domingo, 30 de março de 2014

VANGELIS e MAURICE JARRE II

 

A pedido de várias e respeitáveis famílias:

1- Tema de "Lawrence da Arábia", de Maurice Jarre:


2- "The Four Horsemen" dos "Aphrodite Child's":


ERIC CLAPTON

 
Nasceu há 69 anos em Ripley, Inglaterra.
Fez parte de grupos que já estão nas páginas da história do rock como os Yardbirds ou os Cream.
Aprendeu a andar e a tocar guitarra.
Ao mesmo tempo.
E nas suas mãos a guitarra é o universo.
Conviveu com os Rolling Stones quando estes começaram a gatinhar em clubes nocturnos.
A sua amizade com George Harrison levou-o a tocar numa inspirada composição do "Beatle tranquilo" que fez parte desse marco histórico da música que é o "White Album": "While My Guitar Gently Weeps".
Intérprete marcante de blues, rock, hard-rock, compositor é, acima de tudo, um incontornável virtuoso da guitarra, o segundo melhor de sempre, de acordo com a opinião da "Rolling Stone" (o primeiro é Hendrix).
Hendrix que, nas suas palavras, o levou a reaprender a técnica, o som e a tonalidade do seu modo de abordar o instrumento.
E deu-nos "Layla".
E teve altos e baixos, drogas, álcool.
Amores não correspondidos, amores frustrados, e Amores.
E um desgosto enorme quando o seu filho de 4 anos morreu.
Todas as "Tears in Heaven" não foram suficientes.
É um dos grandes génios musicais dos nossos tempos.
Chama-se Eric Clapton.
 

sábado, 29 de março de 2014

VANGELIS e MAURICE JARRE

Falando de filmes e de música, por exemplo, no dia de hoje o sr. Evángelos Papathanassiu, mais conhecido por Vangelis, completa 71 anos. Talvez não se lembrem dele quando fez parte do trio grego "Aphrodite's Child", na companhia de um tal Loukas Sideras e de outro tal Demis Roussos.
(Vangelis)

Mas a este senhor devem-se bandas sonoras de filmes como "Alexandre",  de Oliver Stone, "1492-Cristóvão Colombo", de Ridley Scott (a sério?), ou "Blade Runner", também de Ridley Scott.
Compôs, igualmente, o tema da série televisiva "Cosmos" (1ª. série, com Carl Sagan) e o tema do Campeonato de Mundo de Futebol de 2002.
E venceria um Óscar, em 1982, com a banda sonora de "Momentos de Glória" (Chariots os Fire), de Hugh Hudson.
("Chariots of Fire" - abertura)

 
(Maurice Jarre)
Já quanto a Maurice Jarre, compositor francês nascido em Lyon em 1924, e que faleceu em Los Angeles a 29 de Março de 2009, talvez seja mais conhecido, actualmente, por ser o pai de Jean-Michel Jarre.
Mas talvez seja um feito menor, face a uma colecção de:
-Três Óscares: 1962 com "Lawrence da Arábia" de David Lean, 1965 com "Dr. Jivago", também de David Lean (igualmente vencedor do Globo de Ouro e de um Grammy) e 1984 com "Passagem para a Índia", ainda de David Lean (que receberia outro Globo de Ouro).
-Dois outros Globos de Ouro em 1989 com "Gorilas na Bruma", de Michael Apted e em 1995 com "Um Passeio nas Nuvens", de Alfonso Arau.
-Dois BAFTA, em 1986 com "A Testemunha", de Peter Weir, e em 1989 com o inesquecível "Clube dos Poetas Mortos", igualmente de Peter Weir.
No entanto, e numa altura em que se começa a disputar o Campeonato do Mundo de Fórmula1, e que, no ano passado, o filme "Rush", de Ron Howard, recebeu apreciações favoráveis, convém não esquecer que o primeiro grande filme sobre esse campeonato foi "Grande Prémio", de 1966, dirigido por John Frankenheimer, e cuja banda sonora foi composta por Maurice Jarre.

(Tema de "Grande Prémio" - imagens do G.P. Mónaco de 1966) 
-   

quinta-feira, 27 de março de 2014

DIA MUNDIAL DO TEATRO


Pois comemoremos hoje o Dia Mundial do Teatro!
Teatro aqui, ali, espalhado pelo Mundo, dos anfiteatros gregos que aplaudiram Ésquilo, Sófocles, Eurípides ou Aristófanes, aos japoneses do Nô e Kabuki, ao Teatro das Sombras chinês ou ao Teatro Negro de Praga, dos palcos da Broadway de Bob Fosse ou Bernstein, ao Covent Garden ou Old Vic, até ao West End, de Noel Coward ou Lloyd Weber e David Bowie, ou Laurence Olivier e Kenneth Branagh ou os Monty Python, de Shakespeare a Oscar Wilde ou Harold Pinter e Samuel Beckett, aos Campos Elísios do Thêatre des Champs Elysées ou Comédie Française, de Sarah Bernhardt ou Jean Louis Barrault, de Molière a Jacques Prévert ou Jean Giraudoux, até ao Piccolo Teatro di Milano, invocar Pirandello ou Dario Fo, Anna Magnani e Vittorio Gassman, ao calçadão do Rio e das peças de Nelson Rodrigues ou Oswaldo de Andrade, às figuras de Paulo Autran e Fernanda Montenegro, da Espanha telúrica de Arrabal, Garcia Lorca ou Almodóvar, ao teatro empenhado e militante, Mayakovsky e Bertolt Brecht.
Teatro universal, ali ao pé de nós, à distância de uma mão, a vida a passar diante dos olhos, para rir, para chorar, para pensar, reflectir, despertar sentimentos, ambiguidades, paradoxos.
Teatro espectáculo único, irrepetível, respirável, necessário, indispensável como a vida.
  
