sexta-feira, 22 de agosto de 2014

CAÇA ÀS BRUXAS


Algures por esta semana, dizem as histórias, no dia 19 de Agosto de 1692, terá começado na cidadezinha americana de Salem, no Massachusetts, o julgamento de diversas pessoas, mulheres em espoecial, acusadas de bruxaria.
Foram condenadas 20 pessoas, sujeitas a uma morte bárbara e cruel, um verdadeiro auto-de-fé.
Com base neste acontecimento histórico, Arthur Miller, em 1953, publicou a peça "As Bruxas de Salem", que se converteu numa obra-prima do teatro americano e na qual, fazendo o paralelo, denunciava a vaga censória e persecutória que, então, assolava os Estados Unidos, lançando a suspeita sobre actores, argumentistas, encenadores, realizadores, agentes culturais, acusando-os de perigosos comunistas.
Bruxaria, diziam.
Por cá, habituados a 300 anos de "Santa Inquisição" e 48 de Censura, também houve, e há, caça às bruxas.
Sendo que bruxas e bruxas apenas designam O Outro.
O Diferente.
O que Contesta.
O que Denuncia.
O que Protesta.
O que Escreve a verdade verdadeira.
O que Põe em Causa a "verdade" estabelecida.
A verdade do poder, e dos seus rafeiros e serventuários.
A verdade do dinheiro, do banqueiro, do traficante, do corrupto.
Do que compra almas e consciências.
Do que queima livros, jornais, filmes, músicas, poemas, quadros, cultura.
Do que impõe auto-censura, auto-de-fé próprio, íntimo, corrosivo, frustrante, envergonhado.
Que instila o medo, o pavor.
Medo e pavor do desconhecido, do "bruxo", da "bruxa".
Que atira novos contra velhos.
Que assanha privados contra públicos.
Que acicata empregados contra desempregados.
Que, com ferrete de fogo, rotula raças e faixas etárias.
Que nos querem obrigar a viver sem conhecer a Vida.
E a empobrecer para expiar as culpas deles.
Porque não admitem o Outro, o Diferente, o Alternativo.
E para segurar o poder,
Só geram Medo. Só Medo!
E com ele chantageiam todo um povo.
 
("Perfilados de Medo" - música de José Mário Branco" para poema de Alexandre O'Neill)
 

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