já)") 
  



*-mais uma pequena homenagem às redacções da "Guidinha" e a Luís de Sttau Monteiro.

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

MURO DE BERLIM - 53 ANOS

 

"O universo é uma harmonia de contrários.” - Pitágoras

Há 53 anos começava a construção de uma vergonha dos nossos tempos: o Muro de Berlim.
Em 1989, ruía com fragor.
Graças, fundamentalmente, não só a acções populares, provocações de governos ocidentais, falência de um sistema que implodiu a leste, mas também devido à visão universal de um homem chamado Mikhail Gorbachev, demasiado cedo afastado da ribalta (interesses "estratégicos" não é?) e substituído, primeiro por um alcoólatra (Ieltsin) e, depois, por um saudoso do império dos czares (Putin).
O Muro de Berlim caiu. E bem!
E os outros?
O muro que separa Israel da Palestina?
O que se construiu entre o México e os Estados Unidos?
O que se situa entre Marrocos e os enclaves espanhóis de Ceuta e Melilla?
Os muros que separam os diferentes.
Porque não se aceita a diferença.
O outro.
O preconceito que não aceitamos.
Mais do que os muros físicos, temos é de derrubar os nossos próprios muros interiores.
Recusar o preconceito.
Aceitar o outro.
Respeitar a diferença.
Derrubado esse muro, os outros cairão como castelos de cartas.
Irreversivelmente.

"Não deixemos entrar no nosso coração a cultura do descartável, porque nós somos irmãos, ninguém é descartável." - Papa Francisco

("Another Brick in The Wall" - Pink Floyd)

 

HITCHCOCK, OU O CINEMA "SUSPENSO"

 

Vamos esquecer por uns momentos o luto no cinema por estes dias (Robin Williams e Lauren Bacall), e vamos até Inglaterra. 
Quando nasceu em Londres, a 13 de Agosto de 1899, ao pequeno Alfred não lhe passaria pela cabeça que, anos depois, viria a ser consagrado como um dos maiores realizadores da história do Cinema.
Juntou uma vertente irónica, infractora, transgressora, com a sensação de terror, punição, expiação, em grande parte transpostas do período que passou numa escola jesuítica, a uma apurada técnica de filmagem, conjugando inéditos movimentos e ângulos de filmagem, o uso criterioso do som, das luzes da banda sonora, a que não será estranha a sua admiração pelo cinema alemão dos anos 20, com autores como Fritz Lang ou Erich von Stroheim, a segura direcção de actores, a pesquisa no campo da psicanálise, e condimentando tudo ainda com um toque de perversão, terror e suspense quanto baste, e a inclusão do espectador como um actor integrante da acção.
Com efeito, ao assistirmos às suas obras-primas, sente-se que estamos no meio da trama, com as expressões dos actores a fitar-nos olhos nos olhos, desafiando-nos, provocando-nos.
E um calmo Hitchcock a aparecer, fugazmente, como figurante no início dos seus filmes.
Apesar de todo o reconhecimento que universalmente recebeu, uma palavra para a chamada "nouvelle vague" francesa, cujos teóricos (como Godard, Louis Malle ou Truffaut) redescobriram a sua arte de filmar e a verteu para muitas das suas próprias produções.
Ver filmes de Hitchcock é obrigatório.
Títulos como "Rebecca" (Óscar de melhor filme em 1940), "A Casa Encantada", "Marnie", "Vertigo" (3 dos filmes da vida de João Bénard da Costa), "O Desconhecido do Norte-Expresso" (por alguns críticos, especialmente norte-americanos, o melhor filme de sempre), "Janela Indiscreta", "Psico", "Intriga Internacional", "Os Pássaros", "Cortina Rasgada", "Topázio" ou "Frenzy" fazem, ainda hoje, parte da imensa galeria das grandes realizações que a 7ª. Arte nos deu.
Com um enorme denominador comum: Alfred Hitchcock.
("Psico", de 1960, ou como o duche fez mal a Janet Leigh...)
    

terça-feira, 12 de agosto de 2014

ROBIN WILLIAMS E O CLUBE DOS POETAS VIVOS!


