domingo, 21 de julho de 2013

IN MEMORIAM

O Carlos Pedro tinha um coração onde cabiam todas as amigas e todos os amigos.
às vezes até cabiam quem não deveria caber.
Mas o Carlos Pedro era um homem bom, algarvio de boa cepa, terra do poeta Aleixo.
Era e será, sempre, um grande e inesquecível amigo.
Que nos surpreendia, de vez em quando, no seu estilo um pouco boémio, um pouco Bairro Alto, mas sempre atento e interveniente, dizendo-nos poesia. Como estas, de Bocage, o génio tantas vezes difamado e incompreendido, da nossa literatura:

Já Bocage não sou!... À cova escura
Meu estro vai parar desfeito em vento...
Eu aos céus ultrajei! O meu tormento
Leve me torne sempre a terra dura.

Conheço agora já quão vã figura
Em prosa e verso fez meu louco intento.
Musa!... Tivera algum merecimento,
Se um raio da razão seguisse, pura!

Eu me arrependo; a língua quase fria
Brade em alto pregão à mocidade,
Que atrás do som fantástico corria:

Outro Aretino fui... A santidade
Manchei!... Oh! Se  me creste, gente ímpia,
Rasga meus versos, crê na eternidade!
 
 
Não lamentes, oh Nise, o teu estado;
Puta tem sido muita gente boa;
Putíssimas fidalgas tem Lisboa,
Milhões de vezes putas têm reinado:

Dido foi puta, e puta dum soldado;
Cleópatra por puta alcança a c'roa;
Tu, Lucrécia, com toda a tua proa,
O teu cono não passa por honrado:

Essa da Rússia imperatriz famosa,
Que inda há pouco morreu (diz a Gazeta)
Entre mil porras expirou vaidosa:

Todas no mundo dão a sua greta:
Não fiques, pois, oh Nise, duvidosa
Que isto de virgo e honra é tudo peta.

E entre o sério e o brejeiro, lá íamos na companhia do Carlos.
Estejas onde estiveres, algarvio marafado, bebe um copo do teu apreciado "Monte Velho" tinto em honra dos que tiveram o privilégio de te contar como Amigo.
 
 
 


 

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