quinta-feira, 30 de abril de 2015

A PARANÓIA AO PODER!

 
Estamos prestes a viver o mês de Maio.
Aqui há cerca de 47 anos, em Paris, estava a começar uma revolta que iria mudar a face da Europa e do Mundo, apesar de toda a recuperação que um Poder desesperado conseguiu, apesar de tudo, salvar.
De toda a iconografia desses dias mágicos de Maio de 1968, ficaram célebres as frases escritas nas paredes. Uma delas, já histórica, foi "A Imaginação ao Poder!".
Claro que neste Portugal de 2015, e com este Governo, seria exigir demasiado.
Até porque eles não sabem nem sonham, como escreveu António Gedeão.
Mas quando, perante todas as evidências, estudos, análises, depoimentos, estatísticas, se decide avançar com uma Lei só porque sim, ao arrepio de toda a lógica, é porque a paranóia e o delírio já ocupam as cadeiras do Poder.
O que leva Teixeira da Cruz, Ministra-Que-Dá-Cabo da Justiça, a insistir na aprovação da lista que divulgará nomes de agressores sexuais? 
A repudiar evidências científicas?
A pretender a aprovação de uma lei que, por decerto, será liminarmente chumbada em sede de apreciação constitucional?
A abrir caminho a perigosas retaliações na praça pública, a possíveis linchamentos, a prováveis "justiças" pelas próprias mãos, quando se sabe que a maior parte desses agressores estão no seio das próprias famílias?
Só teimosia, ignorância e populismo q.b. para agradar aos "cidadões", tal como Cavaco disse.
E tudo isto abre um precedente muito, muito perigoso, se extrapolado para outras situações...
O que vale é que, para um tema tão polémico, o PSD aplicou a disciplina de voto, e não a liberdade de votar de acordo com a consciência de cada um.
A cagufa envergonhada é muito bonita...  

A LOUCURA AO PODER!



Estavas lindo PSD posto em sossego, dos teus anos de (des)governo sacando o doce fruito, naquele encanto de alma ledo e cego que a fortuna não deixa durar muito...
E não durou porque, a 21 de Abril, um grupo de 12 economistas, a convite do PS, apresentou um cenário macro-económico para os próximos anos, diferente da narrativa oficial do actual poder, a que se deu o nome de "Uma Década Para Portugal".
E foi o salve-se quem puder na coligação que, apressadamente, renovou os votos de fidelidade ajuramentada, de papel passado, assinado pelos nubentes Pedro & Paulo.
Mas como se não chegasse, esse monstro de inteligência, de cultura acima da média, de faro político superior a um rafeiro, que dá pelo imperial nome de Marco António Costa, lembrou-se de outra boa malha:
Passar pelo crivo auditor do CFP (Conselho das Finanças Públicas) e UTAO (Unidade Técnica de Apoio Orçamental), esta adstrita ao Parlamento, o referido trabalho dos economistas.
O que não deixa de ser curioso, já que tal documento não é, ainda, um programa político, apenas uma base de discussão, passível de alterações ou de novas propostas, após debate e aprovação pelos órgãos próprios do partido que a encomendou, no caso o PS.
Por outro lado, a análise de propostas parece ainda não fazer parte das competências daqueles dois órgãos (vd., em anexo, as suas competências).
A ser assim, porque não solicitar, também, a auditoria aos programas do PSD/CDS ( a estas horas já recambiado para Bruxelas....), do PCP, do Bloco, do Livre, do MRPP, até mesmo, as elucubrações de Marinho e Pinto ou Paulo Morais.
Era um fartote, e o CFP, a UTAO, até, já agora porque não?, o Tribunal Constitucional não teriam mãos e pés a medir.
Mesmo para o delírio tem de haver limites....mesmo que Cavaco Silva encolha os ombros a isto tudo.
Mas, com isto tudo, Marco António, o grande estratego, prestou, à oposição, um grande favor. 
Ao exigir a submissão daquele trabalho ao crivo daqueles organismos, acabou por elevar o PS à categoria de partido de governo, efectivo, e o documento "Uma Década Para Portugal" a Orçamento de Estado para, pelo menos, os próximos três anos.
É obra!
Assim, quando as TV's voltarem a focar esse Marco miliário, empedernido, lá estará, por detrás, rosto escancarado em sorriso alarve, fixando a objectiva, clone de emplastro, o inefável Aníbal de Boliqueime.   
("Como se faz um Canalha" - José Afonso)
EM ANEXO : Atribuições do CFP e da UTAO

