quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

VERGÍLIO FERREIRA : LITERATURA COM MAIÚSCULA



Vergílio Ferreira nasceu a 28 de Janeiro de 1916 na aldeia de Melo, concelho de Gouveia, na Beira Alta.
Cedo separado dos pais, que emigraram para o Canadá, fica a tomar conta dos irmãos mais novos.
A neve da sua Beira, a separação, marcá-lo-ão na vida e na obra. Tal como os seis anos que passou no Seminário do Fundão, onde entrou com 12 anos, e cuja vivência recuperará no romance "Manhã Submersa", magistralmente adaptado ao cinema por Lauro António.
Formado em Filologia Clássica, dedicou-se ao ensino, tendo, em 1959, ingressado no Lyceu Camões, onde trabalharia até à reforma. No entanto, mesmo leccionando, nunca descurou a escrita, sendo mais justo dizer que Vergílio Ferreira foi um escritor que dava aulas, e não o contrário.
Abraçando inicialmente o neo-realismo, viria a abraçar o existencialismo e, também, o humanismo.
Na sua obra perpassa uma profunda reflexão sobre a condição humana, as suas angústias, a busca incessante do sentido para a vida e, também, para a obra.
Alguém dirá que a leitura da sua obra pode ser difícil. Decerto, não se trata de literatura de plástico, livros de aeroporto ou escrita fast-food.
Mas, ao contrário desta, quando se lê Vergílio Ferreira, prémio Camões de 1992, sabe-se que, no fim, vamos ficar muito mais ricos, e que já aprendemos algo de novo, para além de podermos apreciar a Língua Portuguesa no seu melhor esplendor.
Leiam-se os seus ensaios, os seus diários ("Conta-Corrente", 2 séries e "Pensar", e romances como, só como exemplos, "Para Sempre", "Alegria Breve", "Aparição" ou "Manhã Submersa".      

(Início do filme "Manhã Submersa", de Lauro António - 1978)

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

AUSCHWITZ : LIBERTAÇÃO HÁ 70 ANOS

 

Há 70 anos o Exército Vermelho libertava 7.000 sobreviventes do campo de concentração de Auschwitz, tristemente conhecido como o "Campo da Morte".
Em Auschwitz, perto de um milhão de pessoas, ou mesmo mais, foram friamente executadas após as mais duras provações, incluindo o de servirem de mão de obra escrava para grandes indústrias alemãs.
A maior parte dos mortos foi constituída por judeus.
Mas não só!
Também ciganos.
E comunistas.
E socialistas.
E homossexuais.
Católicos e Testemunhas de Jeová.
Em Auschwitz, principalmente.
Mas também em Dachau, Bergen-Belsen, Theresienstadt, Treblinka e tantos outros, espalhados desde a França até à União Soviética.
E tudo com base numa ideologia doentia, alimentada pela cegueira das potências "aliadas", que pregava a superioridade da raça ariana e a necessidade do espaço vital alemão.
E combatia tudo o que fosse diferente.
Não havia alternativa, berravam!
E 70 anos depois, parece que ninguém aprendeu nada, com a Europa em riscos de se estilhaçar, também em nome de uma ilusória superioridade económico-financeira construída à custa da exploração de países e povos mais pequenos, mas que têm o indeclinável direito a existir, e a existir com dignidade.
E se queremos honrar a memória dos mortos, é nosso dever impedir a ressurreição de campos de concentração, quer se chamem "Ajustamento" ou "Reformas Estruturais".
Em boa verdade, e ao contrário do que estava afixado à entrada de Auschwitz (e não só), o trabalho não liberta.
Quando o produto do mesmo não alimenta quem produz e vai, directo, para o bolso do capital.

 

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

GRÉCIA : E AGORA, EUROPA?


