sexta-feira, 5 de abril de 2013

O BORRÃO

O Sr. Miguel Relvas, que ostentava o sonante título de Ministro Adjunto e dos Assuntos Parlamentares, demitiu-se ontem.
Por vontade própria!
Por não ter condições anímicas para continuar!
Postas-de-pescando que "...só a História julgará com a objectividade e a distância temporal indispensáveis a acção de cada um de nós enquanto agente político".
Vontade própria, quando se sabe que o seu amigo Nuno Crato, que passa por ministro da Educação guardou, durante dois meses (o que, só por si, daria mais do que motivo para nova demissão), um relatório que conclui que o Sr. Relvas burlou a universidade como um todo, a sociedade, o país, atribuindo-se uma licenciatura que nunca teve? É evidente que as conclusões do relatório indicaram a óbvia porta de saída, pela esquerda baixa. E isto para não adiantar o que será o desenrolar do processo no Ministério Público, caso se detecte um ilícito criminal.
Vontade própria quando o país, de norte a sul, pedia a sua demissão, em manifestações que a memória de outros tempos já não recordava, e quando o próprio parceiro de coligação se sentia incomodado com a sua presença no governo?
Por não ter condições anímicas para continuar? E que condições anímicas têm para continuar as dezenas de milhares de jovens que a sua política lançou para o desemprego, para a emigração, para desistirem do futuro, para deixar o país sem a sua geração mais bem preparada?
Esses sim, licenciados.
Esses sim mestres.
Esses sim doutores.
À custa de muito esforço, dedicação, sacrifício, deles e das suas famílias.
Sem recorrerem a expedientes desonestos.
A acção do Sr. Relvas não trouxe qualquer mais-valia para o país. A dita reestruturação da RTP é uma teia de contradições, avanços e recuos, dignos da pior novela mexicana. O dito impulso jovem (muito gosta esta gente de encher a boca com a palavra jovem), é um fiasco, De 90.000 estágios profissionais previstos, ficaram 10.000. O mapa autárquico ficou pela metade. Falta de força anímica, vê-se logo!  A coordenação do governo, e deste com a maioria parlamentar foi algo de simplesmente inexistente.
Ficam o logro da "licenciatura", a tentativa de chantagem com a jornalista Maria José Oliveira e, acima de tudo, a criação, a preparação, o apoio, até a nível de negociatas particulares (Tecnoforma), o conluio e os segredos para rampa de lançamento do seu alter ego, que dá pelo nome de Pedro Passos Coelho. E agora Pedro?
Diz o Sr. Relvas que só a História o julgará.
Senhor Relvas, o interminável livro da História preocupa-se em preencher as suas páginas, com letras, traços, sinais, pontos, que distingam vultos que façam valer a pena folheá-las, lê-las, para que meditemos, aprendamos, discutamos, para o bem ou para o mal, para o belo ou para o horrível, para Gandhi ou Hitler, Beethoven ou Átila.
Não perde tempo com um borrão!
(porque não vai ser aguadeiro na Volta à França? Só que para isso teria de distinguir a mão direita da esquerda)    

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