segunda-feira, 27 de abril de 2015

GONÇALO MALHEIRO : MAIS UM "LOBO" DA NOSSA MEMÓRIA

 
No passado sábado, Direito conquistou, pela 10ª. vez, o título de campeão nacional de Rugby (Divisão de Honra).
E, nesse dia, despediu-se da modalidade Gonçalo Malheiro, um dos imortais "lobos" que representaram a Selecção Nacional no inolvidável Mundial de 2007 em França.
Autor de mais de 260 pontos na sua carreira,. Malheiro foi o autor do histórico pontapé de ressalto no jogo contra a Nova Zelândia, jogo que, no planeta do Rugby, continua a ser recordado como um grande exemplo da nobreza e amor à camisola que este desporto transmite a quem o pratica e a quem o vê e aplaude.
Refira-se, ainda, que Gonçalo Malheiro vestiu por três vezes a mítica camisola dos Barbarians, clube sediado em Inglaterra que, para os seus jogos, convida jogadores de diversas origens, desde All Blacks e Springbocks a....portugueses!
Obrigado por tudo Gonçalo Malheiro.
E já temos saudades....

ASSIM FOI A 25 DE ABRIL...

 
Então, no passado dia 25 de Abril, o venerando chefe do Estado a que isto chegou, o senhor Aníbal de Boliqueime, abriu a boca e não disse nada. Falou de umas generalidades, apoiou o governo a cem por cento, e, pela centésima vez apelou ao consenso em volta dessa mesmo governo.
Pois....
Então não é que o homem desta vez acertou?
Na tarde desse mesmo dia, Passos & Portas, renovavam os votos desta CUligação que (des)governa, chegando assim a um amplo consenso.
Cavaco, por uma vez em trinta e cinco anos acertava uma.
Habemus consensus.
E vê-se sair, das chaminés de Belém, um fumito branco, altamente tóxico.

sábado, 25 de abril de 2015

VIVA O 24 DE ABRIL!

 
Que o Governo e a maioria que o suporta queiram cercear a liberdade de informação e de expressão, não admira nada.
Afinal trata-se do mais retrógrado, incompetente e inculto conjunto de "governantes" desde o 25 de Abril.
Pelo menos...
De facto, nada melhor do que reinstaurar o "exame prévio" ou, sem ambiguidades, a censura, e a auto-censura, para apascentar as almas e não se levantarem ondas incómodas e questões delicadas que, em campanha eleitoral, podem surgir à tona de água.
Assim, o salazarento projecto de decreto-lei sobre a cobertura jornalística em campanhas eleitorais está, ideologicamente, ancorado nesta direita tresloucada que rasteja por São Bento e Belém.
Agora que o maior partido da oposição também venha a embarcar no ridículo é que se torna inaceitável.
A menos que entre os Antónios seja tudo igual, menos nos apelidos...
Se o secretário-geral do PS declara não estar de acordo com o projecto em causa, então porque é uma deputada o subscreve?
Existem dois partidos, duas facções?
Se é  certo que a esquerda é, por sua natureza, local de debate ou de polémica, as mesmas param quando, mesmo diante do nariz, estão eleições legislativas e presidenciais. Aí, o que está na ordem do dia é a tomada do poder. E fazer diferente.
Apenas, e é tanto.
Este capítulo tem, de imediato, de ser encerrado, se uma oposição, mesmo que apenas em pormenores, se quer apresentar como alternativa.
Caso contrário, continuamos a ver o PS alegremente a dar a mão à direita em assuntos importantes e fracturantes (Tratado Orçamental, Abstenção "Violenta", Descida do IRC, Exame Prévio), e divergir, apenas, em questões de pormenor.
E quem queira seguir esta última hipótese, é melhor dizer, francamente, sem subterfúgios, ao que vem.
Ou, então, abandonar o barco!

