segunda-feira, 29 de abril de 2013

DANÇA

Celebra-se hoje o Dia Mundial da Dança.
Gozemos o espectáculo antes que nos façam dançar na corda bamba...

RUGBY AINDA

Este fim de semana disputaram-se as meias finais da Heineken Cup.
Para quem não saiba, a Heineken Cup é a Liga dos Campeões do Rugby, tomando o futebol como exemplo.
A 18ª final deste torneio disputar-se.á a 18 de Maio em Dublin, no Aviva Stadium, e oporá as equipas francesas do Clermont Auvergne, que eliminou os irlandeses do Munster por 16-10, jogo no qual o internacional português Julien Bardy foi considerado o melhor jogador em campo, e do Toulon que em Londres, no mítico estádio de Twickenham bateu os ingleses dos Saracens por 24-12, tendo o médio do Toulon John Wilkinson obtido os 24 pontos da sua equipa.
Este escriba de serviço sempre considerou Wilkinson como um dos melhores jogadores de rugby contemporâneos. Depois das 3 últimas e brilhantes épocas no Toulon, deverá ser considerado um dos melhores jogadores de rugby de sempre.
A 13/03/2011 tive o privilégio de assistir ao último jogo de Wilkinson com a camisola da rosa, em Twickenham.
A Inglaterra, com tremideira, vencia a Escócia por 12-9.
Wilkinson entra depois do intervalo e das suas mãos, com uma abertura sensacional para o ensaio inglês, e pés (conversão e penalidade) nascem os pontos que colocam a Inglaterra em vantagem por 22-9 ( o resultado final foi 22-16).
Inesquecível Johnny Wilkinson. Um British Lion com mérito e distinção, e que confere ao rugby a dimensão de um desporto único.
   

domingo, 28 de abril de 2013

SPORTING RUGBY


O Sporting sagrou-se ontem campeão nacional da Rugby (2ª. Divisão), ao vencer o São Miguel por 39-10, no seu regresso à modalidade, 49 anos depois de a ter extinto.
Convém aqui recordar que o Sporting foi um dos responsáveis pela introdução e divulgação desta empolgante modalidade em Portugal, tendo, entre 1927 e 1932 ganho 5 títulos de campeão de Lisboa.
Destacou-se, acima de todos, a figura desse grande desportista eclético que foi Salazar Carreira e que, inspirando-se no equipamento do Racing Club de France, adoptou as célebres camisolas brancas de listas horizobvntais verdes que, a partir de 1928, seriam também utilizadas pelos futebolistas.
Para além do Sporting, está de parabéns toda a família do Rugby português, por mais uma prestigiada colectividade se associar a este desporto, para já com sucesso.
 No mesmo dia, o Grupo Desportivo de Direito sagrou-se, pela 9ª. vez, campeão da Divisão de Honra, ao derrotar o CDUL por 17-9.
Para quem já acompanha o Rugby há mais de 40 anos, de Gareth Edwards e Pierre Villepreux a Johnny Wilkinson e Daniel Carter, de Raul Martins e Pedro Lynce, a Vasco Uva e Pedro Leal, foi muito gratificante ver jogar, e bem, alguns dos componentes da equipa que mais alto elevou a modalidade em Portugal, para surpresa do mundo do rugby, a Selecção Nacional de 2007 (Os Lobos) que teve histórico e extraordinário comportamento no Mundial desse ano em França, como foi o caso de Tiago Girão, Gonçalo Foro, João Correia, Vasco Uva, Gonçalo Malheiro, Miguel Portela, António Aguilar, Pedro Leal, os dois primeiros do CDUL e os restantes de Direito.
E se houvesse dúvidas de que o Rugby é mesmo um desporto muito especial que, para além de tudo, merece uma especial dedicação, deixa-se o seguinte episódio, sem mais comentários (por agora):
João Correia sagrou-se campeão nacional, entrando em campo depois de 36 horas ininterruptas de banco no Hospital de Santa Maria.
   

sexta-feira, 26 de abril de 2013

NO PASARÁN

http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/6/6f/Mural_del_Gernika.jpg


Foi há 76 anos, neste dia, que a Legião Condor nazi arrasou, sob bombas, a cidade de Guernica, capital espiritual da nação Basca.
Para não esquecer, e para reflectir face ao imortal quadro de Picasso

CUNHAL

Recomenda-se:

Imagem promocional de Exposição Central «Vida, Pensamento e Luta: Exemplo que se Projecta na Actualidade e no Futuro»

MANIFESTO ANTI-CAVACO (e por extenso)

