segunda-feira, 18 de novembro de 2013

VASCO UVA

 
Parabéns Vasco Uva!
No passado dia 15 de Novembro, Vasco Uva cumpriu a sua 88ª. internacionalização ao serviço da Selecção Nacional de Rugby (Os "Lobos"), tornando-se, assim, os jogador mais internacional de sempre.
Tal feito aconteceu no Brasil-Portugal, que os Lobos dominaram por 68-0.
Mas de Vasco Uva recordam-se, acima de tudo, os gloriosos dias em que capitaneou a nossa Selecção na histórica presença do Mundial de Rugby de 2007, em França, onde se escreveram páginas ímpares do nosso desporto.
Obrigado a Vasco, e aos Lobos, por tudo quanto fizeram e fazem pelo rugby nacional, e o que representaram e representam para actuais e antigos praticantes.
E ainda vamos ver o Vasco durante muitos anos, com a sua qualidade, entrega e sacrifício.
Como é apanágio do rugby e das gentes do rugby.  

(segue-se um pequeno texto de homenagem aos Lobos, escrito em 2010, e integrante da colectânea "Celacanto nº. 2 - sobre o lobo" - edição Qual Albatroz)

OS LOBOS
                Naqueles tempos, apesar de sabermos que todos os tempos são um tempo só, nas penedias da Lusitânia,  lá para os lados do Soajo, no Gerês, havia uma famosa alcateia de 31 lobos ibéricos, comandados por um inteligentissimo macho alfa, aqui convindo acrescentar que os lobos eram, e são, muito inteligentes, a qual era exímia na conquista  e defesa do seu território, nas acções combinadas de ataque e recuo estratégico, e no despiste dos adversários.
              Com a argúcia, a esperteza, o comando, a táctica do macho alfa, a fama da referida alcateia cedo ultrapassou o território onde a mesma se confinava, para começar a ser conhecida noutras paragens da Lusitânia e de toda a Ibéria, até porque, convém acrescentar, a grande família daquela alcateia era e ainda é, o Lobo Ibérico, esse orgulho da Península.
             De facto, a organização, o esforço, a dedicação, o empenho, o espírito de sacrifício de todos e de cada um dos membros da alcateia para conseguirem o objectivo comum, ultrapassava o que muitos poderiam esperar de uma simples alcateia de lobos. E quando, no início de cada nova tarefa, uivavam em conjunto para fortalecer o espírito de grupo, o seu lustroso e cinzento pêlo eriçava-se de emoção porque, é bem verdade, os lobos têm emoções. Já alguma vez olharam, por detrás das grossas barras das nossas actuais jaulas, o olhar triste de um lobo ?  
            Tão longe chegou a sua fama, que outras alcateias a quiseram conhecer e, caso fosse ocasião para tal, medir a sua força e inteligência, para a acolher no seio das grandes alcateias do mundo conhecido de então, e que é igual ao nosso, só que na altura havia partes que ainda eram desconhecidas.
           Assim, a nossa alcateia rumou às terras da Gália, onde se reuniam as grandes alcateias mundiais, para um convívio que se celebrava de quatro em quatro anos, e para o qual, pela primeira vez, aqueles 31 lobos estavam convidados.
          Passaram montes, vales, frios, calores, verões, invernos, e extenuados, mas contentes de terem chegado ao seu objectivo, lá atingiram as planícies e montes gauleses.
         A primeira alcateia com que contactaram foi a dos pictos da Caledónia, a que hoje chamamos Escócia, lobos maiores, mais fortes, de pêlo cinzento azulado, com madeixas ruivas, e que sobre os lobos lusitanos, e após observarem as suas técnicas e combinações, afirmaram, com sotaque tipicamente escocês, que erram dignos de ficarr entrre as melhorres alcateias do mundo.
         Depois, tiveram a honra, e o deleite de ver em acção, com táctica e engenho superiores, a famosíssima alcateia dos maoris, lobos negros e enormes, verdadeira máquina de organização e de conquista e marcação de territórios, que, ao contrário dos uivos, iniciavam as suas acções com uma espécie de dança guerreira. E foi com tal espírito, e com a vontade de tudo conquistar, que um dia  rumaram ao sul e, por entre ventos e marés chegaram a umas ilhas a que hoje chamamos Nova Zelândia.
        Mas tal foi a sua admiração pela nossa alcateia que até aceitaram jogar com ela um desporto lusitano muito popular que consistia em empurrar à pata uma bola redonda.   
        A seguir conviveram com uma alcateia um pouco desorganizada, trapalhona, mas com uma força e tácticas acima do que a nossa alcateia ainda poderia almejar. Por muito pouco… Eram os lobos transalpinos, dos montes Abruzzi, com uma especial predilecção por refeições de massa, pasta, como eles uivavam. Foi mais um momento de aprendizagem, que as forças já escasseavam e havia que pensar no regresso à Lusitânia.
       Por fim, já estavam quase de abalada, ainda travaram conhecimento com os lobos da Transilvânia, manhosos, um pouco traiçoeiros, cuja força só se revelava no final de cada acção, à sucapa, dizia-se, até com maledicência, que era só por causa de serem da terra do Senhor das Trevas, o reputado Conde Drácula.
       E chegou a hora da despedida. Orgulhosos dos seus feitos. Aceites unanimemente pelas grandes alcateias do mundo, que,  em conjunto,  diziam que estes lobos lusitanos passaram a fazer, por mérito próprio,  parte do seu grande clã.
       Chegados às penedias do Gerês, foi com espanto e emoção que souberam que a sua fama, e os seus nomes já tinham empolgado a Lusitânia e eram transmitidos de boca em boca e de ouvido em ouvido, uivo após uivo.
       Com efeito, desde os montes do Gerês, às serras do Alvão e Montesinho, das fragas da Serra da Estrela às encostas do Alentejo e à Serra Algarvia, em todos os poderosos maciços que as compunham, apareceram, como por magia, gravados na pedra imperecível, os nomes desses inesquecíveis 31 lobos: Tomaz, o macho alfa, os 3 Uva, os 2 Mateus, os 2 Pintos, o André, o Joaquim, o Murré, o Spachuk, o Rui, o Figueiredo, o Correia, o Penalva, o Severín, o D’Orey, o Coutinho, o Murinello, o Girão, o Pissarra, o Cabral, o Malheiro, o Gama, o Frederico, o Portela, o Foro, o Carvalho, o Aguilar e o Leal, mais conhecido por Pipoca.
       Por isso, se hoje ouvirem um lobo a uivar, ou olharem, olhos nos olhos, aqueles belissimos olhos amarelos, não tenham medo dos lobos, que eles têm é medo de nós.
      Acarinhem-nos, tratem bem os lobos, todos e cada um.                 
      Podem bem ser os descentes daqueles lobos que foram o orgulho e a alegria da Lusitânia.  

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