sábado, 26 de abril de 2014

25 DE ABRIL, O DIA SEGUINTE

A festa foi linda pá, como diria o Chico Buarque.
Agora é tempo de limpar o lixo, arrumar as cadeiras, guardar as bandeiras, e ala, que segunda-feira é dia de retomar a vidinha.
No Terreiro Paço, um cravo pensativo, debruçado sobre um Tejo tricotado de espuma, observa o fluxo e o refluxo da maré.
("Tanto Mar" - Versão 2 - Chico Buarque)

Mas o cravo levanta a cabeça, olha o céu, passa os dedos pelos cabelos vermelhos de esperança e, apesar de tudo sorri.
Ainda é Abril.
E Abril conjuga-se com os dentes e os punhos cerrados, com luta, determinação.
E Abril escreve-se com alegria, com ânimo, com vontade de cumprir Abril.
E Abril obriga-nos a fazer tudo para correr com os vendilhões do templo.
Com os que insultam Abril dizendo que cheira a bafio.
Abril um dia disse que o voto era a arma do povo.
Não é a única, Abril.
É a coragem de dizer Não,
É uma manifestação,
É uma petição,
É uma greve,
É uma mensagem nas redes sociais,
É uma reunião, um debate, o levantar questões,
E a arma de Abril também é competência,
E é ciência e investigação,
E é educação, e é saúde, e é qualidade de vida.
E outra arma de Abril também é cultura, teatro, cinema, pintura, escultura, dança, literatura, música, fotografia, banda desenhada, rádio, televisão.
E também é graffitti, tatuagem, bandeira.
E deitar fora a prepotência, a corrupção, a submissão, a crueldade do empobrecimento, da condenação à infelicidade e à desesperança.
Todos, mas todos, para que o cravo de Abril volte a florir.
Ontem, 25 de Abril.
Hoje, amanhã, depois.
Continuar a sementeira nascida naquele dia inicial, inteiro e limpo.
Com todas as armas que temos na mão e no coração.

("A Cantiga É Uma Arma" - José Mário Branco)
 

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