Basta pum basta!!!
Um governo que consente deixar-se representar por um Cavaco é um governo que nunca o foi. É um coio d'indigentes, d'indignos e de cegos! É uma resma de charlatães e de vendidos, e só pode parir abaixo de zero!
Abaixo o governo!
Morra o Cavaco, morra! Pim!
Um governo com um Cavaco a presidente da República é um burro impotente!
Um governo com um Cavaco como o homem do leme é uma canoa em seco!
O Cavaco é um consensual à força!
O Cavaco é meio pêéssedê e outro meio recessivo!
O Cavaco não estima, não prevê, não excela, só faz um suponhamos!
O Cavaco diz que é pobre e todos têm de ser pobres e agradecidos!
O Cavaco six-packa, two-packa, downgrada, desagrada, degrada!
O Cavaco não quer discussões, polémicas, eleições, opiniões!
O Cavaco fatiga-se, baixa a cabeça, abana o rabo!
O Cavaco não saberá gramática, não saberá sintaxe, não saberá medicina, e saberá tudo menos ler escrever que é a única coisa que ele não faz!
O Cavaco pesca tanto de política e de economia que até faz discursos em que a Constituição é tratada abaixo do tratado orçamental!
O Cavaco é um habilidoso!
O Cavaco é vingativo, mesquinho e veste-se mal!
O Cavaco usa chantagem partidária e distorce a democracia!
O Cavaco especula e inocula bacilos de austeridade e desemprego, e condena quem contra tal se manifesta!
O Cavaco é Cavaco!
O Cavaco é Coelho e é Gaspar, e é Selassié!
Morra o Cavaco, morra! Pim!
O Cavaco fez um primeiro ministro Coelho que tanto o podia ser como o primo Relvas ou o Gaspar, ou o Maduro, ou o Álvaro, ou a Dona Cristas, ou a Paulinha Teixeira, ou a Maria Vai com as Outras!
E o Cavaco teve claque! E o Cavaco teve palmas! E o Cavaco agradeceu!
O Cavaco é um empreendedor por debaixo da mesa!
Não é preciso ir pró Palácio de Belém pra se ser pantomineiro, basta ser-se pantomineiro!
Não é preciso disfarçar-se pra se ser salteador, basta discursar como o Cavaco! Basta não ter escrúpulos nem morais, nem políticos, nem humanos! Basta andar com as modas, com as políticas subservientes da Tia Ângela e com as opiniões dos Camelos das imprensas e Têvês! Basta usar o tal sorrisinho, basta ser muito delicado, comer bolo rei e semicerrar os olhos! Basta ser FMI, BCE! Basta ser Cavaco!
Morra o Cavaco, morra! Pim!
O Cavaco nasceu para provar que nem todos os que são presidentes sabem ser presidentes!
O Cavaco é um autómato que deita pra fora o que a gente já sabe o que vai sair... Mas é preciso deitar dinheiro!
O Cavaco é uma caricatura dele próprio!
O Cavaco em génio nem chega a pólvora seca e em talento é pim-pam-pum.
O Cavaco posto a nu é horroroso!
O Cavaco cheira mal da política rasteira e dúplice que pratica!
Morra o Cavaco, morra! Pim!
O Cavaco é o escárnio da consciência!
Se o Cavaco é português eu quero ser espanhol!
O Cavaco é a vergonha da política portuguesa!
O Cavaco é a meta da decadência mental!
E ainda há quem não core quando diz admirar o Cavaco!
E ainda há quem lhe estenda a mão!
E quem lhe lave a roupa!
E quem tenha dó do Cavaco!
E ainda há quem duvide que o Cavaco não vale nada, e que não sabe nada, e que nem é inteligente, nem decente, nem zero!
E fique sabendo o Cavaco que se um dia houver justiça em Portugal todo o mundo saberá que o autor do Memorando de Entendimento Para Além da Troika Custe o Que Custar é o Cavaco que num rasgo memorável de modéstia só consentiu a glória do seu pseudónimo Gaspar.
E fique sabendo o Cavaco que se todos fossem como eu, haveria tais munições de manguitos que levariam dois séculos a gastar.
Mas julgais que nisto se resumem a economia e a política portuguesas? Não! Mil vezes não!
Portugal que com todos estes senhores conseguiu a classificação do país mais atrasado da Europa e de todo o Mundo! O país mais selvagem de todos os terceiros mundos! O exílio dos degredados e dos indiferentes! O país recluso dos europeus para os quais obriga a fugir toda uma geração de qualificados! O entulho das desvantagens e dos sobejos de uma União Europeia desunida, egoísta e amorfa!
Portugal inteiro há-de abrir os olhos um dia - se é que a sua cegueira não é incurável - e então gritará comigo, a meu lado, a necessidade que Portugal tem de ser qualquer coisa de asseado!
Morra o Cavaco, morra! Pim!
( Com a devida licença e infinita admiração por José de Almada Negreiros, Poeta d'Orpheu, Futurista E Tudo-1915 - "Manifesto Anti Dantas")


quinta-feira, 25 de abril de 2013

25 DE ABRIL, MANHÃ

País de Abril é o sítio do poema.
Não fica nos terraços da saudade
não fica nas longas terras. Fica exactamente aqui
tão perto que parece longe.
Tem pinheiros e mar tem rios
tem muita gente e muita solidão
dias de festa que são dias tristes às avessas
é rua e sonho é dolorosa intimidade.
Não procurem nos livros que não vem nos livros
País de Abril fica no ventre das manhãs
fica na mágoa de o sabermos tão presente
que nos torna doentes sua ausência.
País de Abril é muito mais que pura geografia
é muito mais que estradas pontes monumentos
viaja-se por dentro e tem caminhos veias
- os carris infinitos dos comboios da vida.
País de Abril é uma saudade de vindima
é terra e sonho e melodia de ser terra e sonho
território de fruta no pomar das veias
onde operários erguem as cidades do poema.
Não procurem na História que não ven na História.
País de Abril fica no sol interior das uvas
fica à distância de um só gesto os ventos dizem
que basta apenas estender a mão.
País de Abril tem gente que não sabe ler
os avisos secretos do poema.
Por isso é que o poema aprende a voz dos ventos
para falar aos homens do País de Abril.
Mais aprende que o mundo é do tamanho
que os homens queiram que o mundo tenha:
o tamanho que os ventos dão aos homens
quando sopram à noite no País de Abril.
Manuel Alegre -Praça da Canção - Porto : Campo das Letras, 1998.


Abril de Abril

Era um Abril de amigo Abril de trigo
Abril de trevo e trégua e vinho e húmus
Abril de novos ritmos novos rumos.

Era um Abril comigo Abril contigo
ainda só ardor e sem ardil
Abril sem adjectivo Abril de Abril.

Era um Abril na praça Abril de massas
era um Abril na rua Abril a rodos
Abril de sol que nasce para todos.

Abril de vinho e sonho em nossas taças
era um Abril de clava Abril em acto
em mil novecentos e setenta e quatro.

Era um Abril viril Abril tão bravo
Abril de boca a abrir-se Abril palavra
esse Abril em que Abril se libertava.

Era um Abril de clava Abril de cravo
Abril de mão na mão e sem fantasmas
esse Abril em que Abril floriu nas armas.


Manuel Alegre
30 Anos de Poesia
Publicações Dom Quixote 


 

25 DE ABRIL, MADRUGADA



Poemarma (Manuel Alegre)
Que o poema tenha rodas motores alavancas
Que seja máquina espetáculo cinema.
Que diga à estátua: sai dom caminho que atravancas.
Que seja um autocarro em forma de poema.

Que o poema cante no cimo das chaminés
Que se levante e faça o pino em cada praça.
Que diga quem eu sou e quem tu és
Que não seja só mais um que passa.

Que o poema esprema a gema do seu tema
E que seja apenas um teorema com dois braços.
Que o poema invente um novo estratagema
Para escapar a quem lhe segue os passos.

Que o poema corra salte pule que seja pulga e faça cócegas ao burguês
Que o poema se vista subversivo de ganga azul e vá explicar numa parede alguns porquês.
Que o poema se meta nos anúncios das cidades que seja seta sinalização radar

Que o poema cante em todas as idades (quem lindo!) no presente e no futuro o verbo amar.
Que o poema seja microfone e fale Uma noite destas de repente às três e tal
Para que a lua estoire e o sono estale e a gente acorde finalmente em Portugal.

Que o poema seja encontro onde era despedida.
Que participe. Comunique. E destrua para sempre a distância entre a arte e a vida.
Que salte do papel para a página da rua.

Que seja experimentado muito mais que experimental que tenha ideias sim mas também pernas
E até se partir uma não faz mal: antes de muletas que de asas eternas.
Que o poema fique. E que ficando se aplique
A não criar barriga a não usar chinelos.

