quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

NOUS SOMMES TOUS CHARLIE!

 

"Senhor, não estou de acordo com a vossa caricatura, mas bater-me-ei até à morte para que a possais desenhar" - Voltaire, Paris, 7 de Janeiro de 2015.

Não há cristianismo, islamismo, judaísmo, hinduísmo, budismo, socialismo, capitalismo, ismo disto, ismo daquilo.
Não há Deus, Alá, Jeová, Vishnu, Shiva, Manitu.
Não há cruzadas,  pogroms, sharias, quartéis, fábricas, bancos, escolas, ideologias, credos, miséria de filosofias.
Há um bem absoluto, por cima de isso tudo: A Liberdade!
E, mais, a Liberdade de Pensamento.
E, ainda mais, a Liberdade de Expressão.
E a poderosa Liberdade de Rir e Fazer Rir.
Como o fizeram quatro dos melhores cartoonistas mundiais, ontem cobardemente martirizados, com mais oito pessoas:
(Wolinsky, Cabu, Charab, editor-chefe e Tignous, cartoonistas eternos)

Porque um jihadista, um cruzado, um marine, fanatizado pela sua missão, pode matar e morrer e, depois, sentir-se confortado por ir para junto da mão direita de Deus ou para o seio de 100.000 virgens. A morte não o faz tremer.
Como, perante a mesma, não treme o capitalista, o agiota, o especulador, o traficante, o mafioso. A sua missão é matar, pelo dinheiro e pela privação do mesmo a milhões de pessoas.  
Tal como não tremem todos os fanáticos, inquisidores, torcionários, censores, corruptos, ditadores de todos os géneros.
Mas, perante o riso...
O Riso despe o prepotente, cobre-o de ridículo, expõe fraquezas e complexos.
O Riso é o pior inimigo de todos os ditadores.
A crítica mais eficaz a Hitler foi feita por Charlie Chaplin em "O Grande Ditador"


O Riso é perigoso. A ortodoxia sinistra matava quem ria ou quem fomentava o riso, incluindo o riso de Deus, como magistralmente escreveu Umberto Eco em "O Nome da Rosa".
O Riso faz pensar, congregar, unir, transmite alegria de viver, reduz o Absoluto ao relativo, ao efémero, ao ridículo. É uma arma poderosa.
E por isso, o texto, a imagem, a sátira, a caricatura são um inimigo letal, a abater, a calar.
E, agora, mal irá se o medo instituir uma espécie de auto-censura nos produtores de textos, imagens, cultura.
Seria um insulto que os mortos do Charlie Hebdo não perdoariam, e uma vitória do analfabetismo criminoso.
A Liberdade, a Liberdade de Pensamento, a Liberdade de Expressão não podem dar tréguas a quem quer que seja.
Somos TODOS NÓS que estamos em causa.
A tirania vence-se mantendo os nossos ideais, as nossas iniciativas, sem vergar.
E, mais particularmente, na pátria dos Direitos Humanos, na cidade que, também em Maio de 1968 quis mudar o mundo e mentalidades.
"A Marselhesa", hino que conduz a Liberdade, Igualdade, Fraternidade, passará, eternamente, por sobre todas a botas cardadas, kalashnikovs, patriots, burkas, cruzes, sarins, censuras, fanatismos, despotismos e analfabetismos.
Na ponta de uma caneta, de um pincel, na tecla de um computador, num ecran de tablet, numa música, num filme.



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