E o Teatro entre nós.
Tão amado e mal-amado. Especialmente pelo poder, quanto este poder se baseia na ignorância, analfabetismo e economicismo fanático.
Teatro que faz tanta, ou mais falta, do que exportar rolhas de cortiças.
Teatro que é fonte de riqueza, especialmente cultural, mas também financeira, se apoiado, se publicitado, se realçado, se descoberto.
Teatro nosso, e de que nos podemos, e devemos, orgulhar. Da comédia ao drama, da revista à portuguesa ao musical e ao experimental.
De Gil Vicente, António José da Silva O Judeu, Almeida Garrett, Gervásio Lobato, Bernardo Santareno, Francisco Rebello, Jacinto Lucas Pires, Miguel Rovisco.
E de Palmira Bastos, António Silva, Rey-Colaço, Vasco Santana, Beatriz Costa, Carmen Dolores, Ruy de Carvalho, Eunice Muñoz, Joaquim Benite, João Mota, Ivone Silva, José Viana, Rui Mendes, Irene Cruz, Fernanda Lapa, João Lourenço, Hélder Costa, Raul Solnado, Mário Barradas, Jorge Silva Melo, La Féria, Helena Félix, Luís Miguel Cintra, Rita Blanco, Paulo Pires, José Pedro Gomes, Maria Rueff, Miguel Guilherme, e tantos e tantas, e a quem tanto devemos.
E lembrar os teatros, os que, heroicamente, ainda sobrevivem, e os que desapareceram, varridos a camartelo por oportunismo, estupidez, avareza.
Como o Monumental. Ou o Adóque. Ou o Vasco Santana.
Mas o teatro vive, felizmente, e afirma que está vivo.
E, nesta dia, permita-se que se lembre uma das grandes actrizes deste país, e não só, verdadeiro símbolo vivo do Teatro, e que já merecia, de há muito, que se fizesse a justa homenagem oficial, que já está em dívida e que tarda: Maria do Céu Guerra!
E viva o Teatro! 


quarta-feira, 26 de março de 2014

O LIVRO PORTUGUÊS

Hoje é o Dia do Livro Português.
Por isso...Leiam!
Apalpem, acariciem o papel,
Livros em papel, claro, sempre,
Devorem o texto com os olhos,
Leiam,
Aprendam, divirtam-se, chorem, pensem,
Mas, acima de tudo, sintam,
O livro é um amigo fiel,
A Literatura Portuguesa é das melhores do Mundo,
Desafia a rotina, o conformismo, a tristeza,
Ler é viver, resistir, cerrar os dentes,
E Amar, amar perdidamente,
Amar Florbela, e Sophia de Mello Breyner,
E Camões, Gil Vicente, Sá de Miranda,
E Bocage, e a Marquesa de Alorna,
E António José da Silva, O Judeu,
E Eça, Camilo, Almeida Garrett, Herculano,
E Aquilino, Agustina, Ferreira de Castro,
E Torga, Vergílio Ferreira, David Mourão,
E José Gomes Ferreira, Almada Negreiros, Santareno,
E Ary, Mário Dionísio, Soeiro, Teresa Horta,
E Redol, Lobo Antunes, Eduardo Lourenço,
E Saramago, José Luís Peixoto,
E tantos, e tantos outros,
Que amamos,
Porque aquelas letras que eles imprimiram nos livros portugueses nos enriquecem.
O corpo, a alma, o espírito, a inteligência.
Todos os dias.
 

terça-feira, 25 de março de 2014

UNIÃO (?) EUROPEIA

No dia 25 de Março de 1957, em Roma, os representantes da ex-República Federal da Alemanha, França, Itália, Bélgica, Holanda e Luxemburgo assinaram solenemente o Tratado de Roma que instituiu:
-A Comunidade Europeia de Energia Atómica (Euratom) e,
-A Comunidade Económica Europeia, que evoluiu para a actual União Europeia.
Pode ler-se no preâmbulo desse Tratado, entre outras coisas:

"...os signatários do Tratado declaram o seguinte:
"- Determinados a estabelecer os fundamentos de uma união cada vez mais estreita entre os povos europeus,
- Decididos a assegurar, mediante uma acção comum, o progresso económico e social dos seus países eliminando as barreiras que dividem a Europa;
- Fixando como objectivo essencial dos seus esforços a melhoria constante das condições de vida e de trabalho dos seus povos;
- Reconhecendo que a eliminação dos obstáculos existentes requer uma acção concertada tendo em vista garantir a estabilidade na expansão económica, o equilíbrio nas trocas comerciais e a lealdade na concorrência;
- Preocupados em reforçar a unidade das suas economias e assegurar o seu desenvolvimento harmonioso pela redução das desigualdades entre as diversas regiões e do atraso das menos favorecidas;
- Desejosos de contribuir, mercê de uma política comercial comum, para a supressão progressiva das restrições ao comércio internacional;
- Pretendendo confirmar a solidariedade que liga a Europa e os países ultramarinos e desejando assegurar o desenvolvimento da prosperidade destes, em conformidade com os princípios da Carta das Nações Unidas;
- Resolvidos a consolidar (…) a defesa da paz e da liberdade e apelando para os outros povos da Europa que partilham dos seus ideais para que se associem aos seus esforços (…)". (negritos da responsabilidade deste escriba)


Passados 57 anos, a realidade da construção (?) europeia tem alguma semelhança com os anseios dos pais fundadores da União Europeia?
Ou será aqui, no cerne da Europa, que terá de existir, de facto, uma "refundação"?
É que quem assiste ao triste espectáculo proporcionado pelas actuais Instituições Europeias, e os seus rostos visíveis, parece estar a assistir a mais uma sessão dos velhos kitches que eram os "Jogos Sem Fronteiras"...
(Peter Gabriel - "Games Without Frontiers" - 1980)


segunda-feira, 24 de março de 2014

DIA DO ESTUDANTE

 
A Assembleia da República, em 1987, consagrou o dia 24 de Março como o Dia do Estudante.
Tal data homenageia as dezenas de milhares de estudantes que, a 24 de Março de 1962, designadamente em Lisboa e Coimbra, protestavam contra a intromissão do Estado nas associações do estudantes, a recusa em permitir as comemorações de um dia dedicado aos estudantes e seus problemas, a liberdade, a guerra colonial.
A repressão foi feroz. Centenas de estudantes foram presos e espancados. A Cidade Universitária foi ocupada pela polícia de choque, a cantina encerrada, as associações de estudantes encerradas e dirigidas por "comissões administrativas" nomeadas pelo regime (a Associação Académica de Coimbra foi sujeita a este regime por quase 7 anos).
A 26 de Março foi decretado o "luto académico". Realizaram-se dezenas de reuniões, greves a aulas, manifestações sempre brutalmente reprimidas, particularmente no 1º. de Maio desse ano.
Desde as "eleições" presidenciais de 1958, onde a campanha de Humberto Delgado agitou as águas mansas do Estado Novo, que o regime não tinha sido posto em causa de forma tão evidente. Foram 100 dias, até ao refluxo da contestação, que abalaram Salazar e os seus lacaios.
Sobre estes acontecimentos, recomenda-se a leitura de "100 Dias que Abalaram o Regime - A Crise Académica de 1962", da Editora Tinta da China, e com o alto patrocínio do ex-Reitor da Universidade de Lisboa, Prof. Dr. Sampaio da Nóvoa.
     
