sexta-feira, 29 de novembro de 2013

MAIS APELOS À VIOLÊNCIA...

 
Este homem já começa a incomodar muito boa gente, pelos seus constantes e evidentes apelos à violência.
De facto, não bastou criticar o capitalismo selvagem, vem agora condenar o desemprego jovem, como qualquer ignóbil impune que não compreende os altos desígnios das gentes iluminadas, como diriam  o deputado Nuno Melo, o bitaites Marcelo, o beato João César das Neves ou o mentiroso compulsivo Paulo Portas.
Em entrevista ao canal de televisão argentino "Todo Noticias", conduzida pelo prestigiado realizador de cinema e senador Fernando "Pino" Solanas, perigoso agitador esquerdista, Sua Santidade teve a coragem de afirmar:
"Hoje em dia vivemos, por esse sistema internacional injusto em que o deus do dinheiro é o centro, uma cultura descartável onde se atiram fora os velhos e se atiram fora os jovens."
"Em alguns países da Europa, não vou mencionar quais, mas sabemos elas estatísticas, há hoje em dia 40% em um (qual?), e em outro 46% de desocupação dos jovens. Toda uma geração de jovens não tem trabalho".
Ontem foi confirmado o despedimento de 609 pessoas nos Estaleiros Navais de Viana do Castelo.
Feliz Natal...

Ó MAR SALGADO...

 
Voltem-se na direcção do mar, dizem...
O Mar é o futuro, acrescentam,
Cavaco enche a boca de mar,
O governo, rafeiro, segue-lhe a cauda...
Com o ministro das feiras, mentiroso, à cabeça,
O mar só é bom na inutilidade dos seus submarinos....
E o mar de Viana do Castelo?
E os 609 na rua, no Natal?
E dormem descansados, de consciência tranquila?
E fizeram tudo? Mas mesmo tudo, a esta empresa nacional?
Ou assobiaram e fizeram o frete aos amigos?
E fizeram este crime social!
Este mar é o do vate Fernando,
Mar salgado das lágrimas desta terra.
"Esta economia mata!", diz Sua Santidade Francisco. 
Então matemo-la, antes que nos mate a nós!
 

O BEATLE TRANQUILO

 
Morreu há 12 anos.
Foi conhecido como o "Beatle tranquilo", um ouco na sombra dos talentos de gigantes como Paul McCartney e John Lennon.
Mas vale a pena ouvir as raras mas belissimas composições de George Harrison, do tempo imortal dos Fab Four.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

MAS TAMBÉM SE ABATEM

 
Passam hoje trinta anos sobre o dia em que começaram os trabalhos para a demolição do histórico cinema Monumental.
O camartelo soou mais forte que a cultura.
Entretanto, os cinemas foram fechando em todo o país, e não só em Lisboa (onde poderíamos recordar o Tivoli, São Jorge, Apolo 70, Império, Estúdio, o inesquecível Quarteto).
Mesmo ponderadas respeitáveis situações de ruptura financeira, é sempre lamentável testemunhar o encerramento de locais onde se mostravam culturas diversas, propostas cinematográficas diferentes e onde, acima de tudo ríamos, chorávamos, pensávamos, reflectíamos, namorávamos, vivíamos a vida.
Eram os "cinemas paraíso" das nossas memórias.
E este semana foi outro, em Lisboa, o King, onde se passaram centenas de filmes admiráveis, onde a cinematografia europeia de autor, por exemplo, foi acolhida para prazer dos cinéfilos.
E a seguir?
Alguém chegará ao ponto, por exemplo, de deixar a Cinemateca morrer de asfixia?
Cuidado, que esta gente, que de cultura nada sabe, é perigosa e abrirá as portas para que tudo a troika leve! 

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

QUO VADIS, DOMINE?

Poder-se-ia dizer que a recente exortação do Papa Francisco ("Evangelii Gaudium") é mais uma surpresa do homem que calça as sandálias do pescador.
Mas, vendo bem, atendendo ao seu percurso, o que Francisco critica já não constitui surpresa.
Com efeito, denominar o capitalismo sem limites de "nova tirania", afirmar que a desigualdade e a exclusão social geram violência no mundo e podem provocar uma "explosão", reforçar que todos têm direito a "trabalho digno, educação e cuidados de saúde, asseverar que "tal como o mandamento 'Não matarás' impõe um limite claro para defender o valor da vida humana, hoje também temos de dizer 'Tu não' a uma economia de exclusão e desigualdade. Esta economia mata", não deverá espantar na boca e na caneta deste homem.
Espantoso é pessoas (serão humanos?) que se dizem católicas voltarem a cara para o lado e ignorarem estas sábias palavras. Vendilhões do templo!
Não é verdade, Paulo Portas ou João César das Neves?

JIMI HENDRIX

 
Nasceu a 27 de Novembro de 1942 em Seattle, e morreu em Londres a 18 de Setembro de 1970, por overdose, assassinado, a polémica e a lenda persistem.
Mas foi o melhor guitarrista de rock e chamava-se Jimi Hendrix.
Guitarrista, cantor, compositor, começou a tocar um ukelele encontrado na sucata onde o pai trabalhava.
Filho de afro-americanos, herdou sangue índio através da avó materna (com ancestrais cherokee), de que muito se orgulhava o que, também, influenciou a sua música.
Influenciado por guitarristas de blues como T. Bone Walker, Muddy Waters ou B.B. King, o jovem Jimi viria a fazer parte da banda deste último, bem como da que acompanhava Little Richard, relativamente ao qual chegou a dizer que queria fazer com a guitarra o que Richard fazia com a sua voz.
Também colaborou com o mítico Frank Zappa e os seus Mothers of Invention, tendo Frank introduzido Jimi na técnica do pedal wah-wah, que viria a explorar inovadoramente.
Tal como a sistemática utilização de amplificadores distorcidos e crus, a técnica da microfonia, e o recurso à escala pentatónica (cinco notas ou tons), muito utilizada por grupos de blues e rock, e teorizada por um tal de Pitágoras.
Em 1966 muda-se para Londres, onde alcança um grande sucesso, e onde o seu estilo "incandescente" de tocar guitarra (mais tarde, como corolário dos espectáculos, queimá-las-ia no palco) rapidamente conquistou uma selecta legião de admiradores, de Eric Clapton a Jeff Back, de Paul Mc Cartney a Pete Townsend (The Who), e até um certo Farrokh Bulsara, a quem o mundo se renderia com o nome de Freddie Mercury.
Desta fase resulta o mítico "Hey Joe"
 
Acedendo a insistência de Paul McCartney, participa, em 1967 no Festival de Monterey, o que lhe abriu de par em par as portas do seu país natal, que não hesitou em estender-lhe a passadeira vermelha.
Lança, com a sua banda, o álbum "Are You Experienced?", que só não chega ao nº.1 dos tops porque, entretanto, alguém tinha publicado um tal de "Sgts. Pepper's Lonely Hearts Club Band".
"Purple Haze" fazia parte desse disco.
 
