terça-feira, 3 de setembro de 2013

TEMAS IRLANDESES

A recente morte de Seamus Heaney (a 30/08/2013), irlandês e Prémio Nobel da Literatura (1995), muito pouco noticiada, volta os nossos pensamentos para essa ilha de mística beleza que é a Irlanda, e que ele retratou nos seus poemas:
"My grandfather cut more turf in a day
Than any other man on Toner's bog.
Once I carried him milk in a bottle
Corked sloppily with paper. He straightened up
To drink it, then fell to right away
Nicking and slicing neatly, heaving sods
Over his shoulder, going down and down
For the good turf. Digging.
The cold smell of potato mould, the squelch and slap
Of soggy peat, the curt cuts of an edge
Through living roots awaken in my head.
But I've no spade to follow men like them.
Between my finger and my thumb
The squat pen rests.
I'll dig with it."
("Digging", do livro "Death of a Naturalist", 1966)

Da vasta obra deste autor (poesia, prosa, teatro), apenas estão, que se saiba, publicadas "Antologia Poética" (1998-Companhia das Letras) e a bilingue "Luz Eléctrica/Electric Light" (2000-Quasi Edições).

Realça-se que a Irlanda se pode gabar de outros 3 Prémio Nobel: Wiliam Butler Yeats em 1923, George Bernard Shaw, 1925 e Samuel Beckett, 1969. Como curiosidade, refira-se que aquele que é considerado, por muitos, o maior escritor irlandês, James Joyce, nunca foi galardoado com tal distinção.
Mas a Irlanda é mais do que a literatura.
É a sua avassaladora paisagem viva, dos rochedos de Moher aos relevos pedregosos do Burren, das colinas de Connemara ao Ring of Kerry e às ilhas de Aran, das cruzes celtas e dos campos de turfa à estátua de Molly Malone em Dublin, e, aí, ao Trinity College, onde repousa, deslumbrante, o Livro de Kells, feito por monges celtas cerca do ano 800 da nossa era.
Mais do que uma visita turística, a Irlanda merece uma visita contemplativa e enriquecedora dos nossos sentidos.
Ilha rodeada de mar, os irlandeses detestam o mar. Mar que ,lhes trouxe os invasores ingleses de Oliver Cromwell, mar que levou 1.000.000 de irlandeses para a emigração durante a Grande Fome de 1845/49, durante a qual também morreram cerca de 1 milhão de pessoas.
As danças típicas da Irlanda, algumas derivadas da quadrilha continental, manifestam esse desprezo pelo invasor já que, diz a tradição, quando os bailarinos dançam com os braços caídos significa que não colaboram com os ocupantes.

 
Mas a cultura irlandesa revela-se também no teatro, não só graças aos seus geniais dramaturgos (George Bernard Shaw, Oscar Wilde, Samuel Beckett ou Stephen Rea), como, também, à recuperação do teatro tradicional em língua irlandesa, com sede em Galway ("Taibhdhearc na Gaillimhe" - "Galway Theatre"), apoiado e financiado pelo governo irlandês (onde é que já se viu...).
E depois de assistir a uma representação, onde até se podem ver os "caretos" irlandeses, com as suas raízes celtas, vai-se passar mais um bocado da noite, diante de uma Guiness ou de um whisky irlandês no bar An Puchan, também em Galway.
E que dizer da música irlandesa? Conhecida mundialmente, esses sons que bebem nas fontes brumosas da cultura celta, misturando sons que a história e a tecnologia criaram, conquistaram, por direito próprio um lugar único no panorama da música popular dos nossos tempos, com variações para todos os gostos e sensibilidades: dos U2 a Enya, de Davy Spillane aos Dervish, de Sinead O'Connor aos The Corrs, dos The Dubliners aos The Chieftains.

  
 
E num instante, e nesta ilha de sol, chuva, brumas e vento, deambulámos, levemente, por literatura, dança, teatro música. Num país onde, apesar da crise, se defende ferozmente a cultura nacional.
Seja bebendo um copo de Jameson's irlandês, seja ouvindo uma balada romântica (sim muitos vão-se lembrar de ter ouvido isto, há muitos anos, na voz de Cat Stevens. Mas é mesmo uma balada irlandesa). 
 



      

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