terça-feira, 31 de dezembro de 2013

FELIZ ANO NOVO, MR. CRATO!

O Tribunal Adminitrativo e Fiscal do Porto enviou ontem ao ministro da Educação, o sr. Crato, os seus melhores votos de Ano Novo (vd. abaixo texto do "Diário de Notícias" de hoje).
O pior cego é aquele que não quer ver...


Prova dos professores suspensa por meses - Portugal - DN

O ANO DE 2014

Para todas e todos, que o novo ano vos preencha como desejam.
Amigas, amigos, próximos, distantes, mais ou menos chegados,
Mas com a amizade à flor da pele e aconchegada no coração.
Este novo ano vai ser melhor, pior?
Abrirá janelas, fechará portas?
Façamos tudo para que os sonhos para o novo ano adquiram contornos de realidade.
E um passo a seguir ao outro, que o sonho comanda a vida.
Torcendo o destino para que o melhor de nós surja sempre sobre o negrume.
Amigas e amigos, já agora, e acima de tudo, façam o possível e o impossível, das tripas ao coração, para ser felizes.
E, voando mais alto do que toda a pequenez impante, a indignidade rastejante. de todo o pântano e de toda a mediocridade instalada, olhem sempre para o melhor lado da Vida. 
Vivendo-a!


  

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

A FIGURA DO ANO

 
"A posse privada dos bens justifica-se para cuidar deles e os fortalecer, de modo a servirem melhor o bem comum".
Não, esta frase não consta de "O Capital" de Karl Marx.
Também não se lê em "A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado", de Friedrich Engels.
Sequer nos escritos do teórico da "teologia da libertação", Leonardo Boff.
Ou das homilias do saudoso D. Hélder Câmara ou do bispo Desmond Tutu.
Nem se encontram nos diários do seu compatriota Ernesto "Che" Guevara.
A afirmação pode ler-se na exortação apostólica "Evangelii Gaudium", da autoria do argentino Jorge Maria Bergoglio, que os seus "...irmãos cardeais tenham ido buscá-lo quase ao fim do mundo" para o elegerem o 266º. Papa da Igreja Católica, no dia 13 de Março de 2013.
Este homem está a querer revolucionar a forma de a Igreja estar no mundo, de o compreender, de o ajudar a transformar.
Não é por acaso que escolheu o nome de Francisco, inspirando-se em S.Francisco de Assis, o pastor dos pobres e de todas as criaturas de Deus, aqui compreendendo todas as formas de vida.
Este é o homem que nos diz que "o dinheiro deve servir e não governar", e que o actual sistema financeiro, desregulado e em ética, é letal e pecaminoso. "Esta economia mata".
Este é o homem que, questionado sobre temas fracturantes para o rebanho católico, como a homossexualidade, afirma "Se uma pessoa é gay e busca o Senhor, quem sou eu para julgá-la?".
Este é o homem que, vindo quase do fim do mundo, não calçou as polainas vermelhas e luxuosas, mas as sandálias do pescador e trouxe o Evangelho para o meio das pessoas.
"Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados" (Mateus 5:3-12).
Este é o homem que, indelevelmente, marca o ano de 2013.
Não lhe faleça a Esperança.

 
("Pra não dizer que não falei das flores", música de Geraldo Vandré, de 1968, hino de resistência à ditadura brasileira, congregando largos extractos da população, incluindo o movimento do clero que,  mais tarde, seria conhecido por "teologia da libertação")

sábado, 28 de dezembro de 2013

Ó TEMPO VOLTA P´RA TRÁS

 
O CDS tem, na sua sede, um relógio.
Perdão, o CDS não tem, porque não existe.
Recomecemos!
Paulo Portas tem, na sua sede, um relógio.
Perdão, Portas não tem sede.
Recomecemos outra vez!
Paulo Portas tem, no seu gabinete particular, um relógio.
Que conta, decrescentemente, os meses, dias, horas, minutos, segundos,
Para o dealbar do ano de 1640,
Isto é, para o fim do protectorado,
Que é como quem diz,
Para a troika se despedir, levando consigo os despojos da batalha.
Mas o relógio de Portas não mede todo o tempo que o tempo tem-
O relógio de Portas mediu o tempo que levou a despedir
609 trabalhadores dos Estaleiros de Viana do Castelo?
Ou o tempo que demorou a rapinagem e traficância de influências no BPN?
Ou os minutos que tomaram para decidir "ir mais além da troika"?
Ou quanto tempo foi necessário para, por exemplo, as Confecções Ladário falirem?
Qu quanto demorou o embarque, empurrado, de 120.000 emigrantes com alta preparação académica?
Ou as horas breves que bastaram para reduzir Salários e Pensões,
Subsídios, Complementos e Reinserções?
Ou os meses, ou segundos apenas, para o alastrar da mancha de pobreza e desesperança, nestes anos de chumbo?  
O relógio de Portas parece andar, rapidamente, para trás, para o negrume.
O relógio de Portas é o kitsch do ano.
É demagogo,
Intelectualmente desonesto e indigente.
Afinal, talvez não seja um relógio.
Talvez seja um mero espelho.
Onde Portas se mira e fremira, como Narciso.
Irrevogavelmente.  

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

EMPREGOS POR UM CANUDO

 

-Ó Passos, ó lorpa, onde é que estão os 120.000 novos postos de trabalho, qeu não enxergo népia?
-Ó Silva, não estão...
-Não?....
-Não! Estiveram! Foram para fora! Bazaram! Isto é, são "Técnicos Qualificados Emigrantes"! Empregam-se na estranja!
-Bravo Ambrósio, quersse dizer, Passos!


