terça-feira, 8 de abril de 2014

COPPOLA : PADRINHO DA 7ª. ARTE

 
Francis Ford Coppola completou ontem 75 anos.
Nasceu em Detroit e cresceu em Queens, Nova Iorque, estudou cinema na UCLA (University of California, Los Angeles), começando a carreira, como argumentista, nos finais dos anos 60 do século passado, e sob a orientação de Roger Corman ("O Corvo").
Coppola integrou aquela grande geração a que se convencionou chamar os "Movie Brats", cineastas nascidos durante ou após a II Guerra Mundial, que trabalharam para um novo público mais atento, mais curioso, com cultura universitária, que rejeitava os grandiosos espectáculos produzidos pelos grandes estúdios, sem chama, apreciando muito mais o intimismo, a emoção, as pontas soltas, do cinema europeu (como "Blow-Up" de Antonioni), incluindo a Nova Vaga francesa (Godard, Truffaut, Chabrol), o chamado Western "Spaghetti" (de Sergio Leone e com Clint Eastwood, por exemplo) ou o cinema japonês, de que Akira Kurosawa era o maior expoente.
Argumentos e filmes trabalhados pelos realizadores, e não impostos pelos estúdios, baixos custos, cenários simples e naturais, histórias do dia a dia, novos actores (Dustin Hoffman, Gene Hackman, Jane Fonda, Diane Keaton, Jodie Foster, Meryl Streep, Robert de Niro, etc.), narrativa não linear, lugar à dúvida, à reflexão, à interpretação do espectador, como parte activa do filme.
O primeiro grande marco foi "Bonnie & Clyde" (1967), de Arhur Penn, hoje um clássico.
Esta geração,que fez renascer o cinema, afogado pela televisão, foi até denominada a "Nova Hollywood" (influência da Nova Vaga...), e marcou de forma indelével o cinema dos nossos dias.
Geração que, entre muitos outros, nos deu Dennis Hopper, Stanley Kubrick, Arthur Penn, Woody Allen, Sydney Pollack, Steven Spielberg, George Lucas, Roman Polansky, Martin Scorcese, Clint Eastwood e, claro, Coppola.
O seu primeiro filme é de 1968 ("Finian´s Rainbow" - "O Vale do Arco-Íris", com Petula Clarke, Tommy Steele e Fred Astaire), o qual não conheceu grande sucesso.
Em 1970 escreve o argumento de "Patton", de Franklin Schaffner (outro movie brat), o que lhe valeria o Óscar no ano seguinte.
1972 é o ano da consagração. Coppola pega no romance de Mario Puzo "O Padrinho" e transforma-o num dos mais importantes filmes da história do Cinema, onde a estética é um dos aspectos mais significativos da obra. Três Óscares (Melhor filme, melhor argumento adaptado -Coppola e Puzo, melhor actor-Marlon Brando). Cinco Globos de Ouro (para as categorias atrás indicadas e, ainda, melhor banda sonora e melhor realizador)
(Trailer de "O Padrinho")

Em 1973 produz o segundo filme do seu amigo George Lucas, "American Graffitti", que entre outros jovens, incluindo o já citado Dustin Hoffman, irá revelar actores como Richard Dreyfuss, Harrison Ford e...Ron Howard.
Escreve o argumento de um autêntico flop, que foi "O Grande Gatsby", de Jack Clayton, com Mia Farrow e Robert Redford (mais dois da grande fornada de actores dessa época).
E, em 1974, abalança-se a realizar a sequela do seu êxito de 1972, e surge, deslumbrando os espectadores, "O Padrinho : Parte II", que entra para a história como a primeira sequela (e até agora única), a ganhar o Óscar de melhor filme. Arrebataria, também, mais cinco estatuetas ( Realizador-Coppola, Actor Secundário-Robert de Niro, Argumento Adaptado-Coppola e Puzo, Banda Sonora e Direcção Artística).
Em 1979, pega no livro "Coração das Trevas", de Joseph Conrad, e adapta-o ao cinema, com o Vietnam como pano fundo. Tempestades tropicais, doenças, casos de droga, mil e outras peripécias puseram em risco o projecto e exorbitaram os custos, que quase conduziram à falência a American Zoetrope, o novíssimo estúdio de Coppola.
Mas no fim, talvez o melhor e maior libelo contra a estupidez e a paranóia da guerra, premiado, além de outros, com os Óscares de melhor fotografia e melhor som, e a Palma de Ouro do Festival de Cannes.
É um marco do cinema e chama-se "Apocalypse Now".
(Trailer de "Apocalypse Now" - Jim Morrison no início. Não por acaso...)

Com "Do Fundo do Coração", de 1982, Coppola sofre um grave revés de público e, acima de tudo, financeiro, acarretando um longo rol de dívidas.
Coppola refugia-se, então, em filmes encomendados pelos grandes estúdios e que, em princípio, não o motivariam. "Do Fundo do Coração" é a página final dos movie brats...
No entanto, há que ser justo e distinguir, entre outras, obras como "Cotton Club", de 1984, "Peggy Sue Casou-se", de 1986, "Jardins de Pedra", de 1987, "Tucker, um Homem e o Seu Sonho", de 1988, "Histórias de Nova Iorque", de 1989, onde dirige uma das três histórias (as outras são da responsabilidade de Scorcese e Woody Allen), "O Padrinho : Parte III", de 1990, que não recebe qualquer Óscar, apesar das sete nomeações, e, em 1992, o brilhante "Drácula de Bram Stoker".
Com um dia atraso, enderecemos parabéns a Francis Ford Coppola. Merece-o, amplamente.
Nós, e o cinema, agradecemos-lhe.         

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