25 DE ABRIL SEMPRE!

 

25 de Abril
Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo

(Sophia de Mello Breyner Andresen, in 'O Nome das Coisas')


E a Primavera deu flor em Abril....


sexta-feira, 24 de abril de 2015

ABRIL EM ABRIL - IV - 24 DE ABRIL

 
Dia 24 de Abril de 1974.
Véspera do Dia Primeiro.
O Regime preparava, para o dia seguinte, a organização das I Jornadas de Emprego, a serem inauguradas pelo outro zombie de Belém, o inenarrável Américo Thomaz.
Diziam eles que "Reina a ordem em todo o País"...
 
OUVINDO BEETHOVEN

Venham leis e homens de balanças,
Mandamentos daquém e dalém mundo,
Venham ordens, decretos e vinganças,
Desça o juiz em nós até ao fundo.

Nos cruzamentos todos da cidade,
Brilhe, vermelha, a luz inquisidora,
Risquem no chão os dentes da vaidade
E mandem que os lavemos a vassoura.

A quantas mãos existam, peçam dedos,
Para sujar nas fichas dos arquivos,
Não respeitem mistérios nem segredos,
Que é natural nos homens serem esquivos.

Ponham livros de ponto em toda a parte,
Relógios a marcar a hora exacta,
Não aceitem nem votem noutra arte
Que a prosa de registo, o verso data.

Mas quando nos julgarem bem seguros,
Cercados de bastões e fortalezas,
Hão-de cair em estrondo os altos muros
E chegará o dia das surpresas.
  (José Saramago)
 
E o "dia das surpresas" já estava mesmo a chegar, ainda nesse dia 24.
Mais exactamente pelas 22 horas e 55 minutos, através das ondas dos Emissores Associados de Lisboa.
 
(Paulo de Carvalho - "E Depois do Adeus")

Para que a memória se mantenha viva!
Sempre!
 
 
 
 

quinta-feira, 23 de abril de 2015

ABRIL EM ABRIL - III - A PAZ, O PÃO, A SAÚDE...

Explicação do País de Abril
País de Abril é o sítio do poema.
Não fica nos terraços da saudade
não fica nas longas terras. Fica exactamente aqui
tão perto que parece longe.

Tem pinheiros e mar tem rios
tem muita gente e muita solidão
dias de festa que são dias tristes às avessas
é rua e sonho é dolorosa intimidade.

Não procurem nos livros que não vem nos livros
País de Abril fica no ventre das manhãs
fica na mágoa de o sabermos tão presente
que nos torna doentes sua ausência.

País de Abril é muito mais que pura geografia
é muito mais que estradas pontes monumentos
viaja-se por dentro e tem caminhos veias
- os carris infinitos dos comboios da vida.

País de Abril é uma saudade de vindima
é terra e sonho e melodia de ser terra e sonho
território de fruta no pomar das veias
onde operários erguem as cidades do poema.

Não procurem na História que não vem na História.
País de Abril fica no sol interior das uvas
fica à distância de um só gesto os ventos dizem
que basta apenas estender a mão.

País de Abril tem gente que não sabe ler
os avisos secretos do poema.
Por isso é que o poema aprende a voz dos ventos
para falar aos homens do País de Abril.