 
Nesse ano ainda publicaria "Axis: Bold as Love" e, em 1968, "Electric Ladyland".
Por essa altura, os problemas com as drogas e o álcool começam a afectá-lo, prejudicando digressões e gravações. Cansado das imposições comerciais, decidiu fundar o seu próprio estúdio de gravação, em Nova Iorque, onde pensava explorar a sua música até aos limites.
O estúdio só ficaria pronto em meados de 1970, pouco antes de morrer.
Hendrix expandia os horizontes da sua música, das suas guitarras, mas, gradualmente, veio a criar conflitos com os músicos da sua banda e, também, atritos com o público.
Em Agosto de 1969 forma novo grupo ("Gypsy Suns and Rainbows"), para tocar no festival que, de 15 a 18 desse mês, se realizaria em Woodstock, no estado de Nova Iorque.
 
E o facto é que, tanto o Festival de Woodstock, como a actuação de Jimi Hendrix no mesmo, passaram  para a história do rock. Por mérito próprio. Foi nesse palco que Jimi fez, com a sua guitarra, uma interpretação muito pessoal do hino americano, na qual se viram críticas subtis à guerra no Vietnam, com intercalação de sons de guerra, produzidos por Hendrix na guitarra, o que lhe valeu o ódio das camadas mais reaccionárias dos Estados Unidos.  
Em Agosto de 1970 ainda tocaria no Festival da Ilha de Wight (Inglaterra), mas já sem o êxito de Woodstock.
Ainda concebeu o projecto para uma nova banda, a designar por "Help" (Hendrix, Emerson, Lake e Palmer), que nunca viu a luz do dia. Mas os Emerson Lake & Palmer continuaram, como se sabe.
Morreria a 18 de Setembro de 1970.
Entrou, pelo seu próprio pé, e com a sua guitarra, para o panteão das figuras imortais do rock.
Os Estados Unidos devem mostrar-se orgulhosos deste inesquecível descendente dos seus índios nativos.
 

   

terça-feira, 26 de novembro de 2013

CESARINY

 
Foi há sete anos.
A 26/11/2006, aos 83 anos, vítima de cancro na próstata desaparecia um dos maiores vultos do surrealismo português: Mário Cesariny de Vasconcelos.
Estudou no Liceu Gil Vicente e na António Arroio, onde se especializou como ourives, para seguir a profissão paterna.
Mas cedo revelou o seu pendor para a poesia e para a pintura.
Em 1947, conhece em Paris André Breton, teórico do novo movimento estético e, no mesmo ano, é um dos fundadores do grupo surrealista, com autores como António Pedro, José Augusto França, Alexandre O'Neill ou Vespeira, grupo que se reunia regularmente na Pastelaria Mexicana.
A partir de 1950, dedica-se especialmente à poesia, que escrevia nos cafés.

"Em todas as Ruas te Encontro" 
Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto    tão perto    tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura
Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco"
(Mário Cesariny - "Pena Capital")

 
 
Face às dfiiculdades financeiras com que se veio a debater, Cesariny, a partir de 1960, passaria a dedicar-se, quase por inteiro, à pintura.
Dificuldades agravadas pela assumida homossexualidade, sendo objecto de metódica vigilância pela Polícia Judiciária. estigma de que só se libertaria após o 25 de Abril.
Recebeu o Grande Prémio Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores em 2005, pelo conjunto da sua obra e, no mesmo ano, a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade.
Mário Cesariny de Vasconcelos, pintor e poeta livre!

VIOLÊNCIA

Ontem celebrou-se o Dia Internacional para a Eliminação de Todas as Formas de Violência contra as Mulheres, o quem colocar na ordem do dia, também, a violência doméstica.
Desde 2004, registaram-se 330 mulheres mortas, 33 este ano, até ao dia de hoje.
Apenas um terço das acusações apresentadas em Tribunal resultam em condenações, isto ao nível dos tribunais de Lisboa.
Neste país de brandos costumes, a violência sobre as mulheres é, acima de tudo, um problema civilizacional e de educação.
A nível geral, a discriminação já vem de tempos em que os machos eram caçadores/recolectores, e as mulheres se ocupavam das tarefas domésticas e de parir criancinhas.
A evolução social fez o caçador ir atrás das presas na guerra ou no escritório.
A mulher ficava no castelo com o cinto de castidade, ou era denominada de "fada do lar".
Tratar da sopa, da vassoura e das crianças era o seu destino "natural" e "tradicional".
A mulher devia obediência ao marido ou ao companheiro.
A matriz católica da nossa sociedade, que diabolizou a mulher, origem de todos os pecados, acentuou ainda mais a divisão entre o mundo macho e o universo feminino.
A adúltera era apedrejada ou queimada (bruxas de Salem...), o adúltero e gigolo era um herói entre os seus pares. Matar a mulher pecaminosa era bem aceite pela sociedade.
O prazer era masculino, interdito às mulheres, estigmatizadas pelo pecado da carne.
Casar, reproduzir, baixar a cabeça, eram os mandamentos impostos e aceites.
A dependência não se verificava apenas a nível da residência, do dinheiro. Estendia-se ao sexo.  
A própria lei civil, a reboque dos cânones católicos, estabelecia a divisão dos sexos, estigmatizava a mulher, que não podia votar, não podia estudar, não podia trabalhar, devia obediência cega ao "chefe da família".
"Quem manda em  casa é ela, mas quem manda nela sou eu!", "Quanto mais bates, mais eu gosto de ti", "Rédea curta e porrada na garupa", mais do que provérbios "populares", são o retrato de uma sociedade machista, inculta, violenta, e nunca frases amorosas.
Como o pontapé, o soco, o tiro, não são gestos de amor, mas apenas reles atitudes criminosas.
Reflectem princípios educacionais, inculcados durante séculos, que justificavam todos os abusos.
Quando no início do século passado, durante a I República e, designadamente, após o 25 de Abril,  se tomou consciência que a mulher tinha, exactamente, os mesmos direitos que os homens, quer a nível educativo, político, social, laboral, salarial, sexual, verificou-se uma gradual, embora lenta, aproximação entre os dois sexos, como sempre deveria ter sucedido.
E a mulher, de pleno direito, assumiu os mesmos direitos e responsabilidades que o homem, com luta e esclarecimento sempre que necessários.
E invadiu os terrenos de caça dos caçadores.
E há quem não goste.
E quem reaja com violência, com medo de mostrar a sua própria impotência e ignorância.
A lamentável e condenável violência exercida sobre as mulheres é o resultado de educação e conceitos distorcidos, de "tradição" a romper, de correntes que ainda amarram muitas consciências.
Mas também é uma violência social e o reflexo de uma luta entre classes que, no fundo, são a mesma classe, como é indispensável perceber.
É preciso compreender que a urgente e completa erradicação da violência sobre as mulheres, em todo o mundo, acrescenta-se, será também, e sempre, a libertação dos homens.
Porque mulheres e homens livres nunca serão violentos. Têm algo de muito mais bonito e importante para fazer. A vários níveis.
Como lutar contra TODA a violência!