Que o poema seja um novo Infante Henrique
Voltado para dentro. E sem castelos.
Que o poema vista de domingo cada dia

E atire foguetes para dentro do quotidiano.
Que o poema vista a prosa de poesia
Ao menos uma vez em cada ano.

Que o poema faça um poeta de cada funcionário já farto de funcionar.
Ah que de novo acorde no lusíada a saudade do novo o desejo de achar.
Que o poema diga o que é preciso que chegue disfarçado ao pé de ti.

E aponte a terra que tu pisas e eu piso.
E que o poema diga: o longe é aqui.





25 DE ABRIL TODOS OS DIAS

A poesia está na rua!
Cartaz pintado por Vieira da Silva,  com a frase «a poesia está na rua»


Cartaz pintado por Vieira da Silva,
com a frase «a poesia está na rua»


Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo

(Sophia de Mello Breyner Andresen)


Não hei-de morrer sem saber
Qual a cor da liberdade.
Eu não posso senão ser
desta terra em que nasci.
Embora ao mundo pertença
e sempre a verdade vença,
qual será ser livre aqui,
não hei-de morrer sem saber.

Trocaram tudo em maldade,
é quase um crime viver.
Mas embora escondam tudo
e me queiram cego e mudo
não hei-de morrer sem saber
qual a cor da liberdade.

(Jorge de Sena, Poesia II)




ABRIL DE ABRIL
Manuel Alegre

Era um Abril de amigo Abril de trigo
Abril de trevo e trégua e vinho e húmus
Abril de novos ritmos novos rumos. 


Era um Abril comigo Abril contigo
ainda só ardor e sem ardil
Abril sem adjectivo Abril de Abril. 


Era um Abril na praça Abril de massas
era um Abril na rua Abril a rodos
Abril de sol que nasce para todos. 


Abril de vinho e sonho em nossas taças
era um Abril de clava Abril em acto
em mil novecentos e setenta e quatro. 


Era um Abril viril Abril tão bravo
Abril de boca a abrir-se Abril palavra
esse Abril em que Abril se libertava.


Era um Abril de clava Abril de cravo
Abril de mão na mão e sem fantasmas
esse Abril em que Abril floriu nas armas. 

(30 Anos de Poesia
Publicações Dom Quixote) 




25 DE ABRIL TODOS OS DIAS

A prosa também está na rua!

Manhãzinha cedo, senti acordar-me o sopro da voz ciciada de minha mulher:
- 0 Fafe telefonou de Cascais, ... Lisboa está cercada por tropas…
Refilo, rabugento:
- Hã? (...)
Levanto-me preparado para o pesadelo de ouvir tombar pedras sobre cadáveres. Espreito através da janela. Pouca gente na rua. Apressada. Tento sintonizar a estação da Emissora Nacional. Nem um som. Em compensação o telefone vinga-se desesperadamente. Um polvo de pânico desdobra-se pelos fios. A campainha toca cada vez mais forte.
Agora é o Carlos de Oliveira.
- Está lá? Está lá? É você, Carlos? Que se passa?
Responde-me com uma pergunta qualquer do avesso.
Às oito da manhã o Rádio Clube emite um comunicado ainda pouco claro:
- Aqui, Posto de Comando das Forças Armadas. Não queremos derramar a mínima gota de sangue.
De novo o silêncio. Opressivo. De bocejo. Inútil. A olhar para o aparelho.
Custa-me a compreender que se trate de revolução. Falta-lhe o ruído, (onde acontecerá o espectáculo?), o drama, o grito. Que chatice!
A Rosália chama-me, nervosa:
- Outro comunicado na Rádio. Vem, depressa. Corro e ouço:
- Aqui o Movimento das Forças Armadas que resolveu libertar a Nação das forças que há muito a dominavam. Viva Portugal!
Também pede à policia que não resista. Mas Senhor dos Abismos!, trata-se de um golpe contra o fascismo (isto é: salazismo-caetanismo). São dez e meia e não acredito que os «ultras» não se mexam, não contra-ataquem! (...)
 A poetisa Maria Amélia Neto telefona-me: «Não resisti e vim para o escritório».
Os revoltosos estão a conferenciar com o ministro do Exército. Na Rádio a canção do Zeca Afonso: Grândola, vila morena ... Terra da fraternidade... 0 povo é quem mais ordena...
Sinto os olhos a desfazerem-se em lágrimas.

De súbito, aliás, a Rádio abre-se em notícias. 0 Marcelo está preso no Quartel do Carmo. A polícia e a Guarda Republicana renderam-se. 0 Tomás está cercado noutro quartel qualquer. E, pela primeira vez, aparece o nome do General Spínola. Novo comunicado das Forças Armadas. 0 Marcelo ter-se-á rendido ao ex-governador da Guiné. (Lembro-me do Salazar: «o poder não pode cair na rua»).
Abro a janela e apetece-me berrar: acabou-se! acabou-se finalmente este tenebroso e ridículo regime de sinistros Conselheiros Acácios de fumo que nos sufocou durante anos e anos de mordaças. Acabou-se. Vai recomeçar tudo.

A Maria Keil telefonou. 0 Chico está doente e sozinho em casa. Chora. (Nesta revolução as lágrimas são as nossas balas. Mas eu vi, eu vi, eu vi! (...)
Antes de morrer, a televisão mostrou-me um dos mais belos momentos humanos da História deste povo, onde os militares fazem revoluções para lhes restituir a liberdade: a saída dos prisioneiros políticos de Caxias.
Espectáculo de viril doçura cívica em que os presos... alguns torturados durante dias e noites sem fim.... não pronunciaram uma palavra de ódio ou de paixões de vingança.
E o telefone toca, toca, toca... Juntámos as vozes na mesma alegria. (...)
Saio de casa. E uma rapariga que não conheço, que nunca vi na vida, agarra-se a mim aos beijos.
Revolução.


(José Gomes Ferreira
 Poeta Militante III - Viagem do Século Vinte em mim, Lisboa, Moraes Editores, 1983)

AS PORTAS DE ABRIL


quarta-feira, 24 de abril de 2013

24 DE ABRIL

Amanhã, dia 25 de Abril, a Presidência da República e a Presidência do Conselho de Ministros estarão fechadas ao público.
Reina a ordem em todo o país...

Ouvindo Beethoven

Venham leis e homens de balanças,
mandamentos d'aquém e d'além mundo.
Venham ordens, decretos e vinganças,
desça em nós o juízo até ao fundo.

Nos cruzamentos todos da cidade
a luz vermelha brilhe inquisidora,
risquem no chão os dentes da vaidade
e mandem que os lavemos a vassoura.