 


ALVA DIGNIDADE

 
Morreu ontem aos 90 anos.
Chamava-se Albino Aroso.
Ainda nos tempos da ditadura, em que o tema era tabu e segredado em surdina, foi pioneiro nas consultas de Planeamento Familiar.
Já em democracia, foi o principal responsável pela legislação e implementação dessa vertente da medicina,  que hoje faz parte do nosso dia a dia e que nos parece impossível não ter existido sempre.
Numa altura em que aqui ao lado, em Espanha, a lei sobre a despenalização do aborto ameaça regredir aos tempos do franquismo ou da santa inquisição, já começamos a ter saudades de Albino Aroso, um Homem que dignificou a Mulher.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

EDDIE "PEARL JAM" VEDDER

 
Parabéns pelos 49 anos, Eddie Vedder.
Fundador dos "Pearl Jam", nos inícios dos 90, em Seattle, terra que também viu nascer os "Nirvana"
Vocalista, guitarrista, compositor, actor.
Trovador americano, na esteira de outros grandes vultos como Woody Guthrie, Bob Dylan, Frank Zappa ou Bruce Springsteen.
Moldou no seu cadinho de emoções, sentimentos e músicas influências de The Who aos The Beatles, de Jim Morrison a Elvis Costello, de Frank Zappa a Tom Waits, e muitos outros.
Contador de histórias, na boa tradição dos cantautores do seu país, canta a liberdade, a solidariedade, a amizade.
E como amigo que é, colaborou em gravações ou espectáculos ao vivo com The Who, Ramones, R.E.M., Paul McCartney, U2, Robert Plant, The Strokes, Neil Young, Kings of Leon ou Johnny Depp.
Em 20 anos, levou essa já mítica banda de rock alternativo que são os "Pearl Jam" ao panteão das grandes bandas. A sua intervenção cívica, conduziu, por exemplo, a canções como "Porch", a favor da despenalização do aborto.
 
Esta música, já de 1991, está incluída no álbum "Ten" que, com "Vs.", de 1993, estão incluídos na lista dos 500 melhores álbuns de sempre da "Rolling Stone".
Fã de basquetebol, de surf (que o digam as praias portuguesas...), activo defensor dos direitos dos espectadores, ao ganhar um litígio contra os preços praticados pela Ticketmaster (1994), Eddie não se cansa de abraçar as causas humanitárias, o pacifismo (activo adversário de Bush em 2000 e 2004), a ecologia e a defesa dos direitos dos animais, sendo membro participante da "The Surf Rider Foundation" (preservação dos ambientes marinhos) e da "Earth First" (ecologia global).
Em 2007 foi, até, designado Ambientalista do Ano.
Para além do trabalho com os "Pearl Jam", e da colaboração com outros músicos, publicou dois álbuns a solo e é autor e colaborador em bandas sonoras para filmes, como "Dead Man Walking" (1995) ou "Into the Wild", de 2007, com Sean Penn, que lhe daria um Globo de Ouro, em 2008, pela canção "Guaranteed", e que também deu o título ao seu primeiro álbum a solo.
  
Mas se falamos agora de bandas sonoras, conclui-se este post sobre Eddie Vedder, o qual merece ser ouvido atentamente, com o tema de um dos mais belos filmes de sempre, "Big Fish", de Tim Burton (2003), ou seja, a canção "Man of the Hour".



   
 

domingo, 22 de dezembro de 2013

PRENDA DE NATAL: A AMIZADE








(Imagens finais de "Do Céu Caiu Uma Estrela", um dos grandes filmes de e sobre Natal e a Amizade)

Tradicionalmente, diz-se que o Natal é a festa da família. Pode ser, mas todos sabemos que há famílias e...famílias.
O que nunca falta, é eterno, imperecível, todos os dias e, também, nesta altura especial do ano, apesar de tudo, é o Amigo, são os Amigos, a Amizade, dentro e fora da família.
Com Amigos e Amigas vamos ao céu, movemos montanhas, cruzamos oceanos, desconhecemos a solidão e o egoísmo, somos melhores.
Na sua bela prosa escrevia, com sapiência, o grande Vinicius de Moraes: "Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos".
Ora como ninguém tem vontade de enlouquecer, a não ser de alegria e felicidade, dediquemos o Natal à Amizade e à Família de e com Amigos, e, para já, demos-lhes música!
Feliz Natal! 

     













sábado, 21 de dezembro de 2013

CASABLANCA: IMPERDÍVEL

 
Pode não ter o arrebatamento revolucionário (político e cinematográfico) de "Couraçado Potemkine".
Sequer a sátira e a poesia sensíveis de "A Quimera do Ouro".
Talvez não o épico, enorme, "E Tudo o Vento Levou". 
Ou a desmontagem brilhante, crítica, demolidora, gigante, de "O Mundo a Seus Pés".
E não questione o Homem, as suas angústias, medos, desconhecidos, futuros, esperanças, de "2001, Odisseia no Espaço".
Ou não nos leve às memórias da juventude, do amor filial e paternal, do sonho desmedido, de "Big Fish"
Pois não.
Mas é, talvez, de certeza para quem escreve, o mais belo e amado de todos os filmes da história do cinema: "Casablanca".
Não percam a oportunidade de o ver agora, restaurado, em versão digital, numa sala de cinema (Lisboa- UCI El Corte Inglés) que é o local para onde as "fitas" foram concebidas.
Sem pipocas.
Mas sempre acompanhados.
Pode ser o princípio de uma bela amizade.
E teremos sempre Paris...E as expressões únicas de Bergman e Bogart, Eternos.
As time goes by...