A clarissima vitória do Syriza não é, só, a vitória do povo grego.
De um povo que pode voltar a sonhar.
Das praias de Mykonos às fragas do Cabo Sounion.
Da rocha sagrada da Acrópole às ruas calcetadas de Rodes.
É muito mais do que isso.
É perguntar, olhos nos olhos, à Europa, nome dado por gregos, o que esta quer.
Se vai ignorar a decisão soberana de iodo um povo.
De toda uma Civilização que nos deu Platão e Homero, Filosofia, Cultura, Democracia.
Se vai, como o fez antes das eleições, chantagear, humilhar, violentar.
Como o fizeram Schlaube, Merkel, Juncker, até Hollande, inclusive José Rodrigues dos Santos.
Ou se, enfrentando a realidade, respeitando os valores da Europa, invocando os princípios fundadores da União Europeia, vai realizar a grega catarse, a kátharsis, que purifique o actual marasmo.
Entendendo, respeitando a Grécia, a Europa do Sul, transformando este continente que, actualmente, permite o Capital apropriar-se do que é do Trabalho, num todo solidário e cooperante.
Talvez seja pedir demais...
Mas ignorar o que ontem se passou na eterna Grécia, castigando-a, até, substituindo panzers e Luftwaffe por escravidão e asfixia, é o caminho mais fácil e rápido para o abismo e para a tragédia de uma Europa que, inevitavelmente, se fragmentaria, desuniria, desapareceria.
No meio dos incêndios assassinos ateados por loucos fanáticos, cegos, intransigentes, num verdadeiro crepúsculo dos deuses.
A Europa só tem que ser inteligente.
Os gregos, e os europeus, também têm direito a viver a vida. Bem vivida. E com alegria, por muito que custe aos ideólogos e serventuários da narrativa actual, que diz não haver alternativa.
Mas há. A Natureza, incluindo a humana, encontra sempre o seu caminho...
Obrigado, Grécia!

(Recordando o grande Anthony Quinn, amigo indefectível da Grécia, em "Zorba o Grego" dançando nas praias de Creta, com a música inesquecível de Mikis Theodorakis)
 
  



sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

GRÉCIA, BASTIÃO DA DEMOCRACIA

 
"The isles of Greece, the isles of Greece!
Where burning Sappho loved and sung.
Where grew the arts of war and peace, —
Where Delos rose, and Phoebus sprung!
Eternal summer gilds them yet,
But all, except their sun, is set.  
.........................................................."
(Poema "Don Juan"-1818/24- Canto III, estrofe 86, de Lord Byron)

No próximo domingo, o povo grego elege o novo Parlamento e, concomitantemente, o partido que irá governar nos próximos anos, sendo, neste momento, o Syriza, de esquerda, o principal favorito. 
Estas eleições foram anunciadas em Dezembro.
Desde essa altura, a gloriosa Grécia, pátria da Democracia, da Cultura, farol de toda a nossa Civilização, foi vítima dos mais despudorados e nojentos ataques e chantagens por parte daquilo a que se convenciona chamar de União Europeia, de que União nada tem, e de Europa muito pouco.
O que está em jogo, no fundo, é o temor de que a vontade dos gregos venha a consagrar uma solução política que ponha em causa o actual statu quo ultra-liberal e austeritário, sob a batuta do diktat alemão, e com a cobardia e rendição dos partidos sociais-democratas e socialistas, e que obrigue a Europa a sentar-se, a pensar, a conjugar o verbo "reestruturar", a gerar ideias perigosas como, por exemplo, utilizar a palavra "Solidariedade", que faz parte da matriz fundadora da União, e hoje tão esquecida, ou atirada para o caixote do lixo.
Ainda agora, quando o BCE anuncia o seu plano de "quantitative easing", a Grécia é excluída do mesmo por sucessivos défices excessivos. Défices e dívida que resultam, como já muito boa gente percebeu, da transformação das dívidas privadas de bancos e especuladores institucionais em dívida pública suportada pelos países de economia mais fracas, empurrados, também, por uma moeda demasiado cara para as suas possibilidades. A célebre arquitectura do Euro...Euro do qual, sem vergonha na cara, querem expulsar a Grécia, como castigo e exemplo para outros (Olá Portugal, olá Espanha...).
O que a Europa, pelo menos esta Europa ocupada por Berlim, "exige" ao povo grego é que este tenha juízo e esteja quieto e calado e vote naqueles que baixam a cabeça e seguem a voz do dono. Já bem basta a "chatice" de ter de haver eleições...
E não falem, como já se escreveu, que a Grécia gerou a dívida porque se quis desenvolver e a Alemanha pagou a dívida porque se desenvolveu. Que se saiba, era ponto de honra da União ajudar os países mais vulneráveis a desenvolver-se e, por outro lado, a Alemanha não pagou dívida nenhuma  (basta "Googlar" nos Acordos de Londres de 1953), como, até, obrigou a Europa a pagar os custos da reunificação, inventando uma moeda para tal.
Por todas as razões, principalmente pelo abalo que, forçosamente, provocará no actual marasmo europeu, a vitória do Syriza é mais do que bem vinda.   

