sábado, 7 de dezembro de 2013

MANDELA - 16º. JOGADOR

Nestes dias em que se chora a morte de Mandela, e já tanto tem sido escrito, visto e falado sobre este grande Homem, convém lembrar o papel fundamental que protagonizou na expansão e popularização do desporto que amamos: o Rugby.
Após a libertação de Mandela, e do derrube do apartheid, a organização da Taça do Mundo (ou Mundial) de Rugby de 1995 foi atribuída à África do Sul.
Os anteriores campeonatos, realizados na Nova Zelândia (1987-campeão Nova Zelândia) e Inglaterra (1991-campeão Austrália) não tinham recebido grande atenção, especialmente nos meios de comunicação, com excepção, claro, dos países intervenients.
Na África do Sul, o rugby estava associado ao domínio branco, ao apartheid, e a sua selecção (os "Springboks") eram objecto de desprezo pela maioria negra, que aplaudia os adversários. O seu desporto favorito era o futebol. 
Perante uma nação dividida, que urgia unir, que urgia reconciliar, que urgia perdoar, Nelson Mandela viu uma oportunidade única de, aproveitando o Mundial de 1995, unir um só povo e uma só Nação (recomenda-se a visualização do magnífico filme de Clint Eastwood "Invictus", de 2009, que aborda este assunto),
À partida, a África do Sul não tinha, hipoteticamente, qualquer hipótese. A poderosa Austrália, campeã, ia defender o título, a Nova Zelândia apresentava uma equipa quase imbatível, da qual se destacava o já mítico Jonah Lomu. A Inglaterra reclamava os seus créditos por ter vencido, nesse ano, o centenário torneio das 5 Nações. com um Grand Slam (vitória em todos os jogos).
Mandela apoiou os Springboks desde o início, chamou-lhes os seus rapazes, brancos e negros, incentivou-os, transmitiu-lhes a confiança necessária para ultrapassar todos os obstáculos, mentalizou-os para a tarefa gigantesca de aglutinar os povos do país do arco-íris numa só nação.
No primeiro jogo a África do Sul derrota a favorita Austrália por 27-18 e inicia a caminhada em direcção à final.
No dia 24 de Junho de 1995, a Nova Zelândia, super-favorita, vai defrontar a África do Sul no Ellis Park de Joanesburgo, perante 63.000 pessoas, a esmagadora maioria apoiante dos springboks.
Mandela é recebido em triunfo, envergando a camisola da sua selecção, em contraste com o que sucedera um mês antes, no jogo com a Austrália, em que recebeu apupos e assobios.
Os olhos do mundo já estavam concentrados naquele Homem, naquele estádio, naquele jogo.
E os Springboks param Lomu. Vencem o jogo (15-12). São campeões do mundo, contra todas as hipóteses. Mandela ganhara a temerária aposta. Como diria o grande capitão da equipa, François Pienaar, não foram 63.000 pessoas no estádio a apoiá-los. Foram 43 milhões de sul africanos.
A nação do arco-íris. Um só povo, um só país.
E o Rugby salta para a ribalta, invadindo o nosso quotidiano, aparecendo nos jornais e televisões de todo o mundo, tornando-se num dos desportos mais vistos, e com maior expansão, a nível de países, equipas e jogadores em toda a parte, até entre nós.
O último Mundial, realizado em 2011 na Nova Zelândia, foi o terceiro evento desportivo mais visto, ultrapassado apenas pelo Mundial de Futebol e os Jogos Olímpicos, e destronando a Volta à França.
O Rugby profissionalizou-se precisamente em 1995.
O torneio das 3 nações, depois 4, englobando as grandes equipas do sul (África do Sul, Argentina, Austrália e Nova Zelândia), arranca com sucesso a partir de 1996.
As Sevens World Series (Rugby de 7) começam na temporada de 1999/2000, tendo o respectivo Mundial tido o seu início em 2003, e conhecido crescente e global popularidade, ganhando o estatuto de modalidade olímpica para os Jogos de 2016 (Rio de Janeiro).
O Rugby feminino é já uma realidade de bases sólidas.
Havia o Rugby antes de 1995.
E há o Rugby actual, nascido em 1995.
Sob a égide e a inspiração desse grande Homem, de que orgulhosamente somos contemporâneos, chamado Nelson Mandela, o inesquecível 16º. jogador.
(Cenas finais do documentário "The 16th Man", da cadeia de televisão ESPN, produzido por Morgan Freeman, sobre Mandela e o Mundial de 1995)
      

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