(Segue-se um pequeno texto de análise, despretenciosa, a "Casablanca")




A  João  Bénard  da Costa, pelos filmes da sua (nossa) vida
A Lauro António, pelo pioneirismo da crítica de filmes, frontal e pedagógica
E a Pedro Bandeira Freire, pelo amor às fitas, e pelas tardes e noites inesquecíveis do QUARTETO

As time goes by,
Casablanca: 70º Aniversário
                Ano de 1942.
                A II Guerra Mundial  estava no auge da sua fúria cega e destruidora. De um lado e do outro, das forças negras do Eixo e dos exércitos da liberdade, registam-se avanços e recuos, mas é neste ano que a balança começa, irreversivelmente, a pender para o campo da Esperança: às ofensivas japoneses e alemãs, na Ásia e África, respondem os Aliados com a paragem do avanço nipónico (batalha de Midway- 3/6 de Junho), Rommel é vergado no Norte de África (El-Alamein, 23 de Outubro a 4 de Novembro), os aliados desembarcam também no Norte de África (8 de Novembro) e, por fim, acontece o xeque-mate do Exército Vermelho à Wehrmacht,  em Estalinegrado (a partir de 23 de Novembro).
                Nesse ano, também, e sem dúvida impulsionadas pelo esforço de guerra, a ciência e a tecnologia registam significativos avanços: instalação do primeiro cabo telefónico subterrâneo “coast to coast” (E.Unidos), produção de hormonas para crescimento de plantas (cadeia alimentar-E.Unidos), produção e utilização da estreptomicina (E.Unidos), utilização do escafandro autónomo (França), etc.

CARLOS, MENINO E MOÇO

 
Completa hoje 74 anos, enquanto celebra o 50º. aniversário da sua carreira aquele que, a par de Amália Rodrigues, mais deu a conhecer ao Mundo o que é o fado: Carlos do Carmo.
Filho de um pai livreiro e proprietário da casa de fados "O Faia" (Alfredo de Almeida) e de uma notável fadista (Lucília do Carmo), desde cedo, na casa dos pais no Bairro Alto, aprendeu a ouvir e escutar aqueles que ali participavam em convívios e tertúlias regulares.
Antes de se lançar no mundo das cantigas, tirou um curso de hotelaria na Suíça, como ferramenta para o futuro.
Mais foi nas cantigas, mais especificamente no fado, que viria a firmar-se, a nível planetário.
Sem nunca abdicar da sua qualidade de cidadão atento e interveniente.
 
Não obstante a sua ligação de 36 anos com o guitarrista José Maria Nóbrega, Carlos do Carmo, tal como Amália, trouxe a grande orquestra para o fado, promoveu aquilo que se viria a conhecer como fado-canção (como se o fado não fosse uma canção...).
E, também como ela, deu a conhecer os grandes poetas da sua terra, através das canções; Vasco Graça Moura, Júlio Pomar, José Saramago, Nuno Júdice, Urbano Tavares Rodrigues, e, claro Ary dos Santos.

("Estrela da Tarde", poema de Ary dos Santos, com acompanhamento ao piano de Bernardo Sassetti)

Carlos do Carmo também não teve, nunca, qualquer problema em "vestir" composições de grandes nomes da música, tais como José Afonso, Sérgio Godinho, Rui Veloso, Vitorino d'Almeida, Léo Ferré. Jacques Brel ou, até, Frank Sinatra. De igual modo, colaborou, e colabora, activamente com outros criadores como Pedro Abrunhosa, Camané, Dany Silva, Chico Buarque, Ala dos Namorados ou Brigada Victor Jara, para além de trabalhos com Bernardo Sassetti e Maria João Pires.

("Invenção de Mim")

Calcorreou todos os grandes palcos deste país e do Mundo, dos Coliseus ao CCB e Casa da Música, , dos Jerónimos à Torre de Belém, do Olympia ao Canecão do Rio, às Óperas de Frankfurt e Wiesbaden.
Foi o primeiro artista a editar um CD, "Um Homem no País" (1983).
Recebeu, em 2008, o Prémio Goya (o "Óscar" espanhol) pela melhor canção original ("Fado da Saudade", com poema de Fernando Pinto do Amaral) para o filme "Fados" de Carlos Saura.
Aquando dos 40 anos de carreira, o jornalista Viriato Teles viria a editar o livro "Carlos do Carmo, do Fado e do Mundo", retrato de uma vida e da sua relação com todos nós.
Porém, o melhor ainda estava para vir, com a UNESCO, em 2011, a declarar o Fado como Património Oral e Imaterial da Humanidade, e cuja candidatura teve como embaixadores Mariza e Carlos do Carmo.
Mais do que uma vitória de um tipo de canção, foi a vitória de uma cultura, e, também, a vitória da cidade que Carlos do Carmo ama, nasceu e vive, e onde nasceu esse tipo de expressão musical: Lisboa


(Música de Paulo de Carvalho, letra de Ary dos Santos)

E, sempre, atento ao que se passa à sua volta, neste país com este fado que nos aperta a alma....
 

 

NÃO AO RACISMO!

