terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

CESÁRIO VERDE


Nasceu em Lisboa a 25 de Fevereiro de 1855, e ali viria a falecer a 19de Julho de 1886, no Lumiar, vítima de tuberculose.
A sua obra poética só veio a público em 1901, graças ao amigo Silva Pinto, que conhecera ao frequentar o Curso Superior de Letras, e que edita "O Livro de Cesário Verde".
Poeta do campo e da cidade, Cesário recusa o lirismo tradicional, trata o campo como algo concreto, palpável, vivo, a cidade com as suas ruas "macadamizadas", os quintais vazios, as casas apalaçadas, edifícios sujos, retrata calceteiros, padeiros, varinas, vendedeiras, trabalhadoras, burguesinhas, fúteis, para além do realismo e, até, do impressionismo, anunciando a poesia do século XX, que não dispensa o retrato social e a intervenção crítica.
"Vaidosa
Dizem que tu és pura como um lírio
E mais fria e insensível que o granito,
E que eu que passo aí por favorito
Vivo louco de dor e de martírio.
Contam que tens um modo altivo e sério,
Que és muito desdenhosa e presumida,
E que o maior prazer da tua vida,
Seria acompanhar-me ao cemitério.
Chamam-te a bela imperatriz das fátuas,
A déspota, a fatal, o figurino,
E afirmam que és um molde alabastrino,
E não tens coração como as estátuas.
E narram o cruel martirológio
Dos que são teus, ó corpo sem defeito,
E julgam que é monótono o teu peito
Como o bater cadente dum relógio.
Porém eu sei que tu, que como um ópio
Me matas, me desvairas e adormeces,
És tão loira e doirada como as messes,
E possuis muito amor... muito amor próprio." ("O Livro de Cesário Verde")
 

O seu poema mais conhecido será, possivelmente, "De Tarde". E como não ligá-lo, por exemplo, aos movimentos estéticos que surgiam na Europa, aqui retratados na obra-prima de Edouard Manet, "Le Déjeuner sur L'Herbe", ilustração para o citado poema, de um poeta que merece ser lido.  
("Le Déjeuner sur L'Herbe")

"De Tarde

Naquele pique-nique de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.
Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.
Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, inda o Sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos,
E pão-de-ló molhado em malvasia.
Mas, todo púrpuro a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas!" ("O Livro de Cesário Verde")

 
 


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