Mais aprende que o mundo é do tamanho
que os homens queiram que o mundo tenha:
o tamanho que os ventos dão aos homens
quando sopram à noite no País de Abril. 
(Manuel Alegre) 
Para quem não saiba, para os tais que suspiram pelo bafio e o opróbrio, para os amnésicos de última hora, para os distraídos em geral, recorda-se que, a 25 de Abril de 1974, Portugal travava uma guerra colonial em três frentes, injusta, fora do tempo, condenado a uma derrota humilhante e trágica, delapidadora da riqueza material e da riqueza humana.
Cerca de 8.900 mortos, 100.000 feridos e doentes, 14.000 deficientes, 140.000 pessoas sofrendo de perturbações do foro neurológico e psicológico. E uma juventude que, ou fugia à guerra (mais de 100.000) ou via o seu futuro sem esperança ao ser mobilizada para essa carnificina.
O 25 de Abril libertou a sua geração e as futuras desse pesadelo. A Paz foi uma realidade.
E se em 1973 tínhamos 40.303 alunos matriculados nos ensinos básico e secundário, 40 anos depois já contávamos mais de 440.000 e mais de 396.000 no ensino superior.*
Em 1973, o número de alunos matriculados nas Universidades era menos de 1% da população. Em 2011 já são 3,76%. *
Em 1973, o número de médicos e outro pessoal de saúde era de 94 por 100.000 habitantes. Em 2011 atingem-se 405.*
A esperança de vida média (mulheres e homens) era, antes do 25 de Abril, de 67,6 anos. Em 2011 já chega aos 79,8.*
A taxa de mortalidade infantil atingia, em 1973, uns negros 44,8% mas, 40 anos depois, cifrava-se em 3,1%! *
Por fim, o Produto Interno Bruto, per capita era, em 1973, de 7.979 euros e, em 2011, de 16.686 euros. *
Estes números provam, se tal fosse ainda necessário, que nada deste progresso, nada na melhoria das condições de vida da população, no acesso a triviais bens de consumo e de bem-estar, na erradicação da pobreza, da doença, do analfabetismo, na dignificação do Saber, da Cultura, da Ciência, da Inovação poderia alguma vez ter lugar se não tivesse acontecido o 25 de Abril e tudo o que, em termos institucionais, do Serviço Nacional de Saúde ao programa Ciência Viva, do Salário Mínimo Nacional ao Rendimento Social de Inserção, decorreu das alterações políticas e sociais verificadas.
Por isso, quando, neste mês de Abril, se anuncia que foi em Portugal que a taxa de risco de pobreza mais subiu, para uns trágicos 27,5%, é altura de dizer a este Governo e a este Presidente, e a quem, em nome de uma ideologia ultra-liberal e asfixiante da "verdade" única ,  querem destruir tudo o que, nestes 40 anos, tanto custou a construir, e voltar a reduzir o povo português a uma "apagada e vil tristeza", a uma pobreza envergonhada, a uma sujeição ajoelhada a uma certa ideia de Europa, onde o chamado socialismo democrático desistiu de lutar pelos seus ideais, que a paciência tem limites.
E que a alternativa, que terá de existir, sempre, não se pode resumir a uma simples operação de cosmética, mantendo o essencial desta política.
Tal como em 25 de Abril, a ruptura é urgente.
É que sem pão, saúde, habitação, educação, não há Liberdade que resista....    

(Sérgio Godinho - "Liberdade)

* - Dados do portal Pordata

quarta-feira, 22 de abril de 2015

ABRIL EM ABRIL - II - ELEIÇÕES

 
Eu Sou Português Aqui

Eu sou português
aqui
em terra e fome talhado
feito de barro e carvão
rasgado pelo vento norte
amante certo da morte
no silêncio da agressão.

Eu sou português
aqui
mas nascido deste lado
do lado de cá da vida
do lado do sofrimento
da miséria repetida
do pé descalço
do vento.

Nasci
deste lado da cidade
nesta margem
no meio da tempestade
durante o reino do medo.
Sempre a apostar na viagem
quando os frutos amargavam
e o luar sabia a azedo.