(Melina Mercouri - "Ta Paidia Tou Pirea")



    





















TÁ AÍ A VIOLETTA!!! LOL!!!


Aí está a Violetta!
Limpinha!
Lavadinha!
Perfumada!
Sorridente!
Juvenil!
Formatada!
Embalada na Disney!
Pronta a consumir!
E a obrigar a consumir!

Mas...esperem pela pancada. Talvez daqui a meia dúzia de anos (ou muito menos...) a piquena, seguindo as pisadas da sua antecessora Miley Cyrus, se transforme nisto:
 

Não há pachorra!
Razão tinham os rapazes do "Grupo de Baile", aqui há uns anos atrás:

("Patchouly" - 1981)

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

OPOSIÇÃO, PROCURA-SE!

Com um governo paralisado, errático, incompetente.
Com trapalhões, mentirosos, terroristas a comandar(?) os nossos destinos, cada vez mais tristes.
Com a evidente incompetência demonstrada na Justiça.
Com o crime que se está a perpetrar na Educação.
Com o genocídio diário que se verifica na Saúde.
Com a humilhação sofrida, e a sofrer, nas Lajes.
Com o seguidismo cego do diktat de Merkel, quando a Europa parece querer acordar do torpor (ai Grécia...)
É caso para perguntar, caro António Costa:
-Por onde anda a Oposição, por onde anda o PS? 
É que Outubro é já ali...

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

CHARLIE RESSUSCITA AO 7º. DIA


Capa do próximo número do "Charlie Hebdo", que amanhã será publicado, sete dias depois do atentado na sua sede.
Ninguém corta a raiz ao humor e à sátira.
Mas que isto não faça esquecer o que se passa na Faixa de Gaza, na Síria, no Iraque, na Nigéria.
"Je Suis Charlie" deu azo a muita hipocrisia...e a olhar para o nosso umbigo europeu
Mas teremos de ser "Je Suis Un Être Humain" em todos os pontos do globo onde a dignidade das pessoas for violentada.
De diversas e terríveis maneiras.
Wolinsky, Charb, Cabu e Tignous, e os seus outros companheiros, decerto o desejariam.
E não a vontade da "brigada do reumático" da liderança europeia em restringir a Liberdade e a Democracia, o que se traduziria numa vitória dos assassinos.
Para que os mártires de Paris ( e não só!) não comecem às voltas no túmulo!  

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

PARIS AINDA NÃO ESTÁ A ARDER?

 
Foi linda a festa pá, como diria Chico Buarque.
Mas só a festa não chega.
Agora que alguns dispensáveis macambúzios que encabeçavam a manifestação de Paris, demonstram que não aprenderam nada.
Com efeito, não estão em causa os milhões que, no Mundo, na Europa, especialmente em França, muito particularmente em Paris, generosamente se bateram pelos princípios sagrados da Liberdade, Igualdade e Fraternidade, com grande ênfase na Liberdade de Expressão, cruelmente atingida no massacre do Charlie Hebdo ( e quantos conhecem esta iconoclasta revista?).
As pessoas compreenderam que está em causa a Liberdade. E a Dignidade. Em França, na Europa e, também, no mundo, onde bloggers são condenados a 10 anos de prisão e 600 chicotadas (Raif Badawi, na Arábia Saudita), onde meninas de 10 anos são mandadas morrer e matar (Nigéria).
E que para que a Liberdade se consolide é necessário consolidar dos direitos económicos e sociais, a inclusão, a integração, a mobilidade vertical, a hipótese de darmos iguais oportunidades a todos, a transformar também a Fraternidade e a Igualdade em palavras substantivamente vivas e actuantes.
Não basta gritar "Je Suis Charlie" (quando, no fundo, até se é contra, ou nem se sabe o que é...), desfilar, discursar com lágrima ao conto do olho.
É preciso mudar o estado actual de uma Europa moribunda. Cortar a austeridade, fomentar a economia, o ensino, a multicultura, combater a discriminação, a marginalização.
Acima de tudo, é preciso voltar a pegar nas generosas bandeiras que fizeram de Paris, e da França, uma referência e não permitir que as mesmas sejam roubadas por populismos perigosos como os berrados por uma qualquer Le Pen ou um qualquer Portas.
Por isso é mau, muito mau, que de Paris venham notícias de que os tristes líderes da Europa queiram voltar a discutir fronteiras e o acordo de Schengen, regando com gasolina a fogueira do fanatismo, obscurantismo e intolerância.
Será que, como sucedeu ao longo da História, Paris terá de novo de se incendiar, na mais nobre acepção da palavra, e voltar a erguer barricadas para defender a Liberdade?   