       

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

GEORGE BEST

Morreu há 8 anos.
Foi um dos mais geniais futebolistas de todos os tempos.
O melhor jogador britânico de sempre, irlandês orgulhoso nascido em Belfast em 1946.
Merece, sem qualquer dúvida, entrar, por direito próprio, no panteão onde figuram os génios que jogaram ou jogam à bola, como Maradona, Eusébio, Pélé, Cruyff, Beckenbauer, Zidane, Cristiano Ronaldo ou Messi.
Espírito rebelde, cabelos compridos ao vento, viveu demasiado depressa, morreu demasiado novo (59 anos). Live fast, die young...
Carros, álcool, drogas, companhias duvidosas, de tudo provou George Best até ao limite, ele que fez o futebol saltar das páginas interiores para as primeiras páginas dos jornais.
Pegava na bola, acelerava, tirava os adversários do caminho, marcava ou dava a marcar.
O seu eterno Manchester United dedicou-lhe uma estátua, como o fez a outros dois nomes míticos do clube, Denis Law e Bobby Charlton, para não falar do treinador Matt Busby, que criou o United,  e que Sir Alex Ferguson continuou.
Ao serviço do Manchester, e às custas do Benfica, conquistou a primeira Taça dos Campeões Europeus ganha por um clube inglês, e venceu o prémio do France Football para o melhor jogador do ano (1968).
Brilhou nos fabulosos anos 60, onde chegou a ser apelidado de "5º. Beatle".
Já em decadência, abandonou o Manchester em 1974, deixando atrás de si 361 jogos e 137 golos.
E deixou, também na sua Irlanda do Norte natal, uma imensa saudade, que nenhum outro jogador conseguiu preencher. George Best era único, e permanecerá sempre único.
O aeroporto internacional de Dublin foi baptizado "George Best".
Uma das canções que os U2 escreveram para o filme "Em Nome do Pai" (1993, de Jim Sheridan, com Daniel Day-Lewis) presta singela homenagem ao excepcional futebolista:
"In the name of United/and the BBC/In the name of George Best/and LSD"

domingo, 24 de novembro de 2013

O SONHO COMANDA A VIDA

 
Nasceu neste dia, em 1906.
Chamava-se Rómulo de Carvalho.Ou será António Gedeão?
Com o incentivo da mãe, leu, precocemente, Eça, Camilo, Cesário, As Mil e Uma Noites, que viria a considerar uma das suas bíblias.
Tentado pela literatura, escrevedor de poemas desde os 5 anos, apaixonou-se pelas ciências, especialmente física e química, vindo a licenciar-se nestas disciplinas na Universidade do Porto.
Pedagogo e divulgador das ciências, profissionalizou-se como professor de Física e Química, leccionando nos Liceus Pedro Nunes e Camões.
"Professor tem de ser uma paixão - pode ser uma paixão fria, mas tem de ser uma paixão.Uma dedicação". Assim definia o professor Rómulo de Carvalho a nobre actividade de um professor (tão longe do Crato...mas este não sabe nem sonha.). Para além de leccionar, foi autor de excelentes compêndios escolares de Física e Química (pelos quais o autor destas linhas estudou no antigo 7º. ano liceal), divulgando estas matérias em colecções como "Ciência para Gente Nova" e "Física para o Povo".
Para além desta actividade, foi pedagogo e divulgador da história da ciência, com vasta obra publicada abordando estas vertentes, trabalhando e investigando até ao fim da sua vida, tendo falecido a 19/02/1997.
O dia 24 de Novembro foi proclamado Dia Nacional da Cultura Científica.
Mas nunca deixou de escrever poesia.
Aos 50 anos, e sob o pseudónimo António Gedeão, publica o seu primeiro livro de poesia, "Movimento Perpétuo", que foi bem recebido pela crítica.
António Gedeão combina, de forma superior a poesia com a ciência, reflectindo também os problemas portugueses da época, e a ausência de liberdades.