Decorridos 52 anos, os problemas são, num certo sentido, felizmente diferentes.
Mas a crise gera a crise a nível da educação.
Especialmente se quem governa entende a Educação como mero mercantilismo economicista e descartável, e não como uma ferramenta indispensável ao progresso e à abertura de horizontes largos e à compreensão do mundo e da sociedade. Pode ser perigoso...
Estudar é, cada vez mais, compreender o que nos rodeia.
E tentar transformar para melhor.
E, humildemente, aprender, aprender todos os dias.
Para que, durante o nosso percurso de vida, possamos renascer sempre sedentos do conhecimento.
Sempre jovens. 

sábado, 22 de março de 2014

DIA MUNDIAL DA ÁGUA

 
Água,
Nascemos da água,
Somos embalados pela água,
Líquido materno,
Acqua mater,
Vivemos com a água,
Matamos a sede, até comemos,
Sem água seríamos pó,
Rasteiro, espezinhado,
Água que nos alimenta,
E aos animais, às plantas,
Todos os seres vivos,
Água que nos lava o corpo,
E a alma, e nos sacia o espírito,
Água que por nós desliza,
Quando rimos, quando choramos,
Que encharca a areia,
A praia onde, à beira da água,
Pensamos, amamos, sonhamos,
Água das estrelas, brilho de vida,
Água que é de todos os seres deste planeta.
Água só para alguns?
Privada?
Só com um pano encharcado!
De água... 

 
("Águas de Março" - Elis Regina e Tom Jobim.Saudades...)

sexta-feira, 21 de março de 2014

AYRTON SENNA

Esta paulista genial completaria hoje 54 anos.
Disputou 162 corridas de Fórmula 1.
Venceu 41 vezes, esteve em 80 pódios, 65 pole-positions, 3 títulos de Campeão do Mundo (1988, 1990 e 1991).
Manteve uma rivalidade quase única com Alain Prost (rivalidade muito maior, e mais espectacular, diga-se, que a celebrada Lauda/Hunt no filme "Rush", que só terá existido face ao gravíssimo acidente de Lauda na Alemanha), em despiques que, hoje, fazem muita falta à actual abúlica, anémica, ultra-regulamentada Fórmula 1.
Em 2009, e após ouvir a opinião de 217 corredores, a revista britânica "Autosport" elegeu-o como o maior piloto de sempre. Tal como a BBC, em 2012.
Morreu aos 34 anos, a 1 de Maio de 1994, no circuito italiano de Imola.
E com ele desapareceu muita da paixão das corridas e da velocidade.
O seu funeral, no Brasil, foi acompanhado por cerca de 1.000.000 de pessoas.
Grande parte da sua fortuna foi aplicada no Instituto Ayrton Senna (do qual Alain Prost chegou a fazer parte da Administração), que fundou, e se dedica ao apoio a crianças pobres, no Brasil e não só.
Uma pessoa e um desportista como Senna fazem muita falta.
E quando parecia impossível, lá estava ele na frente de todos...
(Donington Park - Grande Prémio da Europa -11/04/1993 - A melhor corrida de Senna e a mais perfeita 1ª. volta da história da Fórmula 1)

NÃO AO RACISMO!

 
O dia 21 de Março foi, em 1969, proclamado pela ONU como o Dia Internacional Contra a Discriminação Racial.
No dia 21 de Março de 1960, em Sharpeville, arredores de Joanesburgo, África do Sul, uma multidão de perto de 20.000 pessoas protestava, pacificamente, e sem armas, contra os baixos salários, as rendas exorbitantes das townships onde eram obrigados a residir, e, acima de tudo, contra a chamada "Lei do Passe", de acordo com a qual todos os não-brancos, desde logo a grande maioria negra, eram obrigados a ter consigo, e a exibir sempre que exigido, um documento que funcionava como um autêntico passaporte no próprio país,  e do qual constavam, além do mais, autorizações de deslocação e para onde se poderiam deslocar e autorizações de residência, proibindo, assim, e de facto, a livre circulação e a liberdade de escolher o local para residir.
Face a esta multidão, uma polícia branca, impreparada, fanatizada, moldada pelo apartheid, resolveu abrir fogo.
Passados poucos minutos, contavam-se 69 mortos, muitos deles pelas costas, e 180 feridos.
A 1 de Abril de 1960, com a abstenção da França e Grã-Bretanha, o Conselho de Segurança da ONU aprovou a resolução 134, que instava o governo da África do Sul a abandonar a regime do apartheid e a segregação racial.
Em 1961, o país abandonou a comunidade dos países do antigo império britânico, a Commonwealth.
O governo local limitou-se a impôr o estado de emergência face à repulsa, às greves, às manifestações e tumultos que tal massacre tinha originado.
Nas suas memórias ("Longo Caminho para a Liberdade"), Nelson Mandela escreveu que "O tiroteio em Sharpeville provocou uma convulsão nacional e uma crise governamental. Chegaram protestos de todo o mundo...O massacre de Sharpeville criou uma nova situação no país. ..." (pgs. 250/1).
Passaram, ainda, quase 30 anos, até que, a 11 de Fevereiro de 1990, Nelson Mandela era libertado.
E a 10/12/1996 Mandela promulgou, em Sharpeville, a nova Constituição da África do Sul.
Que nesse país, em todo o mundo, entre todos os povos, não se vejam mais placas odiosas como esta: 

 

DIA MUNDIAL DA POESIA

 
Hoje, 21 de Março, comemora-se o Dia Mundial da Poesia.
Embora a escolha seja pessoal, junta-se, em homenagem à Poesia, um poema que marcou uma geração
E, apesar de mais de 40 anos passados, "eles" continuam a não saber e a não sonhar...

"Pedra Filosofal
Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.

eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.

Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.

Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida,
que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança."

(poema de António Gedeão)

quarta-feira, 19 de março de 2014

PARABÉNS HERMAN!

