terça-feira, 26 de novembro de 2013

VIOLÊNCIA

Ontem celebrou-se o Dia Internacional para a Eliminação de Todas as Formas de Violência contra as Mulheres, o quem colocar na ordem do dia, também, a violência doméstica.
Desde 2004, registaram-se 330 mulheres mortas, 33 este ano, até ao dia de hoje.
Apenas um terço das acusações apresentadas em Tribunal resultam em condenações, isto ao nível dos tribunais de Lisboa.
Neste país de brandos costumes, a violência sobre as mulheres é, acima de tudo, um problema civilizacional e de educação.
A nível geral, a discriminação já vem de tempos em que os machos eram caçadores/recolectores, e as mulheres se ocupavam das tarefas domésticas e de parir criancinhas.
A evolução social fez o caçador ir atrás das presas na guerra ou no escritório.
A mulher ficava no castelo com o cinto de castidade, ou era denominada de "fada do lar".
Tratar da sopa, da vassoura e das crianças era o seu destino "natural" e "tradicional".
A mulher devia obediência ao marido ou ao companheiro.
A matriz católica da nossa sociedade, que diabolizou a mulher, origem de todos os pecados, acentuou ainda mais a divisão entre o mundo macho e o universo feminino.
A adúltera era apedrejada ou queimada (bruxas de Salem...), o adúltero e gigolo era um herói entre os seus pares. Matar a mulher pecaminosa era bem aceite pela sociedade.
O prazer era masculino, interdito às mulheres, estigmatizadas pelo pecado da carne.
Casar, reproduzir, baixar a cabeça, eram os mandamentos impostos e aceites.
A dependência não se verificava apenas a nível da residência, do dinheiro. Estendia-se ao sexo.  
A própria lei civil, a reboque dos cânones católicos, estabelecia a divisão dos sexos, estigmatizava a mulher, que não podia votar, não podia estudar, não podia trabalhar, devia obediência cega ao "chefe da família".
"Quem manda em  casa é ela, mas quem manda nela sou eu!", "Quanto mais bates, mais eu gosto de ti", "Rédea curta e porrada na garupa", mais do que provérbios "populares", são o retrato de uma sociedade machista, inculta, violenta, e nunca frases amorosas.
Como o pontapé, o soco, o tiro, não são gestos de amor, mas apenas reles atitudes criminosas.
Reflectem princípios educacionais, inculcados durante séculos, que justificavam todos os abusos.
Quando no início do século passado, durante a I República e, designadamente, após o 25 de Abril,  se tomou consciência que a mulher tinha, exactamente, os mesmos direitos que os homens, quer a nível educativo, político, social, laboral, salarial, sexual, verificou-se uma gradual, embora lenta, aproximação entre os dois sexos, como sempre deveria ter sucedido.
E a mulher, de pleno direito, assumiu os mesmos direitos e responsabilidades que o homem, com luta e esclarecimento sempre que necessários.
E invadiu os terrenos de caça dos caçadores.
E há quem não goste.
E quem reaja com violência, com medo de mostrar a sua própria impotência e ignorância.
A lamentável e condenável violência exercida sobre as mulheres é o resultado de educação e conceitos distorcidos, de "tradição" a romper, de correntes que ainda amarram muitas consciências.
Mas também é uma violência social e o reflexo de uma luta entre classes que, no fundo, são a mesma classe, como é indispensável perceber.
É preciso compreender que a urgente e completa erradicação da violência sobre as mulheres, em todo o mundo, acrescenta-se, será também, e sempre, a libertação dos homens.
Porque mulheres e homens livres nunca serão violentos. Têm algo de muito mais bonito e importante para fazer. A vários níveis.
Como lutar contra TODA a violência!

       

Sem comentários:

Enviar um comentário