Poema para Galileo
Estou olhando o teu retrato, meu velho pisano,
aquele teu retrato que toda a gente conhece,
em que a tua bela cabeça desabrocha e floresce
sobre um modesto cabeção de pano.
Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da tua velha Florença.
(Não, não, Galileo! Eu não disse Santo Ofício.
Disse Galeria dos Ofícios.)
Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da requintada Florença.
Lembras-te? A Ponte Vecchio, a Loggia, a Piazza della Signoria…
Eu sei… eu sei…
As margens doces do Arno às horas pardas da melancolia.
Ai que saudade, Galileo Galilei!
Olha. Sabes? Lá em Florença
está guardado um dedo da tua mão direita num relicário.
Palavra de honra que está!
As voltas que o mundo dá!
Se calhar até há gente que pensa
que entraste no calendário.
Eu queria agradecer-te, Galileo,
a inteligência das coisas que me deste.
Eu,
e quantos milhões de homens como eu
a quem tu esclareceste,
ia jurar- que disparate, Galileo!
- e jurava a pés juntos e apostava a cabeça
sem a menor hesitação-
que os corpos caem tanto mais depressa
quanto mais pesados são.
Pois não é evidente, Galileo?
Quem acredita que um penedo caia
com a mesma rapidez que um botão de camisa ou que um seixo da praia?
Esta era a inteligência que Deus nos deu.
Estava agora a lembrar-me, Galileo,
daquela cena em que tu estavas sentado num escabelo
e tinhas à tua frente
um friso de homens doutos, hirtos, de toga e de capelo
a olharem-te severamente.
Estavam todos a ralhar contigo,
que parecia impossível que um homem da tua idade
e da tua condição,
se tivesse tornado num perigo
para a Humanidade
e para a Civilização.
Tu, embaraçado e comprometido, em silêncio mordiscavas os lábios,
e percorrias, cheio de piedade,
os rostos impenetráveis daquela fila de sábios.
Teus olhos habituados à observação dos satélites e das estrelas,
desceram lá das suas alturas
e poisaram, como aves aturdidas- parece-me que estou a vê-las -,
nas faces grávidas daquelas reverendíssimas criaturas.
E tu foste dizendo a tudo que sim, que sim senhor, que era tudo tal qual
conforme suas eminências desejavam,
e dirias que o Sol era quadrado e a Lua pentagonal
e que os astros bailavam e entoavam
à meia-noite louvores à harmonia universal.
E juraste que nunca mais repetirias
nem a ti mesmo, na própria intimidade do teu pensamento, livre e calma,
aquelas abomináveis heresias
que ensinavas e descrevias
para eterna perdição da tua alma.
Ai Galileo!
Mal sabem os teus doutos juízes, grandes senhores deste pequeno mundo
que assim mesmo, empertigados nos seus cadeirões de braços,
andavam a correr e a rolar pelos espaços
à razão de trinta quilómetros por segundo.
Tu é que sabias, Galileo Galilei.
Por isso eram teus olhos misericordiosos,
por isso era teu coração cheio de piedade,
piedade pelos homens que não precisam de sofrer, homens ditosos
a quem Deus dispensou de buscar a verdade.
Por isso estoicamente, mansamente,
resististe a todas as torturas,
a todas as angústias, a todos os contratempos,
enquanto eles, do alto incessível das suas alturas,
foram caindo,
caindo,
caindo,
caindo,
caindo sempre,
e sempre,
ininterruptamente,
na razão directa do quadrado dos tempos.

Motivado pela boa recepção dos seus poemas, António Gedeão não só publicaria novos livros de poesia, como se aventuraria também na ficção, no teatro e no ensaio.
Rómulo de Carvalho "terminou" com António Gedeão em 1990 com "Novos Poemas Póstumos".
No entanto, e ainda hoje, a sua obra poética perdura e perdurará sempre.
Enquanto a liberdade for tão essencial como respirar.
Enquanto se acreditar que os sonhos podem transformar a vida e o mundo.
Porque o sonho comanda a vida, como escreveu António Gedeão.
 


 
 

sábado, 23 de novembro de 2013

PARABÉNS HERBERTO HELDER

 
Parabéns, porque hoje completa 83 anos um poeta maior da literatura portuguesa: Herberto Helder.
Nascido no Funchal, passando por Lisboa, peregrinando por Espanha, França, Holanda, Bélgica e Dinamarca, de tudo fez um pouco, jornalista, bibliotecário (figura fundamental na organização das bibliotecas itinerantes da Fundação Gulbenkian), tradutor, locutor de programas de rádio, operário metalúrgico, criado de cervejaria, policopista, cortador de legumes, até guia nas calçadas da prosrtituição em Antuérpia.
De tudo e de todos bebeu a inspiração para a sua poesia, da qual é marco a participação na revista "Poesia Experimental", em 1964 e 1966, ele que se iniciou com referências ao surrealismo, frequentador do Café Gelo, no Rossio, com escritores como Mário Cesariny ou Luiz Pacheco.
Em 1994 receberia o Prémio Camões, que viria a recusar, na linha da sua permanente atitude de evitar entrevistas, homenagens, destaques.
Ficamos com "A Colher na Boca", "Os Passos em Volta", "Electronicolírica", "Apresentação do Rosto" (apreendido pela Censura), "Cobra", "O Corpo", "O Luxo", "A Obra" ou "Photomaton e Vox".
Entremos numa livraria, sintamos o cheiro do papel, abramos e afaguemos o livro, enchamo-nos dos poemas de Herberto Helder.

"Não sei como dizer-te que a minha voz te procura
e a atenção começa a florir, quando sucede a noite
esplêndida e casta.
Não sei o que dizer, especialmente quando os teus pulsos
se enchem de um brilho precioso
e tu estremeces como um pensamento chegado. Quando
iniciado o campo, o centeio imaturo ondula tocado
pelo pressentir de um tempo distante,
e na terra crescida os homens entoam a vindima,
– eu não sei como dizer-te que cem ideias,
dentro de mim, te procuram.

Quando as folhas da melancolia arrefecem com astros
ao lado do espaço
o coração é uma semente inventada
em seu ascético escuro e em seu turbilhão de um dia,
tu arrebatas os caminhos da minha solidão
como se toda a minha casa ardesse pousada na noite.
– E então não sei o que dizer
junto à taça de pedra do teu tão jovem silêncio.
Quando as crianças acordam nas luas espantadas
que às vezes caem no meio do tempo,
– não sei como dizer-te que a pureza,
dentro de mim, te procura.

