quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

GALILEO GALILEI

 
Nasceu em Pisa e morreu em Florença a 8 de Janeiro de 1642.
Físico, astrónomo, matemático e filósofo, foi um dos grandes responsáveis pela renovação científica e lançou as bases do método científico, onde Newton e seguintes foram beber.
Estabeleceu as leis do movimento uniformemente acelerado, estudou e teorizou o movimento do pêndulo, foi responsável pelas leis dos corpos e o princípio da inércia. Melhorou consideravelmente o telescópio refractor, com o qual teorizou sobre as manchas solares e observou, pela primeira vez, as montanhas da Lua, as fases de Vénus, quatro satélites de Júpiter, os anéis de Saturno e as estrelas da Via Láctea.
Inventou a balança hidrostática, o compasso geométrico e o termómetro dito de Galileu.
Defendeu o método empírico contra o método aristotélico e aplicou a teoria do heliocentrismo (que defendia que era a Terra a girar à volta do Sol e não o contrário) à interpretação de passagens da Bíblia,  o que lhe valeu a perseguição pela Igreja Católica, então em luta acesa com a Reforma Protestante, e que não admitia que o desenvolvimento das ciências colidisse com os sacros princípios teológicos.
Julgado pelo Santo Ofício por heresia, foi forçado a abjurar os seus princípios e condenado à morte, sentença depois comutada para retiro perpétuo e vigiado, atendendo à sua idade e à sua débil saúde .
Diz a lenda que, no fim do julgamento, terá sussurrado "Eppur si muove" ("No entanto move-se"), referindo-se à Terra.
Proibidos pela Igreja, os seus trabalhos foram publicados na Holanda, despertando o interesse do mundo científico da época.
Galileu ficará para sempre como um dos pilares do moderno mundo científico, enquanto os seus algozes caem no opróbio e esquecimento.
Ah, é verdade: A Igreja Católica "absolveu" Galileu em 1983! Há momentos em que mais vale estar calado!

Em homenagem a esse grande homem da Cultura, junta-se o poema dedicado a Galileu, de outro grande vulto Cultural, António Gedeão (Rómulo de Carvalho)

"Poema Para Galileu"

Estou olhando o teu retrato, meu velho pisano,
aquele teu retrato que toda a gente conhece,
em que a tua bela cabeça desabrocha e floresce
sobre um modesto cabeção de pano.
Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da tua velha Florença.
(Não, não, Galileo! Eu não disse Santo Ofício.
Disse Galeria dos Ofícios.)
Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da requintada Florença.

Lembras-te? A Ponte Vecchio, a Loggia, a Piazza della Signoria…
Eu sei… eu sei…
As margens doces do Arno às horas pardas da melancolia.
Ai que saudade, Galileo Galilei!

Olha. Sabes? Lá em Florença
está guardado um dedo da tua mão direita num relicário.
Palavra de honra que está!
As voltas que o mundo dá!
Se calhar até há gente que pensa
que entraste no calendário.

Eu queria agradecer-te, Galileo,
a inteligência das coisas que me deste.
Eu,
e quantos milhões de homens como eu
a quem tu esclareceste,
ia jurar- que disparate, Galileo!
- e jurava a pés juntos e apostava a cabeça
sem a menor hesitação-
que os corpos caem tanto mais depressa
quanto mais pesados são.

Pois não é evidente, Galileo?
Quem acredita que um penedo caia
com a mesma rapidez que um botão de camisa ou que um seixo da praia?
Esta era a inteligência que Deus nos deu.

Estava agora a lembrar-me, Galileo,
daquela cena em que tu estavas sentado num escabelo
e tinhas à tua frente
um friso de homens doutos, hirtos, de toga e de capelo
a olharem-te severamente.
Estavam todos a ralhar contigo,
que parecia impossível que um homem da tua idade
e da tua condição,
se tivesse tornado num perigo
para a Humanidade
e para a Civilização.
Tu, embaraçado e comprometido, em silêncio mordiscavas os lábios,
e percorrias, cheio de piedade,
os rostos impenetráveis daquela fila de sábios.

Teus olhos habituados à observação dos satélites e das estrelas,
desceram lá das suas alturas
e poisaram, como aves aturdidas- parece-me que estou a vê-las -,
nas faces grávidas daquelas reverendíssimas criaturas.
E tu foste dizendo a tudo que sim, que sim senhor, que era tudo tal qual
conforme suas eminências desejavam,
e dirias que o Sol era quadrado e a Lua pentagonal
e que os astros bailavam e entoavam
à meia-noite louvores à harmonia universal.
E juraste que nunca mais repetirias
nem a ti mesmo, na própria intimidade do teu pensamento, livre e calma,
aquelas abomináveis heresias
que ensinavas e descrevias
para eterna perdição da tua alma.
Ai Galileo!
Mal sabem os teus doutos juízes, grandes senhores deste pequeno mundo
que assim mesmo, empertigados nos seus cadeirões de braços,
andavam a correr e a rolar pelos espaços
à razão de trinta quilómetros por segundo.
Tu é que sabias, Galileo Galilei.

Por isso eram teus olhos misericordiosos,
por isso era teu coração cheio de piedade,
piedade pelos homens que não precisam de sofrer, homens ditosos
a quem Deus dispensou de buscar a verdade.
Por isso estoicamente, mansamente,
resististe a todas as torturas,
a todas as angústias, a todos os contratempos,
enquanto eles, do alto inacessível das suas alturas,
foram caindo,
caindo,
caindo,
caindo,
caindo sempre,
e sempre,
ininterruptamente,
na razão directa do quadrado dos tempos."
   

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