sábado, 8 de março de 2014

DIA INTERNACIONAL DA MULHER

 
A todas as mulheres deste país, de todos os países,
A todas as que trabalham e ganham, entre nós, e em média menos 180,00 euros do que um homem por trabalho igual,
Às que vêem a progressão nas suas profissões cortadas, porque não satisfazem os impulsos machistas dos chefes ou patrões, às vezes até colegas,
Às que não conseguem arranjar trabalho porque, com as mesmas habilitações ou qualidades, os "empreendedores" preferem os homens que não têm aqueles dias nem parem criancinhas,
Às que se levantam de noite, preparam pequenos almoços, roupas, mochilas, transportam filhos, vão para o trabalho, trabalham, vêm para casa, transportam filhos, fazem o jantar, lavam a roupa, dão banho aos filhos, passam a ferro, limpam a casa, dão as pantufas ao homem que, indolentemente, se escarrapacha, hipnotizado, diante do televisor, vão para cama, não há pachorra para mais, dormem quatro horas, em sobressalto,
Às que lhes são negadas a escola, a arte, a cultura, porque são obrigadas a ser força de trabalho e parideiras reprodutoras, porque mulher só presta com rédea curta e porrada na garupa, mesmo que acabe na esquina a abrir as pernas,
Às que, violadas, doentes, arrastadas, se deslocam aos hospitais e clínicas, para tentar, dolorosamente, acabar com o seu sofrimento e com o sofrimento de quem viria, e uma moral imoral as condena sem julgamento,   
Às que suportam, tantas vezes no silêncio que não entra nas estatísticas, nem faz páginas de jornais ou fait-divers de televisões, todas as impotências e frustrações, e acabam, enxertadas de porrada, numa cama de hospital ou numa caixa de madeira, no meio de tanta cruel indiferança, senão mesmo censura preconceituosa,
Às que, por isto tudo, e por muito mais que aqui não se disse, merecem muito mais do que um dia mundialmente enfeitado de confettis.
Merecem uma vida inteira,
E merecem vivê-la!
Dignas!
Amadas!
E com direito a sorrir...


"A Mulher

A mulher não é só casa
Mulher-loiça, mulher-cama
Ela é também mulher-asa,
Mulher-força, mulher-chama

E é preciso dizer
Dessa antiga condição
A mulher soube trazer
A cabeça e o coração

Trouxe a fábrica ao seu lar
E ordenado à cozinha
E impôs a trabalhar
A razão que sempre tinha

Trabalho não só de parto
Mas também de construção
Para um filho crescer farto
Para um filho crescer são

A posse vai-se acabar
No tempo da liberdade
O que importa é saber estar
Juntos em pé de igualdade

Desde que as coisas se tornem
Naquilo que a gente quer
É igual dizer meu homem
Ou dizer minha mulher.

Ary dos Santos"

("Smile - de Charlie Chaplin -c/Paulette Goddard na cena final de "Tempos Modernos")

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