 
Comemoram-se hoje 48 anos sobre a aprovação da Convenção para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, aprovada na Assembleia Geral das Nações Unidas.

"Nos termos desta Convenção, os Estados convencionaram empenhar-se em não cometer um acto ou adoptar uma prática de discriminação racial contra indivíduos, grupos de pessoas ou instituições, e a assegurar que as autoridades públicas e as instituições actuem da mesma maneira; a não co-patrocinar, defender ou sustentar a discriminação racial com origem em pessoas ou em organizações; rever as políticas governamentais, nacionais e locais e alterar ou a revogar leis e regulamentos que constituem ou perpetuem a discriminação racial; proibir e pôr termo à discriminação racial por pessoas, grupos e organizações; e fomentar organizações e movimentos integracionistas ou multiraciais, e outros meios de eliminar as barreiras entre raças, bem como desencorajar tudo aquilo que puder tender a reforçar a divisão racial." (Da Resolução 2106A(XX)).

A Resolução entrou em vigor a 4 de Janeiro de 1969, e, até agora, à mesma aderiram 191 Estados.
Está tudo feito e cumprido?
Há ainda um longo caminho a percorrer, seguindo os passos de Zumbi dos Palmares, Gandhi, Rosa Parks, Martin Luther King Jr., Malcolm X, Albert Luthuli, Steve Biko e, claro, o Homem que ainda há pouco chorámos, Nelson Mandela, que não era santo nem mártir.
Tentemos seguir as suas pegadas, sabendo que o caminho se faz a andar.
E libertemo-nos de todos os fantasmas e preconceitos.

BOCAGE


Sou o poeta Bocage
Venho do Nicola
Vou p'ro outro Mundo
Se dispara a pistola

Morreu neste dia, em 1805, com 40 anos, pobre e miserável, no nº. 25 da Travessa André Valente, no Bairro Alto.
Chamava-se Manuel Maria Barbosa du Bocage, e foi um dos maiores poetas da língua portuguesa, injustamente conhecido por um anedotário popular de gosto duvidoso.
Camões era o seu ideal de poeta e, tal como ele, teve uma vida agitada e boémia, de amores e desamores, marinhagens até Macau e prisões no Limoeiro e Inquisição.
Espírito aventureiro, anti-monárquico, anti-católico, simpatizante da Revolução Francesa, irreverente, visão e temperamento românticos, profundo conhecedor e estudioso de francês, latim e mitologia clássica, um génio a escrever poesia, marcadamente no soneto, onde só precisamente Camões lhe pedia meças.

Falando de si...
 

Já Bocage não sou!... À cova escura

Já Bocage não sou!... À cova escura
Meu estro vai parar desfeito em vento...
Eu aos céus ultrajei! O meu tormento
Leve me torne sempre a terra dura.

Conheço agora já quão vã figura
Em prosa e verso fez meu louco intento.
Musa!... Tivera algum merecimento,
Se um raio da razão seguisse, pura!
 
 Eu me arrependo; a língua quase fria
Brade em alto pregão à mocidade,
Que atrás do som fantástico corria:

Outro Aretino fui... A santidade
Manchei!... Oh! Se  me creste, gente ímpia,
Rasga meus versos, crê na eternidade! 
 
 
Falando de Camões... 
    
Camões, grande Camões, quão semelhante
Acho teu fado ao meu quando os cotejo!
Igual causa nos fez perdendo o Tejo
Arrostar co sacrílego gigante:

Como tu, junto ao Ganges sussurrante
Da penúria cruel no horror me vejo;
Como tu, gostos vãos, que em vão desejo,
Também carpindo estou, saudoso amante:

Lubíbrio, como tu, da sorte dura,
Meu fim demando ao Céu, pela certeza
De que só terei paz na sepultura:

Modelo meu tu és... Mas, ó tristeza!...
Se te imito nos transes da ventura,
Não te imito nos dons da natureza.
 
 
E não só no soneto, como nas epístolas, odes, canções, cançonetas, cantatas, elegias.
Repentista, satírico, erótico, de verve brilhante, foi clássico (Elmano Sadino, como se designou na Nova Arcádia)
e anunciou o romantismo.
Para, de uma vez, se calarem os preconceitos, pede-se que Bocage, Elmano Sadino, seja lido e entendido.
Sendo, como é, um dos maiores vultos da nossa literatura.
 
Retrato próprio
 
Magro, de olhos azuis, carão moreno,
Bem servido de pés, meão na altura,
Triste da facha, o mesmo de figura,
Nariz alto no meio, e não pequeno.

Incapaz de assistir num só terreno,
Mais propenso ao furor do que à ternura;
Bebendo em níveas mãos por taça escura
De zelos infernais letal veneno:

Devoto incensador de mil deidades
(Digo, de moças mil) num só momento,
E somente no altar amando os frades:

Eis Bocage, em quem luz algum talento;
Saíram dele mesmo estas verdades
Num dia em que se achou mais pachorrento.
  

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

EDUCAÇÃO

 
E o Nuno Crato, já fez a sua Prova de Avaliação de Conhecimentos e Capacidades para ser ministro?
Nem para sebenteiro....
(Cena final de "Clube dos Poetas Mortos", um filme que é um dos mais belos elogios ao Professor)
 

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

THE SIMPSONS

 
Completam hoje 24 anos.
Parabéns a eles.
Parabéns a nós que continuamos a poder desfrutar da qualidade, imaginação, ironia, sarcasmo, caricatura de uma série que já é um marco na cultura contemporânea.
E as agruras deste mundo poderão ser melhor suportadas sempre que se estamos na companhia desta família disfuncional, delirante, americana.
Cresçam muitos mais anos!
 