O "verdadeiro artista" completa hoje 60 anos.
Polémico.
Novo rico.
Genial.
Kitsch.
Pastiche.
Irreverente.
Conformista.
Herman José pode ser isso tudo.
Até português, para se alistar para a guerra colonial, ou alemão para ser expulso do país como, em 1973, a consensual PIDE lhe deu a escolher.
Mas Herman é mais do que isso.
Na boa tradição da comédia portuguesa, na esteira de nomes como António Silva, Vasco Santana ou Raul Solnado, explodiu no palco e nos ecrãs televisivos, revolucionando por completo a forma de apresentar o humor neste país, particularmente com o programa "O Tal Canal", da RTP (1983).
As barreiras foram ultrapassadas, derrubadas, subvertidas. Assistíamos, em português, à comédia anárquica, iconoclasta, non-sense, corrosiva, uma mistura de Irmãos Marx e Monty Python.
Definitivamente, havia humor Antes de Herman e Depois de Herman.
Revelou actores como Maria Rueff, Ana Bola, Maria Vieira, Joaquim Monchique, Manuel Marques ou Nuno Lopes. E deixou descendência: Bruno Nogueira, Nilton, Gato Fedorento. Seriam o que são hoje sem o exemplo de "Tony Silva"? Ou do "Nelito"? Ou do "Diácono Remédios"?
Hoje, Herman José pode já não nos fazer rir às bandeiras despregadas.
Mas, de certeza, far-nos-á, pelo menos, sorrir.
E, neste país, e agora, já é muito.
Parabéns Herman!


  

segunda-feira, 17 de março de 2014

NUREYEV, O PRÍNCIPE DO PALCO

Nasceu a 17 de Março de 1938 em Irkutsk, na ex-União Soviética.
Morreu em Paris aos 54 anos.
Revolucionou o ballet, e o papel do dançarino, como nenhum outro o tinha feito desde Nijinsky no início do século XX.
(excerto de "O Lago dos Cisnes" - Royal Ballet)

Nureyev exigiu mais da coreografia, não teve problemas em abraçar tanto o ballet clássico como a dança moderna (que trabalhou com Martha Graham), e combinando as duas, como Gene Kelly o tentou fazer no cinema.
A sua técnica, sublime, é inspiração para os artistas contemporâneos, ele que, com Margot Fonteyn, formou talvez o mais mítico par de dançarinos de sempre, trabalhando juntos no Royal Ballet (Londres) entre 1962 e 1970. A sua última actuação conjunta foi já em 1988.
Nureyev também se distinguiu como director e coreógrafo, fazendo praticamente renascer o Ballet da Ópera de Paris (Palácio Garnier), para a qual realizou o seu último trabalho, já bastante doente: La Bayadère.
(Nureyev e Margot Fonteyn - "Romeu e Julieta")

Este homem, que se formou no Ballet Kyrov, que se exilou em Paris em 1961, apesar de detestar o vedetismo, conviveu com artistas de diversos talentos e sensibilidades como Andy Warhol, Freddie Mercury, Jackie Onassis, Mick Jagger ou Gore Vidal.
Artista sem fronteiras, não se encerrou na torre de marfim do ballet clássico, abrindo o corpo e o espírito a tudo o que a sua arte inimitável pudesse tocar.
Um homem para a eternidade.
("Lago dos Cisnes (?)" - Nureyev e Os Marretas)


RUGBY : PARABÉNS IRLANDA!

 
Adivinhava-se!
A Irlanda venceu o Torneio das 6 Nações de 2014, repetindo o triunfo de 2009, então com o grand slam.
Depois do Itália-Inglaterra (11-52), somente uma vitória da França poderia impedir a nação do trevo de festejar o triunfo. E, para tal, seria mesmo necessária uma super França que, este ano, não se viu, mau grado a vitória sobre a Inglaterra na primeira jornada. Mas é uma França presa por arames.
A Irlanda foi, num cômputo geral, a equipa mais equilibrada do Torneio, merecendo amplamente o título, que ofereceu ao que será, talvez, o melhor jogador irlandês de sempre, o enorme Brian O'Driscoll, herói nacional, que abandona este ano a sua selecção e que já faz saudades.
É a 12ª. vitória da Irlanda, a juntar às 26 de Inglaterra e Gales, 17 da França e 14 da Escócia.
Tendo em conta que o Mundial do próximo ano se disputará em Inglaterra, muita atenção para a jovem e promissora equipa inglesa, 2ª. classificada nos 6 Nações deste ano, que Stuart Lancaster, "lançado às feras" no início de 2012, tem inteligentemente vindo a formar, e que poderá vir a ser uma boa surpresa. 
 

domingo, 16 de março de 2014

14 DE MARÇO : O DIA DA VERGONHA.

 
No dia 14 de Março de 2014, o projecto de lei relativo à coadopção de crianças em casais do mesmo sexo foi rejeitado, na especialidade, por 111 votos contra 107 a favor e cinco abstenções.
Deputados que, aquando da votação na generalidade, se abstiveram, votaram agora contra.
Partidos que, num assunto claramente de consciência, tinham dado liberdade de voto, impuseram agora a lei da rolha, perdão, a disciplina de voto.
Vozes hipócritas esganiçam-se a tentar provar que os portugueses não estavam preparados para tal projecto.
Ou seja, que não estão preparados para a realidade quotidiana.
Esta rejeição rejeita, também, sentença, com força de lei, do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem.
Da Europa onde dizem que estamos inseridos.
Ou orgulhosamente sós!
Que contraria pareceres fundamentados da UNICEF.
Que talvez seja uma organização anti-patriótica.
Que rejeita, também, pareceres do Instituto de Apoio à Criança, dirigido por Manuela Eanes.
Que, na sombra, deve simpatizar com os traidores do Manifesto dos 70.
Que, mais importante que tudo, rejeita e corta os direitos das crianças, e da família com a qual vivem e com-vivem.
E tudo, vergonhosamente, em nome da "Família", da "Criança", da "Moral".
Dizem os Evangelhos que, na hora da morte, Cristo terá exclamado:
"Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem".
Mas "essa gente", usando os termos de Passos Coelho, que agora rejeita a coadopção, não merecem perdão.
Porque sabem muito bem o que fizeram, fazem e farão.
São gente perigosa, muito perigosa.
Para nosso mal!

