terça-feira, 1 de outubro de 2013

O RETRATO DE DORIAN COELHO

 
Passos entrou, em silêncio, no salão nobre.
Da sede do PSD, na Rua de São Caetano à Lapa.
Demorou-se a contemplar os retratos dos anteriores presidentes do partido.
Sá Carneiro, o pai fundador.
Emídio Guerreiro, Sousa Franco, Mota Pinto,
Meneres Pimentel, Pinto Balsemão, Nuno Rodrigues dos Santos,
Rui Machete, Fernando Nogueira, Marcelo Rebelo de Sousa,
Durão Barroso, Santana Lopes, Marques Mendes, Ferreira Leite.
E Cavaco Silva, o santo protector, regedor de Belém.
E o seu próprio retrato, Passos Coelho.
Sorriso sereno, bem apessoado, rosto determinado e jovem.
Olhou-se ao espelho.
Mais rugas e olheiras do que transparecia no retrato.
E eis que começam a chegar os resultados.
Coimbra
Cavam-se as rugas, acentuam-se as olheiras.
O retrato continua sereno.
Gaia
O cabelo começa a agrisalhar, as mãos a encarquilhar, o tronco começa a inclinar-se.
O retrato parece mais jovem, o sorriso mais aberto
Sintra
As raras cãs estão brancas, o rosto é um pergaminho, as mãos ossos compridos.
O retrato é de um jovem, um jotinha, amplo sorriso, recordações.
Lisboa
As pernas tremem, o tronco aproxima-se mais do chão, as mãos tremem.
A vitalidade apodera-se do retrato, como se tomasse vida.
Porto
O corpo tomba, a respiração é difícil, as mãos nada agarram, os olhos já pouco enxergam.
O retrato parece fitá-lo, o sorriso abre-se, completo.
Funchal.
O corpo, franzino e dobrado, desprende-se da vida, os olhos cerram-se.
Ainda tem tempo de olhar para o retrato.
E esbugalha os olhos, quer balbuciar. 
Cai! De vez!
Do alto, da parede, da tela, Rui Rio solta uma sonora gargalhada!

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