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

PETER O'TOOLE

 
Pois é.
Fala-se de Peter O'Toole, falecido no passado dia 14 de Dezembro e, automaticamente, associamos o actor ao seu grande êxito, "Lawrence da Arábia" (1962, David Lean).
Mas O'Toole, irlandês de Connemara, era muito mais do que essa personagem.
Estudou na prestigiada Academia Real de Artes Dramáticas, sendo colega de actores como Albert Finney ou Alan Bates. Foi figura proeminente de uma geração quase única de grandes actores de teatro e cinema britânicos onde, para além dos citados, se incluem gigantes como Richard Burton, Richard Harris, Oliver Reed ou Terence Stamp.
Começando a carreira no teatro e TV, a sua primeira incursão no cinema, em papéis secundários, acontece em 1960. Quase de imediato, com as renúncias de Albert Finney e Marlon Brando, David Lean oferece-lhe o "Lawrence".
Em 1963 recebeu a primeira das 8 nomeações para o Oscar de melhor actor, que, injustamente, nunca recebeu. O único Oscar seria entregue em 2003, pela sua vasta carreira, onde interpretou personagens marcantes da literatura inglesa, como "Lord Jim", de Joseph Conrad (realizado em 1964 por Peter Brooks) ou "Kim", de Rudyard Kipling (1984, John Davies, para TV), onde compõe um espantoso lama tibetano, para além de muitas outras obras embora, muito possivelmente, nenhuma das composições atingisse o prestígio do "Lawrence".
Em "O que há de novo Gatinha?", de 1967, interpreta um filme cujo argumento foi escrito por Woody Allen, e em "O Último Imperador" (1987) de Bernardo Bertolucci, interpreta um actuante tutor e professor britânico.  
Em 2007, na animação da Pixar "Ratatouille", dá voz ao crítico gastronómico Anton Ego.
Enquanto actor de teatro, considerou a interpretação de peças do seu compatriota Samuel Beckett,  no Abbey Theatre de Dublin, o ponto alto da sua carreira, no ano de 1970.
Mas, como se disse no início, deste homem que já vestiu a pele de D. Quixote ("O Homem da Mancha") ou de Henrique II de Inglaterra ("Becket" e "O Leão no Inverno"), ficará para sempre na memória o seu inesquecível "Lawrence of Arabia".


domingo, 15 de dezembro de 2013

MANDELA, ATÉ SEMPRE




 
Mandela voltou hoje a Qunu, às terras dos seus ancestrais.
Pode descansar, de todas as lutas que este bravo guerreiro travou.
O fim do apartheid por métodos pacíficos, seguindo os passos de Gandhi.
O recurso à luta armada, inevitável quando todas as portas, internas e externas, se lhe fecharam com estrondo!
A prisão, 27 anos, 18 dos quais no inferno de Robben Island, mas sendo sempre o "comandante da sua alma".
A libertação, o punho fechado que tanto batera para se ouvir.
E a reconciliação, o perdão, a recusa do banho de sangue, o sorriso.
E a denúncia dos crimes, quer do apartheid, quer do ANC, do Inkatha, que nos actores da guerra não há inocentes.
E a abertura à sociedade, aos brancos, aos negros, aos mestiços, aos hindus, a todos.
E ao mundo, e até ao rugby, como motor da transformação.
O assumir de erros, de opções discutíveis, só os ignorantes nunca erram e raramente têm dúvidas.
Estar do lado certo da História, e não um ignorado rodapé.
E fazer História. 
A nação do Arco-íris, "Deus abençoe a África" (N'Kosi sikelelei Afrika).
E a calma e tranquila planície de Qunu.
É o tempo da memória, da saudade, do exemplo.
É tempo de descansar.     

O legado de Mandela? Olhar e ver estas duas fotografias.
Só.
É muito?
E pouco?
É imenso.


sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

BAIRRO ALTO:500 ANOS!

 
E passam 500 anos desde que se procedeu à divisão em lotes da antiga Vila Nova de Andrade.
E nasceu o Bairro Alto, capital de Lisboa.
O Bairro mais Alto do sonho, como escreveu Ary dos Santos,
Cantado por Amália, Hermínia, Carlos do Carmo,
Do Luso à Adega Machado,
Dos chulos e prostitutas,
Às peixeiras e carvoeiros,
Das hortas e tanoarias,
Da Igreja de São Roque e a faustosa e despesista Capela de São João Baptista,
Ao Conservatório Nacional e às tascas,
Do Diário de Notícias, República, Diário de Lisboa, A Bola, 
Aos alfarrabistas e livreiros,
De Bocage a Fernando Pessoa,
De marçanos a empregados de escritório e bancos,
Das lojas da moda, tatuagens, alimentação bio,
Aos bares, discotecas, heteros, gays,
Brancos, ruivas, negros, loiras, azuis, arco-íris,
De ver os barcos a Santa Catarina,
A calcorrear becos, ruas estreitas, cunhal das bolas.
O Bairro Alto é um Mundo.
O Bairro Alto é o Mundo.


quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

NADIR AFONSO

 
Morreu ontem aos 93 anos.
Pintor, arquitecto, pensador.
Trabalhou com Le Corbusier e Óscar Niemeyer.
Pintou com Léger e Vasarely.
Concebeu a arte com o rigor da matemática e da geometria.
Foi do modernismo do século XX ao fractal do século XXI.
Expôs de 1939 até quase à hora de partir.
Desenhou, arquitectou, escreveu, sempre actual e interveniente.
É uma das grandes figuras da cultura mundial.
Chama-se Nadir Afonso e nasceu em Chaves.