RUGBY : ANTÓNIO AGUILAR e JOÃO CORREIA

 
Sábado, dia 15 de Março de 2014, Estádio Universitário de Lisboa, jogo Portugal-Espanha, da última jornada da Taça Europeia das Nações, vulgo 6 Nações B.
Portugal, ingloriamente, perde com a Espanha, o que não sucedia há 19 anos em solo nacional, por 24-28, depois de, já no início da segunda parte, estar a ganhar por 21-6. 
Razões há,m e muitas, para explicar mais este insucesso, e, no fundo, a penosa campanha nesta Taça e o falhado apuramento para o Mundial de 2015.
No fim do jogo, quase envergonhadamente, o presidente da Federação Portuguesa de Rugby entregou placas comemorativas a dois jogadores que se despediam da Selecção: o capitão João Correia e António Aguilar. 81 e 83 internacionalizações, respectivamente. Aguilar, também, e ainda, recordista de ensaios marcados pelas cores nacionais, com o total de 23!.
Jogadores que integraram, em pleno, a inesquecível equipa dos Lobos que tanto dignificou o desporto nacional no Mundial de 2007, em França, e na epopeia que foi a respectiva qualificação, como o emotivo jogo em Montevideu, no play-off com o Uruguai.
João e António mereciam mais, muito mais, de pessoas que, junto deles, são meros figurantes. E pequeninos.
Homenagens fazem-se antes dos jogos. E com sentimentos de orgulho e gratidão. 
Para todos verem. E aplaudirem.
Jogadores que, como António e João dedicaram a vida, e com sacrifícios que só eles sabem e conhecem, a esse desporto único, fraterno, leal, honesto, que é o rugby.
Que ensinaram o que é entrega, dedicação, competência, vontade, que sentiram a camisola que vestiam, que sabiam, e nos ensinam, que em tudo é indispensável, para triunfar, seriedade, abnegação, sacrifício, e não esperar recompensas.
Que tiraram do corpo, sabe-se lá com que dores, da carteira, sabe-se lá se não fazia falta, tudo para dar tudo aos companheiros, à equipa que sentiam dentro de si.
Que, regressados do Mundial de França, ao contrário de certos deuses de pés de barro, tinham de pagar o estacionamento do carro no parque para irem para casa (visto, e não se acreditou!).
Casa e família que, por vezes, não viam durante dias ou semanas.
Dias em que saíam do local de trabalho ou de estudo para treinar ou jogar. Sucessivamente, se fosse preciso.
João Correia e António Aguilar são exemplo de dignidade e trabalho, dignidade e trabalho que, espera-se, os seus sucessores saibam honrar.
João e António honraram a camisola dos Lobos.
Deste canto, e com humildade, apenas se pode dizer:
Obrigado por tudo, João Correia e António Aguilar! 


(A eles, e aos Lobos de 2007, foi dedicado o texto seguinte, de 2009, publicado pela editora Qual Albatroz no livro "Celacanto - sobre o Lobo"):

"OS LOBOS
                Naqueles tempos, apesar de sabermos que todos os tempos são um tempo só, nas penedias da Lusitânia,  lá para os lados do Soajo, no Gerês, havia uma famosa alcateia de 31 lobos ibéricos, comandados por um inteligentissimo macho alfa, aqui convindo acrescentar que os lobos eram, e são, muito inteligentes, a qual era exímia na conquista  e defesa do seu território, nas acções combinadas de ataque e recuo estratégico, e no despiste dos adversários.

sexta-feira, 14 de março de 2014

EINSTEIN:...E TUDO É RELATIVO!

Ulm é uma das mais aprazíveis pequenas cidades do sul da Alemanha, à beira do Danúbio, que por ali corre, antes de se tornar azul em Viena, ao som de Strauss, e onde se ergue uma das mais belas catedrais góticas que, majestosamente, ostenta a maior torre de igreja do mundo.
Aí, a 14 de Março de 1879, nascia aquele que, em 1999, 100 dos seus pares elegeram como o mais memorável físico de todos os tempos: Albert Einstein.
Autor de uma obra única que, no início do século XX revolucionou quase todas os conceitos da física até aí tidos como certezas, abriu, a par com as teses sobre a mecânica quântica, as portas para um novo entendimento do Universo.
Prémio Nobel da Física em 1921, Einstein deu-nos a hipótese de sermos senhores do tempo e do espaço, humanizou a ciência, e não só, ao proclamar que nenhuma teoria é dogmática, que tudo pode ser relativizado e que certezas absolutas, felizmente, não existem.
Há lugar para a interrogação, para a dúvida, para a imaginação, para a pesquisa, para a investigação.
Einstein também libertou a inteligência.
Por essa razão, não será para a admirar as suas obras terem sido queimadas nos autos de fé nazis.
Os poderes que nunca se enganam e raramente têm dúvidas sempre detestaram a inteligência e quem põe em causa dogmas tidos como intocáveis...
Melómano apaixonado, Einstein, acrescente-se, era um virtuoso do violino, tendo, até tocado com orquestras de renome durante a sua vivência nos Estados Unidos. Interrogado sobre a música de Bach terá declarado: "O que tenho a dizer sobre a música de Bach? Ouvir, tocar, amar, adorar...e ficar calado!".
Acrescente-se que, face à ascensão de Hitler ao poder, em 1933, Einstein exilou-se nos EUA, tendo-se naturalizado americano em 1940.
Simpatizante do socialismo contra o capitalismo, agnóstico, pacifista fervoroso, cabe aqui referir que, quando se soube que os nazis poderiam desenvolver a bomba atómica, Einstein subscreveu uma carta a Roosevelt sugerindo que os EUA se adiantassem na pesquisa tendente ao fabrico dessa arma monstruosa.
No entanto, e fiel aos seus princípios, e pouco antes de morrer, Einstein seria o subscritor do chamado Manifesto Russel-Einstein, tornado público em 9 de Julho de 1955, em que 11 reputados cientistas (como Max Born, Linus Pauling, Frédéric Joliot-Curie ou Bertrand Russel) alertavam a Humanidade, e designadamente os poderes políticos, para a proliferação dos arsenais nucleares nos termos preconizados por Bertrand Russel:
"Esta sombria perspectiva da raça humana está além de qualquer precedente. A humanidade encontra-se perante uma clara escolha: ou adquirimos um pouco de sensatez, ou iremos todos perecer. Uma reviravolta do pensamento político terá que acontecer para que seja evitado o desastre final"
Einstein colocou o Universo nas nossas mãos, humanizado, infinito, musical.
Cabe-nos o legado de o mantermos eterno, no espaço, no tempo, harmónico, em paz.