Eu sou português
aqui
no teatro mentiroso
mas afinal verdadeiro
na finta fácil
no gozo
no sorriso doloroso
no gingar dum marinheiro.

Nasci
deste lado da ternura
do coração esfarrapado
eu sou filho da aventura
da anedota
do acaso
campeão do improviso,
trago as mão sujas do sangue
que empapa a terra que piso.

Eu sou português
aqui
na brilhantina em que embrulho,
do alto da minha esquina
a conversa e a borrasca
eu sou filho do sarilho
do gesto desmesurado
nos cordéis do desenrasca.

Nasci
aqui
no mês de Abril
quando esqueci toda a saudade
e comecei a inventar
em cada gesto
a liberdade.

Nasci
aqui
ao pé do mar
duma garganta magoada no cantar.
Eu sou a festa
inacabada
quase ausente
eu sou a briga
a luta antiga
renovada
ainda urgente.

Eu sou português
aqui
o português sem mestre
mas com jeito.
Eu sou português
aqui
e trago o mês de Abril
a voar
dentro do peito.

    (José Fanha)
 
Para os incautos, para os que não ligam muito a estas coisas, mesmo para os amnésicos selectivos, até para os "patriotas" de pacotilha, saudosos do tempo da outra senhora, recorda-se que, antes do 25 de Abril, havia uma coisa chamada "eleições", para uma outra coisa que dava pelo nome pomposo de Assembleia Nacional.
Eleições onde não havia campanha eleitoral.
Eleições onde os candidatos da oposição eram espancados pela polícia e presos pela PIDE. 
Eleições onde só podiam votar os maiores de 21 anos, bons chefes de família.
Eleições onde asa mulheres ficavam na cozinha ou a coser meias.
Eleições onde, em 1973, havia pouco mais de 1.800.000 recenseados.
Eleições que nada decidiam, onde os resultados já restavam fixados antes de serem conhecidos.
Eleições num país adiado, isolado, pobre.
Quarenta anos depois, o número de recenseados atinge (2011) mais de 9.600.000 portugueses.
Onde a liberdade de discutir, propor, polemizar, votar, é plena.
Para que se não esqueça que tal só é possível porque aconteceu um dia 25 de Abril.
E, caso o zombie de Belém não venha a sofrer uma das suas habituais diarreias mentais, em Outubro deste ano teremos, de novo, eleições legislativas para a Assembleia da República.
Cruciais, porque podem permitir que a cambada de rapazolas incompetentes e irresponsáveis que nos (des)governa seja corrida.
Mas para tal, necessário se orna que a Oposição não se distraia com presumíveis candidatos ou candidatozinhos a presidentes. Isso é o jogo da direita e dos pasquins e comentadores que a acolita.
A prioridade é, só, Outubro.
E tomar a iniciativa, e não ir a reboque da agenda de Passos & Portas.
Lançar propostas e defendê-las com coerência.
Não marcar à zona, mas homem a homem.
Meter o futebol na gaveta.
Arregaçar mangas, como no rugby.
Dominar o território, conquistar terreno, não deixar respirar o Governo.
Em caso contrário, não passaremos de guerras do alecrim e manjerona.
E jogos florais.
Este povo exangue merece muito mais. 

