sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

REFERENDOS...

 
O rapaz que dá pelo nome de Hugo Soares, espécie de "Dux" da JSD, putativo responsável pela moção que aprovou o referendo para a coadopção e adopção de crianças por casais do mesmo sexo é, de facto, um ilustre pensador. O Grande Educador do Povo afirmou, para quem o quis ouvir:
"Todos os direitos das pessoas podem ser referendados."
Esta é de Mestre!
De uma inteligência obviamente praxada!
De um profundo conhecimento da História e das Sociedades!
Das culturas e das tradições!
Pois claro!
Referende-se o direito à escravatura!
O direito ao voto das mulheres!
E também o direito a votar a partir dos 18 anos!
E o direito a uma vida condigna!
E referende-se o direito à saúde!
O direito a respirar!
A comer e a beber!
E o direito à educação!
E o direito à liberdade de expressão!
E de associação!
E o direito de dizer não!
Referende-se o direito a usar cabelo comprido!
E ideias curtas, como o declarante!
Referende-se o direito a optar!
Pela religião,
Pelo credo,
Pela orientação sexual!
Referende-se o direito a usar uma estrela de David amarela!
A queimar nos fornos crematórios,
A fuzilar, a enforcar, a gasear, porque são diferentes!
Referende-se o direito a rasgar 225 anos de evolução civilizacional!
Referende-se, enfim, o direito à vida!

Apetece transcrever, adaptado *, e com o devido respeito, José Saramago:
"Referende-se tudo, referende-se o mar e o céu, referende-se a água e o ar, referende-se-se a justiça e a lei, referende-se a nuvem que passa, referende-se o sonho, sobretudo se for diurno e de olhos abertos. E finalmente, para florão e remate de tanto referendar, referendem-se os Estados, entregue-se por uma vez a exploração deles a empresas privadas, mediante referendos internacionais. Aí se encontra a salvação do mundo... e, já agora, referende-se também a puta que os pariu a todos."




*- Substituiu-se o verbo "privatizar" por "referendar"
 

A TOURADA DAS PRAXES

Entendamo-nos desde já: não existem praxes boas ou praxes más, académicas ou outras.
Toda a praxe é má e aviltante. Especialmente, no caso, a académica.
No sentido em que, desde logo, se divide o corpo estudantil entre "veteranos" e "caloiros".
Divisão. Classes. Não há integração, há segregação. É isto o retrato de uma Escola?
Quando um rebanho arregimentado por um chamado "dux" (Duce? Fuhrer? "Venerando Chefe do Estado"?), acefalamente, decide humilhar, física e psicologicamente aqueles que vão entrar na Escola e que, por medo, se submetem acriticamente, e apenas por serem novatos, não há pedagogia. Há analfabetismo.
Gerando o medo, a aceitação automática da hierarquia só por o ser, da ordem sem discussão, do reflexo condicionado e condicionante. Na escola e, depois, no local de trabalho e na família.
Reflexos que os condicionarão.
Para, daqui a quatro anos, serem eles os algozes. Transmite-se a brutalidade de geração para geração.
É isto que a Escola pretende, é isto que se propõe ensinar, é isto que os mais velhos têm para comunicar e transmitir aos mais novos, é isto que estes vão buscar para a sua formação?.
Ou tudo não passará de uma humilhante e castradora manifestação de recalcamentos, frustrações, impotências físicas e psicológicas que se descarregam sobre os mais frágeis? Curiosamente, tal como se pode aplicar a essa outra grande "tradição cultural" que é a tourada...
E convirá dizer que a dita praxe só será tradição no que se refere a Coimbra, também célebre por na sua "Queima das Fitas" se consumir mais cerveja do que na Oktoberfeist de Munique...
E tal era a violência da "tradição" que o próprio D.João V decretou que qualquer estudante que ofendesse outro, com o pretexto de ser caloiro, seria expulso da Universidade (1727).  
O reacender da praxe nos anos 80 do século passado, tal como do "traje académico", herdeiro das vestes dos clérigos dos Estudos Gerais, vai a par e passo com o florescimento, como cogumelos, das Universidades Privadas.
O traje distingue o "estudante bom" do resto da maralha da escola pública.
A praxe, cada  vez mais brutal, humilhante e castradora pretende significar que na sua "Universidade" só entram os mais fortes, as tropas de elite, os comandos. Divisão de classes.
Sempre de capa e batina. Ou de "traje de luces".
Acolher, integrar, participar na vida da Escola é outra coisa. É pensar, discutir, apresentar teses, defendê-las, criticá-las, inovar, experimentar, colocar tudo em causa, até.
E isto não pode ser feito numa, por exemplo, semana no início dos anos lectivos?
Ah, pois, só que assim fomenta-se o espírito crítico, a imaginação, o sonho que comanda a vida.
E ao actual poder, nada disto interessa.
Enquanto se fala de praxes não se discute o sub-financiamento do ensino, o estrangulamento da inovação e do desenvolvimento, a estagnação da pesquisa nas novas tecnologias.
Assim, mestrem-se as praxes,
Doutorem-se as bebedeiras orgíacas,
Pósgraduem-se a ignorância, a submissão, a humilhação.
E estoque-se de morte o país! 
O poder fica com orelha e rabo...
 