A quantas mãos existam peçam dedos
para sujar nas fichas dos arquivos.
Não respeitem mistérios nem segredos
que é natural os homens serem esquivos.

Ponham livros de ponto em toda a parte,
relógios a marcar a hora exacta.
Não aceitem nem queiram outra arte
que a presa de registro, o verso acta.

Mas quando nos julgarem bem seguros,
cercados de bastões e fortalezas,
hão-de ruir em estrondo os altos muros
e chegará o dia das surpresas.

José Saramago
(1922-2010)

terça-feira, 23 de abril de 2013

LIVROS

"Livros são os mais silenciosos e constantes amigos; os mais acessíveis e sábios conselheiros; e os mais pacientes professores." (Charles W. Elliot)

"É claro que meus filhos terão computadores, mas antes terão livros."
(Bill Gates)

Celebra-se hoje o Dia Mundial do Livro e do Direito de Autor, instituído em 1996 pela UNESCO,  e assinalando também os aniversários da morte de William Shakespeare e Miguel de Cervantes.
Nesta actual liturgia do consumo e do imediato, em que a informação circula ao milésimo de segundo, convém, talvez, parar um pouco, respirar, sentar, pensar. E ler um livro!
Ler um livro nas nossas mãos, folheá-lo, sentir a leveza do papel, o odor das letras, as curvas do texto, a alma a lavar-se com o prazer da leitura, o sorver do poema ou da prosa.
Ler os versos de Camões, os sonetos de Bocage, os burgueses de Eça, as mulheres de Saramago, os danados de Lobo Antunes, as angústias de Vergílio Ferreira, a ironia de Oscar Wilde, as peças de Gil Vicente e Shakespeare, a poesia de Sá de Miranda, Manuel Alegre, Eugénio de Andrade, Pablo Neruda e o seu Chile, Leonard Cohen, Paul Simon, Bob Dylan, o mar de Sophia, a Lisboa de Cesário, a Colômbia de Garcia Marquez, o Brasil de pé de Jorge Amado, a Grande Depressão de Steinbeck, Paris e Espanha de Hemingway, Argélia de Camus, África de Mia Couto ou Craveirinha.
Ler, ler sempre. E aprender, aprender sempre. Todos os dias.
E a nossa vida poderá ser bem melhor.  
   

segunda-feira, 22 de abril de 2013

HÁ SÓ UMA TERRA

O título recorda um programa da RTP, da autoria de Luís Filipe Costa, que ganhou um prémio da crítica (do saudoso "Diário de Lisboa"), e que convém recordar hoje, Dia Internacional da Mãe Terra, instituído pela ONU em 2009, e que vem na sequência do Dia Nacional da Terra, proclamado em 1970 nos Estados Unidos, pelo trabalho do senador Gaylord Nelson, e onde, a 22 de Abril, cerca de 20 milhões de pessoas saíram à rua em defesa do planeta e do ambiente, na tradição do movimento hippie e das lutas contra a guerra do Vietname.
Convidam-se as pessoas a reflectir sobre esse magno problema que é a sobrevivência do planeta equilibrado e saudável, o que, no fundo, é um assunto político, que congrega esforços para uma economia ecológica, igualitária, distributiva e contrária ao jogo dos "mercados".
É uma batalha de vida ou de morte, por muito que alguns enterrem a cabeça na areia.
E é de justiça recordar nomes que se destacam na luta por esse nobre objectivo, como o brasileiro Chico Mendes, do movimento dos sem-terra, o paladino dos oceanos, Jacques Yves Cousteau, ambos já desaparecidos, o mexicano Jesus León Santos, defensor dos camponeses, o português Gonçalo Ribeiro Telles, sempre e, claro, a organização Greenpeace.
É que, de facto, só temos este bom e velho planeta...


sexta-feira, 19 de abril de 2013

NÃO LHE DÊEM CAVACO

A 18 de Abril foi inaugurada a 26ª. Feira do Livro de Bogotá, capital da Colômbia, país que se pode rever no seu genial Prémio Nobel de Literatura, Gabriel Garcia Marquéz.
O país convidado desta Feira é Portugal que, além de muito mais, tem como seu património também um Prémio Nobel de Literatura, de seu nome José Saramago, também ele genial.
Aproveitando a sua deslocação de estado à Colômbia, o nosso presidente da República, o conhecido Sr. Silva, nessa qualidade, esteve presente na abertura da Feira, já que representava o convidado de honra.
E botou discurso! Falou de Luís de Camões "o maior poeta português de sempre", o que é consensual, de Fernando Pessoa, um dos maiores vultos da literatura mundial (não o disse!) e não passou cavaco a Saramago!
Pode amar-se ou detestar-se a obra de José Saramago. Mas um presidente da República não pode ignorar, em situação alguma, o único Prémio Nobel de Literatura do seu país.
Para lá da habitual ignorância e ausência de cultura do Sr. Silva, a opção foi premeditada. Ele é vingativo e rancoroso.
Quando, em 1992, um tal de Sousa Lara, secretário de estado de um governo de que o Sr. Silva era primeiro-ministro, censurou, repete-se, censurou a candidatura ao Prémio Literário Europeu, da União Europeia. do romance de José Saramago O Evangelho Segundo Jesus Cristo (Editorial Caminho, 1991).
Saramago não perdoou a ofensa, e o Sr. Silva amuou. Até agora!
A criatura desconhece, com certeza, que no dia 21 de Abril, nessa Feira em Bogotá, vai ser representada a peça "As Mulheres de Saramago", texto elaborado com colagem de monólogos das personagens femininas de Saramago, que são das mais poderosas personagens da literatura universal.
Mas o Sr. Silva não dá cavaco às letras-
Saramago irá sempre pertencer à nossa História e à da Cultura Universal.
Outros ficam como nota de rodapé.
(nota de rodapé é também a lamentável notícia do cancelamento da Feira do Livro no Porto. Assim vai a cultura...)

quarta-feira, 17 de abril de 2013

A DAMA DE FERRO - II

Realiza-se hoje o funeral de Margaret Thatcher, cerimónia em quase tudo idêntica às exéquias de Winston Churchill (!!!!!!!).





terça-feira, 16 de abril de 2013

RAMMSTEIN

Dica para hoje: Assistam ao concerto dos Rammstein. O tempo será bem passado.

AMERIKA - AMERICA
Refrain:
We're all living in America,
America is wunderbar.
We're all living in America,
Amerika, Amerika.

When I'm dancing, I want to lead,
even if you all are spinning alone,
let's exercise a little control.
I'll show you how it's done right.
We form a nice round (circle),
freedom is playing on all the fiddles,
music is coming out of the White House,
and near Paris stands Mickey Mouse.

We're all living in America...

