quinta-feira, 10 de outubro de 2013

PIAF

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A 10 de Outubro de 1963 a França perdia dois vultos superlativos da sua e da nossa cultura : Jean Cocteau e Edith Piaf.
No que respeita a esta grande intérprete, quem for a Paris não deixe de visitar o seu túmulo naquela verdadeira galeria de arte que é o cemitério do Père Lachaise.
Edith, baptizada Edith Giovanni Gassion, nasceu em Belleville, subúrbio parisiense, a 19/12/1915
O pai era um acrobata de circo e de rua, e a mãe cantora de café. Foi criada pela avó e, posteriormente, por prostitutas de um bordel em Bernay (Normandia).
Passou a acompanhar o pai nas suas deambulações artísticas e, aos 14 anos, cantou pela primeira vez perante o público, embora na rua.
Com 15 anos, abandonou a companhia paterna e foi viver para Paris, bairro de Pigalle. Foi mãe aos 18 anos, mas a sua filha, Marcelle, viria a morrer de meningite 2 anos depois.
Para evitar cair na prostituição, dava todo o dinheiro ganho a cantar os chulos que controlavam o submundo daquelas vielas.
Depois destes anos amargos, praticamente desde que nasceu, a sorte, finalmente, sorriu-lhe. Um empresário francês, de seu nome Louis Leplée, proprietário de uma sala de espectáculos nos Campos Elísios ("Le Genny's") reparou na sua inconfundível voz e contratou-a. Começou a trabalhar a sua voz e a postura em palco, aconselhando-a a vestir de negro, o que viria a tornar a sua imagem de marca.
Foi ele que a baptizou de Piaf (calão para um tipo de pardal), designando-a de Môme Piaf (pequeno pardal). Aos seus primeiros espectáculos assistiram cantores franceses então em voga nos anos 30, como Maurice Chevalier ou Mistinguette.
Nesses anos, é apresentada a dois compositores que viram a ter marcada influência na sua carreira:  Raymond Asso e Marguerite Monnot, que a acompanharia até ao fim da vida. Asso mudou-lhe o nome artístico para Edith Piaf, e reorientou a sua carreira, designadamente o tipo de repertório, trabalhando a postura, a dicção, os gestos.
Em 1938 estreia-se no então famoso Bobino de Paris, e rapidamente converte-se na nova grande vedeta da canção francesa. Em 1940 estreia-se no teatro com uma peça de Jean Cocteau  e em 1941 no cinema-
Abra-se aqui um parêntesis para dizer que, não obstante o tema ser controverso, apesar de ter continuado a cantar durante a ocupação alemã na II Guerra Mundial, Edith terá ajudado, por diversas vezes, a Resistência. Algo que, por exemplo, não é abordado no filme-quase documentário "La Vie en Rose", de que se destaca a excelente interpretação de Marion Cotillard.
E no fim da guerra, 1945, escreve um êxito intemporal, precisamente "La Vie en Rose"
Em 1947 inicia a primeira das suas tournées aos Estados Unidos onde, em Nova Iorque, conhece o grande amor da sua vida, o boxeur francês campeão do mundo de pesos médios Marcel Cerdan.
Cerdan viria a falecer, em 1949, num acidente aéreo ao largo dos Açores.
O profundo desgosto, agravado por uma poliartrite aguda, conduziram ao começo de consumo de drogas, designadamente morfina, a par de ingestão excessiva de álcool.
Depois de ter apoiado, e acompanhado, a ascensão de um então jovem Yves Montand, seria também a responsável, apoiada pela tertúlia de poetas, compositores e empresários que faziam os serões em sua casa, pelo início das carreiras de, entre outros, Charles Aznavour, Gilbert Bécaud, Jacques Prévert ou Georges Moustaki, nomes que iriam renovar a canção francesa no pós-guerra.
Entre 1956 e 1957 regressa aos Estados Unidos, aparecendo por 8 vezes no Ed Sullivan Show e realizando 2 concertos memoráveis no Carnegie Hall de Nova Iorque.
Com a saúde debilitada por excessos e uma vida sofrida, morre prematuramente, aos 47 anos, em Grasse, nos Alpes Marítimos.
O seu funeral, em Paris, foi uma das maiores demonstrações de luto da nação francesa.
A 10/11/1960 tinha gravado uma música que, dizia, era o reflexo da sua vida, de que não se arrependeu: "Non, je ne regrette rien."

    
 

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