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

4 BEATLES NO TELHADO

 
Foi há 45 anos.
No dia 30 de Janeiro de 1969, no telhado do nº.3 de Savile Row, Londres, onde era a sede da Apple Records, The Beatles realizam o seu último concerto ao vivo.
Pelo inesperado, pela simbologia dessa banda já mítica, pelo espanto e incredulidade dos transeuntes, pela intervenção policial, que, educadamente, pediu que se baixasse o volume do som, esse momento já entrou para a História da música.
("Get Back")
 
("Don,t Let Me Down")


SUNDAY, BLOODY SUNDAY

 
Foi no dia 30 de Janeiro de 1972.
Em Derry, Irlanda do Norte.
Durante uma manifestação de activistas católicos, desarmados, o exército britânico matou 14 pessoas, seis das quais menores, e cinco delas pelas costas.
Mais do que qualquer outro acontecimento, o Domingo Sangrento catapultou o apoio popular ao IRA (Exército Republicano Irlandês) e, se a situação já não era estável, com este acto de barbárie piorou ainda mais, e as terras verdes da Irlanda tiveram de aguardar mais de 25 anos pela paz.
Em 2010 o Governo britânico admitiu a sua culpa e apresentou desculpas públicas às famílias das vítimas. Tinham passado 28 anos...
("Sunday, Bloody Sunday" - U2, 1983) 

"Do rio que tudo arrasta à sua passagem, se diz que é violento. Mas ninguém chama violentas margens que o comprimem" (atribuído a Bertolt Brecht)
("Give Ireland Back to the Irish" - Paul McCartney & Wings - Fevereiro de 1972)

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

VERGÍLIO FERREIRA

Nasceu a 28 de Janeiro de 1916 em Melo, concelho de Gouveia, embalado pela neve da Serra da Estrela, o que o veio a marcar na sua brilhante escrita, bem como os seis anos passados no Seminário da Guarda.
Vergílio Ferreira cultivou a ficção, o ensaio, a crónica, nos seus diários a que chamou "Conta-Corrente", escritos entre Fevereiro de 1969 e Dezembro de 1992.
Mas também foi professor, tendo terminado a sua carreira, também em 1992, no velhinho e histórico Lyceu Camões, por cujos corredores e pátios deambulara, mãos atrás das costas, desde 1959.
No entanto, é na escrita que vamos encontrar o verdadeiro, o autêntico Vergílio Ferreira.
Escrever era como respirar, viver. Convida-nos a termos uma séria preocupação com a vida e a cultura. Parece anunciar o fim do mundo e, ao mesmo tempo, a sua recriação. Reflectiu sobre o sentido da vida, o mistério da existência, o nascimento e a morte, os vastos problemas da condição humana.
Dizer que abordou inicialmente o neo-realismo e, depois, o existencialismo, seria colocar rótulos que ele não suportava-
Prémio Camões de 1992, Vergílio Ferreira, como poucos, trabalhou com amor a língua portuguesa.
Caso tenham tempo e vontade, agarrem, por exemplo, "Até ao Fim", "Para Sempre", "Alegria Breve", "Aparição", ou "Manhã Submersa".
Não se arrependerão, e Vergílio Ferreira merece-o.    

PETE SEEGER

 
Deixou-nos ontem aos 94 anos.
Ficámos mais pobres.
A América ficou muito mais pobre.
Morreu um cantor que interpretou o sofrimento, a esperança, o desespero, a vontade, a luta da América profunda e pobre (como Woody Guthrie, seu contemporâneo), que apoiou os republicanos espanhóis contra Franco, que militou no Movimento dos Direitos Cívicos, que foi ambientalista, que protestou energicamente, com palavras e canções, contra a guerra do Vietnam.
Que deu voz aos que ainda não a têm.
Uma referência americana e universal.
("If I Had a Hammer")

 ("Turn, Turn, Turn")



("We Shall Overcome" - hino do Movimento dos Direitos Cívicos, popularizado por Seeger)

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

MOZART

Nasceu a 27 de Janeiro de 1756 em Salzburgo.
Morreu 35 anos depois, em Viena, a 5 de Dezembro.
Passou pela música universal como uma estrela fulgurante, um cometa único e genial.
Chamava-se Mozart.
 
("Eine Kleine Nachtmusik" - Allegro)

Começou a compor aos 5 anos, dominava o teclado e o violino, viajou e exibiu-se por toda a Europa civilizada do seu tempo.
Seu pai, Leopold, foi tutor, pai, empresário, professor, educador. até na prática, então restrita, do exercício fisico. Mozart nunca foi a criança fechada ou apatetada que muitos quiseram transmitir.
Mozart recebeu educação normal, e soube cultivar-se, não só na música, onde nos deixou mais de 600 obras, quase todas geniais, mas também na atitude perante a vida, onde se revelou um feroz defensor dos direitos e liberdades individuais, como o ilustra a sua demissão, em 1781, do cargo que exercia junto do Príncipe-Arcebispo de Salzburgo, quando afirmou que o seu trabalho era mais importante que um título de nobreza.
Não por acaso, em 1784 integra a Maçonaria, sendo o responsável pela primeira ópera com influências maçónicas, "A Flauta Mágica", com libreto em alemão, um esboço precursor do que seria a ópera nacional germânica.
 
