quinta-feira, 25 de abril de 2013

25 DE ABRIL, MADRUGADA



Poemarma (Manuel Alegre)
Que o poema tenha rodas motores alavancas
Que seja máquina espetáculo cinema.
Que diga à estátua: sai dom caminho que atravancas.
Que seja um autocarro em forma de poema.

Que o poema cante no cimo das chaminés
Que se levante e faça o pino em cada praça.
Que diga quem eu sou e quem tu és
Que não seja só mais um que passa.

Que o poema esprema a gema do seu tema
E que seja apenas um teorema com dois braços.
Que o poema invente um novo estratagema
Para escapar a quem lhe segue os passos.

Que o poema corra salte pule que seja pulga e faça cócegas ao burguês
Que o poema se vista subversivo de ganga azul e vá explicar numa parede alguns porquês.
Que o poema se meta nos anúncios das cidades que seja seta sinalização radar

Que o poema cante em todas as idades (quem lindo!) no presente e no futuro o verbo amar.
Que o poema seja microfone e fale Uma noite destas de repente às três e tal
Para que a lua estoire e o sono estale e a gente acorde finalmente em Portugal.

Que o poema seja encontro onde era despedida.
Que participe. Comunique. E destrua para sempre a distância entre a arte e a vida.
Que salte do papel para a página da rua.

Que seja experimentado muito mais que experimental que tenha ideias sim mas também pernas
E até se partir uma não faz mal: antes de muletas que de asas eternas.
Que o poema fique. E que ficando se aplique
A não criar barriga a não usar chinelos.

Que o poema seja um novo Infante Henrique
Voltado para dentro. E sem castelos.
Que o poema vista de domingo cada dia

E atire foguetes para dentro do quotidiano.
Que o poema vista a prosa de poesia
Ao menos uma vez em cada ano.

Que o poema faça um poeta de cada funcionário já farto de funcionar.
Ah que de novo acorde no lusíada a saudade do novo o desejo de achar.
Que o poema diga o que é preciso que chegue disfarçado ao pé de ti.

E aponte a terra que tu pisas e eu piso.
E que o poema diga: o longe é aqui.





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