Há notícias que não devíamos ler ou ouvir
Que nos chocam, magoam, deixam-nos em farrapos e uma enorme sensação de vazio
Como a de hoje "O ACTOR ROBIN WILLIAMS MORREU...".
Robin, nascido em Chicago, aluno brilhante da prestigiada Julliard School, é um dos maiores actores da sua geração, e o Óscar recebido em 1998, como melhor actor secundário pela sua interpretação em "O Bom Rebelde", sabe a muito pouco.
Mestre da stand up comedy, improvisador único, Williams encheu palcos, salas, telas, com o seu enorme talento por mais de 30 anos.
À falta de óscares, ganhou, entre outros prémios, seis Globos de Ouro: pela séria de comédia, na TV, "Mork e Mindy" (1978), pelo radialista exuberante de "Bom Dia Vietnam" (1987), pelo mendigo de "O Rei Pescador" (1991), pela dobragem da voz do Génio em "Aladino" (1992), pela governanta em "Papá para Sempre" (Mrs. Doubtfire - 1992) e, em 2005, o globo especial (Cecil B. de Mille) pelo conjunto da sua obra.
No entanto, e a título pessoal, faltou premiar uma das grandes interpretações da 7ª. Arte, o Professor John Keating nesse filme único e admirável que é "Clube dos Poetas Mortos" (1989), embora tenha sido nomeado para Óscar, Globo e BAFTA!
O filme é mais do que um hino à poesia, à arte, à descoberta, à aventura, ao professor.
É um verdadeiro hino à vida!
E, falando de professor, Williams é impecável na composição da personagem: mais do que conduzir jovens pela mão, o professor ajuda-os a abrir as mentes à descoberta, à inovação, à pesquisa, à consciencialização, e a sugerir-lhes as alamedas por onde irão caminhar por sua conta e risco.
E, desde o início, Keating incentiva-os à procura do melhor que cada um de nós tem : Agarrem a vida, agarrem o dia ("Carpe diem"), suguem a vida até ao tutano, e façam das vossas próprias vidas uma coisa extraordinária!
Carpe Diem, Robin Williams.


   

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

BANCO BOM, BANCO MAU, POVO PUM!

O Banco Bom é o Novo Banco...
Ou será o BES?
Vejamos, ouçamos, leiamos, e, acima de tudo, não nos desmanchemos a rir, apesar de se dizer que rir é o melhor remédio.
Aqui há poucos dias, o Senhor Costa, que passa por Governador do Banco de Portugal, dizia que o BES estava bué da fixe, porreiraço, saudável, vigoroso, o Ricardo era o maior!
Coelho, o dito primeiro-ministro, algures em Timor, entre os salamaleques ao ditador Obiang e as selfies do Gusmão, dizia que sim senhor, o BES era só músculos, nada de gorduras.
Cavaco, esse, balbuciava qualquer coisa, do género que o BES sim senhor, era bom, podia-se investir, fixe, era comprar as "boas acções" do BES.
E os três passavam a vida a dizer que os calaceiros dos portugueses é que tinham a mania de viver acima das possibilidades, o Ricardo arrotava que os tugas querem é subsídios, detestam trabalhar e perfumar o sovaco, o Ulrich berrava que "ai aguentam, aguentam...." e o Alexandre Pingo Doce, "benemérito", desviava os lucros para a Holanda.
Todos patriotas, todos poupadinhos....
E, depois disto tudo....o BES afinal era o Mau!
O Costa já sabia de irregularidades há um ano...excelente "supervisão"!
Ora se o Governador sabia, a inefável Maria Luís era cega, surda e muda?
E a Maria Luís não discutia este assunto com o Coelho?
E este com o Silva de Boliqueime, nas reuniões periódicas? Não....claro! 
Tudo anjinhos e ignorantes!
E quando a bronca estoira, esta gente faz mea culpa, pede desculpa a quem venderam gato por lebre, a quem mentiram conscientemente, pediram humildemente a demissão?
Não!...............
Cavaco foge para a Quinta da Coelha, o Coelho enterra a cabeça na areia de Manta Rota, a Maria Luís boceja enfadada, sobra o amanuense Costa, que, qual pau-mandado, vai às TV's, noite dentro, para não perturbar as pessoas, anunciar as boas novas (?), logo acolitado pelos sabujos dos jornais e comunicação social no seu todo.
Afinal o Ricardo é um quadrilheiro, os restantes administradores perigosos malfeitores.
E vão pagar o que devem e responder pelo que fizeram?
Qual!
Quem paga são pequenos accionistas e os contribuintes em geral, que nada fizeram pelo descalabro, mas que são os supliciados do costume!
Isto é para levar a sério?
E depois vem-se a saber que 20% do total do custo do "programa de ajustamento", que empobreceu os portugueses por anos e anos, afinal, destinou-se a salvar a banca!
Agora, se ainda tiverem um pingo de sangue e não visco a correr nas veias e artérias, digam-nos, olhos nos olhos: 
AFINAL, QUEM VIVEU, E AINDA VIVE ACIMA DAS SUAS POSSIBILIDADES?
Basta de poeira para os olhos!  