("Ah! Le Joli Mois de Mai à Paris!" - Hino cantado durante os acontecimentos de Maio de 1968)

sábado, 10 de janeiro de 2015

1143 BESTAS

 

Vandalizar, pela calada, a Mesquita de Lisboa demonstra grande coragem, por parte dessa meia dúzia (e talvez não 1143...) de bestas iletradas.
Ainda por cima com números inventados por...árabes!
A data escolhida também revela grande cultura.
Tudo isto é boçal, mesquinho, cobarde, nojento, ignorante.
Ignorância do que é o Islão.
Ignorância do que, desde há séculos, é a relação entre a Europa e o mundo Muçulmano.
Ignorância do que é a História, e todos os seus desenvolvimentos.
Ignorância do que, mais recentemente, a rendição incondicional dos sociais-democratas e socialistas ditos democráticos aos diktats da austeridade, da desregulação, da liberdade desenfreada dos mercados, tem trazido de tragédia para minorias (mulheres, jovens, emigrantes de 2ª. e 3ª. gerações) que sofrem na pele tais políticas.
Ignorância de que não foi para isto que foi fundado o projecto europeu.
Ignorância quanto ao facto de, se de facto foi concedida aos povos colonizados a independência, ainda existe subjacente uma colonização cultural difícil de extinguir. 
Ignorância, ainda, de todas as asneiras, gravíssimas, que o Ocidente tem perpetrado, desde a aceitação de um estado espúrio (Israel), a uma política de alianças desastrosa, de ditadores a terroristas confessos, que só tem alimentado inimizades e frustrações nas populações, abrindo caminho a todos os aventureiros, demagogos e populistas.
E se, face aos bárbaros acontecimentos de 8 de Janeiro de 2015, indefensáveis seja qual for a abordagem, a Europa responder com:
Medidas securitárias que instalem o medo, o olhar por cima do ombro a cada esquina, o espreitar enviesado do que faz o vizinho ou o colega ao lado, suspender o tratado de Schengen, expulsar imigrantes aleatoriamente, restaurar  pena de morte, enfim, sufocar a democracia em vez de  abrir, corajosamente, a todos, com liberdade, igualdade, fraternidade, também nos níveis económico e social, então,
O Terror, a Mentira, o Obscurantismo, o Fanatismo, a mais absoluta Ignorância terão vencido!
E a memória dos mártires do Charlie Hebdo insultada para sempre!

   
       

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

URGÊNCIAS HOSPITALARES : A MORTE SAIU À RUA!


Em pouco mais de duas semanas, registam-se 4 mortes em urgências hospitalares, da rede do Serviço Nacional de Saúde.
Doentes a mais? (quem os mandou adoecer?)
Médicos a menos? (não emigrassem...)
Macas em falta? (roubam-se aos bombeiros!)
Planeamento deficitário? (o que é isso de planeamento?)
Tudo isto, e mais alguma coisa, mas o facto é que a causa é apenas uma:
-A sistemática, calculada e ideologizada destruição do Serviço Nacional de Saúde, com transferência das suas capacidades, e do lucro inerente, para o sector privado, com concomitante restrição do acesso à saúde, tendencialmente gratuito, por parte do universo dos utentes, leia-se, a esmagadora maioria do povo português.
A responsabilidade é política, e tem o rosto do seráfico Paulo Macedo.
Preto no branco.
Todos os cortes orçamentais, toda a redução da assistência prestada pelos SAP, todo o encerramento de serviços de proximidade, toda a contratação de médicos à tarefa, a €30,00 euros à hora, quando um médico efectivo custa €15,84 euros pelo acordo de 2012, toda a perseguição política a médicos e enfermeiros, com trágica repercussão na prestação dos serviços de saúde e na qualidade de vida dos doentes (ou de morte?), tem apenas um fim: destruir o Serviço Nacional de Saúde e privilegiar o capital privado.
Tudo o resto é mera propaganda. 
Para que se veja bem a árvore e não a floresta.
De enganos!