I know steps that are very useful,
and I'll protect you from missteps,
and anyone who doesn't want to dance in the end,
just doesn't know that he has to dance!
We form a nice round (circle),
I'll show you the right direction,
to Africa goes Santa Claus,
and near Paris stands Mickey Mouse.

We're all living in America,
America is wunderbar.
We're all living in America,
Amerika, Amerika.
We're all living in America,
Coca-Cola, Wonderbra,
We're all living in America,
Amerika, Amerika.

This is not a love song,
this is not a love song.
I don't sing my mother tongue,
No, this is not a love song.

We're all living in America,
Amerika is wunderbar.
We're all living in America,
Amerika, Amerika.
We're all living in America,
Coca-Cola, sometimes WAR,
We're all living in America,
Amerika, Amerika.

BOSTON

Para lá de tudo o que se possa dizer dos Estados Unidos, a favor, ou contra, nada, repete-se NADA justifica o cobarde atentado de ontem, durante a Maratona de Boston.
A solidariedade, para já, é para com as vítimas.

CHARLOT



" Um dia sem rir é um dia desperdiçado"
"Creio no riso e nas lágrimas como antídotos contra o ódio e o terror"
"Há uma coisa tão inevitável como a morte: A Vida!" 

Estas frases pertencem a um homem nascido a 16 de Abril de 1889, Charles Spencer Chaplin, Charlie Chaplin, Charlot, o maior Artista de cinema de sempre e um dos maiores expoentes da nossa Cultura, em todos os tempos.
Chaplin foi praticamente quase tudo no campo das artes: Actor, cineasta, produtor, empresário, escritor, poeta, dançarino, coreógrafo, humorista, mimo, regente de orquestra, músico.

("Eternally", música-tema de "Limelight" (As Luzes da Ribalta), de 1952)

 

Desde os começos humildes em Londres, onde, juntamente com o irmão Sidney representava em locais pouco recomendáveis, até à consagração, o percurso de Chaplin é coerente, firme, criativo até ao limite, representando e dirigindo as suas obras, onde sempre soube dosear o humor, a ternura, o protesto, a poesia, a crueza, o amor, inovando, aperfeiçoando, e defendendo intransigentemente os seus direitos autorais.
Sem qualquer exagero, pode-se dizer que havia um cinema antes de Chaplin, e outro depois de Chaplin.
Assinando um primeiro contrato com a Keystone, participa, em 1914, em 35 filmes, inicialmente dirigidos por Mack Sennett, especialista em comédias de polícias-a-perseguir-ladrões e bolos-na-cara, Chaplin vai   transformar esse tipo de comédias, dando ao cinema o estatuto de arte que viria a ter, bem antecedido por George Méliés (vd. "A Invenção de Hugo", de Martin Scorcese, 2011) e acompanhado por David Wark Griffith, entre outros.
Num dos filmes da Keystone ("Kids Auto Races at Venice") surge a figura inconfundível do vagabundo: chapéu de coco, bengala, bigodinho curto, casaco esfarrapado, calças puídas, sapatos cambados, dois números bem acima do seu tamanho. Este vagabundo-gentleman, misto de sem abrigo e nobre, especialmente nos sentimentos, fará a felicidade de gerações e gerações de espectadores, até agora e no futuro. Chaplin já faz parte do nosso ADN cultural.
Depois da Keystone, fará ainda 15 filmes para a Essanay (entre os quais o fabuloso "The Immigrant" (O Emigrante)), 12 para a Mutual, e 9 para a First National (destaca-se "The Kid" (O Garoto de Charlot)).
Opondo-se à política dos grandes estúdios, que só viam o lucro antes da arte, Chaplin, juntamente com Douglas Fairbanls e Mary Pickford, fundam, em 1919 a United Artists, para a qual Chaplin realizará os últimos 9 filmes em território americano: "A Woman of Paris" (1923), considerado pelo saudoso João Bénard da Costa um dos filmes da sua vida (João Bénard da Costa "Os Filmes da Minha Vida", 2º. volume, Assírio & Alvim, 2007), e sobre o qual escreve "... .Ninguém pode perceber a evolução do cinema de Hollywood (a arte de tudo mostrar, tudo ocultando) sem conhecer A Woman of Paris.".  
Em 1925 surge "Gold Rush" (A Quimera do Ouro), geralmente considerado um dos melhores filmes de todos os tempos (antológicas as cenas dos atacadores/esparguetes e do sapato com espinhas/pregos), em 1928 "The Circus", que vem a ganhar no ano seguinte um Oscar honorário pelo contributo .para a  evolução da arte cinematográfica, em 1931 "City Lights" (As Luzes da Cidade), de sublime poesia, em 1936 "Modern Times" (Tempos Modernos), também considerado um dos melhoes filmes de sempre, e impiedosa crítica do capitalismo e da transformação do ser humano em máquina acéfala (onde é que eu já vi isto?) e, por fim, em 1940 "The Great Dictator" (O Grande Ditador), feroz crítica verrinosa, plena de humor, a Adolfo Hitler e ao seu compadre Mussolini, numa América ainda oficialmente neutra. Foi o primeiro filme falado de Chaplin, 13 anos após a invenção do cinema sonoro.
No pós-guerra, dirige, em 1947 "Monsieur Verdoux", também uma cáustica sátira ao capitalismo e à moral de fachada. 
Em 1952 surge outra belissima comédia trágica, "Limelight" (As Luzes da Ribalta), quase um Pigmalião chaplinesco, e em que a música "Eternally" ficaria...para a eternidade.
Nunca mais voltaria a filmar nos EUA.
Com o agudizar da paranóia onde se viam antiamericanos em todos os buracos, e o pavor do comunismo, centenas de norte-americanos foram perseguidos pelo designado Comité de Actividades Anti-Americanas, dirigido pelo sinistro senador Joseph McCarthy, designadamente intelectuais. Entre eles, foi incluído Chaplin, acusado de simpatias comunistas (!).
Aproveitando uma deslocação a Londres, o FBI (sob a batuta do seu implacável director J. Edgar Hoover) revogou o visto de Chaplin, exilando-o. "Limelight" foi banido dos ecrãs americanos, menos de uma semana depois de estrear.
Chaplin fixaria, então, residência na Suíça.
Ironicamente, Chaplin foi "reabilitado" (Charlot rir-se-ia às gargalhadas) e "Limelight" seria reexibido em 1972 tendo, em 1973, ganho o Oscar de melhor música original (Eternally).
Seria já na sua terra natal que Chaplin rodaria os seus 2 últimos filmes, "A King in New York" (Um Rei em Nova Iorque), de 1957 e "A Countess of Honk Kong" (A Condessa de Hong Kong), de 1967, onde juntou outros dois nomes maiores do cinema: Sophia Loren e Marlon Brando.
Chaplin influenciou irreversivelmente a maneira e o modo de filmar, a narrativa, a montagem, o desempenho, a partitura musical, a coreografia, juntando a tudo, e sempre, o humor, a beleza, a crítica, a poesia, o riso e as lágrimas.
Todos nós ficámos melhores e muito mais humanos, depois de ver e sentir um filme de Chaplin!
De Fellini a Peter Sellers, Marcel Marceau a Jacques Tati, Rowan Atkinson a Johnny Depp, e mesmo Michael Jackson ( o seu Moonwalk, a par do andar de Charlot são consideradas 2 coreografias únicas), todos beberam da água cristalina do mestre vagabundo. 
Em 1972 receberia um Oscar honorário pelo seu contributo único para a história do cinema. Hollywood nunca assistira, nem viria a assistir, a uma ovação de pé durante 10 minutos.
Charlot, que criou o cinema, mereceu-o.
Nós tivemos a honra e o privilégio de ainda sermos contemporâneos desse génio único.
Morreu no Dia de Natal de 1977.
Decerto com um sorriso, acompanhado de uma lágrima ao canto do olho...

