terça-feira, 26 de novembro de 2013

CESARINY

 
Foi há sete anos.
A 26/11/2006, aos 83 anos, vítima de cancro na próstata desaparecia um dos maiores vultos do surrealismo português: Mário Cesariny de Vasconcelos.
Estudou no Liceu Gil Vicente e na António Arroio, onde se especializou como ourives, para seguir a profissão paterna.
Mas cedo revelou o seu pendor para a poesia e para a pintura.
Em 1947, conhece em Paris André Breton, teórico do novo movimento estético e, no mesmo ano, é um dos fundadores do grupo surrealista, com autores como António Pedro, José Augusto França, Alexandre O'Neill ou Vespeira, grupo que se reunia regularmente na Pastelaria Mexicana.
A partir de 1950, dedica-se especialmente à poesia, que escrevia nos cafés.

"Em todas as Ruas te Encontro" 
Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto    tão perto    tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura
Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco"
(Mário Cesariny - "Pena Capital")

 
 
Face às dfiiculdades financeiras com que se veio a debater, Cesariny, a partir de 1960, passaria a dedicar-se, quase por inteiro, à pintura.
Dificuldades agravadas pela assumida homossexualidade, sendo objecto de metódica vigilância pela Polícia Judiciária. estigma de que só se libertaria após o 25 de Abril.
Recebeu o Grande Prémio Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores em 2005, pelo conjunto da sua obra e, no mesmo ano, a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade.
Mário Cesariny de Vasconcelos, pintor e poeta livre!

Sem comentários:

Enviar um comentário