terça-feira, 21 de abril de 2015

EUROPA, NOME DE CAMPO DE CONCENTRAÇÃO

 
Europa, nome de continente.
Europa, União Europeia.
União, não há.
Europa também não.
Em seu lugar, um gigantesco campo concentracionário,
Um imperialismo sedento e egoísta.
Europa que ajuda a desmantelar Egipto e Líbia, Síria e Ucrânia.
Europa que quer humilhar os morenos, oleosos, gregos, portugueses, italianos, espanhóis.
Europa que se intromete nos conflitos sub-saarianos.
De uma África que ela, Europa, retalhou e distribuiu a seu belo prazer.
Sem ouvir populações, etnias, culturas, modos de vida.
Europa que se comove com Charlies, jornalistas, Paris, primeiro mundo.
Europa que chora 140 mortos num acto terrorista de um ariano louro.
Europa que, face à tragédia, aos milhares, de pés descalços, diz que está triste,
Que vai reforçar patrulhas, fronteiras, controlos, soldados, marinheiros.
Europa que se fecha sobre si, buraco negro prestes a implodir.
Quanto aos imigrantes do Mediterrâneo, olhem, desculpem lá qualquer coisinha, mas vão morrer lá fora!
Desamparem a porta da Europa, raus!

segunda-feira, 20 de abril de 2015

ABRIL EM ABRIL - I

(Mariano Gago)
 
Abril de Abril

Era um Abril de amigo Abril de trigo
Abril de trevo e trégua e vinho e húmus
Abril de novos ritmos novos rumos.

Era um Abril comigo Abril contigo
ainda só ardor e sem ardil
Abril sem adjectivo Abril de Abril.

Era um Abril na praça Abril de massas
era um Abril na rua Abril a rodos
Abril de sol que nasce para todos.

Abril de vinho e sonho em nossas taças
era um Abril de clava Abril em acto
em mil novecentos e setenta e quatro.

Era um Abril viril Abril tão bravo
Abril de boca a abrir-se Abril palavra
esse Abril em que Abril se libertava.

Era um Abril de clava Abril de cravo
Abril de mão na mão e sem fantasmas
esse Abril em que Abril floriu nas armas.
(Manuel Alegre)

Para os mais esquecidos, ou para os que sofrem de amnésia súbita e selectiva, convém recordar que havia um país antes de Abril.
Um país, onde, em 1970, se contavam quase 1.800.000 analfabetos, em comparação com os menos de 500.000,  40 anos depois.
Ou um país que, em 1970, contava menos de 50.000 licenciados, em absoluto contraste com, 40 anos depois, os mais de 1.200.000 portuguesas e portugueses com formação superior.
Um país que não sabia o que era Ciência, Inovação, Investigação & Desenvolvimento, onde ler, escrever e contar seria o essencial, onde o lugar da mulher era na cozinha e onde estudar era olhado de lado e com desconfiança.
Um país que, 40 anos depois, contava mais de 2.600 doutorados, mais de 15.000 publicações científicas e mais de 44.000 investigadores.*
Uma riqueza não mensurável em termos simplórios de deve/haver, mas que é, para quem o saiba projectar no futuro, a base de um país desenvolvido.
Mariano Gago, homem de Abril, sabia-o, e colocou a Ciência, a I &D, a Inovação, no centro do debate político.
Homem que faz muita falta a este país.
E cujo legado está, fria e ideologicamente, a ser destruído, por quem deseja, ardentemente, um país pobre.
Pobre nos bolsos, pobre nas ideias.
Pelo que não admiram o "elogio" desprezível e mesquinho de Passos Coelho e a indiferença parola do zombie de Belém, infinitamente longe da estatura de Mariano Gago.
Ignorantes e analfabetos.
E, por isso, perigosos, muito perigosos.
 
* - Dados do portal "Pordata".
 

quinta-feira, 9 de abril de 2015

OPOSIÇÃO, JÁ AGORA...SE NÃO INCOMODO...