Durante a primavera inteira aprendo
os trevos, a água sobrenatural, o leve e abstracto
correr do espaço –
e penso que vou dizer algo cheio de razão,
mas quando a sombra vai cair da curva sôfrega
dos meus lábios, sinto que me falta
um girassol, uma pedra, uma ave – qualquer
coisa extraordinária.
Porque não sei como dizer-te sem milagres
que dentro de mim é o sol, o fruto,
a criança, a água, o deus, o leite, a mãe,
o amor,

que te procuram."
 

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

"COURAÇADO POTEMKINE"-LISBOA, 21/11/13

 
Não, ontem na manifestação dos agentes das forças policiais em S.Bento, não ocorreu a carnificina que o filme de Sergei Eisenstein documentou, nas escadarias de Odessa.*
Sequer o acontecido na manifestação de "secos e m olhados" nos idos de 80 do século passado.
As escadarias de S.Bento, vedadas ao público aquando da ocorrência de manifestações, foram, ontem galgadas, pacificamente, pelos trabalhadores das forças de segurança (PSP, Judiciária, GNR) sem qualquer acto repressivo por por parte do Corpo de Intervenção e demais polícias destacados para o local (vd. notícia infra).
Momento histórico, como referiu José Alberto de Carvalho?
Talvez, se tomarmos em conta anteriores escaramuças no local.
Certo, muito provavelmente, é que este Des-Governo passará a olhar cada vez mais por cima do ombro.
Os canhões dos barcos que iam afundar o "Potemkine" voltaram-se para baixo!

 
Polícias em protesto invadem escadaria da AR - Portugal - DN


*-"Couraçado Potemkine" - Filme de 1925, de Sergei Eisenstein, União Soviética, um marco na história do cinema, e considerado um dos dez melhores filmes de sempre, retrata a revolta dos marinheiros de Odessa contra a tirania czarista, em 1905, revolta que, mais tarde, Lenine consideraria uma das insurreições precursoras e inspiradores da Revolução de Outubro.


quinta-feira, 21 de novembro de 2013

TOLERÂNCIA

"Não estou de acordo com o que dizeis, mas bater-me-ei até ao fim para que o possais dizer!"

Vale a pena reflectir sobre esta frase lapidar, e constatar o que se passa hoje em dia, em muitos cantos deste planeta, a começar por cá dentro.
Foi proferida por François-Marie Arouet, mais conhecido por Voltaire, nascido neste dia, há 219 anos.
Mas o princípio ali enunciado é eterno!
Oxalá muita gente o possa apreender na sua plenitude.
E aprender com ele...

2001: ODISSEIA NO ESPAÇO

 
Estreia (ou re-estreia) hoje, um dos marcos fundamentais da história do cinema : "2001: Odisseia no Espaço", obra-prima de Stanley Kubrick, de 1968.
Filme intemporal, reflexão profunda sobre as potencialidades, e as limitações do engenho humano, recomenda-se vivamente que o mesmo seja visto ou revisto.
Ao vê-lo, aprendemos um pouco mais sobre nós próprios e sobre a Humanidade como um todo, passado e futuro.
E saímos do cinema muito mais ricos.
(em exibição a partir de hoje nos cinemas UCI-Corte Inglés)


D.JANUÁRIO

 
Francisco é Papa há só 8 meses, e já está a provocar ondas de choque no seio da Igreja Católica.
D. Januário Torgal Ferreira, Bispo Emérito das Forças Armadas é, de há muitos anos, uma voz lúcida e, para muitos sectores da Igreja Portuguesa, incómoda.
Não treme, não vacila, não se acobarda, não se refugia debaixo dos altares.
Ainda ontem : " O Tribunal Constitucional é um dique contra o aluvião da desgraça..." 
Também vão dizer que está a influenciar e condicionar o Tribunal?
Santa Paciência...

A ESCOLA É FRANCA E RISONHA (?)

 
A notícia é conhecida: A Comissão Europeia dá um prazo de 2 meses ao Ministério da Educação para resolver o problema de integração na escola pública dos professores contratados, conforme comunicado de 20/11/2013, abaixo transcrito:

"Labour law: Commission asks Portugal to stop discriminatory treatment of teachers with fixed-term contracts at public schools
The European Commission has requested Portugal to review the conditions of employment of teachers employed in public schools on fixed-term contracts.
The European Commission has received numerous complaints indicating that teachers working under fixed-term contracts are treated less favourably than comparable permanent staff. In particular, they are being employed on successive fixed-term contracts over many years, leaving them in precarious employment even though they are essentially doing permanent tasks. National law does not provide effective measures to prevent such abuses. Furthermore, they receive a lower salary than permanent staff with a comparable professional record. The European Commission considers this situation to be contrary to the EU's Fixed-Term Work Directive. (a consultar )
The request takes the form of a 'reasoned opinion' under EU infringement procedures. Portugal now has two months to notify the Commission of the measures taken to ensure compliance with the Directive. Otherwise, the Commission may decide to refer Portugal to the EU's Court of Justice.
(for more information: J. Todd - Tel. +32 229 94107 - Mobile +32 498 99 4107)"

