sábado, 18 de maio de 2013

COADOPÇÃO

"Depois da interrupção voluntária da gravidez, do casamento homossexual e de outras leis "progressistas", aí temos a coadoção por casais com o mesmo sexo. Se se aprovar a despenalização das chamadas "drogas leves", na rede de quiosques que o Bloco gostaria que fosse criada, ficaremos mesmo um país fantástico. Falido mas muito moderno. Quem não pensar assim é, obviamente, retrógrado, provavelmente um fascista..."
(João Marcelino, director do "Diário de Notícias", hoje).

Surpreendente a frase acima transcrita, especialmente por se tratar de quem a subscreve.
País falido, é certo, mas os problemas a resolver não são apenas do foro da economia e das finanças. São, também, e muito, civilizacionais, políticos no nobre sentido que a palavra deve sempre ter.
Por muito que custe a João Marcelino, ou a outros Marcelinos, o país já não é só a preto e branco, sim ou não, quem não está por nós está contra nós.
A maioridade de uma democracia mede-se, também, pelo avanço (ou recuo) dos seus paradigmas civilizacionais, da sua tolerância com o que se classifica de "diferente", pela afirmação ao igual tratamento dos direitos das minorias, a tal equidade de que agora tantos falam.
"Senhor, não estou de acordo com o que dizeis, mas bater-me-ei até à morte para que o possais dizer".
Esta lapidar frase de Voltaire, que deveria ser afixada em todos os parlamentos do mundo, resume todo um conceito de democracia, liberdade e igualdade, aplica-se ao caso de que aqui se fala.
A coadopção foi ontem aprovada na Assembleia da República por 99 votos a favor contra 94 e 9 abstenções.
Não terá a grandiosidade ou as parangonas mediáticas de um Orçamento ou de uma Lei de Defesa Nacional, mas é um avanço para uma cidadania mais plena.
Tal como a lei que regulamenta a interrupção voluntária da gravidez (e não liberalização do aborto).
Ou a lei que permite o casamento entre pessoas do mesmo sexo (e não desregração dos costumes).
E quanto aos quiosques, quem conhece, por exemplo, Amesterdão, não a considera uma Sodoma ou uma Gomorra.
Acima de tudo, há que dar lugar, e cidadania, ao "diferente", ao que não é obrigado a pensar ou a viver como nós pensamos ou vivemos, ao que quer pintar a vida com outras cores diferentes das nossas.
E que é tão cidadão, com os mesmos direitos e deveres, como cada um de nós.
Claro que João Marcelino, ou quem pense como ele, não é fascista.
Mas convém sempre recordar que, para castigar os diferentes, se instituíram Inquisições, pregaram-se e pregam-se Guerras Santas, toleram-se Ku-Klux-Klans, decretaram-se pogrons, legislaram-se censuras ou exames prévios, e construíram-se campos de concentração e fornos crematórios.
Que não mais voltarão, se o diferente formos eu, tu e todos e cada um de nós.
Plenamente.   





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