António Costa chegou a secretário-geral do PS para, segundo ele, fazer uma oposição activa ao Governo, já que julgava frouxa a liderança de Seguro.
E quando Costa chegou, gerou uma onda de esperança e entusiasmo entre os militantes e votantes, actuais e potencialmente futuros, do PS.
O que não seria difícil, perante a onda de incompetência, arrogância, ignorância, que emanam de São Bento e do zombie de Belém...
Só que...
Enredado entre o PS e a Câmara de Lisboa, com a espada de Damócles socrática sobre a cabeça, Costa parece não ter sabido gerir tudo o que positivo se deixaria adivinhar.
Pelo contrário.
Enredou-se em questões menores, contradisse o discurso da oposição com o de Presidente da Câmara, não se libertou de amarras do passado, fez escolhas discutíveis, no mínimo, para a bancada parlamentar.
Agora, que abandonou -até que enfim!- a Câmara para ocupar, em definitivo, o lugar de secretário.geral do seu partido, e face à catadupa de "lapsos" e asneiras sucessivas dos rapazolas da maioria, face ao choque que a Grécia provocou na fortaleza europeia, são completamente desnecessárias as tristes figuras a que se assiste no PS.
Falar, neste momento, de presidenciais, alimentar a sua polémica,é um tiro no pé.
Não disciplinar as hostes partidárias, permitindo que cada bloguista ou feiceboquiano socialista pespegue o que lhe vai na alma, é dar o corpo às balas da maioria e de Belém, é dar um ar de falta de autoridade, de falta de ter o partido na mão, no pulso, no coração.
De uma vez por todas, e neste momento, a batalha crucial, até para regeneração da Democracia, são as eleições legislativas e varrer a gentalha do Governo. É a prioridade, e tudo o resto é secundário.
É uma escolha eminentemente política, já que as baterias terão de estar apostadas, na óptica do PS, para uma maioria absoluta, E só!
De uma vez por todas,  e até Outubro, Costa tem de se capacitar de que é o líder da oposição, de que o seu alvo é Passos Coelho e a estratégia é denunciar, todos os dias, em todas as ocasiões, todo e qualquer erro - e são tantos!- deste Governo.
Afinal, é ele o Secretário-Geral do maior partido da oposição.
Não é o Dr. Mário Soares...

terça-feira, 7 de abril de 2015

A MORTE NÃO É IGUAL PARA TODOS

 
No dia 2 de Abril, um grupo terrorista, alegadamente ligado a organizações que pregam uma leitura fanatizada do Islão, entraram na Universidade de Garissa, no Quénia, e assassinaram 148 jovens estudantes.
No Quénia, África, Terceiro Mundo...
Onde estão os "Je suis Charlie", onde estão as pázadas de chefes de estado de mãos dadas, onde estão os desfiles de desagravo, os artigos inflamados, as reportagens manipuladoras, o horror a entrar em directo, com enviados especiais e tudo?
Afinal  , a mesma maciça cobertura jornalística que foi dedicada à queda do Airbus da Germanwings, provocada, alegadamente, pelo co-piloto Andreas Lubitz, vítima de depressão e com tendências suicidas, e que assassinou 149 pessoas.
Claro que nada disto justifica o assassinato cobarde dos jornalistas e polícias franceses, ou a atitude tresloucada de um ariano alemão.
Mas enquanto estes acontecimentos foram alvo de intenso acompanhamento mediático, de tomada de posições públicas por parte de inúmeros responsáveis políticos, de mobilizações populares, no que a Garissa diz respeito...quase nada.
Tal como em relação à guerra civil no Iémen, aos assaltos do Boko Haram na Nigéria ou às ofensivas do criminoso Estado Islâmico (curioso: quem diz representar a pureza do Islão não deveria eleger o estado desestabilizador de Israel como o principal inimigo...?).
No fundo, é apenas o espelho de um racismo colonialista ainda latente, para quem os problemas do Terceiro Mundo não existem. Encolhem-se os ombros e varre-se para debaixo do tapete.
Como seria diferente se os 148 universitários mortos fossem alunos de Nanterre, da Sorbonne, de Oxford ou Cambridge...
Ou se o co-piloto do avião da Germanwings, em vez de um alemão ariano e loiro, tivesse o rosto mais escuro e se chamasse Hassan ou Yussuf. Seria logo um terrorista, como Lubitz o foi. 

("Vejam bem" - José Afonso)