 
(Estação de metro dos Restauradores, Lisboa)


 
("Luanda")

 
("Radiografia")

 
(Centro de Artes Nadir Afonso em Chaves. Projecto de Siza Vieira)

 
("Veneza")

FRANK SINATRA: THE VOICE

 
Faria hoje 98 anos.
Foi conhecido como "The Voice" ou "Ol' Blue Eyes".
Nasceu a 12 de Dezembro de 1915 em Hoboken, New Jersey, filho de emigrantes italianos, com o nome de Francis Albert Sinatra.
O mundo viria a conhecê-lo como Frank Sinatra, o maior cantor de sempre, como até a fina flor do bel canto o reconheceu.
("My Way" - Los Angeles, 1994)

De família modesta, Frank não completou os estudos secundários, tendo arranjado empregos como moço de recados ou colocador de rebites em barcos, tendo, pelo meio, sido preso, acusado de adultério o que, na altura era grave ofensa, susceptível de pena de prisão.
No entanto, a música era o seu principal interesse, ouvindo atentamente as big bands de jazz.
Começou a ganhar gorjetas aos 8 anos, à porta de bares, cantando para passantes e clientes, e profissionalizou-se aos 15, ele que não sabia ler música e cantava de ouvido.
Cantando a solo, ou em grupos locais, fez a sua primeira aparição consistente em 1935, com os Hoboken Four, com uma pequena digressão e programas de rádio. Mais tarde nesse mesmo ano, a mãe conseguiu-lhe um emprego como criado-cantor e mestre de cerimónias numa localidade próxima da terra natal.
Em 1939, no auge das grandes bandas de swing - da melhor música do mundo...-, a orquestra de Henry James contrata-o como vocalista, gravando o primeiro disco em Julho desse ano. Embora o sucesso tivesse sido muito relativo, a consagrada banda de Tommy Dorsey viria a contratá-lo, também como vocalista, em Janeiro de 1940. Começa aqui o início, de facto, da extensa e profícua carreira de Sinatra, que viria a ser consagrado como o melhor cantor da época. No contacto com as big bands aprendeu a usar a voz como um instrumento único, como foi o seu, maleável, manipulador, a ser actor em palco, a aperfeiçoar a técnica de utilizar e tornar uma sua extensão, o microfone. Em suma, um inovador.
("I'll never smile again")
As revistas "Billboard" e "Down Beat" consagravam-no, as adolescentes ("bobby soxers") desmaiavam, gritavam, acotovelavam-se para assistirem aos espectáculos. Estava-se perante a primeira estrela pop.
Quando, em 1942 e 1944, actuou no Paramount Theater em Nova Iorque, houve quem dissesse que o edifício parecia vir abaixo com o entusiasmo e a histeria de 35.000 fãs...que não couberam todas.
No final de 1942 desliga-se da banda de Tommy Dorsey, tendo circulado o boato de que a Máfia teria "facilitado" o acordo, uma alegada ligação que o perseguiria pela vida, e que lhe valeu ser espiado pelo FBI. Isso, e o seu posterior apoio a John Kennedy (o que não o impediu de, 20 anos depois, apelar ao voto em Ronald Reagan...).
Em Janeiro de 1943 assina com a editora Columbia, e, durante a guerra, realizou espectáculos para as tropas norte-americanos, com outros artistas, entre os quais o seu amigo (e rival de êxitos) Bing Crosby.
Em 1946, a Columbia lança o primeiro disco de Sinatra, inteiramente a solo, "The Voice of Frank Sinatra", e, no mesmo ano, inicia o seu programa de rádio semanal.
No entanto, em 1949, já é apenas o 4º. cantor nos tops, tendo, nesse ano, interpretado, com Gene Kelly e outros, o filme "On The Town", com música de Leonard Bernstein, realizado por Stanley Donen e o próprio Gene Kelly.
 
("New York, New York" - What a Wonderful Town)
No entanto, a carreira entrava em declínio, com Sinatra depressivo, passando mesmo por uma gorada tentativa de suicídio em 1951, tendo optado, então, no mês de Setembro, por retirar-se para Las Vegas, onde actuou em hotéis, night-clubs e casinos, tendo sido uma figura incontornável no meio, nos anos 50's e 60's e onde fez a sua base e de onde partia para digressões. Entretanto, a Columbia decidia terminar o contrato.
Em 1953, a sua carreira conhece um novo impulso com a conquista do Óscar para melhor actor secundário em "Até à Eternidade", de Fred Zinnemann.
Assina com a Capitol, e dá início à gravação de discos que se tornaram conhecidos como conceptuais, em que cada um, nas suas diversas canções aborda um tema, que pode ir da solidão à amargura (álbum "In the Whee Small Hours"), da reflexão íntima ao velho swing, começando, também, uma frutuosa colaboração com o orquestrador Nelson Riddle. Como em "Come Fly with Me".
  