("A Morte Saiu à Rua" - José Afonso)

MAIS UM TIRO NO PÉ!

 

“O Conselho Científico considera que nenhuma avaliação pontual, realizada através de uma prova escrita “de papel e lápis” com a duração de duas horas, é efetivamente válida e fiável se não for integrada numa estratégia global e contínua de formação e avaliação. Assim sendo, a PACD afigura-se-nos como uma iniciativa isolada, cujo propósito mais evidente parece ser o impedimento ou obstaculizar o acesso à carreira docente.” - Extracto do Parecer do Conselho Científico do IAVE (Instituto de Avaliação Educativa, I.P)

Não bastavam ao Crato as trapalhadas da colocação de professores, a contestação generalizada dos agentes educativos (pais, alunos, professores, auxiliares) perante a declarada e implementada destruição da Escola Pública.
E um dos aspectos mais criticados foi a chamada Prova de Avaliação de Conhecimentos e Capacidades para professores contratados, menorizando a sua competência e de quem os formou.
E agora, para cúmulo e vergonha do Sr. Ministro, vem agora um Instituto que faz parte do seu Ministério a pôr em causa, com argumentos técnicos e científicos (e não políticos, Sr. Crato....) tal famigerada prova.
Donde se prova que não é Ministro quem quer, ou quem tem um programa ideológico próprio, ao arrepio do sentir da academia e da sociedade.
De facto, ó Crato, há dias em que não se pode sair à rua.....



Em anexo: Texto completo do Parecer


NOUS SOMMES TOUS CHARLIE!

 

"Senhor, não estou de acordo com a vossa caricatura, mas bater-me-ei até à morte para que a possais desenhar" - Voltaire, Paris, 7 de Janeiro de 2015.

Não há cristianismo, islamismo, judaísmo, hinduísmo, budismo, socialismo, capitalismo, ismo disto, ismo daquilo.
Não há Deus, Alá, Jeová, Vishnu, Shiva, Manitu.
Não há cruzadas,  pogroms, sharias, quartéis, fábricas, bancos, escolas, ideologias, credos, miséria de filosofias.
Há um bem absoluto, por cima de isso tudo: A Liberdade!
E, mais, a Liberdade de Pensamento.
E, ainda mais, a Liberdade de Expressão.
E a poderosa Liberdade de Rir e Fazer Rir.
Como o fizeram quatro dos melhores cartoonistas mundiais, ontem cobardemente martirizados, com mais oito pessoas:
(Wolinsky, Cabu, Charab, editor-chefe e Tignous, cartoonistas eternos)

Porque um jihadista, um cruzado, um marine, fanatizado pela sua missão, pode matar e morrer e, depois, sentir-se confortado por ir para junto da mão direita de Deus ou para o seio de 100.000 virgens. A morte não o faz tremer.
Como, perante a mesma, não treme o capitalista, o agiota, o especulador, o traficante, o mafioso. A sua missão é matar, pelo dinheiro e pela privação do mesmo a milhões de pessoas.  
Tal como não tremem todos os fanáticos, inquisidores, torcionários, censores, corruptos, ditadores de todos os géneros.
Mas, perante o riso...
O Riso despe o prepotente, cobre-o de ridículo, expõe fraquezas e complexos.
O Riso é o pior inimigo de todos os ditadores.
A crítica mais eficaz a Hitler foi feita por Charlie Chaplin em "O Grande Ditador"


O Riso é perigoso. A ortodoxia sinistra matava quem ria ou quem fomentava o riso, incluindo o riso de Deus, como magistralmente escreveu Umberto Eco em "O Nome da Rosa".
O Riso faz pensar, congregar, unir, transmite alegria de viver, reduz o Absoluto ao relativo, ao efémero, ao ridículo. É uma arma poderosa.
E por isso, o texto, a imagem, a sátira, a caricatura são um inimigo letal, a abater, a calar.
E, agora, mal irá se o medo instituir uma espécie de auto-censura nos produtores de textos, imagens, cultura.
Seria um insulto que os mortos do Charlie Hebdo não perdoariam, e uma vitória do analfabetismo criminoso.
A Liberdade, a Liberdade de Pensamento, a Liberdade de Expressão não podem dar tréguas a quem quer que seja.
Somos TODOS NÓS que estamos em causa.
A tirania vence-se mantendo os nossos ideais, as nossas iniciativas, sem vergar.
E, mais particularmente, na pátria dos Direitos Humanos, na cidade que, também em Maio de 1968 quis mudar o mundo e mentalidades.
"A Marselhesa", hino que conduz a Liberdade, Igualdade, Fraternidade, passará, eternamente, por sobre todas a botas cardadas, kalashnikovs, patriots, burkas, cruzes, sarins, censuras, fanatismos, despotismos e analfabetismos.
Na ponta de uma caneta, de um pincel, na tecla de um computador, num ecran de tablet, numa música, num filme.



quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

GRÉCIA : RESSURGIRÁ!