("Vampiros" - Zeca Afonso. 50 anos depois está actualissimo!)

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

ANDY WARHOL, O GÉNIO (?)

 

"In the future, everyone will be famous for fifteen minutes" - Andy Warhol

Esta frase lapidar foi proferida por este filho de emigrantes eslovacos, nascido em Pittsburgh a 6 de Agosto de 1928, que o mundo viria a conhecer por Andy Warhol, cineasta, pintor, empresário, mentor do estúdio novaiorquino "The Factory", por onde passaram actores, actrizes, orgias, músicos, escritores, poetas, droga, álcool e muito, muito talento: Lou Reed, John Cale (que, patrocinados por Warhol, formariam a mítica banda "The Velvet Underground"), Bob Dylan, Mick Jagger, Allen Ginsberg, Fernando Arrabal, Truman Capote ou Salvador Dali.
Para além das denominadas Warhol Superstars, os actores e actrizes das suas dezenas de filme, muitos deles provocadores, roçando explicitamente o hard-core. A liberdade era total, e, sejamos justos, não haveria a chamada Pop-Art sem Warhol.
 
("Campbell Soup" - Andy Warhol)

Seria Warhol, de facto, um crítico do consumismo imediato, como a frase acima transcrita parece indicar, ou, pelo contrário, seria um defensor do consumo comercial?
A sua vasta produção, que, por exemplo, pode ser admirada no Museu Colecção Berardo (Centro Cultural de Belém) ou, para quem se aventure (e bem!) a ir a Nova Iorque, no Metropolitan Museum of Art ou no Museum Of Modern Art.

 
("Michael Jackson" - Andy Warhol)

Sentido estético, ruptura de conceitos, arrojo, polémico, sem dúvida, mas talvez orientados para o sucesso imediato, para os seus 15 minutos de fama.
Seja como for, e é esse o sentido deste post, merece a pena estudar e observar toda a obra deste génio do século XX.

 
(Desenho de Andy Warhol para a capa do 1º. disco dos "The Velvet Underground")

("Femme Fatale" - do album "The Velvet Underground and Nico" - o 1º. da banda)

terça-feira, 5 de agosto de 2014

O BOM, O MAU E O VILÃO

 

O Bom é o Novo Banco,
Limpo,
Honesto,
Enxuto de carnes,
Sem lixo de gorduras,
Bento na gestão,
Protegido pelo Espírito Santo (!),
Abençoado pela Troika.
Mau é o BES,
Sujo, 
Tóxico,
Calaceiro, off-shorado,
De rastos.
Vilão é o Ricardo,
Desfalcador, criminoso,
Contra-ordenado,
Descapitalizado,
Na bicha do Desemprego,
Na fila do Rendimento Social de Inserção,
O Vilão e a Família.
Mas o Bom é que, no meio disto tudo, os portugueses acreditam na bondade da solução encontrada, na clarividência de Cavaco, Passos, Maria Luís e Costa, até acreditam que não vão ter de pagar um cêntimo por esta engenharia financeira.
Mas o Mau é se os tais portugueses que os pobres "iluminados" têm a chatice de governar afinal começam a desconfiar, a interrogar, a pôr em causa, a não querer pagar nem a aguentar mais "aguentam, aguentam....", ingratos, vivendo acima das possibilidades, não querem ver a Terra Prometida.
E o Vilão, daqui a uns anitos, esperem pela pancada, e quando a poeira assentar, vai ser o gato do Ricardo acompanhado do porteiro do Novo Banco!
Ah, pois, e "aguentam, aguentam...."!
Não há pachorra! 