("Smile", de "Modern Times" (Tempos Modernos), de 1936, interpretada por Michael Jackson)






segunda-feira, 15 de abril de 2013

E ESTA, HEIN?

Há 111 anos nascia em Aveiro o inesquecível Fernando Pessa, locutor de rádio (Emissora Nacional) e repórter de televisão (RTP), para além de locutor na BBC, em Londres, durante a II Guerra Mundial.
Talento multifacetado, a sua reentrada na Emissora Nacional, em 1947 foi proibida pelo regime devido à sua actividade em Londres.
Quem passe junto ao antigo Cinema Roma, em Lisboa, pode dar uma volta pelo Jardim Fernando Pessa, mesmo ali ao lado. Até morrer, em 2002, Pessa morava na Avenida de Roma, no prédio verde fronteiro ao cinema, junto ao centro comercial Acqua Roma.
Se estivesse entre nós, e a olhar para este desconchavo com assento em S. Bento, lá teríamos o Pessa a dizer: "E esta hein?".

TITANIC

Neste dia, há 101 anos, naufragava o Titanic.
Daqui a quantos dias naufragará o Governic, que já anda à deriva?

CGD

Pedro vem a terreiro acusar a Banca de recessão "desnecessária" (só a dele e do Gaspar é que é necessária), e que deve financiar a economia. De facto, a Banca só tem recebido estímulos por parte do Governo...
António Saraiva, presidente da CIP, de imediato, veio retorquir que tal financiamento já devia ter acontecido há mais de um ano (aqui voltando a classificar Passos & Cia. de incompetência), destacando, para tal, o papel insubstituível da Caixa Geral de Depósitos.
De facto, tempos houve em que os governantes (e não só, não é verdade Seguro?) se entretinham a falar da criação de um banco de fomento, ou de um banco de investimento.
Ora tal banco já existe, e há muitos anos. É a CGD que pela sua história, pelos seus recursos, pela sua solidez e, acima de tudo, pelo profissionalismo, dedicação, competência e experiência dos seus trabalhadores, tem de desempenhar o papel central no financiamento à economia.
Tudo o resto são simples jogos florais.

domingo, 14 de abril de 2013

CULTURA

Duas centenas de obras de Paula Rego deixam Portugal  (Diário de Notícias - 14/04/13)

Assim vai a "cultura" neste país

Quando os assuntos culturais são tratados como chouriço numa fábrica de enchidos, é o que dá.

Encerrar fundações inúteis e de fachada, é um acto correcto. Considerar todas no mesmo caso, como, no exemplo vertente, a Fundação Paula Rego (Casa das Histórias), é um triste exemplo de confrangedora ignorância e psicopatia financeira.

Agora querem ver obras de Paula Rego? Vão a Londres, onde ela reside.

E peçam autorização, para gastar dinheiro com o voo e alojamento ao intendente Gaspar!

 

 


sábado, 13 de abril de 2013

A QUEDA

Governo deve cair

Sondagem da Eurosondagem para o Expresso e SIC mostra que os portugueses não querem ver o Governo a cumprir o seu mandato até ao fim.
Governo deve cair

quinta-feira, 11 de abril de 2013

PARANÓIA

Finanças inundadas de pedidos de despesa dos ministérios

( "Diário Económico" - 11/04/2013)

Sequência do extraordinário despacho do Gaspar, de 8/04.

Chega de culpar o Tribunal Constitucional ou a Constituição.

Chega de alibis.

Isto não é só irresponsabilidade, impreparação ou incompetência.

É paranóia!

Substituir esta política já não é só um imperativo político, social, económico ou financeiro.

É um imperativo de pura saúde pública!

 

 

quarta-feira, 10 de abril de 2013

ERA UMA VEZ NO OESTE


O pó levantava-se na pequena cidadezinha de Europe, no meio do deserto, restos de plantas mortas volteavam na rua principal, a poeira invadia as casas, os habitantes moviam-se quase como autómatos, desalentados, impávidos.
Ao longe, na direcção do pôr-do-sol, Lucky Luke cavalgava ronceiramente, entoando "I'm a lonesome cowboy/ And a far away from home,,,".
A porta do saloon "Port & Gal's" abriu-se com um guinchante barulho de madeira, e um homem desengonçado, apatetado, de olhar distraído, entrou. Era o ajudante de xerife Peter "Steps" Rabbit, que se dirigia a uma mesa.
-Casper, Casper, já tens o budget do saloon pronto? Olha que temos de o submeter ao juiz.
-C-a-l-m-a, c-a-l-m-a, Rabbit. Está aqui tudo pronto. É o plano A, e é único, já que não tenho pachorra para plano B.
-E se o juiz refilar?
-Deixa-o refilar...
-Ah é?
-Daaaa! És mesmo tanso! A falta que te faz o Michael Grass!
-Lá isso...
-Ninguém o mandou fazer batota ao poker e ter de abandonar a cidade coberto de alcatrão e penas.
-Até foi muito altamente, ih, ih.
-Chega estúpido. Pois como te dizia, é o plano A ou nada!
-E o juiz...?
-Outra vez? Se o gajo refilar, vais fazer birras e queixinhas ao xerife Wood "Chips" Blackberry, mais conhecido por Silva, que te bate nas costas e te assoa o nariz, e segues em frente.
-E se o A for considerado ilegal pelo juiz, faço o quê? Não tens B...
-Logo isto havia de me sair na rifa! É a nossa oportunidade para aplicar o plano secreto de quem nos paga.
-Quem?
-Anjinho! A Angel, a dona do bordel, que é onde está a guita, e o seu manga-de-alpaca, o Wolf Gang, o que ficou coxo na guerra.
-Sendo assim...
-Sendo assim, oxalá o juiz diga não, que logo de seguida aplicamos o plano do Fred Mark Ink, o adjunto do Gang, com o apoio especializado dos desperados da troika dos Irmãos Dalton, isto é, cortamos o whisky no saloon, a aveia no estábulo, o ferro nas ferraduras, a pólvora nas pistolas, a corda nos laços, os pastos no gado, o feijão no restaurante, as fronhas no hotel, o tudo em tudo.
-Mas depois...
-Mas depois ficam sem nada, mais desertos que o deserto, vão implorar e chorar, nós dizemos que estamos em estado de emergência e tomamos conta disto e mais ninguém abre o pio! Anjinhos...
-Boa Casper!
-Já percebeste?
-Sim...quer dizer...Podes contar-me tudo outra vez, assim como se eu fosse loiro?
Oh Rabbit!!!