É o regresso aos êxitos, aos tops, aos prémios, ao reconhecimento. A América (e o mundo...) tinham reencontrado The Voice. O disco "Frank Sinatra Sings for Only the Lonely" fica 120 semanas seguidas na tabela da "Billboard". Nesses tempos, ele era um crítico feroz da nova música "rock" mas, como sucede com os grandes artistas, as opiniões não são eternas, e vê-lo-íamos a gravar canções de Elvis Presley ou George Harrison.
Datam desses anos, a amizade com um grupo de artistas (Dean Martin, Sammy Davis Júnior, Peter Lawford e Joey Bishop), que, com Sinatra, passariam para a história como "Rat Pack" e que, além de espectáculos em Las Vegas e outros locais, nos deram a primeira versão de "Ocean´s Eleven".
Em 1961, abandona a Capitol e os seus frutuosos anos, e abalança-se a fundar a sua própria editora, a Reprise Records. Sinatra, que sempre lutou pelos direitos dos artistas negros, e da comunidade negra, participa, em Julho de 1961, num espectáculo no Carnegie Hall a favor do movimento dos direitos cívicos liderado por Martin Luther King Jr., convencendo, também, os seus colegas do Rat Pack a boicotarem casinos e hotéis que discriminassem artistas negros.
Desses anos 60, e na sua editora, Sinatra vem a ganhar Grammy's pelos álbuns "September of My Years" e "A Man and his music", e melhor intérprete masculino com " Strangers in the Night", para além de outros prémios. Continua a efectuar tournées pelos Estados Unidos e por diversos outros países.

 
("Strangers In The Night")
Nesses tempos de qualidade acima da média (e Sinatra não foi sempre acima da média ?), continua a colaborar com orquestradores da craveira de Nelson Riddle, Quincy Jones e Count Basie, e a acompanhar figuras cimeiras do jazz como Duke Ellington, Ella Fitzgerald ou Louis Armstrong.
Colaboração marcante, em 1967, será com o genial compositor brasileiro António Carlos Jobim, o "pai" da bossa nova, numa gravação histórica de dois criadores acima do comum.

 
("Garota de Ipanema"-versos de Vinicius de Moraes)
Em Junho de 1971, num espectáculo em Hollywood, anuncia a sua retirada do mundo das músicas.
Mas a música apelava mais alto, regressando em 1973 com "Ol' Blues Eyes is Back", com arranjos do consagrado Don Costa.
Em 1974 regressa a Las Vegas, realiza espectáculos pelo país e esgota, com rotundo êxito o Madison Square Garden, de Nova Iorque, cidade para a qual, em 1973, gravara o seu segundo hino (o primeiro será "Rhapsody in Blue", de Gershwin), "New York, New York".

Frank realiza espectáculos na Europa, também em 1974, com assinalável êxito, e, em 1979 recebe o Trustees Award dos Grammy's, uma honra só para eleitos (Duke Ellington, The Beatles, entre outros).
Em 1980 é lançado "Trilogy: Past Present Future", que inclui músicas antigas e contemporâneas, com novos arranjos, e onde se encontra, por exemplo, "Something" de George Harrison.
Em 1984 volta a invadir as tabelas com "L.A. Is My Lady", orquestrado por Quincy Jones.
No ano de 1990 ainda efectua nova tournée pelos Estados Unidos e, posteriormente, virá a gravar "Duets" e "Duets II" (1993 e 1994), num regresso à Capitol.
Em Dezembro de 1994 realiza o seu último concerto público em Fukuoka, no Japão e, a 25 de Fevereiro de 1995 dá o seu último espectáculo, numa festa privada.
Nesse mesmo ano, no dia do seu 80º. aniversário, o Empire State Building "veste-se" de azul.
Morre, de ataque cardíaco, a 14 de Maio de 1998. O seu enterro, em Beverly Hills, foi acompanhado por mais de 400 colegas.
Sinatra ganhou 13 Grammy's, 1 Oscar, deu-nos 59 álbuns de estúdio, 2 álbuns ao vivo, 8 compilações, 297 singles, dezenas de filmes e uma voz única, inimitável, com uma longa e fluente linha musical, sem pausas para respirar, manipulando sabiamente as letras, as músicas e até as orquestras acompanhantes.
Dele escreveu, em 1983, o crítico Stephen Holden ("Rolling Stone Records Guide") :"...Sinatra viverá eternamente. Ele virtualmente inventou a moderna linguagem da pop."
Ou como singelamente escreveu Jon Bon Jovi em "It's My Like" (2000): "My heart is like an open highway/  Like Frankie said, I did it my way".
E só Frank Sinatra, o maior cantor de sempre, poderia cantar como viveu: "My Way".
 

   

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

MANOEL DE OLIVEIRA: PARABÉNS!

 
Completa hoje 105 anos.
Traz com ele toda a história do cinema.
De "Douro, Faina fluvial", documentário, mudo, a preto e branco, de 1931,
A "A Igreja do Diabo", de 2012,
Aguardando que seja desbloqueado o financiamento para o seu novo projecto "O Velho do Restelo".
Passou pelo mudo,
Pelo sonoro,
Pelo preto e branco,
Pela cor,
Pela esteorofonia,
Pelo ecrã gigante,
Pelo digital, 
Aclamado em Cannes, Veneza, Montreal,
Galardoado com títulos, ordens, comendas, honoris causa.
Falta que o Cinema o homenageie, como merece.
Não por Manoel de Oliveira, que é mais do que isso.
Mas pelo Cinema que esse, sim, é que deve a si mesmo essa homenagem.
Até lá, Manoel de Oliveira continuará a fazer fitas.

