sábado, 10 de agosto de 2013

JORGE AMADO

 
A 10/08/1912 (101 anos), nascia em Itabuna, e passaria a infância em Ilhéus, no estado da Bahia, aquele que é considerado por muitas pessoas como o melhor e o mais querido de todos os escritores brasileiros: Jorge Amado, o prémio Nobel da literatura,  para artífices da língua portuguesa que, injustamente, ficou por atribuir.
Traduzido em 49 idiomas, se não é o escritor do Brasil mais vendido (Paulo Coelho fica com essa honra), é o verdadeiro mestre da língua, dos costumes, da cultura, da vida e do trabalho do seu país.
Pela sua vasta obra passam os problemas e as injustiças sociais, o folclore e a política, as crenças e tradições, incluindo as que vieram de África nos porões dos navios dos escravos, e a sensualidade inata do povo brasileiro.   
Militante comunista desde os anos 30, foi eleito deputado em 1945, tendo sido da sua autoria as emendas legislativas sobre liberdade religiosa, ele que foi testemunha de perseguições aos ritos trazidos de África e aos protestantes, e a que garantiu, legalmente, os direitos de autor.
Em 1955 abandonou a militância, mas nunca renegou o seu passado e o partido a que pertencera.
O seu primeiro livro data de 1930 ("O País do Carnaval"), e logo aí surpreende pelas cores vivas da narrativa e pelo empenho social, denunciando injustiças e promovendo os ideias igualitários e libertadores. Esta fase, que se poderá considerar de militância política e empenho social, mas que, de igual modo, é atravessada de uma extrema beleza literária, produzindo verdadeiras obras-primais ("Jubiabá", "Mar Morto", "Capitães da Areia", "Terras do Sem Fim", "Seara Vermelha", "Os Subterrâneos da Liberdade"-3 volumes), dará lugar, em 1959, a uma mudança na produção literária, a qual, não abandonando nunca a crítica social, acrescenta páginas de crónicas de costumes e de realismo fantástico, sendo a primeira obra deste novo ciclo talvez a mais conhecida do autor: "Gabriela Cravo e Canela".
A este livro seguir-se-iam verdadeiros marcos da criação em língua portuguesa, como "A morte e a morte de Quincas Berro D'Água", "Dona Flor e Seus Dois Maridos", "Tenda dos Milagres", "Teresa Batista Cansada de Guerra", "Tieta do Agreste", "Tocaia Grande", "O Sumiço da Santa" (onde é elogiosamente referido o seu grande amigo, também já falecido, José Franco, oleiro e ceramista do Sobreiro, Mafra), e "A Descoberta da América pelos Turcos".
Em 1992 publicou o seu grande livro de memórias "Navegação de Cabotagem".
Postumamente, as crónicas que entre 1942 e 1945 escreveu para o jornal O Imparcial foram coligidas em "Horas da Guerra".  
A 6/04/1961 foi admitido na Academia Brasileira de Letras, sendo a sua cadeira actualmente ocupada pela sua viúva, a também escritora Zélia Gattai.
Sobre a Academia e os seus membros, hábitos e solenidades, escreveu o romance satírico "Farda, Fardão e Camisola de Dormir".
Jorge Amado manteve, até ao fim da vida, intensa correspondência com escritores e políticos, como os compatriotas Erico Verissimo ou Carlos Drummond de Andrade, Graciliano Ramos ou Juscelino Kubitschek (ex-presidente do Brasil), o colombiano e merecido prémio Nobel de Literatura Gabriel Garcia Marquez, o francês François Mitterand (ex-presidente) ou o português, e também merecido prémio Nobel de Literatura, José Saramago.
Foi Doutor Honoris Causa por 10 Universidades, desde o Brasil a Itália, da França a Portugal, e, também, comendador e grande oficial de ordens honoríficas do Brasil, Argentina, Chile, Venezuela, Espanha, França e Portugal.
Mas o seu maior orgulho era o título de Obá, posto civil no Ilê Axé Opô Afonjá, na Bahia (designações ligadas à cultura africana trazida e adoptada no Brasil, designadamente em Salvador da Baía, candomblé). 
Ler, reler Jorge Amado, é receber um sopro de vida, e mergulhar, com prazer e emoção no Brasil profundo, real, de coronéis das fazendas de cacau, jagunços, prostitutas, revolucionários, batoteiros, chulos, senhoras "de virtude", idealistas, burocratas, poetas, caciques, explorados, marinheiros, caixeirinhas de balcão, turcos, proletários, negros, brancos, toda uma paleta intensa, repleta de cores, sons e cheiros únicos na literatura mundial.
Cheiro a cravo e a canela, por exemplo... 

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