sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

LÍNGUA PORTUGUESA

 

Comemora-se hoje o Dia Mundial da Língua Materna, proclamado em 17 de Novembro de 1999 pela UNESCO.
E a nossa língua materna é o Português, a nossa Pátria, como escreveu Pessoa.
Língua falada aqui, no Brasil, em África, em partes da Índia, na península de Malaca, com descendentes no Japão.
Língua que viajou no mundo, no tempo, entre e fora de portas, evoluindo, adaptando-se, sempre viva, sem necessitar de qualquer absurdo "Aborto Ortográfico" ou quejandos.
Língua que se espraia nas areias de todos os continentes, ligada à História, à Poesia, à Prosa, que urge divulgar cada vez mais, já que o retorno de tal divulgação é incontável.
Excepto para os cavernícolas que cortam, sem qualquer competência e visão, os apoios aos cientistas e investigadores da Língua e da História, os quais, na santissima ignorância dessa gentalha, não interessam às empresesas e  à economia. De facto, Shakespeare é um estorvo para a economia inglesa, e não se contam os prejuízos que Miguel de Cervantes causa às empresas espanholas.
Cabe-nos  defender a língua mais falada a sul do Equador, falando-a, escrevendo-a, lendo-a.
E que maravilhas esta bela língua produziu:

"Descalça vai para a fonte
Lianor pela verdura;
Vai fermosa, e não segura.

Leva na cabeça o pote,
O testo nas mãos de prata,
Cinta de fina escarlata,
Sainho de chamelote;
Traz a vasquinha de cote,
Mais branca que a neve pura.
Vai fermosa e não segura.

Descobre a touca a garganta,
Cabelos de ouro entrançado
Fita de cor de encarnado,
Tão linda que o mundo espanta.
Chove nela graça tanta,
Que dá graça à fermosura.
Vai fermosa e não segura."

Luís de Camões
  Mais recente:
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas da roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama o coração.
(Fernando Pessoa)

E se a poesia já deu dois exemplos, porque não a prosa:

«E Ega voltou a falar dos inundados do Ribatejo e do sarau literário e artístico que, em benefício deles, se "ia cometer" no salão da Trindade... Era uma vasta solenidade oficial. Tenores do Parlamento, rouxinóis da literatura, pianistas ornados com o hábito de Sant' Iago, todo o pessoal canoro e sentimental do constitucionalismo "ia entrar em fogo". Os reis assistiam, já se teciam grinaldas de camélias para pendurar na sala. Ele, apesar de demagogo, fora convidado para ler um episódio das "Memórias de Um Átomo": recusara-se, por modéstia, por não encontrar, nas "Memórias", nada tão suficientemente palerma que agradasse à capital. Mas lembrara o Cruges; e o maestro ia ribombar ou arrulhar uma das suas "meditações". Além disso, havia uma poesia social pelo Alencar. Enfim, tudo prenunciava uma imensa orgia...» (extracto de "Os Maias", de Eça de Queirós)

"...não há diferença nenhuma entre cem homens e cem formigas, leva-se isto daqui para ali porque as forças não dão para mais, e depois vem outro homem que transportará a carga até à próxima formiga, até que, como de costume, tudo termina num buraco, no caso das formigas lugar de vida, no caso dos homens, lugar de morte, como se vê não há diferença nenhuma." (extracto de "Memorial do Convento", de José Saramago) 

E também esta Língua, que já é musical por excelência, quando veste a canção, produz obras-primas como esta, com música de Fernando Tordo e a palavra genial de José Carlos Ary dos Santos:


Sem comentários:

Enviar um comentário