sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

A TOURADA DAS PRAXES

Entendamo-nos desde já: não existem praxes boas ou praxes más, académicas ou outras.
Toda a praxe é má e aviltante. Especialmente, no caso, a académica.
No sentido em que, desde logo, se divide o corpo estudantil entre "veteranos" e "caloiros".
Divisão. Classes. Não há integração, há segregação. É isto o retrato de uma Escola?
Quando um rebanho arregimentado por um chamado "dux" (Duce? Fuhrer? "Venerando Chefe do Estado"?), acefalamente, decide humilhar, física e psicologicamente aqueles que vão entrar na Escola e que, por medo, se submetem acriticamente, e apenas por serem novatos, não há pedagogia. Há analfabetismo.
Gerando o medo, a aceitação automática da hierarquia só por o ser, da ordem sem discussão, do reflexo condicionado e condicionante. Na escola e, depois, no local de trabalho e na família.
Reflexos que os condicionarão.
Para, daqui a quatro anos, serem eles os algozes. Transmite-se a brutalidade de geração para geração.
É isto que a Escola pretende, é isto que se propõe ensinar, é isto que os mais velhos têm para comunicar e transmitir aos mais novos, é isto que estes vão buscar para a sua formação?.
Ou tudo não passará de uma humilhante e castradora manifestação de recalcamentos, frustrações, impotências físicas e psicológicas que se descarregam sobre os mais frágeis? Curiosamente, tal como se pode aplicar a essa outra grande "tradição cultural" que é a tourada...
E convirá dizer que a dita praxe só será tradição no que se refere a Coimbra, também célebre por na sua "Queima das Fitas" se consumir mais cerveja do que na Oktoberfeist de Munique...
E tal era a violência da "tradição" que o próprio D.João V decretou que qualquer estudante que ofendesse outro, com o pretexto de ser caloiro, seria expulso da Universidade (1727).  
O reacender da praxe nos anos 80 do século passado, tal como do "traje académico", herdeiro das vestes dos clérigos dos Estudos Gerais, vai a par e passo com o florescimento, como cogumelos, das Universidades Privadas.
O traje distingue o "estudante bom" do resto da maralha da escola pública.
A praxe, cada  vez mais brutal, humilhante e castradora pretende significar que na sua "Universidade" só entram os mais fortes, as tropas de elite, os comandos. Divisão de classes.
Sempre de capa e batina. Ou de "traje de luces".
Acolher, integrar, participar na vida da Escola é outra coisa. É pensar, discutir, apresentar teses, defendê-las, criticá-las, inovar, experimentar, colocar tudo em causa, até.
E isto não pode ser feito numa, por exemplo, semana no início dos anos lectivos?
Ah, pois, só que assim fomenta-se o espírito crítico, a imaginação, o sonho que comanda a vida.
E ao actual poder, nada disto interessa.
Enquanto se fala de praxes não se discute o sub-financiamento do ensino, o estrangulamento da inovação e do desenvolvimento, a estagnação da pesquisa nas novas tecnologias.
Assim, mestrem-se as praxes,
Doutorem-se as bebedeiras orgíacas,
Pósgraduem-se a ignorância, a submissão, a humilhação.
E estoque-se de morte o país! 
O poder fica com orelha e rabo...
 

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