Uma decisão que não causa grande surpresa.
Nuno Crato, Grande Educador do Povo tem uma agenda e uma missão: destruir o ensino público, como outros terão como tarefa liquidar o sistema nacional de saúde ou a segurança social.
E mune-se de uma ideologia ultra-liberal, mesclada de tiques da revolução cultural.
Não se trata apenas de casos como a criminosa abolição do ensino de inglês no 1º. ciclo.
Ou o subfinanciamento do ensino superior e da investigação, que conduziu à corajosa decisão de corte de relações institucional tomada pelos Conselhos de Reitores de Universidades e Politécnicos.
Ou o caótico início do ano escolar, em particular no caso do ensino especial.
Ou a sobrelotação de turmas e alargamento de horários, com redução de meios.
Ou a degradação do parque escolar, de que a situação do velho e querido Lyceu Camões é apenas a ponta do iceberg.
Ou a divulgação de rankings manipulados, acompanhados da divulgação das condições socio-económicas em que a escola pública tem de exercer as suas tarefas, condições essas que são escondidas no que ao ensino privado respeita.
Sequer a falaciosa "escolha" que os encarregados de educação poderiam fazer, já que quem escolhe, de facto, é a escola privada que selecciona os seus alunos, e para tal é paga pelo dinheiro de todos nós (cheque-ensino), quando o seu único objectivo é o lucro, enquanto a escola pública acolhe toda a gama de alunos, especialmente das classes mais desprotegidas, com todos os problemas e carências que o privado ignora e despreza.
O fundamental da política do Grande Líder é abater os professores, a espinha dorsal de qualquer sistema de ensino, predominantemente o público, e a sua capacidade reivindicativa.
Não bastam as degradantes condições de trabalho ou a contínua erosão salarial.
Agora, atiramos professores contra professores.
A humilhação aparece através da famigerada "prova de avaliação" a que serão sujeitos os chamados professores contratados, e a quem claramente se refere o comunicado da Comissão Europeia.
Com efeito, ignora-se, ou despreza-se, toda a formação adquirida nos bancos das Universidades, como se estas fossem incompetentes.
Desporeza-se, ou ignora-se, o ano de estágio, e avaliação contínua, a que os candidatos a professor são sujeitos quando começam a leccionar.
Faz-se tábua rasa de vário anos de profissão, ao lado dos colegas do "quadro", sem vínculo, e, também, a avaliação a que, periodicamente, uns e outros se submetem.
Nada disto vale! Colocamos professores a avaliar os seus colegas de todos os dias, com tantas, ou mais habilitações académicas e pedagógicas, e com o "privilégio" de os poder colocar no desemprego.
A troco de uma cenoura?
E, suprema degradação, os examinados vão ter de pagar o exame: € 20,00 Euros!
Ou seja, o condenado tem de pagar a bala que o vai executar. Revolucionário!
E com isto quer-se partir a espinha à classe docente.
Ao professor ou professora que nos apoia desde a meninice,
Que nos abre os olhos, os ouvidos, os sentidos, para as belezas e os mistérios, maravilhas e dramas do  nosso mundo,
Que nos ensina a ver, ler, contar, interpretar, compreender, questionar as contradições dos nossos avanços e recuos civilizacionais,
Que connosco também aprende todos os dias, ensinando-nos a crescer todos os dias,
Que é respeitado, porque nos respeita,
E de quem guardamos, sempre, uma funda recordação,
Porque nos ensinou a levantar, e seguir em frente, mulheres e homens conscientes.
E que só merece respeito e eterna gratidão!
(Cena final do belissimo filme "Clube dos Poetas Mortos") 

    
        



quarta-feira, 20 de novembro de 2013

VAMOS À BOLA!

  
Temos, desta vez. de nos render à evidencia, e falar de futebol.
Perdão, vamos falar de jogar à bola. Que foi o que fez Cristiano Ronaldo, levando a equipa ao colo, enquanto Ibrahimovic e companhia queriam jogar futebol.
E rendermo-nos à evidência, também, quanto ao facto de ontem termos tido o privilégio de ver uma sinfonia na relva escrita pelo melhor jogador do Mundo. Isn't that so, Mr. Blatter?
E veio-nos à memória não uma frase batida, como diria Sérgio Godinho, mas aquele épico Coreia do Norte-Portugal, no qual o glorioso Eusébio, incontornável referência do futebol nacional, também assinou outro hino ao desporto, carregando a equipa às costas quando se viu a perder por 3-0.
E que desculpem Figo e Rui Costa, dois outros génios ( e o Rui terá passado ao lado de uma grande carreira...), mas as duas grandes figuras do nosso futebol são Eusébio e Ronaldo.
Mais do que futebol, jogam à bola!
Por muito que doa aos invejosos e mesquinhos profissionais que, neste país, gostam de criticar quem tem êxito e é competente.
 
E já que também se fala dos velhos tempos, junta-se um pouco do relato radiofónico de ontem, como nos dias em que se sofria e torcia, com os ouvidos colados no transistor.



:.: O relato emotivo dos golos do Suécia-Portugal - Vídeos - Jornal Record :.:

Pronto! Agora, para o ano, temos o fado de Amália e Carlos do Carmo junto ao samba de Gal Costa ou de Chico Buarque

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

VASCO UVA

 
Parabéns Vasco Uva!
No passado dia 15 de Novembro, Vasco Uva cumpriu a sua 88ª. internacionalização ao serviço da Selecção Nacional de Rugby (Os "Lobos"), tornando-se, assim, os jogador mais internacional de sempre.
Tal feito aconteceu no Brasil-Portugal, que os Lobos dominaram por 68-0.
Mas de Vasco Uva recordam-se, acima de tudo, os gloriosos dias em que capitaneou a nossa Selecção na histórica presença do Mundial de Rugby de 2007, em França, onde se escreveram páginas ímpares do nosso desporto.
Obrigado a Vasco, e aos Lobos, por tudo quanto fizeram e fazem pelo rugby nacional, e o que representaram e representam para actuais e antigos praticantes.
E ainda vamos ver o Vasco durante muitos anos, com a sua qualidade, entrega e sacrifício.
Como é apanágio do rugby e das gentes do rugby.  

(segue-se um pequeno texto de homenagem aos Lobos, escrito em 2010, e integrante da colectânea "Celacanto nº. 2 - sobre o lobo" - edição Qual Albatroz)

UNIÃO ZOÓFILA

Ontem, 17 de Novembro, a União Zoófila completou 62 anos.
Nunca é demais enaltecer o papel desta e doutras Instituições análogas, especialmente num período de crise e desmoralização como é o que, infelizmente, atravessamos, pelo carinho, dedicação, sacrifício, que devotam àqueles que são os melhores amigos que um ser humano pode ter, incondicionalmente: os animais.
Nestes dias de chumbo, em que o desemprego, a pobreza nos flagelam, vemos, infelizmente, aumentar o número de animais abandonados, o que é, de facto, muito cruel.
Por isso, a recolha, alimentação, medicação, agasalho, que a União possa dispensar a estes seres, torna-se  mais urgente e os meios, apesar de todas as boas vontades, são escassos. Recorda-se que a União não beneficia de qualquer apoio estatal ou subsídio.
O que se "compreende" nos tempos que correm, quando, espantados, lemos e ouvimos, por exemplo, o beato César das Neves afirmar que o aumento do salário mínimo é mau para os pobrezinhos, e que os pensionistas, afinal, são uns fingidores e até vivem a abarrotar de dinheiro. A esta gente é mesmo de lhes açular os cães às canelas.
"Quanto mais conheço os homens, mais estimo os animais", dizia o grande Alexandre Herculano.
 Animais que nos dão lições à nossa "humanidade" e "racionalidade".
Do mítico Argos, o fiel cão de Ulisses, a Hachiko, o comovente exemplo de fidelidade vindo do Japão, de Barry, o São Bernardo que terá salvo 40 pessoas e terá sido homenageado por Napoleão, a Balto, o husky siberiano que, em 1925, puxando um trenó, percorreu 160 quilométros a transportar medicamentos para debelar uma epidemia de difteria no Alasca.
 