("Papageno Papagena" - excerto de "A Flauta Mágica")

Mas não só na ópera a luz de Mozart refulge.
Tratou, de forma superior, a música sinfónica, a coral, a de câmara, o piano, os concertos, a música sacra (enorme "Requiem").
Mozart herda o melhor do classicismo (como, entre outros, Haydn, de quem foi amigo), inspira.se nas teses do iluminismo e lança as pontes e as fontes para o romantismo e para a música do século XX.
Consta que de entre os seus alunos, em Viena, terá surgido um tal de Ludwig van Beethoven...
A ser verdade, Mozart passou a outro génio o testemunho da evolução da Grande Música.
E, no entanto, voltamos à ópera, onde as suas obras figuram, sempre, entre o repertório anual dos grandes teatros e companhias: "O Rapto do Serralho", "As Bodas de Fígaro", "Cosi Fan Tutte" ou "Don Giovanni", entre outras.
Mozart ontem, hoje, sempre!

 
(Abertura de "Don Giovanni" - Orquestra Filarmónica de Viena dirigida por Herbert von Karajan)

sábado, 25 de janeiro de 2014

ANTÓNIO BRASILEIRO JOBIM

Nasceu a 25 de Janeiro de 1927 no Rio de Janeiro.
O seu trisavô era natural de Jovim, concelho de Gondomar.
Chamou-se António Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, "Tom" Jobim.
E foi o maior nome da música brasileira do século XX, a par do compositor erudito Heitor Villa-Lobos, onde bebeu parte da sua inspiração, assim como, entre muitos,de Debussy, de Ary Barroso ou de George Gershwin.
Aliás, se a América do Norte teve um génio chamado George Gershwin, a América do Sul teve Tom Jobim.
A revista "Rolling Stone", muito justamente, consagra-o como o maior expoente de todos os tempos da música brasileira.

 
("Tereza da Praia", de 1954, o 1º. grande êxito)

Tom começou por ser pianista em bares do Rio passando, depois, a arranjador e escrevinhador de pautas para compositores que não dominavam a escrita musical.
No início dos anos 50 começa a compôr, especialmente sambas, alcançando a consagração em 1954.
1956 é ano fulcral da música brasileira, quando Jobim conhece um escritor e poeta que dá pelo nome de  Vinicius de Moraes, para o qual musicou a peça "Orfeu da Conceição" que, mais tarde, Marcel Camus adaptaria para o cinema com o título "Orfeu Negro", para o qual Tom também escreveria a banda sonora, em parceria com Luís Bonfá, filme que receberia a Palma de Ouro do Festival de Cannes, em 1959, e o Oscar e Globo de Ouro para melhor filme estrangeiro de 1960.
("Se Todos Fossem Iguais a Você"- de "Orfeu da Conceição"-Gal Costa)

Tom Jobim, com Vinicius e o então jovem João Gilberto estão na linha da frente entre os criadores desse género musical que veio a ser conhecido como "bossa nova", uma lufada de ar fresco no panorama cultural do Brasil e do Mundo, o ritmo que evocava o mar, o morro, o nordeste árido, o negro, o branco, o amor, a tristeza, a alegria, a aguarela que é o Brasil. E os brasileiros e a sua vida, muitas vezes sofridamente vivida.
 
("Chega de Saudade", 1959, início e consagração da bossa nova-João Gilberto e Tom)

No início dos anos 60, a produção de Jobim é extensa e genial, grande parte em estreita colaboração com Vinicius.
Em 1962, Tom é o maior destaque do Festival de Bossa Nova do Carnegie Hall, em Nova Iorque. É a consagração universal desse género de música, que dará a volta ao mundo.
Tom Jobim era, e é, cantado pelos grandes nomes do Brasil, de Edu Lobo a Simone, de Chico Buarque a Gal Costa, de Elis Regina a Ivette Sangalo, de Roberto Carlos a Caetano Veloso, de Maria Bethânia a Tim Maia. E cantado e recantado por outros lugares e continentes.
 
("Samba de uma Nota Só", 1962) 

Em 1965, Jobim volta aos Estados Unidos, onde actua e grava.
E, finalmente, em 1967, juntam-se dois dos maiores génios da música, de todos os tempos: Tom e Frank Sinatra.
O disco "Francis Albert Sinatra & António Carlos Jobim" é já um marco incontornável da grande música do século passado.
 
("Insensatez" - "How Insensitive" - 1967)

Jobim experimentou sempre a inovação, a fusão de culturas. Não se coibiu de ligar os sons e a atmosfera do  jazz à música popular e erudita brasileiras, fruto das suas pesquisas.
Nos anos 70 produz os albuns "Matita Perê" e "Urubu", onde reflecte essas novas sonoridades.

 
("Águas de Março", álbum "Matita Perê", 1972-cintilante Elis Regina)

"António Brasileiro" seria o seu último disco, lançado em 1994, ano em que morreria, no Hospital Mount Sinai, Nova Iorque, vítima de cancro.
O seu nome seria dado ao aeroporto internacional do Rio de Janeiro, após pedido junto ao Congresso Nacional por uma comissão formada, entre outros, por Chico Buarque, Edu Lobo, Oscar Niemeyer, João Ubaldo Ribeiro, António Houaiss, António Cândido e coordenada por Ricardo Cravo Alvin.
É doutor "honoris causa" pela Universidade Nova de Lisboa/Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, desde 1991.
Mas se mais não houvesse na sua obra, e há tanta imensidade, António Carlos Jobim entraria por mérito próprio nos Campos Elísios dos Eleitos com a música brasileira mais conhecida no mundo, verdadeiro segundo hino do País do Carnaval, do Cacau e do Suor que, em 1963, compôs com poema de Vinicius de Moraes: "Garota de Ipanema"! 