"Duas coisas são infinitas: o universo e a estupidez humana. Mas, no que respeita ao universo, ainda não adquiri a certeza absoluta."
(Einstein)

     

quarta-feira, 12 de março de 2014

CONSENSO NESTLÉ

Aníbal bem o sabia.
Nos tempos que já lá vão, havia o "Bebé Nestlé".
Era considerado, todos os anos, o mais belo bebé cá do burgo.
Era ver mamãs e papás a enviarem resmas de fotografias dos rebentos para a Nestlé!
E Aníbal ficou inspirado.
Chegara a hora do Consenso Nestlé!
O mais belo do país!
E era assim a modos que a oitava maravilha do mundo.
Primeiro, pega-se no programa (?) deste actual governo (?).
Depois, mete-se medo às pessoas, e diz-se que não há alternativa.
Que a troika não deixa,
Que o Banco Central Europeu impõe isto,
Que a Merkel ameaça com aquilo,
E que, se não querem perder empregos, salários, pensões,
Se querem que os papões que dão pelo nome de mercados, baixem a taxa de juro,
Então os portugueses, todos juntos, mesmo bem juntinhos,
Cerquem a sede do PS, inspirados na malta da praça  Maidán, em Kiev,
Ou nos frígidos barcos russos em Sebastopol,
E obriguem o inseguro Seguro a baixar a cabeça,
A fechar de vez a gaveta,
A assinar, sem abrir a boca, o consenso, 
Na linha de baixo, a seguir ao Coelho e ao Portas.
Até porque quem diz mal deste consenso,
Quem sugere uma outra leitura e alternativa ao país, 
Um outro consenso com bom senso e responsabilidade, é perigoso,
Traidor à pátria, carbonário, bombista, de esquerda,
Como cacarejam os papagaios deste governo,
De Frasquilho a Poiares Maduro,
Aos serventuários Costa do Económico,
Gomes Ferreira da SIC, Camilo Lourenço de toda a parte.
Donde se conclui que, para esta gente,
O jubilado Professor Adriano Moreira,
O cristão (e lampião) Bagão Félix,
A PSD Manuela Ferreira Leite,
O catedrático Francisco Louçã,
O fundador do CDS Freitas do Amaral,
São todos perigosos esquerdistas e incendiários.
Consensos?
Só se forem os impostos por Passos Coelho e o seu santo protector Aníbal.
Pois claro!
Que falta de senso...!
Aproveite a Nestlé, senhor Silva.
E fique-se por engolir umas papas farináceas,
Que não lhe sobra talento para mais!
Assim se fala oralmente!
.
 

CHARLIE PARKER

A 12 de Março de 1955, aos 34 anos, morria um dos grandes génios do Jazz: Charlie Parker.
Músico descomprometido, intelectual, virtuoso do saxofone alto, por muitos classificado como o melhor de sempre, fez evoluir a harmonia, o ritmo, a melodia.
Não hesitou em fundir os tons do jazz com a música latino-americana, ou mesmo com a música dita clássica, a partir de estudo de autores como, por exemplo, Edgar Varèse.
Carinhosamente conhecido como Yardbird ou, apenas, Bird, foi um dos grandes ícones, a par de Dizzy Gillespie, que divulgaram o som que viria a ser conhecido como bebop.

 ("Yardbird Suite")

Inspirou escritores como  Jack Kerouac ("On The Road") ou Júlio Cortazár ("O Perseguidor"), e cineastas como Clint Eastwood que, em 1988, lhe dedicou "Bird", com o qual ganhou um Globo de Ouro, e o actor Forest Whitaker o prémio para melhor interpretação no Festival de Cannes.
Charlie Parker, em sentido figurado, fez viajar o jazz das ruas de New Orleans para as avenidas de New York. 

("Embraceable You")

segunda-feira, 10 de março de 2014

RUGBY : TORNEIO DAS 6 NAÇÕES

 
(Brian O'Driscoll, internacional irlandês)

A uma jornada do fim, e para um mero adepto desse desporto único que é o rugby, o que nos diz o Torneio das 6 Nações deste ano:
1-Que a jovem equipa inglesa que, no sábado irá a Roma defrontar a Itália, perfila-se como a favorita para vencer o torneio. A actual Itália (decepcionante) não parece constituir obstáculo sério, tirando a seriedade que qualquer jogador de rugby coloca em campo, do primeiro ao último minuto. E atenção a estes ingleses que, com o Mundial do próximo ano a decorrer em Inglaterra, poderão dar muitas alegrias aos seus adeptos. Isto, claro, se,
2-A Irlanda não ganhar em Paris, como parece muito provável, face a uma França que, apesar de 3 vitórias, dá sempre a sensação de estar presa por arames, enquanto a Irlanda respira rugby por todos os poros, especialmente no ano em que se despede da sua grande figura, o 3/4 centro Brian O'Driscoll.
Em caso de vitória, a Irlanda vencerá o Torneio, atendendo à sua diferença de 49 pontos para a Inglaterra que, apesar de tudo, não se julga que venha a marcar face à Itália.
3-Escócia (igual a si própria) e Gales (talvez a grande decepção do ano) irão cumprir calendário no Millenium Stadium no próximo sábado.
Mas este Torneio fica marcado, também, pela despedida da sua selecção de um dos maiores jogadores de rugby de sempre, talvez o maior jogador irlandês de sempre: Brian O'Driscoll!
140 internacionalizações (132 pela Irlanda e 8 pelos British & Irish Lions*).
4 presenças nos Mundiais de Rugby.
4 vezes seleccionado para os Lions (2001, 2005, 2009 e 2013).
26 ensaios no Torneio das 6 nações, que é record.
47 ensaios, 46 pela Irlanda e 1 pelos Lions.
Melhor marcador de ensaios pela Irlanda, e 8º. mundial de sempre
3 vezes vencedor da Heineken Cup, a Liga dos Campeões do Rugby (2009, 2011 e 2012).
Capitão da selecção irlandesa de 2003 a 2012.
3 vezes nomeado o melhor jogador dos 6 Nações: 2006, 2007 e 2009, ano em que perdeu, para o neo-zelandês Richie McCaw, talvez injustamente, o prémio de Jogador do Ano da International Rugby Board (por 1 voto).
Pela sua presença em campo, entrega, liderança, sacrifício, técnica, O'Driscoll entra, directamente, para o panteão das grandes figuras do Rugby de sempre.
Jogadores destes, e deste desporto, não precisam de bolas, bolinhas ou berlindes de ouro, ou litros de tinta de jornal para afirmarem aquilo que são: Desportistas de excepção, de um Desporto Excepcional!
So long Brian!