(Estátua de Balto no Central Park, Nova Iorque)

Mas, para nós, deixemos agora de lado estas vedetas, e olhemos, com ternura, para aqueles seres que nos enchem a vida.
Limpam as nossas lágrimas quando estamos tristes, brincam quando explodimos de alegria, ronronam e enroscam-se para os afagarmos, vigiam-nos e protegem-nos quando estamos doentes, acompanham-nos e guiam-nos na velhice, são os nossos olhos quando somos invisuais.
São companheiros fiéis, desinteressados, incapazes de traições ou duplicidades, honestos, dedicados, por vezes dando a própria vida por nós.
Sejam Bobbys, Tarecos, Chopins, Rucas, Afonsos, Dianas, Tobys, o que quiserem.
União Zoófila, ou congéneres, prestam um serviço único à sociedade que nunca poderemos pagar.
É um acto de amor, como amor merecem os nossos animais, os nossos amigos.
Todos os animais. 
 
 
  

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

CAIXA GERAL DE DEPÓSITOS, COM CERTEZA


"O Governo aprovou hoje a criação de uma nova instituição financeira que será dirigida sobretudo às PME.
"O Conselho de Ministros aprovou uma resolução que determina a criação da Instituição Financeira de Desenvolvimento" que "terá como objectivo apoiar a concretização das políticas públicas de promoção do crescimento e emprego, proporcionando o desenvolvimento inteligente, sustentável e inclusivo, e contribuindo para a promoção da competitividade e da internacionalização das empresas portuguesas", lê-se num comunicado.
No ‘briefing' posterior à reunião semanal do Governo, Pires de Lima disse que o banco de Fomento deve estar "em funcionamento no final do primeiro semestre de 2014".
Esta nova instituição vai estar focada sobretudo no financiamento de longo prazo e a juros mais baixos às pequenas e médias empresas." - Diário Económico on-line, 14/11/2013

Vemos, ouvimos e lemos, como escreveu a eterna Sophia Mello Breyner, e, desta vez, interrogamo-nos.
Para quê uma nova "Instituição Financeira"?
Só se for, como tudo parece indicar, face às opções deste governo, dar mais jobs aos boys e seleccionar os amigos e apoiantes que vão ser contemplados com os 1,5 Mio de euros a disponibilizar.
Como efeito, essa "Instituição" já existe, e é centenária.
É detida pelo Estado a 100% e chama-se Caixa Geral de Depósitos.
Que tem a maior rede de balcões do país.
Que tem uma clientela transversal a toda a sociedade, ao contrário de bancos que seleccionam clientes.
Que presta serviço público, muitas vezes fazendo fretes ao poder de ocasião (veja-se o caso BPN...).
Que tem colaboradores, a todos os níveis, dedicados, esforçados, competentes, tanto do ponto de vista técnico como humano, que pedem meças a qualquer outra "Instituição".
E que vestem a  camisola do banco e do cliente, não olhando a sacrifícios.
E que são bancários de corpo inteiro.
Parece que alguém tem medo da Caixa Geral de Depósitos.
E não é, de certeza, "boa" gente.
Ao contrário das gentes da CGD.  
 


quinta-feira, 14 de novembro de 2013

RELATÓRIOS (OIT/FMI)

 
No curto espaço de pouco mais de uma semana, o país foi brindado com dois relatórios sobre a sua actual situação.
Um, da OIT (Organização Internacional do Trabalho),
Outro, do FMI (Fundo Monetário Internacional), por acaso um dos nossos credores, um dos "protectorados" do Conde de Andeiro, perdão Paulo Portas.
O que nos traz a uma situação clássica,
O copo meio cheio ou,
O copo meio vazio,
Ou seja, para a OIT o copo está meio cheio,
Meio cheio de salários, que deverão ser enchidos,
Meio cheio de investimento, que terá de ser encorpado,
Meio cheio de direitos sociais, que deverão transbordar,
Meio cheio de desemprego que terá de ser esvaziado,
Para encher de postos de trabalho,
Dignos, remunerados decentemente, humanos,
Cheios de esperança.
Para o FMI o copo está meio vazio,
Meio vazio de exorbitantes salários que é urgente esvaziar completamente,
Meio vazio de benefícios sociais que são para secar,
Meio vazio de empregados,
Que são para esvaziar, desempregar,
Sem direito a nada,
Vazios de esperança.
O Governo leu os relatórios,
Atirou para o lixo o papel da OIT,
Emoldurou o do FMI,
E colocou-o na parede do Conselho de Ministros,
Como profissão de fé,
E esvaziar o copo,
Ou seja,
Esvaziar o país, esvaziar os portugueses,
Irrevogavelmente!

terça-feira, 12 de novembro de 2013

NEIL YOUNG

Completa hoje 68 anos o canadiano Neil Young, músico, actor, compositor, nome maior da música dos nossos tempos, com viagens pelo rock, folk, country, até hard rock e grunge.
O que não espanta, num miúdo que foi influenciado pelo rock and roll, rockabilly, R & B, country, e por nomes fracturantes, no bom sentido, claro, como Elvis Presley, Fats Domino, Jerry Lee Lewis, Chuck Berry ou Johnny Cash.
Em 1968 funda a banda "Buffalo Springfield", que na altura terá passado despercebida, mas que actualmente é revisitada com crescente interesse.
Em 1970 passa a actuar a solo, acompanhado pelos "Crazy Horse", embora participe em álbuns e digressões de outros músicos, como sucedeu, em 1995, com os Pearl Jam (album "Mirror Ball") e, intermitente e designadamente, desde 1970, com Crosby, Stills & Nash, publicando, nesse ano, um clássico que dá pelo nome de "Déjà vu" sob o nome Crosby, Stills, Nash & Young.
("Helpless" -  Déjà vu)