(Nota: esta é uma ficção, nada tem a ver com as teorias da conspiração, e muito menos com o excelente "Era uma vez no Oeste" de Sergio Leone e com a música de Ennio Morricone)  

terça-feira, 9 de abril de 2013

A DAMA DE FERRO

Ontem, 8 de Abril de 2013, morreu Margaret Thatcher, ex-primeira-ministra da Grã-Bretanha, conhecida como " A Dama de Ferro".

segunda-feira, 8 de abril de 2013

ALMADA

Ontem, 7 de Abril, passaram 120 anos sobre o nascimento de um dos grandes vultos da Cultura portuguesa de sempre : José de Almada Negreiros,
Figura ímpar, quer nas artes plásticas (desenho, pintura), quer na escrita (romance, poesia, ensaio, dramaturgia), quer, até, na dança (foi coreógrafo, figurinista, director de cena e bailarino), Almada marcou fulgurantemente os anos de 1911 a 1970.
Ligado ao movimento futurista, de Marinetti (que influenciaria a arte italiana dos tempos de Mussolini), com Santa Rita  (pintor) e Amadeo de Souza Cardoso, o percurso de Almada foi muito pessoal, autodidacta,  e pouco ligado a movimentos colectivos. Embora colaborando com o Estado Novo (cartazes de propaganda, vitrais para o  pavilhão da colonização da Exposição do Mundo Português), foi-se progressivamente afastando dessa tutela, nunca aceitando que o estado ditasse os padrões a que a arte se devia submeter.
Desde a sua colaboração na Revista Orfeu, que motivou feroz ataque do tradicionalista Júlio Dantas, o que nos permitiu saborear o Manifesto Anti Dantas, ao romance como "Nome de Guerra" ou a prosa poética "Invenção do Dia Claro", ou até à sua última obra, o desenho inciso "Começar", no átrio de entrada da Fundação Gulbenkian (1968/69), Almada convida-nos à contemplação, admiração, leitura, reflexão, e sentimo-nos, depois, esmagados.
Num breve percurso por Lisboa, podemos, entre outras obras, admirar os seus murais nas Gares Marítimas de Alcântara e da Rocha de Conde de Óbidos, os vitrais na sede do Diário de Notícias (Avenida da Liberdade), os painéis decorativos nas Faculdades de Letras e de Direito e os vitrais da Igreja de Nossa Senhora de Fátima (à Avenida de Berna).
Por fim, no Centro de Arte Moderna da Fundação Gulbenkian, podemos admirar o seu quadro Retrato de Fernando Pessoa, de 1964 (existe outro Retrato, de 1954, pintado para o café Irmãos Unidos, vendido em 1970 por preço record).
José Augusto França dele disse que fica sobretudo a imagem de "português sem mestre"  e, também, tragicamente, "sem discípulos"-
Morreu a 15/06/70,  no Hospital de São Luís dos Franceses, ao Bairro Alto, no mesmo quarto onde faleceu Fernando Pessoa.

Manifesto Anti-Dantas (e por extenso), pelo grande actor e declamador Mário Viegas:

      "Retrato de Fernando Pessoa", 1954
Ficheiro:Almada Negreiros, Retrato de Fernando Pessoa, 1954, oleo sobre tela, 201 x 201 cm.jpg

PATÉTICO

O discurso de ontem de Passos Coelho foi, a todos os títulos lamentável. 
Mais uma vez confundiu-se a árvore (o Tribunal Constitucional) com a floresta (o falhanço da actual política financeira).
O Tribunal é responsável pela verificação das constitucionalidade das leis (não é verdade, prof. Marcelo?), não o é pela política fiscal.
Tanto drama e queixinhas por um desvio de 0,8% no OE?
E o desvio de 0,9% (pelo menos...) na percentagem do défice em 2012? Foi responsável o Tribunal?
E o desvio de 130% na percentagem da recessão prevista para 2013. Também foi por culpa do Tribunal?
E os sucessivos erros nas previsões do desemprego? Idem, Idem?
E o resvalar do rácio dívida/PIB? Falhanço do Constitucional?
Ou será que alguém pretendeu governar atirando a Lei Fundamental do país para o lixo?
Se assim foi, revela, para dizer pouco, imaturidade, irresponsabilidade, incompetência.
Enfim, uma intervenção patét(a)ica.
E isto sem querer ofender o Pateta, uma das mais simpáticas figuras da Disney.
 
(Primeiro-ministro com ideias? E porque não?)

domingo, 7 de abril de 2013

MARX ESTÁ MORTO

"É a lei do Orçamento do Estado que tem que se conformar à Constituição, e não a Constituição que tem que se conformar a qualquer lei".
Esta cristalina declaração de Joaquim Sousa Ribeiro, juiz-presidente do Tribunal Constitucional, é o cerne da questão.
Bombardeados, a todo o minuto, com o que lemos, ouvimos e vemos, custa distinguir a árvore da floresta. Mas tal é a missão dos ideólogos do neoliberalismo e do primado da folha de excel.
Quem governa sabe que existe uma Constituição a cumprir, a qual até já foi alvo de diversas revisões.
Querer, deliberadamente, fazer passar, até por duas vezes consecutivas, legislação que se sabe ser inconstitucional, não é só irresponsabilidade ou incompetência. É premeditação!
A Lei Fundamental já contempla várias hipóteses de resolução de qualquer crise política (as crises ditas económica ou financeira são, acima de tudo, políticas). E, de acordo com o normativo legal em vigor, a Constituição não está blindada a revisões mais profundas.
Querer alijar as culpas para cima do Tribunal, da Constituição, das leis, é querer o primado da falta de lei, da barbárie desreguladora, da ditadura, para que, então, se aplique a receita selvática.
Já sabemos que, agora, vem aí a ladainha dos queixinhas, e que o pobre povo irá pagar ainda mais do que já paga por causa dos senhores do Tribunal. Não se quer ver a floresta. O legal vai ser espezinhado para passar o ilegal.
Atiramos trabalhadores do sector privado contra os funcionários públicos, trabalhadores activos contra reformados, médicos contra professores, agricultores contra operários.
E enquanto se castiga o trabalho, o capital prospera e passa fronteiras, sem regulamentos, enleia e afoga povos e nações. Onde está a união? Onde está a solidariedade?
Karl Marx e a luta de classes morreram, proclamam os novos profetas do liberalismo.
Morreram mesmo?  