A Grécia tem eleições legislativas marcadas para o próximo dia 25 de Janeiro.
O partido "Syriza", de esquerda, encontra-se à frente das sondagens conhecidas e apresenta, lucidamente, como prioridade, a renegociação da sua dívida soberana.
Dívida que, tal como Portugal ou Irlanda, foi engordada com a transferência da dívida especulativa, manobrada por bancos alemães e/ou franceses, e outras instituições financeiras especialistas em agiotagem, para a população e o estado gregos Ou portugueses. Ou irlandeses. Ou espanhóis. Ou italianos.
Estes povos não "viveram acima das suas possibilidades", como dizem os colaboracionistas.
Sofreram uma brutal desvalorização do factor trabalho para o capital, maquinação orquestrada pela Alemanha, como principal beneficiária dessa transferência, com a conivência de outros "satélites", como o triste François Hollande e outros "sociais-democratas" que desistiram de o ser.
E agora que a Grécia, pelas posições do "Syriza", parece assustar o statu quo daquilo a que se chama União Europeia, cai sobre ela a descarada ingerência da Sra. Merkel, com o fiel Hollande pela trela, ameaçando, chantageando o povo grego que, parece, está proibido de exercer o seu direito.
E isto vindo de uma Alemanha que viu, sucessivamente, renegociadas e perdoadas as suas próprias dívidas.
E que obrigou e obriga a pagar os custos da sua reunificação, aproveitando para converter o Marco em Euro...
É esta a "democracia" que querem para a União Europeia?
É esta a arquitectura do euro?
Até Mario Draghi já coloca em causa o funcionamento da união monetária...
A Grécia é a pátria europeia da Democracia e da Cultura.
Sejamos com ela solidária, e que isto não se transforme numa...tragédia grega.
E já agora...por onde anda a dívida alemã, pelas atrocidades cometidas pelos nazis na Grécia e que, em 2013, foi avaliada em 162 mil milhões de Euros?

Quem amou a Grécia foi a nossa imortal Sophia de Mello Breyner Andresen.
É seu o poema seguinte, "Ressurgiremos":

Ressurgiremos ainda sob os muros de Cnossos
E em Delphos centro do mundo
Ressurgiremos ainda na dura luz de Creta
Ressurgiremos ali onde as palavras

São o nome das coisas
E onde são claros e vivos os contornos
Na aguda luz de Creta
Ressurgiremos ali onde pedra estrela e tempo

São o reino do homem
Ressurgiremos para olhar para a terra de frente
Na luz limpa de Creta

Pois convém tornar claro o coração do homem
E erguer a negra exactidão da cruz
Na luz branca de Creta

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

SEGREDO DE JUSTIÇA...

 
De acordo com a douta opinião do procurador Teixeira e do juiz Alexandre, as recentes declarações de José Sócrates a questões colocadas pela TVI, podem violar o segredo de justiça, uma vez que, dirão eles, segundo o "Diário de Notícias" de 4/01/2015, reproduzirão o que foi dito em interrogatório e perturbar a investigação.
Isto é o que, sumariamente, vem descrito na peça.
Já aqui se escreveu que, por enquanto, Sócrates, para todos os efeitos legais e cívicos, ainda é inocente, aguardando-se que a Justiça cumpra, de facto, o seu papel, não cabendo neste fórum apreciar ou não a sua culpabilidade.
Mas... e o "mas" é uma palavra muito aborrecida, violar o segredo de justiça?
Aqui, não se tratou de nenhuma entrevista, tão só a divulgação de uma versão sobre alguns dos factos com os quais o cidadão em causa se viu confrontado e que, como presumivelmente inocente, aborda de acordo com a sua óptica.
Depois, que moral têm para, até, se pensar em sanções por "violação do segredo de justiça", aqueles que, desde a detenção do ex-primeiro ministro se deliciam em passar para certa "imprensa", resmas de dados sobre o processo que deveria, esse sim, estar em seguro "segredo de justiça"?
Como se fosse premeditado...
O que se passa nas doutas cabeças? Delírio, confusão, mesquinhez?
Tudo isto seria para rir, se não mostrasse, tragicamente, o lado mais negro em que se encontrará um dos pilares da democracia, que é o da Justiça. 