 
("Peace and love" - Mirror Ball)

Neil Young continua a prosseguir uma carreira coerente e sólida, tocando as teclas de ritmos e escolas diferentes, mas sempre com a humildade de quem, todos os dias quer aprender algo de novo, ao mesmo tempo que mantém o seu activismo político, seja na área da ecologia, ou da luta pela paz, ou na oposição às políticas de Bush Pai e Filho.
De "Neil Young", de 1968, a "Psychedelic Pill", de 2012, vale sempre a pena ouvir escutar mais este grande trovador americano.
E, quem quiser e puder, pode ir assistir aos espectáculos programados para Nova Iorque, já no próximo dia 6 de Janeiro...    


 

VALENTIM DE CARVALHO

 
A música portuguesa, a cultura nacional, estão de luto.
Morreu ontem Rui Valentim de Carvalho, produtor discográfico, o homem que deu corpo e alma à marca Valentim de Carvalho, que se identifica intimamente com a música portuguesa, com a sua edição e divulgação.
Em 1963, com projecto do arquitecto Cristino da Silva, assessorado por Tomás Taveira, inaugura os inovadores Estúdios  Valentim de Carvalho, em Paço D'Arcos, com tecnologia de ponta, técnicos ingleses, em tudo irmãos mais novos dos famosos estúdios de Abbey Road em Londres.
Por estas instalações passaram nomes maiores da nossa música, como Carlos Paredes, António Variações, Camané, Hermínia Silva, Carlos do Carmo, GNR, UHF, Jorge Palma e, também, famosos estrangeiros como Juan Manuel Serrat, The Shadows, Cliff Richard, Vinicius de Moraes, Rolling Stones.
Tim, como era conhecido pelos amigos, também teve papel decisivo na divulgação da música angolana, e na sua edição, desde o Duo Ouro Negro a Waldemar Bastos.
Porém, a artista que mais gravou com a Valentim de Carvalho, e com a qual o Rui manteve uma grande e terna amizade, foi Amália Rodrigues a quem, a dado momento, apresentou o seu cunhado David Mourão Ferreira. Datam desse período os fados nos quais Amália escancarou as portas à grande pooesia e aos grandes poetas portugueses.
Mais que não fosse, e foi-o, só por isso teríamos uma dívida de eterna gratidão por Rui Valentim de Carvalho, Tim. 
("Abandono" - Letra de David Mourão Ferreira, música de Alain Oulman - proibido pela Censura por alusões aos presos políticos) 

  

AI TIMOR...

 
Foi apenas há 22 anos, e parece que já passaram décadas...
Mas em tempos históricos, o Massacre de Santa Cruz, em Timor foi há bocadinho.
201 mortos, foi a brutal consequência do terrorismo de estado do ocupante indonésio e as brutais imagens do corajoso repórter britânico Max Stahl acordaram o mundo para a tragédia de Timor-Leste, para um sofrimento de um povo ocupado.
Timor venceu, o povo maubere vive melhor.
E passados 22 anos, para além de homenagear os heróicos resistentes timorenses, é justo homenagear a corrente solidária que os portugueses na altura demonstraram, num dos mais belos movimentos cívicos deste País, de que nos devemos orgulhar e que se manteve alerta e interveniente até à data da independência.
Ao contrário de outros, que se recusaram a beijar o solo timorense.



  

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

LYCEU DE CAMÕES

 
O Liceu de Camões (ou Lyceu de Camões, como consta, e bem, da frontaria, recordando 104 anos vivos), é mais do que uma escola secundária.
O Camões é um convívio, um companheirismo, uma saudade, uma maneira de estar, de sentir.
Ainda hoje.
Ainda ontem, ainda amanhã.
Mais, muito mais que um edifício, que um laboratório, que um anfiteatro, que um ginásio, que os plátanos, é uma vivência, corpo vivo, monumento de Lisboa, monumento nacional, mas respirando, pulsando, não em pose solene e imóvel.
Camões são os seus actuais alunos, professores, colaboradores.
E os seus antigos alunos, professores, colaboradores.
Camões é uma história de Lisboa, do país.
Camões é literatura, física, química, astronomia, economia, finanças, pintura, cinema, música, rádio, televisão, medicina, advocacia, engenharia, desporto, tudo isto e muito mais.
Camões é Leitão de Barros, Mário de Sá-Carneiro, José Gomes Ferreira, Aquilino Ribeiro, Mário Dionísio, Vergílio Ferreira, Maria Ema Tarracha Ferreira, Artur Agostinho, Mário Moniz Pereira, Urbano Tavares Rodrigues, Lindley Cintra, Jorge de Sena, Jacinto Nunes, José Cardoso Pires, Luiz Pacheco, António, João, Miguel Lobo Antunes, João Bénard da Costa, Júlio Isidro, Álvaro Cunhal, Jorge Miranda, Adriano Jordão, José Luís Saldanha Sanches, José Nuno Martins, Mário de Carvalho, António Gedeão, Luís Miguel Cintra, Nuno Júdice, Jorge Palma, Jorge Silva Melo, Maria Helena Sá, António Garcia Pereira, José Manuel Viegas, Durão Barroso, António Guterres, Maria Cândida Rosa, Eduarda Dionísio, João David Nunes, Manuela Delgado, os auxiliares Gomes, Brás ou Aparício, e tantas e tantos outros.
E é por eles, e por nós, e pelo futuro, que o Camões tem de ser apoiado.
Contra o estrangulamento
Contra a destruição.
Física ou administrativa.
O Liceu Camões esteve, está e estará sempre presente nas vidas e na atitudes de quem lá está ou de quem por lá passou.
Amanhã podemos continuar a vivê-lo, no evento abaixo anunciado.
E não o  deixar cair numa austera, apagada e vil tristeza
Como escreveu o poeta que lhe dá o nome.