E como prova da universalidade e intemporalidade da sua obra, a "Garota de Ipanema" na versão, em inglês, da saudosa Amy Winehouse.



sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

AI PORTUGAL, PORTUGAL...

 

1. Há uma semana atrás, a democracia sofreu mais um ataque. Por iniciativa(?) dos jotinhas do PSD, foi retirada a discussão e aprovação do projecto de lei referente à coadopção de crianças por casais do mesmo sexo, e aprovada uma moção que sujeita tal aprovação a um prévio referendo.
Cobardemente, para manterem o lugar cativo no hemiciclo, mais de uma dúzia de deputados prostituíram a sua própria consciência, ao votarem a favor de tal moção, quando eram favoráveis à lei.
Consciência? Deve ser mais um produto em saldos.
O que arrepia nisto tudo é que, em nome de uma "moral" retrógrada e bafienta, esta gente decide submeter a discussão na praça pública a um direito de minorias. Uma democracia é muito mais que a vontade da maioria. É, além de tudo o que se disser ou pensar, a defesa dos direitos das minorias.
E a defesa dos interesses dos mais fracos, neste caso, das crianças, cujos direitos há uma semana atrás, foram cruel e levianamente espezinhados por gente sem sentimentos. E que falta fazem os sentimentos...
E eles, que baixam a cabeça a tudo quanto a UE impõe como austeridade, pobreza e desigualdade, ignora "orgulhosamente só" (mais Rússia, Ucrânia e Roménia, todos bons companheiros!) as normas da Convenção Europeia dos Direitos do Homem e os acórdãos do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos. Europa só quando lhes convém...
E não falem em situações similares do instituto do referendo. A regionalização é um assunto de interesse geral e nacional; a interrupção voluntária da gravidez e não aborto, sff), aprovada no Parlamento, só foi referendada por teimosia de António "Hollande" Guterres.
Ou vamos referendar a abolição da escravatura, o casamento inter-racial, o direito de voto das mulheres?
Respeitem as crianças e os seus direitos, ou tal também não tem lugar nessa ideologia ultramontana?
Ai Portugal...   

(Jorge Palma "Portugal, Portugal)

2. O desenvolvimento científico e tecnológico, e respectiva investigação, sempre foram um caso de sucesso em Portugal, nos últimos anos, particularmente durante os ministérios de Mariano Gago, pesem embora todas as críticas que legitimamente se lhe possam assacar.
Saímos da cauda para o meio da tabela europeia, embora com orçamentos inferiores ao desejável pela UE (2% do PIB, em Portugal mal roçou 1%), o que se explica pela excelência das nossas escolas, laboratórios e instituições análogas.
Um país a desenvolver a investigação, a sua aplicação nas universidades e empresas, a todos os níveis, seja na economia, na engenharia, na medicina, na literatura, na história, a inovar nas tecnologias, a torná-las produtivas e reprodutivas, para o interesse de todos, é uma mais-valia que não se pode quantificar como um par de sapatos ou um quilo de rolhas de cortiça.
Mas essa não parece ser a visão e a ideologia de quem vê folhas caídas em vez da floresta. Camelos, perdão, Camilos Lourenças, Pires de Limas, "beatos" Césares das Neves, que tudo reduzem à inicativa privada, a cujos interesses todos se devem submeter, e abominam a iniciativa pública, estão a conduzir o país ao desinvestimento em Investigação & Desenvolvimento, ao futuro analfabetismo, à desertificação das universidades,  centros e laboratórios de pesquisa e inovação.
Esta diabolização de um inexistente despesismo do Estado só pode conduzir a um brutal empobrecimento cultural e, a longo prazo (coisa que não sabem o que é!) a muito maior despesa.
Agora, num momento, em que o próprio Eurostat vem reformular os seus critérios contabilísticos e classificar as despesas em I & D não como custos, mas como inverstimento!
Investigação só para elites, exacerbar a competitividade canibalesca como único factor de julgamento, como parece defender Rui Ramos, da FCT, é cavar mais um fosso entre portugueses, tal como o pífio e estafado argumento de que"humanidades" não interessam ao país.
Mas esta gente nunca entendeu (nem entenderá, é escusado...) que a cultura é, de facto, um "produto" cultural, vendável, exportável, gerador de receitas, de empregos, reprodutor de riqueza.
Veja-se, no texto seguinte ("Diário de Notícias"-21/01/14), a reacção da Câmara Municipal de Mafra quando se ameaçou cortar o livro "Memorial do Convento" do ensino de Português:   

