segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

CAVACO E A BOLA

 
(-Quem é o provinciano ao lado do Eusébio?)

Que Cavaco Silva não bate bem da bola, já se sabe.
Que não prima pelo fair-play, pelo respeito pelo adversário, também é do conhecimento geral.
Que à finta, ao disparo, ao meter o pé, prefere a cotovelada e a rasteira simulada, de igual modo é patente.
Que os seus dotes de intelectual e de pessoa da cultura deixam a desejar, é, outrossim, notório.
Daí ter soado a muito falso a declaração solene que proferiu aquando da morte de Eusébio.
Que era, de facto, um génio, um Actor único da cultura desportiva de um país e de um universo.
Tal como José Saramago, outro Artista da cultura, do burilamento da língua portuguesa, Prémio Nobel da Literatura.
Que, na hora do falecimento, não mereceu de Cavaco a mínima sílaba.
E desenganem-se aqueles que se "horrorizam" com o fenómeno desportivo, como contraponto à dita "cultura". Só se forem "intelectuais" de bancada ou de café...
Quando chegou ao Brasil, para uma série de conferências, a primeira coisa que Albert Camus fez foi ir assistir a um jogo de futebol.
A literatura, tal como o desporto, fazem parte de um todo muito maior que é a Cultura de um povo, de um país, cada uma a seu modo, mas ambas contribuindo para a formação de uma matriz identificável e própria. Com as suas cambiantes, com os aproveitamentos políticos e sociais que se queiram fazer de qualquer um destes fenómenos.
Leia-se, por favor, a admirável obra do Prof. José Esteves "O Desporto e as Estruturas Sociais", que explica muita coisa.
Por isso, se Cavaco foi pigmeu à sombra gigantesca de Saramago e quis emendar a mão com o gigante Eusébio, o problema é dele.
Saramago e Eusébio, neste momento, estão juntos no Olimpo dos Eleitos.
A Cavaco basta um bolo-rei de Boliqueime.
A Eusébio, Artista eterno, junta-se a literatura num belo poema de Manuel Alegre :

"EUSÉBIO
Havia nele a máxima tensão
Como um clássico ordenava a própria força
Sabia a contenção e era explosão
Não era só instinto era ciência
Magia e teoria já só prática
Havia nele a arte e a inteligência
Do puro e sua matemática
Buscava o golo mais que golo – só palavra
Abstracção ponto no espaço teorema
Despido do supérfluo rematava
E então não era golo – era poema."



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