domingo, 16 de fevereiro de 2014

PAREDES, O GÉNIO

("Carlos Paredes" por Carlos Botelho)
 
Nasceu em Coimbra a 16 de Fevereiro de 1925.
Filho e neto de guitarristas, cedo começou a dedilhar a guitarra de Coimbra, desde os quatro aos, tendo como patrono e professor o pai, Artur Paredes, um dos responsáveis pela evolução técnica e musical desse instrumento icónico da Lusa Atenas.
Em Lisboa, e por influência da mãe, também recebeu aulas de piano e violino, estas na Academia dos Amadores de Música, de Fernando Lopes Graça.  
Entretanto, em 1949, emprega-se como funcionário administrativo do Hospital de S.José, em Lisboa, onde residia desde 1934, ao mesmo tempo que exerce a sua cidadania nas fileiras da oposição ao Estado Novo, vindo a ser preso pela PIDE em 1958. Seria libertado no ano seguinte e, passados anos, ainda viria a apertar a mão ao colega que o denunciara. Depois do 25 de Abril recusou sempre o epíteto de resistente ou herói da resistência , porque, dizia, "havia pessoas que tinham sofrido mais do que eu"! 
Porque Carlos Paredes era um ser Humano superior, simples, modesto, às vezes até demais, como só os grandes génios sabem ser.
Tão grande, que até Paul McCartney, na sua digressão mundial de 1989, integra a música "Dança" no ambiente musical da mesma.
("Dança")

Em 1967 grava o seu primeiro LP ("Guitarra Portuguesa"), encontrando-se a sua obra compilada, desde 2003, em 8 CD's. 
Colaborou com o cinema, o teatro, e outros colegas como Adriano Correia de Oliveira (outro que veio do fado de Coimbra), Carlos do Carmo, Victorino de Almeida, Charlie Haden, Madredeus, Rui Veloso, Mário Laginha, Nuno Guerreiro.
Herdeiro da tradição coimbrã, desenvolve uma técnica própria, que a vivência na capital bastante influenciou. Nas suas mãos de génio (O "Homem dos Mil Dedos", como lhe chamavam), a guitarra chorava, ria, gemia, sussurrava baixinho, gritava exaltadamente, tinha alma, tinha sonho, amava, desejava, cantava, era corpo vivo.
E com um cheiro a maresia e o perfume da tonalidade branca que embala Lisboa.
Como no tema do filme "Verdes Anos", que, em 1963, compôs para o realizador Paulo Rocha:  

"Quando eu morrer, morre a guitarra também.
O meu pai dizia que, quando morresse, queria que lhe partissem a guitarra e a enterrassem com ele.
Eu desejaria fazer o mesmo. Se eu tiver de morrer.” (Carlos Paredes)




Felizes somos nós, por termos sido contemporâneos do homem bom e simples que é o génio Carlos Paredes.

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