Memorial do Convento fica no programa de Português - Portugal - DN


A riqueza produzida por investir na I & D é maior, muito maior do que, como diria Pires de Lima, ajustar a finalidade das bolsas científicas, que estariam "longe da vida real".
As empresas, na sua esmagadora maioria, estão preocupadas com tal, ou limitam-se a aguardar que os  frutos do investimento público lhes caiam no regaço? E, agora, com esta política cultural de terra queimada, tais empresas irão basear a sua competitividade (?) com oferta de salários mais baixos e tecnicos menos qualificados? Competitividade, onde?
Leia-se, sobre investimento científico, o excelente artigo de André Macedo, no "D.N." de ontem:


Quando, na menos negra das hipóteses, se  cortam 65% das candidaturas apresentadas por bolseiros, não são apenas as pernas destes jovens que se cortam, que se embarcam para a emigração.
É uma regressão de 20 anos.
É um país que se decapita. 
Para se transformar numa qualquer empresa S.A. (ou S.A.R.L. como há anos atrás)

 
("S.A.R.L." - Ary dos Santos)

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

CLAUDIO ABBADO

Morreu ontem, aos 80 anos, um dos grandes vultos da cultura mundial: o maestro italiano Claudio Abbado, nascido em Milão, a 26 de Junho de 1933.
Figura incontornável da grande música, divulgou grande parte do reportório moderno do século XX, como Alban Berg, Arnold Schoenberg, Karlheinz Stockhausen ou Luigi Nono.
Incentivou jovens músicos e compositores tendo, entre outras actividades com tal relacionadas, dirigido a Orquestra de Jovens da União Europeia.
Para além de outras colaborações e intervenções, são de destacar as responsabilidades como director musical do famoso La Scala (Milão), regente da Orquestra Sinfónica de Londres, maestro convidado da Orquestra Sinfónica de Chicago, director musical da Ópera Estatal de Viena e maestro principal da Orquestra Filarmónica de Berlim (1989/2002), onde herdou a "cátedra" de Herbert von Karajan.
Ontem, a Grande Música vestiu luto por um dos seus mais queridos filhos.
(Extracto de "Missa Solene em dó menor. K.139", de Mozart - Orquestra Mozart de Salzburgo)

domingo, 19 de janeiro de 2014

POETA CASTRADO, NÃO!


Deixou-nos fez ontem 30 anos.
Deixou-nos?
Nunca nos deixou.
Arrebatador, Intenso,
Imenso, Excessivo,
Genial,
Artífice e Operário da língua portuguesa,
Filigranou o verso e o soneto
Como muito poucos,
Publicitário de rasgos repentistas,
Minha lã, meu amor,
Amado e odiado,
Com a Poesia rasgou o silêncio,
Coloriu o cinzento,
Abriu esperança e luz nas trevas,
Cavalgou à solta nas margens dos nossos afectos,
Soltou chispas da alma, do sangue,
Que desaguaram no coração do Poema.
Chama-se José Carlos Ary dos Santos.

A sua enorme, genial poesia, permanece, ainda, à margem de certos círculos "bem pensantes" e "literários", pois claro, o Ary escrevia para canções, para as vulgares pessoas, para as gentes. Para Amália, Zeca Afonso, Carlos do Carmo, Fernando Tordo (com o qual escreveu mais de 100 canções), Paulo de Carvalho, escreveria até para o futuro, para Mariza, Mafalda Arnauth ou Kátia Guerreiro.
Que pecado, para os controladores imaculados e virginais da intelectualice!
Mas, espera lá... Não é que o Luís, o Camões, também foi cantado por eles?  

O exercício que se pede é que, para além de se ouvirem as canções, escutem-se os poemas do Ary, verdadeiros momentos muito altos da Língua Portuguesa.
Para lembrar, eternamente!

"DESFOLHADA"- Simone de Oliveira

"TOURADA" - Fernando Tordo

"ESTRELA DA TARDE" - Carlos do Carmo


"A CIDADE" - José Afonso

"LISBOA MENINA E MOÇA" - Paulo de Carvalho


"É DA TORRE MAIS ALTA"-Amália Rodrigues


"CAVALO À SOLTA"-Fernando Tordo 

E ninguém mais escreve esta poesia! Que é de Hoje! E de Amanhã!


"LISBON BY NIGHT" - Ary dos Santos

DOLLY, ELIS & JANIS

DOLLY
Hoje, 19 de Janeiro, recordam-se ou evocam-se, três grandes figuras femininas da música popular, uma das quais, felizmente, ainda está viva (Dolly Parton).
Dolly Parton, pois, nascida a 19 de Janeiro de 1946 em Sevierville no Tennesse, estado onde se situa a capital da música country (e não só...), Nashville.
Actriz, cantora, compositora e filantropa, Dolly viveu e trabalhou em Nashville mas, para raiva de muitos tradicionalistas, foi mais longe que os limites do country, abordou o rock, cantou pop e gospel, mas não deixou de ser considerada a rainha do... country.
Vamos ficar um pouco na agradável companhia desta grande senhora.
("Jolene")
 ("9 to 5")

