terça-feira, 9 de julho de 2013

MEMÓRIAS POÉTICAS

Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!
A alguns deles não procuro, basta saber que eles existem. Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida...mas é delicioso que eu saiba e sinta que eu os adoro, embora não declare e os procure sempre...
Vinicius de Moraes
 
Soneto do Amor Total
Amo-te tanto, meu amor ... não cante
O humano coração com mais verdade ...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.

Amo-te afim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.
Vinicius de Moraes


Nestes dias, em que os vermes assomam à superfície, repelentes, nojentos e irrevogáveis, banhemos os sentidos e a alma bem fundo na Poesia.
Passam hoje 33 anos sobre a morte do grande poeta brasileiro Vinicius de Moraes, cujo centenário também este ano se comemora (nasceu a 19/10/1913).
Diplomata (afastado na sequência do golpe de estado de 1964), dramaturgo, poeta de génio, boémio, Vinicius marcou para sempre a cultura brasileira e mundial.
 
Vinicius de Moraes passou longas temporadas na Europa, sendo visitante assíduo de Portugal, onde protagonizou diversos espectáculos ao lado de nomes como Baden Powell ou Nara Leão.
Autor de vasta obra poética (em Portugal, infelizmente, estão esgotadas a "Antologia Poética" e a "Nova Antologia Poética", ambas da Companhia das Letras, tente-se "Operário em Construção", da Leya, de Maio de 2009), grande parte da qual musicada por autores como António Carlos Jobim, Edu Lobo, Toquinho. Chico Buarque, tornou-se um dos grandes responsáveis pela extraordinária explosão melódica da música brasileira e que seria conhecida por Bossa Nova, sendo co-autor, com Jobim, do disco "Canção do Amor Demais", de Elizeth Cardoso. Desse disco, "Chega de Saudade", com o contributo daquele que, na altura (1958), era o jovem João Gilberto:

   
De músicas e poesias também se falou, cantou e recitou, em Dezembro de 1968, quando, em casa de Amália Rodrigues, e na véspera de este partir para Roma, Vinicius se juntou à Diva do Fado, a David Mourão Ferreira, Natália Correia, José Carlos Ary dos Santos, Alain Oulman e aos guitarristas Fontes Rocha e Pedro Leal se juntaram para um serão único, que passaria a disco: "Amália/Vinicius", editado em 1970, e tornando-se num dos poucos discos de Amália a ser proibido pela Censura (1971).

Destaque-se ainda a obra teatral de Vinicius, designadamente "Orfeu da Conceição", de 1954, que subiria ao palco com arranjos musicais de um jovem compositor então desconhecido, de seu nome António Carlos Brasileiro de Almeida Jobim.
"Orfeu da Conceição" seria transposto para o cinema (1959) por Marcel Camus, tendo ganho a Palma de Ouro do Festival de Cannes, desse ano, o Oscar de 1960 para o Melhor Filme em Língua Estrangeira, e idêntico Globo de Oiro.
Mas a divulgação deste grande poeta deve-se, sobretudo, à sua associação com Tom Jobim, e a Bossa Nova, que mostrou ao mundo o Brasil.

Mas, falando de Bossa Nova, nada se comparou ou compara, a uma simples melodia, uma das mais belas obras musicais da História, classificada pela Biblioteca do Congresso Americano como uma das maiores 50 grandes obras musicais da Humanidade, verdadeiro hino à beleza, ao amor, a todos os sentidos: "Garota de Ipanema" (aqui em duas versões):
 


 
  

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