quinta-feira, 11 de setembro de 2014

MUDAM-SE OS TEMPOS, MUDAM-SE AS VONTADES (II)

 
Caro Luís Vaz de Camões, cá voltamos à conversa, nestes tempos desvairados, em que não tivemos verão e já o outono assoma à porta.
E, como podes observar, as trocas e baldrocas dos estarolas do poder continuam...
O Silva de Belém, o tal que se julga presidente da junta, agora veio dizer que disse o que disse do BES porque não tem opinião, limitou-se a fazer, como nestes tempos se diz, copy paste do que o Coelho lhe transmitiu e do que o senhor de cabelos brancos que entra na porta do Banco de Portugal lhe segredou. Ou seja, o homem, como sempre fez na sua vida política, acobardou-se, fugiu, não assumiu responsabilidades, meteu o rabinho entre as pernas, mesquinho como sempre.
O Coelho acusou o toque e regateou logo que, se o homem queria mais, pedisse!
"Um rei fraco faz fraca a forte gente", dirias tu, velho Luís.
Até a Luisinha, qual dama de ferro - lata ficar-lhe-ia melhor - já diz que a dívida pode ser discutida, apenas quatro meses depois de ter mandado queimar, nas fogueiras da Inquisição, o "Manifesto dos 74".
Quem tem cu tem medo, e esta frase não é tua, mas podes dizê-la.
Outro tipo que foi lá para fora, o Moedinhas, recebeu uma prenda, é comissário europeu para as áreas da Investigação, Inovação e Ciência. Boa!
Um tipo que passou a vida a "ir além da troika", que foi um verdadeiro plenipotenciário dessa mesma troika, que defendeu cortes, despedimentos, retirada de direitos, extinção de postos de trabalho, que ajudou a destruir educação, ciência, investigação, inovação, vem agora inchar o peito e dizer que, agora sim, é que vai ajudar ao crescimento económico da Europa!
"É fraqueza entre ovelhas ser leão".
Mas a destruição não fica por aqui. O homem da Educação, o tal Pior do Crato, para se vingar dos professores, efectivos ou contratados, fez uma razia, em especial nas colocações destes. E, para colocar a cereja no too do bolo, ao contrário do que era normal, publicou as listas de professores, ainda por cima incompletas, dia e meio, repete-se, dia e meio antes do início inicial do ano lectivo. É obra! Obra de quem tem por missão implodir a Educação. Se é suficiente saber ler, escrever e contar.
Olha Luís, lê este texto de outro poeta, o Zeca Afonso, dito em 1984 em entrevista à RTP:
 
"Os jovens, e digo, os jovens de todas as classes, estão um pouco à mercê de um sistema que não conta com eles, mas que hipocritamente fala deles - o 25 de Abril não foi feito para esta sociedade, para aquilo que estamos agora a viver.
Aqueles que ajudaram a fazer o 25 de Abril, imaginaram uma sociedade muito diferente da actual, que está a ser oferecida aos jovens.
Os jovens deparam-se com problemas tão graves, ou talvez mais graves do que aqueles que nós tivemos que enfrentar - o desemprego, por exemplo. E, por vezes, não têm recursos, porque o sistema ultrapassa-os, o sistema oprime-os, criando-lhes uma aparência de liberdade. Eu creio que a única atitude foi aquela que nós tivemos - por nós, eu refiro-me à minha geração - de recusa frontal, de recusa inteligente, se possível até pela insubordinação, se possível até pela subversão do modelo de sociedade que lhes está a ser oferecido, com o fundamento da liberdade democrática, com o fundamento do respeito pelos direitos dos cidadãos. É de facto uma sociedade, que é imposta aos jovens de hoje, teleguiada de longe por qualquer FMI, por qualquer deus banqueiro.
Tal como nós, eles têm que a combater, têm que a destruir, têm de a enfrentar com todas as suas forças, organizando-se para criarem a sociedade que têm em mente.”

Foi há 30 anos... É HOJE, Luís Vaz, e como tu dizias,
"Jamais haverá ano novo, se continuar a copiar os erros do ano velho".
O que eles querem é forçar-nos a desistir, a ajoelhar, a cair, a estender a mão, a pedir esmola que, magnânimamente nos farão o favor de distribuir.
Tal como a Sophia escreveu, sobre a tença que o paranóico do Sebastião te pagava:
"Irás ao paço. Irás pedir a tença / Será paga na data combinada / Este país te mata lentamente /..."
É isso, Luís Vaz, querem matar-nos lentamente.
É tempo de mudar os tempos e as vontades.
E de os caídos se levantarem!  

(José Afonso - "O que faz falta!")

 

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