ZIP ZIP

Dia 6 de Abril faleceu, aos 77 anos, um dos nomes maiores da televisão portuguesa: Luiz Andrade.
Se a sua actividade enquanto director de programas pode ser alvo de alguma controvérsia, é inquestionável a sua competência e a inovação na área da realização.
Pelas suas mãos passaram algumas das grandes produções da RTP: Um Dois Três, Jogos sem Fronteiras, Festivais da Canção, A Visita da Cornélia.
E, acima de tudo, o mais emblemático e inovador de todos os programas da RTP que, na altura, foi uma enorme pedrada no charco do cinzentismo e pasmaceira nacional: Zip Zip (a que voltaremos mais tarde).
Quanto mais não fosse, só por tal, até sempre Luiz!

sexta-feira, 5 de abril de 2013

POMAR

E depois do Sr. Relvas, vira-se a agulha e fala-se de algo verdadeiramente importante: é hoje inaugurado ao público o Atelier-Museu Júlio Pomar, em Lisboa, na Rua do Vale, junto à Igreja de Jesus, num armazém do século XVII que pertenceu à Livraria Sá da Costa.
A adaptação do espaço é da responsabilidade de Álvaro Siza Vieira.
A entrada é livre, a partir das 14 horas, e às 19 horas há uma visita guiada, conduzida pela directora do Museu, Sara Antónia Matos, e pelo próprio Júlio Pomar.
Recomenda-se, bem como se recomenda a vista obrigatória a mais este espaço cultural em Lisboa.
E Pomar é infinitamente mais importante e valioso que um tufo de relva.
(a seguir - "Almoço do trolha", obra fundamental do neo-realismo, e Auto Retrato)  















O BORRÃO

O Sr. Miguel Relvas, que ostentava o sonante título de Ministro Adjunto e dos Assuntos Parlamentares, demitiu-se ontem.
Por vontade própria!
Por não ter condições anímicas para continuar!
Postas-de-pescando que "...só a História julgará com a objectividade e a distância temporal indispensáveis a acção de cada um de nós enquanto agente político".
Vontade própria, quando se sabe que o seu amigo Nuno Crato, que passa por ministro da Educação guardou, durante dois meses (o que, só por si, daria mais do que motivo para nova demissão), um relatório que conclui que o Sr. Relvas burlou a universidade como um todo, a sociedade, o país, atribuindo-se uma licenciatura que nunca teve? É evidente que as conclusões do relatório indicaram a óbvia porta de saída, pela esquerda baixa. E isto para não adiantar o que será o desenrolar do processo no Ministério Público, caso se detecte um ilícito criminal.
Vontade própria quando o país, de norte a sul, pedia a sua demissão, em manifestações que a memória de outros tempos já não recordava, e quando o próprio parceiro de coligação se sentia incomodado com a sua presença no governo?
Por não ter condições anímicas para continuar? E que condições anímicas têm para continuar as dezenas de milhares de jovens que a sua política lançou para o desemprego, para a emigração, para desistirem do futuro, para deixar o país sem a sua geração mais bem preparada?
Esses sim, licenciados.
Esses sim mestres.
Esses sim doutores.
À custa de muito esforço, dedicação, sacrifício, deles e das suas famílias.
Sem recorrerem a expedientes desonestos.
A acção do Sr. Relvas não trouxe qualquer mais-valia para o país. A dita reestruturação da RTP é uma teia de contradições, avanços e recuos, dignos da pior novela mexicana. O dito impulso jovem (muito gosta esta gente de encher a boca com a palavra jovem), é um fiasco, De 90.000 estágios profissionais previstos, ficaram 10.000. O mapa autárquico ficou pela metade. Falta de força anímica, vê-se logo!  A coordenação do governo, e deste com a maioria parlamentar foi algo de simplesmente inexistente.
Ficam o logro da "licenciatura", a tentativa de chantagem com a jornalista Maria José Oliveira e, acima de tudo, a criação, a preparação, o apoio, até a nível de negociatas particulares (Tecnoforma), o conluio e os segredos para rampa de lançamento do seu alter ego, que dá pelo nome de Pedro Passos Coelho. E agora Pedro?
Diz o Sr. Relvas que só a História o julgará.
Senhor Relvas, o interminável livro da História preocupa-se em preencher as suas páginas, com letras, traços, sinais, pontos, que distingam vultos que façam valer a pena folheá-las, lê-las, para que meditemos, aprendamos, discutamos, para o bem ou para o mal, para o belo ou para o horrível, para Gandhi ou Hitler, Beethoven ou Átila.
Não perde tempo com um borrão!
(porque não vai ser aguadeiro na Volta à França? Só que para isso teria de distinguir a mão direita da esquerda)    

quinta-feira, 4 de abril de 2013

WE SHALL OVERCOME

A 4 de Abril de 1968, era assassinado em Memphis, Tennesse, o prémio Nobel da Paz de 1964, Martin Luther King Jr.
Luther King é mais um daqueles marcos da Humanidade que nos faz sentir orgulhosos de o termos como contemporâneo.
Denodadamente, e sempre apelando à não violência, defendeu, com a própria vida, o direito dos negros americanos à cidadania e ao usufruto dos seus direitos civis, questionando, também, a legitimidade da intervenção americana no Vietnam e o pesado preço que a juventude (negra e branca) pagava.
Desde as marchas e protestos, em Montgomery, Alabama, pelo direito a transporte público para todos (uma negra, Rosa Parks, fora presa em 1955 por se recusar a sentar nos lugares traseiros de um autocarro), até à grande manifestação de 1963 em Washington, onde pronunciou o célebre discurso "I have a dream" (vd. post de 21/03/13 - I HAVE A DREAM), Luther King percorreu um longo caminho na luta pela igualdade e dignidade, que continuou até ser assassinado.
"O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons.", fica como um paradigma do seu pensamento.  
E ouça-se a canção-hino do movimento pelos direitods civis, "We Shall Overcome", na versão do enorme Louis Armstrong: