quinta-feira, 19 de março de 2015

O PÂNTANO

 

E temos este sentimento, esta tristeza, este sabor a pântano.
Há lista VIP, não há lista VIP.
Já temos dois bodes expiatórios.
E temos a suspeita, que ninguém a tira, de que nos estão a  enganar, a gozar-nos na cara.
Que há contribuintes de primeira e outros de segunda.
Ou de terceira.
De que, em flagrante arrepio e insulto ao texto constitucional, não somos todos iguais perante a Lei.
E este sentimento de desconforto, de dor no peito, de odor a podridão.
E não existe vergonha, ética, decência.
Devemos à Segurança Social, ao Fisco.
Olha, dizemos que nos esquecemos, que não temos dinheiro, que ninguém nos disse, ninguém nos avisou...
Nós? Não...só se fôssemos VIP ou constássemos da lista.
A nós, aos tais contrinbuintes de segunda, penhoram o carro, a casa, o ordenado, sem piedade.
Pois...esta sensação de mergulhar as mãos na lama....
Mas descansemos!
Lá de Belém, um cadáver ambulante sossega-nos dizendo que tudo é só jogo partidário, que a economia está pujante, que o BES é fiável, enfim, que o regular funcionamento das instituições democráticas segue o seu curso. 
Como a barquinha de Belém...
E as pernas a afundaram-se nestas areias movediças...
E, alegremente, encolhemos os ombros, é coisa de políticos....
E seguimos pastando estas ervas daninhas e envenenadas.   

("Queixa das almas jovens censuradas"-Poema de Natália Correia, música e voz de José Mário Branco) 

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