sexta-feira, 19 de julho de 2013

MAIS MEMÓRIAS POÉTICAS

 


A 19 de Julho de 1886 morria, vítima de tuberculose, aos 31 anos, o poeta Cesário Verde, poeta de Lisboa e do campo que a cerca, com tons de realidade, naturalista, roçando, também, o impressionismo, decerto influenciado pela poesia de Rimbaud, Baudelaire e Verlaine, e os quadros de Monet e Renoir.
Retratista das vivências de Lisboa e do campo, nada melhor que o poema seguinte para ilustrar o talento desse poeta ainda demasiado desconhecido, mas que talvez influenciasse o heterónimo pessoano de Álvaro de Campos e obrigasse Alberto Caeiro, outro heterónimo, a citá-lo.
É graças ao seu amigo Santos Silva que hoje podemos ler "O Livro de Cesário Verde", editado postumamente em 1901.

 DE TARDE
Naquele piquenique de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.

Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão de bico
Um ramalhete rubro de papoulas.

Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, inda o sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos
E pão de ló molhado em malvasia.

Mas, todo púrpuro, a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas

 

 

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