domingo, 12 de maio de 2013

PRAÇA DA CANÇÃO


A 12 de Maio de 1936 nascia uma das grandes vozes da poesia deste país: Manuel Alegre.
Poeta maior da liberdade, com vastíssima obra publicada, é um nome incontornável, já, da nossa história literária.
Após os estudos liceais, entrou, em 1956, na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, onde para além do mais, foi campeão de natação, pela Associação Académica de Coimbra, e internacional desta modalidade. 
Em 1958 apoia a campanha eleitoral de Humberto Delgado.
Em 1960 começa a publicar poemas nas revistas "Briosa" (que fundou), na Vértice e na Via Latina.
Juntamente com Rui Namorado, Fernando Assis Pacheco e José Carlos de Vasconcelos, publica trabalhos seus na colectânea "A Poesia Útil e Poemas Livres".
Em 1961 é chamado ao serviço militar, partindo para Angola em 1962, sendo aí preso pela PIDE em 1963, que lhe fixa residência em Coimbra.
Em 1964 foge para Paris, juntando-se à Frente Patriótica de Libertação Nacional, reunida em torno de Humberto Delgado. Na qualidade de representante desta organização, depõe nas Nações Unidas sobre a situação colonial portuguesa, particularmente a sua experiência em Angola. Nesse mesmo ano, parte para Argel, onde será o locutor da clandestina "A Voz da Liberdade", difundindo conteúdos contra o regime salazarista.
Os seus primeiros livros de poemas, "A Praça da Canção" (1965) e "O Canto e as Armas" (1967) são aprendidos pela censura, mas os seus poemas são cantados e divulgados por, entre outros, Adriano Correia de Oliveira, Zeca Afonso, Luís Cília e Manuel Freire. Refira-se que Amália Rodrigues foi uma das intérpretes da sua "Trova do Vento que Passa".
Regressa a Portugal a 2 de Maio de 1974, onde virá a desempenhar vários cargos públicos, sendo por duas vezes candidato à Presidência da República.
Entre outros ganhou o Prémio Pessoa (1999) e o Grande Prémio da Associação Portuguesa de Escritores (1998).
Em 2010 a Universidade de Pádua inaugurou a Cátedra Manuel Alegre, destinada ao estudo e divulgação da Língua, Literatura e Cultura Portuguesas.
É o único autor português incluído na antologia "Cent poèmes sur l'exil", editada em 1993 pela Liga dos Direitos do Homem, em França.
Manuel Alegre, poeta e ler e a reler. Sempre.

 (o poema seguinte foi inspirado a Manuel Alegre por uma rapariga que, no Largo do Rato, queria entregar um cartaz aos representantes da troika)

Cassandra e a Troika

Então Cassandra apareceu na rua
trazia um cartaz para entregar à Troika
saúde educação dizia ela. E havia
em seu olhar a cólera e a beleza
ela era a filha de Príamo aquela
por quem Apolo se apaixonou
nos seus ouvidos passaram as serpentes
e por isso ela ouvia o que ninguém ouvia
tinha vindo para avisar que a Troika
é o novo cavalo falso dentro da cidade
os seguranças rodearam-na mas ela falava
seus longos cabelos soltos sob o sol de Lisboa
clamava por justiça e dignidade
ouvissem ou não ouvissem ela era a sibila
e apontava o cavalo dentro da cidade.


2.3.2013
Manuel Alegre




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