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

PISAram-me OS CALOS!


PROCURA-SE

Em  parte incerta, depois da divulgação do Relatório PISA-2012 da OCDE, em relação ao qual entrou mudo e saiu calado, procura-se o "grande educador do povo" e dito ministro da Educação, Nuno Crato de seu nome.
A quem o encontrar, agradece-se que o continue a deixar em parte incerta, por favor! 

domingo, 8 de dezembro de 2013

JOHN LENNON

 
Foi há 33 anos (já?).
John Lennon era assassinado à porta de sua casa, em Nova Iorque.
E hoje passam 3 dias após a morte de Mandela.
Dois homens.
Cada um, à sua maneira, e conforme os palcos por onde andavam, tinham um objectivo comum, para o bem da Humanidade: a Paz.

 

LIVE FAST, DIE YOUNG:JIM MORRISON

 
Nasceu há 70 anos na Florida, morreu antes de completar 28 anos, em Paris, a 3 de Julho de 1971.
Passou pela música como um meteoro. De álcool. De provocação. De desobediência. De drogas.
De génio, enquanto poeta, compositor e cantor.
Foi a alma e o sangue dos "The Doors", que formou em 1965 com Ray Manzarek, Robby Krieger e John Densmore, lá para os lados de Venice Beach, Califórnia.
O nome da banda foi sugerido por Ray, e retirado do título de um livro de Aldous Huxley, "The Doors of Perception", que alude a um poema do escritor do século XIX, William Blake.
O seu primeiro álbum, de 1967, "The Doors" transforma-se num ícone da contra-cultura.
Combinando as diversas abordagens musicais trazidas ao grupo por cada um dos seus membros, dos blues ao rock, da música clássica ao jazz, desaguando no hard rock e rock psicadélico.
Morrison revela o seu génio poético, bebendo nas fontes do romantismo, do simbolismo, do existencialismo, de Nietzche (estética, moralidade e dualidade), de Rimbaud, de Baudelaire, de Molière, de Balzac, de Cocteau, de Kafka, de Allen Ginsberg e de Jack Kerouac.
Os seus espectáculos ao vivo tornam-se polémicos, Morrison torna-se num sex-symbol, provocam escândalo no Ed Sullivan Show (a 17/9/67) por causa dos versos de "Light My Fire".
A 10/12/67, Morrison é preso durante um espectáculo em New Haven por insultar a polícia perante os espectadores. Em Chicago, já em 1968, são os fãs que se descontrolam durante a actuação.
Mas o génio continuou sempre a produzir, apesar do evidente abuso de álcool e drogas. A canção "The Unknown Soldier" foi banida das rádios por causa da letra. Lembra-se que, na época, a traumatizante Guerra do Vietnam estava no auge da ferocidade.
 
A fama precedia-o, e aos Doors, tendo sido preso em Miami por alegadas obscenidades que, segundo Manzarek, nunca tiveram lugar. O público, durante os espectáculos, já estava hipnotizado e tudo era suposto acontecer. No entanto, e ainda em Miami, a 16/9/70, seria condenado a 8 meses de prisão por alegada profanação e exposição indecente.
A sua participação no Festival de Wight, em Agosto de 1970, ao lado de Jimi Hendrix, Miles Davis, The Who, Donovan ou Joni Mitchell foi um êxito.
Como todos os discos do grupo, na sua breve trajectória de 1965 a 1971, ano que lançariam o último com a participação de Jim Morrison, "L.A. Woman", do qual se extrai "Riders on the Storm".


Em Março de 1971 parte Paris com a namorada. Ali virá a falecer a 3 de Julho de 1971, em circunstâncias ainda não aclaradas, não tendo sido objecto, até, de autópsia.
Encontra-se enterrado naquele verdadeiro monumento que é o cemitério Père-Lachaise onde, para encontrar a sua campa, é só seguir os fãs. Chegarão a uma pequena sepultura, com uma lápide simples (o busto que ali estava há muito foi roubado), com flores, garrafas vazias e restos de charros.
 
Jim Morrison deixou um legado imortal, tanto como poeta ou como vocalista, que o digam Robert Plant, Roger Daltrey, Iggy Pop, Eddie Vedder, Bruce Springsteen, Ian Curtis ou Billy Idol.
Lançou 2 volumes de poesia em 1969 ("The Lords/Notes on Vision" e "The New Creatures"), tendo ainda sido editados postumamente outros dois, em 1988 e 1990 ("The Lost Writings of Jim Morrison": "Wilderness" e "The American Night"). Entre nós, a Assírio & Alvim publicou parte da sua obra.
E o seu ex-colega da Universidade da Califórnia de Los Angeles, Francis Ford Coppola, prestou-lhe a devida homenagem no filme "Apocalypse Now" (1979), ao incorporar a música "The End", outro dos hinos da contra-cultura de que Jim Morrison é expoente maior.     

    

sábado, 7 de dezembro de 2013

MANDELA E...GEDEÃO

 
Nestes dias, em que Mandela enche as notícias e os corações, em que a emoção vai dando lugar à saudade e à memória, chega à memória não uma frase batida, mas um poema de António Gedeão (Rómulo de Carvalho) que, na sua essência, é aqui evocado como manifesto contra o racismo e a discriminação, duas indignas violências contra as quais Madiba lutou até ao fim.

Lágrima de preta
Encontrei uma preta
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.

Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.

Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.

Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.

Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:

Nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.