Se querem "O Bom, o Mau e o Vilão", vejam o grande western de Sergio Leone, com Clint Eastwood e música de Ennio Morricone.
Sempre é mais inteligente...



segunda-feira, 4 de agosto de 2014

ALCÁCER-QUIBIR DA DESESPERANÇA


Foi a 4 de Agosto de 1578, rezam os livros.
Alcácer-Quibir viu D.Sebastião desaparecer.
Desaparecer na batalha, mas aparecer no nevoeiro.
No nevoeiro que cobre um país, que molda uma mentalidade.
Quinhentos anos à espera que o nevoeiro se dissipe,
Que o Encoberto apareça, e defenda Portugal.
Povos que acreditam em homens providenciais, salvadores da pátria,
Não têm Pátria, ignoram o passado, temem o futuro,
Mas sem passado não há futuro.
Sobra a desesperança, o desejo do Desejado, venha do nevoeiro ou não.
D.Sebastião é África, Índias, Brasis,
Areia escorrendo entre os dedos.
D.Sebastião é Europa, União, Euro, Troika,
Dignidade roubada, esperança assassinada.
Era Quinto Império, não estamos em tempo de imperadores.
Dizia Fernando Pessoa que falta cumprir Portugal,
Sebastianista, muito mais alto que Sebastião.
Mas para cumprir Portugal,
Temos de enterrar D.Sebastião,
Esconjurar fantasmas, miragens,
E enfrentar, peito aberto, todos os nevoeiros.
Especialmente os que temos dentro de nós!

("Demónios de Alcácer Quibir" - Sérgio Godinho)

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

GAZA - PIETÁ!


Nasceu junto a um lago, numa terra de seu nome Palestina,
Terra que, desde sempre foi dos seus antepassados.
Ali cresceu, aprendeu, começou a trabalhar,
Carpinteiro se dizia, e se dizia que convivia com outros rapazes e raparigas da Palestina,
Fossem quais fossem as suas ideias, os seus credos.
Acreditava na paz e na bondade, na defesa dos fracos, no amor.
Um dia, leu um escrito de um senhor inglês, que dizia que a sua Palestina poderia abrigar outras gentes.
Gentes com raízes de séculos na Europa mas que queriam a Palestina como seu lar.
E que juravam ir viver com ele e o seu povo, e respeitar toda a gente e todos os credos.
Anos depois, as diversas nações ignoraram promessas antigas, e enviaram esses europeus para a sua terra, a sua Palestina. Sua desde séculos. E não deles.
Escoltados e protegidos pelo maior Império dessa época.
Armas aperradas e prontas a matar-
E, ao contrário do solenemente prometido, jurado, assinado, escorraçaram-no e ao seu povo, prenderam, assassinaram, concentraram, solução final!
Empurram-nos para uma pequena faixa de 365 Km2, onde enfiaram 1.700.000 pessoas da sua gente.
Porque eram diferentes, porque ele e o seu povo não eram "puros".
Bem pregou a paz, a concórdia, o entendimento com o inimigo feroz.
Só queria a sua Palestina livre, convivendo com todos, incluindo o cordeiro com o lobo.
Desconfiaram de tanta paz, tanta serenidade.
E aí, os donos do Templo, que se julgam únicos e infalíveis, prenderam-no, com o apoio constante do Império.
Forjaram  um julgamento, uma sentença.
O Império encolhia os ombros, lavavas as mãos, mascava pastilhas, apoiava o massacre.
E condenaram-no à morte!
Pregado na cruz!
Antes de morrer, o carpinteiro que amava a paz e a humanidade, o menino de sua mãe, de todas as mães, de todos os pais, que expiou encolheres de ombros, mãos lavadas e vergonhas que tais, com o sangue a chorar-se sobre a terra da Palestina, ainda teve tempo de voltar os olhos aos céus e exclamar:
"PAI, NÃO LHES PERDOES, PORQUE ELES SABEM O QUE FAZEM!"

 
("Shalom Palestina" - José Mário Branco)