(As doutas cabeças analisando, responsavelmente, o Processo...)

JÚLIO ISIDRO : 70 ANOS!


Parabéns Júlio Isidro, pelos 70 anos que hoje comemoras!
Parabéns por 54 anos de companhia, na Rádio e na Televisão, onde inovaste como poucos e onde patenteaste um bom gosto como pouquíssimos.
Parabéns, companheiro do Lyceu Camões, e das sessões de aeromodelismo, que transporias para o "Programa Juvenil" que, em 1960, com 15 anos, haverias de apresentar, na companhia, entre outros da Lídia Franco e do...João Lobo Antunes!
Parabéns por verdadeiros achados como "Grafonola Ideal" ou "Febre de Sábado de Manhã" na Rádio Comercial, com actuações ao vivo (!) em espaço como o "Nimas" e onde, também, havia lugar para a poesia, pela voz única de Mário Viegas.
Parabéns pelo arejado e inteligente "Passeio dos Alegres" na RTP, onde se continuou a apreciar Mário Viegas, a entrevista, a música e, também, o humor de um tal Tony Silva/Herman José.
Parabéns por outros programas, outras intervenções, outros livros infantis.
Mas parabéns, acima de tudo por, nos três programas atrás destacados, teres trazido para a ribalta a Música Portuguesa (não a reduzamos a um hipotético "rock português"...), 15 anos após o Zip-Zip, e aparecerem à nossa frente, entre tantos e tantos que convocaste, nomes como Rui Veloso, GNR (ainda com Vítor Rua), Heróis do Mar, Xutos e Pontapés, Táxi, António Variações. E tantos, nos estúdios, no "Noite e Dia", no "Nimas".
Parabéns que, espera-se. a música e os músicos portugueses te dirijam, que o mereces.
Parabéns, também, pela postura cívica, bem patente no texto que, em anexo, se publica, e que escreveste o ano passado, sobre um tal mês de Abril.
Mais do que parabéns, Obrigado Júlio.
E continua, que hoje és apenas um jovem a fazer voar aviões de contraplacado e sonhos
E fica-te com um dos nomes que mais admiraste e cuja morte mais choraste: António Variações

("Estou Além")

Anexo: Júlio Isidro, Abril, Liberdade... 

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

DIA MUNDIAL DA PAZ

 

O dia 1 de Janeiro é, de há muitos anos, consagrado como o Dia Mundial da Paz.
Geralmente, em efemérides como estas, abre-se a boca para dizer uns tantos chavões bem intencionados, que acalmam consciências que, no fundo, até poderão ser pouco pacíficas.
Mas este ano, alguém teve a coragem de colocar o dedo nas feridas e afirmar o que é indispensável para se ter, de facto, Paz:

"Todos estamos destinados a ser livres, todos a ser criança, e cada um, de acordo com a sua responsabilidade, a lutar contra as formas modernas de escravatura", definindo como tais formas a pobreza, o subdesenvolvimento, a exclusão, combinadas com a falta de acesso à educação ou com as escassas oportunidades de trabalho, que caracteriza a realidade actual, acentuando que as empresas devem proporcionar boas condições de trabalho e salários dignos.
Acentuou, ainda, que a corrupção "acontece no centro de um sistema económico onde está o deus dinheiro e não o homem, a pessoa".

E foi algum líder político ou sindical que denunciou estas grilhetas que impedem a Paz, como é seu dever?
Não, foi o chefe da Igreja Católica Apostólica Romana.
O Papa Francisco.
Ou...terá sido Jorge Bergoglio?  

DISCURSO DE ANO NOVO


Olhou para as câmeras de televisão.
Abriu a boca.
Balbuciou qualquer coisa.
Não disse nada.
Sequer uma palavra.
Menos um pensamento.
Nenhuma ideia nova.
E seria de esperar outra coisa?
O ZERO ABSOLUTO é, e só,
O ZERO ABSOLUTO.
A Presidência da República esteve entre parêntesis 10 anos!

("Como se faz um canalha" - José Afonso)