*- British & Irish Lions - Selecção dos melhores jogadores de Inglaterra, Irlanda, Escócia e País de Gales, que se juntam, desde 1888, para digressões, actualmente de 4 em 4 anos, às grandes nações rugbísticas do Sul: África do Sul, Austrália e Nova Zelândia.  

sábado, 8 de março de 2014

DIA INTERNACIONAL DA MULHER

 
A todas as mulheres deste país, de todos os países,
A todas as que trabalham e ganham, entre nós, e em média menos 180,00 euros do que um homem por trabalho igual,
Às que vêem a progressão nas suas profissões cortadas, porque não satisfazem os impulsos machistas dos chefes ou patrões, às vezes até colegas,
Às que não conseguem arranjar trabalho porque, com as mesmas habilitações ou qualidades, os "empreendedores" preferem os homens que não têm aqueles dias nem parem criancinhas,
Às que se levantam de noite, preparam pequenos almoços, roupas, mochilas, transportam filhos, vão para o trabalho, trabalham, vêm para casa, transportam filhos, fazem o jantar, lavam a roupa, dão banho aos filhos, passam a ferro, limpam a casa, dão as pantufas ao homem que, indolentemente, se escarrapacha, hipnotizado, diante do televisor, vão para cama, não há pachorra para mais, dormem quatro horas, em sobressalto,
Às que lhes são negadas a escola, a arte, a cultura, porque são obrigadas a ser força de trabalho e parideiras reprodutoras, porque mulher só presta com rédea curta e porrada na garupa, mesmo que acabe na esquina a abrir as pernas,
Às que, violadas, doentes, arrastadas, se deslocam aos hospitais e clínicas, para tentar, dolorosamente, acabar com o seu sofrimento e com o sofrimento de quem viria, e uma moral imoral as condena sem julgamento,   
Às que suportam, tantas vezes no silêncio que não entra nas estatísticas, nem faz páginas de jornais ou fait-divers de televisões, todas as impotências e frustrações, e acabam, enxertadas de porrada, numa cama de hospital ou numa caixa de madeira, no meio de tanta cruel indiferança, senão mesmo censura preconceituosa,
Às que, por isto tudo, e por muito mais que aqui não se disse, merecem muito mais do que um dia mundialmente enfeitado de confettis.
Merecem uma vida inteira,
E merecem vivê-la!
Dignas!
Amadas!
E com direito a sorrir...


"A Mulher

A mulher não é só casa
Mulher-loiça, mulher-cama
Ela é também mulher-asa,
Mulher-força, mulher-chama

E é preciso dizer
Dessa antiga condição
A mulher soube trazer
A cabeça e o coração

Trouxe a fábrica ao seu lar
E ordenado à cozinha
E impôs a trabalhar
A razão que sempre tinha

Trabalho não só de parto
Mas também de construção
Para um filho crescer farto
Para um filho crescer são

A posse vai-se acabar
No tempo da liberdade
O que importa é saber estar
Juntos em pé de igualdade

Desde que as coisas se tornem
Naquilo que a gente quer
É igual dizer meu homem
Ou dizer minha mulher.

Ary dos Santos"

("Smile - de Charlie Chaplin -c/Paulette Goddard na cena final de "Tempos Modernos")

sexta-feira, 7 de março de 2014

RAVEL


("Bolero")

A música anterior é conhecida e reconhecida a nível planetário.
É, de longe, a obra musical francesa mais tocada no mundo.
O autor? Maurice Ravel, nascido a 7 de Março de 1875 em Ciboure, Biarritz.
Conhecido pela subtileza das suas melodias instrumentais e orquestrais, influenciado por Debussy e, também, por Mozart, Lizt e Strauss, foi brilhante aluno de Gabriel Fauré no Conservatório de Paris.
Admirador das tonalidades musicais e cores de Erik Satie e Camille Saint-Saëns, Ravel foi um dos expoentes daquilo que, em música, se convencionou denominar por impressionismo.
Dotado de forte personalidade e intensa maestria, deixou-nos uma panóplia de obras que, ainda hoje, refulgem no repertório das grandes orquestras e solistas do nosso tempo.

("La Valse" - Maestro: Leonard Bernstein)

quinta-feira, 6 de março de 2014

GOLPE DE ESTADO NO ROSSIO (OU A HISTÓRIA DA MINHA IDA À GUERRA NA CRIMEIA)

 
Aqui no Bairro anda tudo em alvoroço, tudo agitado a ver TêVê's, tuiters, feicebuques, diabo a sete, o Alfredo do bate-chapas, tão popular como o Paulinho das Feiras ou a Louraça Luísa, vinha esbaforido, a esbracejar para o meu papá, Senhor Manuel, Senhor Manuel, já sei como é, já descobri! Tamos salvos!, Salvos de quê, gandulo? esbaforiu o papá, no meio do vapor do bagaço, Descobriste como o Benfica vai ser campeão?, Qual quê!, Descobri como se põe na rua um Governo eleito, disseram tudo na televisão. É canja! Vai Passos, vai Relvas, vai Assunção, vai o Pinto Murcão, até vai o Cavaco, Ó homem, respira e diz lá o que é isso, Atão, vamos todos aqui do bairro para o Rossio, aos magotes, levamos umas sacas, umas lonas, uns plásticos do supermercado do holandês, as ferramentas do Abel bate-chapas, o bagaço do Senhor Manuel, montamos lá o estaminé, fazemos barulho, queimamos pneus, espalhamos o lixo, gritamos, berramos Ó da Guarda, o Senhor Manuel leva o bagaço, assamos umas bifanas e uns frangos, o tasqueiro Tonho dá o briol, a guarda avançada da malta avança para a Tendinha do Rossio e a rectaguarda barrica-se no Eduardino, aí eu disse, Ó Alfredo, e para vigiar o inimigo empoleiramos uns badamecos no palito que parece que não é o Senhor Rei D.Pedro, mas um barbas qualquer lá do México, um Maximino ou Maximiliano, ou o camandro, o homem nem parece mexicano, onde está o sombrero, a tequilla, o Trio Odemira a esganiçar à volta, eu sei lá, então empoleiramos os gajos, e eles topam o inimigo e a gente atira-lhe com os ovos podres que o Camilo vende na mercearia, aí o Alfredo berrou, Bué da Fixe bacana, o meu papá já emborcava o terceiro bagaço, então o Ezequiel, o intelectual, que conseguia ler no mesmo dia A Bola e o Record, disse para não esquecer os jornais, a TêVê, os mídia, ou o catrino, pagamos umas bifanas e um copo de três a gajos porreiros e isentos, assim como o Mário Crespo, o Camilo Lourenço, os cotas do Correio da Manhã, e maralha do género, é um berreiro, oferecemos o Terreiro do Paço ao Obama e a Avenida da Liberdade e o Parque Eduardo VII à Merkel, e é canja, dizem todos que nos apoiam, que somos uns desgraçados, escaqueiramos o D.Maria, a Suíça mais o Nicola, mas somos civilizados, o Cavaco treme, mete o rabo entre as pernas e foge para Boliqueime para a bomba da gasolina, o Passos Coelhos disfarça-se de puto, afinal não precisa de disfarçar já é, e vai aos castings do LaFéria, a gente arrasa, que se lixem as eleições, o Rossio e a Ginjinha é que é, a malta apanha o poder, ou o caneco, passamos a ser os manda-chuva, o meu papá ao fim do quinto bagaço vai para Belém, presidente, pastéis e mata-bicho, eu vou para a Assembleia, miúda por miúda ninguém dá por isso, o Alfredo vai para primeiro-ministro, o Carlos, diplomado na vermelhinha e no cambalacho vai para as Finanças, e pronto, o Golpe de Estado no Rossio é fixe e damos cabo disto tudo, até prometemos as Lajes ao Putin, o gajo cheio de vodka deve arrotar Portugal? Não é na Ucrânia, pois não?
E pronto!       