ELIS
Elis Regina faleceu no Rio de Janeiro, aos 36 anos, a 19 de Janeiro de 1982.
"Pimentinha", como era carinhosamente conhecida, foi, talvez, a voz maior, em feminino, da música popular brasileira, da explosão da bossa nova, a par de nomes como Maria Bethânia ou Gal Costa, embora num registo diferente, mas contemporâneo.
Não deixou, também, de visitar o samba, o rock, o jazz (Eartha Kitt, Billie Holiday, Ângela Maria, Carmen Miranda, eram algumas das suas referências), de apoiar jovens autores dos idos de 60, como Milton Nascimento, Ivan Lins, Chico Buarque. Cantou Tom Jobim, Vinicius de Moraes ou Edu Lobo.
Foi a primeira cantora a registar a Voz como instrumento musical na Ordem dos Músicos do Brasil, e a fundar uma editora de discos independente.
Opositora da ditadura, apoiou a amnistia para os exilados políticos e deu voz à música "O Bêbado e a Equilibrista", que se veio a tornar o hino dos que foram forçados a viver fora do país.
Foi muito cruel ver partir Elis, inexoravelmente arrastada.
("Arrastão")    

("Águas de Março")

 ("O Bêbado e a Equilibrista")

JANIS
Nasceu em Port Arthur, Texas, a 19 de Janeiro de 1943. Morreria 27 anos mais tarde, em Los Angeles.
Verdadeiro cometa, furacão musical, esta branca com a voz mais negra da América explodiu, é o termo, na folk, nos blues, no rock, na soul, bebendo sabiamente a herança de Aretha Franklin, Etta James, Billie Holiday ou Bessie Smith.
Filha legítima da beat generation, que atravessou a América nos idos de 60 do século passado, brilhou em Woodstock e arrastou-nos com a sua voz única.
("Me and Bobby McGee")

 ("Mercedes Benz")

 

EUGÉNIO DE ANDRADE

Completaria hoje 90 anos, este beirão da Póvoa da Atalaia, que adoptou o Porto como sua cidade, e onde morreria a 13 de Junho de 2005. Nascido José Fontinhas, conhecemo-lo como Eugénio de Andrade.
Poeta lírico, emoções à flor da pele e da página, Eugénio de Andrade é um nome incontornável da cultura portuguesa do século XX, criador cujo trabalho é, no dizer de Saramago, "...poesia do corpo, a que se chega mediante uma depuração contínua".
Começou a publicar em 1936 ("Narciso"), e deixou-nos dezenas de obras, acima de tudo poesia, mas aventurou-se pela prosa e foi tradutor de nomes como Federico Garcia Lorca, Safo, Yannis Ritsos ou Jorge Luís Borges.
Foi agraciado com o Prémio D. Dinis (Fundação Casa de Mateus, 1988), Grande Prémio de Poesia da APE (1989), Prémio Camões (2001) e Prémio de Poesia do Pen Clube Português em 2003 por "Os Sulcos da Sede".
Mas, para já, deixe-se o lugar à poesia:

"ADEUS

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.
Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.
Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já se não passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
Adeus."
(de "Poesia e Prosa")
"URGENTEMENTE
.
É urgente o amor
É urgente um barco no mar

É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos, muitas espadas.

É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.

Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer. "
(de "Até Amanhã")
 

  

sábado, 18 de janeiro de 2014

18 JANEIRO 1934

 
Em Setembro de 1933 o governo do Estado Novo promulgava o "Estatuto do Trabalho Nacional e Organização dos Sindicatos Nacionais" o que, na prática, correspondia à destruição dos sindicatos livres, à imposição de "sindicatos nacionais" e a sua inclusão na organização corporativa do regime. Tudo a bem da Nação, como é óbvio.
O movimento sindical livre, reagindo a tal decisão, convoca uma vaga de manifestações contestatárias por todo o país e um apelo à greve geral, para 18 de Janeiro de 1934.
Verificaram-se greves em Almada, Barreiro, Sines, Silves, e manifestações, por vezes violentas, em Setúbal, Cacilhas, Seixal, Alfeite e Marinha Grande.
Aqui, e mesmo que o movimento, na sua globalidade, tenha carecido de verdadeira liderança e se mostrasse desarticulado, os insurrectos da Marinha Grande conseguiram cortar as vias de comunicação, ocupar os Correios, dominar o destacamento local da GNR e nomear um "Conselho Operário" para governar a então vila.
Só que a brutal repressão das forças salazaristas não se fez esperar.
Ao fim de algumas horas, a revolta fora abafada, os principais protagonistas presos, posteriormente exilados e, alguns deles, encerrados no campo de concentração do Tarrafal.
O regime sofreu a sua maior contestação até 1958, ano da campanha eleitoral de Humberto Delgado e, depois, até ao 25 de Abril.
Mas a evocação dos heróis do 18 de Janeiro serve, também, para lá da memória viva, que nunca é de confiar na "serenidade" do povo, especialmente quando se vê encurralado ou "entroikado".
Para bom entendedor... 
 

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

COADOPÇÃO: REFERENDAR A HIPOCRISIA?


