quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

NUNO BRAGANÇA

 
Nuno Bragança é, infelizmente, pouco divulgado.
A sua obra, "Obra Completa 1969-1985", editada em 2009 pela Dom Quixote, vendeu pouco mais de 1.000 exemplares.
No entanto, é um dos grandes criadores da nossa literatura no século XX.
Nascido a 12 de Fevereiro de 1929 no seio de uma família aparentada com a Casa de Bragança, nem por isso Nuno, desde novo, deixou de revelar a sua preocupação com os mais desfavorecidos, consciente do significado da luta de classes, politizado, lúcido e revolucionário, por vezes próximo do exagero.

“Ora, não se deve matar pobres, porque cada um deles representa esmolas possíveis, quer dizer Boas Acções. Como dizia o Poeta, «os pobres são os degraus da escada que conduz os ricos ao Céu».”
(Nuno Bragança)


Praticante de boxe e caça submarina, foi fundador do Centro Português de Actividades Subaquática, foi, também, militante da Juventude Operária Católica, de cujo órgão "Encontro" foi redactor.
Amante do cinema e do cineclubismo, fundou o "Centro Cultural de Cinema" e, com outros católicos progressistas (João Bénard da Costa, António Alçada Baptista, Pedro Tamen), fundou a revista de cultura "O Tempo e o Modo", marco indelével das letras nacionais.
Na sua crónica "Guliveira e os Liliputianos" (em colaboração com M.S.Lourenço e Manuel de Lucena) satirizou Salazar e o salazarismo.
Em 1963 é o argumentista e autor dos diálogos de um filme de Paulo Rocha que se viria a tornar uma referencia incontornável do nosso cinema: "Verdes Anos".
Com uma visão por vezes violenta, mas com imenso amor pelas pessoas e pela vida, numa procura incessante da liberdade, que verte para a sua prosa, produz romances sólidos, em que perpassa com intensidade os anos 60 e 70, a vertigem, a noite, o bas-fond, o desejo, a frustração, os sonhos de revolução e liberdade, os copos, as ruas, as pessoas, sempre.
"A Noite e o Riso" (1969), "Directa" (1977), "Square Tolstoi" (1981), constituem uma quase trilogia, perpassada de apontamentos auto-biográficos e datados. De citar, ainda, a colectânea de contos "Estação" (1984) e o póstumo "Do Fim do Mundo".
Sugere-se, caso se consiga obter uma cópia, a visão do documentário realizado em 2008 por João Pinto Nogueira, dedicado a Nuno Bragança, e cujo título é simbólico: "U Omãi qe Dava Pulus". 
 

Às vezes, acontece num sítio destes e em hora assim que o pecado original se derreteu num shaker, acabando-se a mortalidade infantil e a Polícia. Sinto essa harmonia. Por cima dos ombros cansados, como um xaile da leveza dum suspiro de gato. Pelas luzes das mesas e fumo nos olhos trotam as mais certeiras notas de piano. (Nuno Bragança - "A Noite e o Riso")

 

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