GARCIA MARQUEZ

 

Completa hoje 87 anos um dos maiores vultos da literatura mundial, o colombiano Gabriel Garcia Marquez, Prémio Nobel da Literatura de 1982, figura máxima da escrita a que se convencionou chamar "realismo fantástico", e de que uma das obras de referência é o seu romance "Cem Anos de Solidão", a história imaginada de sete gerações da família Buendía.
Mas este antigo jornalista, que também fundou, em Cuba, a Escola Internacional de Cinema e Televisão, admirador de William Faulkner, Woody Allen e Akira Kurosawa, influenciado pela "Metamorfose" de Kafka, pelo dia a dia vivido com os avós maternos, pelas memórias da infância e adolescência, deu-nos, também, títulos da importância, por exemplo, de "O Outono do Patriarca",  "Crónica de Uma Morte Anunciada", "Amor em Tempos de Cólera", "O General no Seu Labirinto" ou "Memórias das Minhas Putas Tristes".
E se falamos de Gabriel Garcia Marquez, aproveita-se para deixar uma sugestão, que será a visita e a leitura de autores dessa riquíssima literatura latino-americana de expressão castelhana, que mistura a tradição cultural herdada de Espanha com as tradições, costumes, línguas, odores, sabores, cores, realidades e mitos, vivências e fantasias das Américas, do Rio Grande ao Cabo Horn, passando pelo Caribe, pela selva, pelo Chaco, pelas Pampas, pelos rios, deltas, lagos, calor, humidade, seca.
Como Octávio Paz (Prémio Nobel de 1990) e Carlos Fuentes, mexicanos, o cubano Alejo Carpentier, o guatemalteco Miguel Angel Asturias (Prémio Nobel de 1967), o nicaraguense Ruben Dario, o peruano Mario Vargas Llosa (Prémio Nobel de 2010), os chilenos Gabriela Mistral (Prémio Nobel de 1945), Pablo Neruda (Prémio Nobel de 1971), Isabel Allende ou Luís Sepúlveda, o uruguaio Juan Carlos Onetti, ou os argentinos Júlio Cortazár e Jorge Luís Borges.
Tanto talento, tantos livros...
Custará muito ler? 

segunda-feira, 3 de março de 2014

ALAIN RESNAIS

Na véspera do glamour e lantejoulas dos Óscares (1/03/2014), morria um dos grandes nomes do cinema europeu e mundial: Alain Resnais.
Contemporâneo dos próceres da chamada "nouvelle vague", Resnais não se colou a rótulos, filmando, como um virtuoso, misturando modernismo e surrealismo, assinando de forma vincadamente pessoal aquilo a que se poderiam chamar "ficções poéticas", apoiando-se em argumentos escritos por, entre outros, Marguerite Duras ("Hiroshima, Meu Amor"-1959) ou Alain Robbe-Grillet ("O Último Ano em Marienbad"-1961), obras de leitura possivelmente difícil, mas que deixaram marca indelével na cinematografia mundial.
Registo, ainda, para dois filmes "gémeos" que, entre nós, tiveram assinalável êxito: "Fumar"/"Não Fumar" (1993).
Resnais foi, também, autor de aclamados documentários como, por exemplo, "Noite e Nevoeiro", de 1955, relativo aos campos de concentração nazis.
Espírito livre, criativo, inovador, autores como Alain Resnais fazem muita, muita falta.
Agora que querem colocar a Cultura sob fogo cerrado.    

domingo, 2 de março de 2014

RUY DE CARVALHO

Ontem, 1 de Março, Ruy de Carvalho completou 87 anos.
Vivo, actuante, em cima do palco, como sempre esteve.
Ruy não é só o actor genial que é, talvez um dos maiores actores vivos no nosso mundo.
Talvez? Não! É-o, de certeza!
Ruy É o Teatro.
Quando um dia se fizer a história do Teatro neste país, começando com Gil Vicente, continuando por Garrett, Gervásio Lobato, Sttau Monteiro, Santareno, Miguel Rovisco, e tantos outros autores, encontramos um denominador comum: Ruy de Carvalho.
Compôs personagens inesquecíveis, entregou tudo na representação, dignificou as letras e as artes deste país, deu a alma e o coração ao palco e ao seu público.
E, agora, a ser tratado não como um agente cultural, com direito à propriedade intelectual pelo seu trabalho, como lhe deveria ser reconhecido, a ele e muitos outros, mas como um "privilegiado" a ser rapinado como a matriz ideológica do analfabetismo governamental o dita.
Apenas mais uma machadada, não nas"gorduras", mas nos músculos da nossa cultura.
Felizmente, Ruy de Carvalho é maior do que toda essa mediocridade mal calibrada.
Está, e estará, de pé.
Como as árvores!