No dia 17 de Maio de 2013 a Assembleia da República aprovou, na generalidade, o projecto de lei relativo à coadopção de crianças por casais do mesmo sexo.
Atenção, jotinhas e quejandos, é COADOPÇÃO, não é ADOPÇÃO, que os projectos referentes a esta matéria foram chumbados na altura.
Como é norma, o projecto baixou à Comissão especializada, preparando-se o diploma definitivo, que esta semana iria ser votado na especialidade.
Iria, isto porque, entretanto, os rapazes da JSD apresentaram uma proposta visando a realização de um referendo, inviabilizando a discussão e votação do referido projecto.
Um referendo que não só contemplaria a COADOPÇÃO mas, também, a ADOPÇÃO, matéria que já estava encerrada. Referendo ilegal?
Claro! Com esta manobra, empurra-se o problema para a frente, usa e abusa-se da expressão "vontade popular", como se a Assembleia da República não fosse a emanação dessa mesma vontade e, no fundo, revela-se a hipocrisia desta gente, que se diz cristã, bate no peito, mas que deve odiar o Papa Francisco que, imagine-se o Belzebu, até baptiza filho de mãe solteira!
Para esta ideologia exterminadora, passa-se por cima do amor familiar, do carinho, do acompanhamento da criança, da estabilidade da família.
Em nome de conceitos retrógados e simplistas sobre a família, os pais, as mães, o casamento, adia-se, ignora-se, rasga-se, o que está na base deste projecto: A felicidade das crianças!
Que ferro, como diria o Eça!
Ou como escreveu o outro,
Mas...as crianças, Senhor?!

(Sobre este tema, melhor do que ficou escrito, leia-se, a seguir, o excelente texto de Fernanda Câncio, no "Diário de Notícias" de hoje)

Referendar o horror - Opinião - DN

MIGUEL TORGA

 
Deixou-nos há 18 anos, e é um dos nomes maiores da nossa cultura.
Chamava-se Adolfo Correia da Rocha, mas os leitores conhecerem-no como Miguel Torga.
Miguel de Miguel de Cervantes e Miguel de Unamuno, Torga do nome da planta bravia, de raízes fortes, das montanhas de Trás-os-Montes, cujos habitantes e paisagens Torga escreveu e descreveu como ninguém.
Porteiro, moço de recados, criado aos 10 anos, emigrante no Brasil aos 13, vem para Coimbra em 1925 e aí termina, em 1933, o curso de Medicina, graças ao apoio material de um tio também emigrante no Brasil.
Entretanto, aos 22 anos já colaborava na revista "Presença", da qual, com Branquinho da Fonseca, se viria a afastar. Com "A Terceira Voz", de 1934, utiliza, pela primeira vez, o pseudónimo.
E, depois, aparecem, entre outros, "O Outro Livro de Job", "A Criação do Mundo", que lhe valeria a prisão em 1940, por críticas ao franquismo, "Bichos", "Contos da Montanha", "Novos Contos da Montanha", "Cântico do Homem", "Orfeu Rebelde", entre muitos outros, com destaque para os 16 volumes do seus "Diários", que compreendem o período de 1941 a 1993.
Realce, também, para a publicação, a título póstumo, das "Poesias Completas", volumes I e II (1997 e 2000).
Entre várias distinções, assinalem-se o 1º. Prémio Camões, em 1989, o Prémio Montaigne (Alemanha, 1981) e o Prémio Vida Literária, da APE, em 1992.
Na escrita vigorosa de Torga perpassa a rebeldia contra as injustiças, o inconformismo perante os abusos do poder, o humanismo do homem ligado à terra, o homem como o verdadeiro criador, reflexos da sua origem aldeã e humilde, das agruras da emigração, e da experiência como médico a trabalhar com os desfavorecidos da vida, particularmente os seus conterrâneos transmontanos.
De enaltecer, ainda, que Torga foi um acérrimo crítico da praxe e das piores tradições académicas.
Fica o convite à leitura e à reflexão.
Mas para ler em papel...
   

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

PARABÉNS, CRISTIANO!

 
Já se esfumaram os petardos?
Já assentou a poeira?
Já terminou o delírio mediático e a enxurrada de imagens, fotos, vídeos, 3D?
Já se calaram os palradores de serviço e os comensais do repasto futebolístico?
Cavaco e Coelho já apanharam todas as migalhas do festim boladeourístico?
Já se pode respirar?
Então, muito singelamente, parabéns Cristiano Ronaldo e obrigadinho pela alegria, pá!

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

LUTHER KING

A 15 de Janeiro de 1929 nascia em Atlanta Martin Luther King Jr.
Embora neste blogue já tenhamos abordado o seu percurso (posts de 21/03/13, 4/04/13 e 28/08/13), nunca é demasiado evocar este incansável lutador pelos direitos civis da minoria negra americana, pela erradicação da pobreza e contra a intervenção no Vietname.
Defendendo sempre métodos pacíficos e a não-violência (o que lhe valeu críticas de líderes mais radicais como Malcolm X ou Stokeley Carmichael), King conseguiu que, pelo menos legalmente, a discriminação racial fosse abolida (Lei dos Direitos Civis, de 1964 e Lei dos Direitos Eleitorais de 1965), se bem que a realidade seja, de facto, outra coisa.
Diferente de Mandela (que, encurralado pelo apartheid, defendeu a revolta armada), Luther King é, porém, um marco de referência na longa caminhada pela liberdade.
Evocá-lo é um dever.
 


segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

PANTEÃO NACIONAL

 
O Panteão, como o nome o indica é o lugar onde estão todos os Deuses.
Deuses da política, da cultura, da ciência, da liberdade, da igualdade, da fraternidade.
Tal como pensado pelos herdeiros da Revolução de 1789 em França.
O Panteão, em Paris, é uma verdadeira instituição, reconhecida e cuidada, mesmo sendo testemunha de algumas peripécias contraditórias.
Não obstante esse paralelismo, a nossa Igreja de Santa Engrácia nunca conseguiu alcançar o mesmo brilho, pedindo meças, por exemplo, aos Jerónimos.
Até porque, julga-se, não é muito lógico entalar o pobre Humberto Delgado entre personagens como Sidónio Pais ou Óscar Carmona.
No entanto, dê-se o benefício da dúvida à República, que ali quererá homenagear os seus mais ilustres filhos e filhas.
Desta forma, nada mais justo que a próxima trasladação para o Panteão da enorme poeta que é Sophia de Mello Breyner Andresen, uma das maiores escritoras de sempre deste país e da lusofonia.
Homenagem mais do que justa e que só pecará por tardia.
E por tardia, quantos portugueses "que se vão da lei da morte libertando", não mereceriam tal honra?
Exemplos? Apenas dois.
Aristides de Sousa Mendes, apesar da polémica em que querem envolvê-lo (foram mais de 30.000 pessoas salvas, foram "apenas" 1.500....), seria um digno inquilino de Santa Engrácia. É que mesmo que fossem "só" (???) 1.500 pessoas salvas das garras nazis, como diria o ditado judaico, "quem salva uma vida, salva o mundo". E Aristides salvou o mundo e a honra portuguesa.
Salgueiro Maia, que não terá sido o cérebro militar ou político do 25 de Abril, mas que foi o seu rosto, a determinação corajosa e serena que correu mundo, sem verter uma gota de sangue. Herói pela coragem, pela modéstia e pela dignidade, apesar da indignidade a que foi sujeito pelo mesquinho senhor Silva, mas herói como poucos neste país. 
Ah, pois, temos Eusébio também. Deixe-se assentar a poeirada levantada pelo histerismo mediático e pelo oportunista unanimismo político.
Eusébio já está no Panteão dos Eleitos, dos Deuses.
A esta hora, estará a rematar bolas ao Yashine, a driblar com o George Best, a centrar para o Vítor Baptista.
Deixem-no jogar livremente à bola e não o encafuem ao pé do Carmona... 

PORTAS, UNIPESSOAL, LDA.

Terminou ontem o 25º. Congresso do CDS.
Com o triunfo de Paulo Portas.
Normal.
O CDS não é um partido político.
É uma sociedade unipessoal.
Limitada.
Restrita.
A Paulo Portas.
Que, como o eucalipto, seca tudo à sua volta.
Demagogicamente irrevogável,
Irrevogavelmente demagogo.
Disse ele ontem que tinha terminado o tempo dos demagogos.
A Itália livrou-se de Berlusconi.
Quando abriremos a porta a Portas?
Para sair.
De vez.
E, dessa feita, irrevogavelmente! 

A BEM DA NAÇÃO...

Este fim de semana decorreu o Congresso da sociedade unipessoal muito limitada que dá pelo nome de CDS.
De entre as moções apresentadas à discussão constou a "Libertar Portugal, Conquistar o Futuro", apresentada pela rapaziada da Juventude Popular, mais uns jotinhas filhos-família.
E como era franca e risonha a moçãozita (depois retirada, vá lá...). Entre várias pérolas lia-se que "doze anos (de escolaridade obrigatória) induz o abandono escolar e prejudica a empregabilidade...".
Daqui a recomendar que a escolaridade obrigatória deveria acabar no 9º. ano foi um passo.
Claro miudagem, claro.
Até se julga que foram pouco audaciosos.
Então ler, escrever e contar não chega?
Para quê mais estudos?
Para quê mais tempo na escola, se com quinze anos já se pode alombar na fábrica, no campo, no call-center?
Para quê estudos, se queremos mão-de-obra barata, dócil e inculta?
Para quê tanta perda de tempo na Escola, se os vamos pontapear para fora do país?
E da próxima vez, quando ouvirem falar de cultura, puxem logo pela pistola...
12 anos de escolaridade obrigatória? Vejam lá, se calhar até querem subir na vida e andar ao lado dos Sôtores das Lusófonas e Modernas...
Mas os rapazinhos, como bons cristãos que dizem ser, também pensaram na família.
Assim, para os gandulos, "Os filhos são a finalidade do casamento...".
Mas´é evidente!
Casamento, tarefas comuns, partilha, amor, solidariedade, aprender todos os dias? Qual quê!
Rédea curta, porrada na garupa e parir criancinhas. Sexo só para procriar!
Gerar mais gente, escola até ao 9º. ano, se tanto, e trabalho escravo sem direitos. Mai nada!
As famílias querem-se com uma grande prole!
Para nos dar futuros proletários.
Oh jotinhas, oh queridos! Onde é que se meteram com o vosso "empreendedorismo", ou seja lá o que for mas de que não percebem nada?
E se um dia eles voltam às memórias de outros tempos,
E desatam a gritar,
"Proletários de todo o mundo, uni-vos!" ?
 

XUTOS, 35 ANOS

Completam hoje 35 anos (Já??).
O melhor grupo português de rock.
Eternamente jovens.
Eternamente reinventando-se.
Que um dia (2004, Jorge Sampaio) alguém teve a coragem de os agraciar com a Comenda da Ordem de Mérito.
Parabéns!
Avante, Xutos e Pontapés!