terça-feira, 16 de abril de 2013

CHARLOT



" Um dia sem rir é um dia desperdiçado"
"Creio no riso e nas lágrimas como antídotos contra o ódio e o terror"
"Há uma coisa tão inevitável como a morte: A Vida!" 

Estas frases pertencem a um homem nascido a 16 de Abril de 1889, Charles Spencer Chaplin, Charlie Chaplin, Charlot, o maior Artista de cinema de sempre e um dos maiores expoentes da nossa Cultura, em todos os tempos.
Chaplin foi praticamente quase tudo no campo das artes: Actor, cineasta, produtor, empresário, escritor, poeta, dançarino, coreógrafo, humorista, mimo, regente de orquestra, músico.

("Eternally", música-tema de "Limelight" (As Luzes da Ribalta), de 1952)

 

Desde os começos humildes em Londres, onde, juntamente com o irmão Sidney representava em locais pouco recomendáveis, até à consagração, o percurso de Chaplin é coerente, firme, criativo até ao limite, representando e dirigindo as suas obras, onde sempre soube dosear o humor, a ternura, o protesto, a poesia, a crueza, o amor, inovando, aperfeiçoando, e defendendo intransigentemente os seus direitos autorais.
Sem qualquer exagero, pode-se dizer que havia um cinema antes de Chaplin, e outro depois de Chaplin.
Assinando um primeiro contrato com a Keystone, participa, em 1914, em 35 filmes, inicialmente dirigidos por Mack Sennett, especialista em comédias de polícias-a-perseguir-ladrões e bolos-na-cara, Chaplin vai   transformar esse tipo de comédias, dando ao cinema o estatuto de arte que viria a ter, bem antecedido por George Méliés (vd. "A Invenção de Hugo", de Martin Scorcese, 2011) e acompanhado por David Wark Griffith, entre outros.
Num dos filmes da Keystone ("Kids Auto Races at Venice") surge a figura inconfundível do vagabundo: chapéu de coco, bengala, bigodinho curto, casaco esfarrapado, calças puídas, sapatos cambados, dois números bem acima do seu tamanho. Este vagabundo-gentleman, misto de sem abrigo e nobre, especialmente nos sentimentos, fará a felicidade de gerações e gerações de espectadores, até agora e no futuro. Chaplin já faz parte do nosso ADN cultural.
Depois da Keystone, fará ainda 15 filmes para a Essanay (entre os quais o fabuloso "The Immigrant" (O Emigrante)), 12 para a Mutual, e 9 para a First National (destaca-se "The Kid" (O Garoto de Charlot)).
Opondo-se à política dos grandes estúdios, que só viam o lucro antes da arte, Chaplin, juntamente com Douglas Fairbanls e Mary Pickford, fundam, em 1919 a United Artists, para a qual Chaplin realizará os últimos 9 filmes em território americano: "A Woman of Paris" (1923), considerado pelo saudoso João Bénard da Costa um dos filmes da sua vida (João Bénard da Costa "Os Filmes da Minha Vida", 2º. volume, Assírio & Alvim, 2007), e sobre o qual escreve "... .Ninguém pode perceber a evolução do cinema de Hollywood (a arte de tudo mostrar, tudo ocultando) sem conhecer A Woman of Paris.".  
Em 1925 surge "Gold Rush" (A Quimera do Ouro), geralmente considerado um dos melhores filmes de todos os tempos (antológicas as cenas dos atacadores/esparguetes e do sapato com espinhas/pregos), em 1928 "The Circus", que vem a ganhar no ano seguinte um Oscar honorário pelo contributo .para a  evolução da arte cinematográfica, em 1931 "City Lights" (As Luzes da Cidade), de sublime poesia, em 1936 "Modern Times" (Tempos Modernos), também considerado um dos melhoes filmes de sempre, e impiedosa crítica do capitalismo e da transformação do ser humano em máquina acéfala (onde é que eu já vi isto?) e, por fim, em 1940 "The Great Dictator" (O Grande Ditador), feroz crítica verrinosa, plena de humor, a Adolfo Hitler e ao seu compadre Mussolini, numa América ainda oficialmente neutra. Foi o primeiro filme falado de Chaplin, 13 anos após a invenção do cinema sonoro.
No pós-guerra, dirige, em 1947 "Monsieur Verdoux", também uma cáustica sátira ao capitalismo e à moral de fachada. 
Em 1952 surge outra belissima comédia trágica, "Limelight" (As Luzes da Ribalta), quase um Pigmalião chaplinesco, e em que a música "Eternally" ficaria...para a eternidade.
Nunca mais voltaria a filmar nos EUA.
Com o agudizar da paranóia onde se viam antiamericanos em todos os buracos, e o pavor do comunismo, centenas de norte-americanos foram perseguidos pelo designado Comité de Actividades Anti-Americanas, dirigido pelo sinistro senador Joseph McCarthy, designadamente intelectuais. Entre eles, foi incluído Chaplin, acusado de simpatias comunistas (!).
Aproveitando uma deslocação a Londres, o FBI (sob a batuta do seu implacável director J. Edgar Hoover) revogou o visto de Chaplin, exilando-o. "Limelight" foi banido dos ecrãs americanos, menos de uma semana depois de estrear.
Chaplin fixaria, então, residência na Suíça.
Ironicamente, Chaplin foi "reabilitado" (Charlot rir-se-ia às gargalhadas) e "Limelight" seria reexibido em 1972 tendo, em 1973, ganho o Oscar de melhor música original (Eternally).
Seria já na sua terra natal que Chaplin rodaria os seus 2 últimos filmes, "A King in New York" (Um Rei em Nova Iorque), de 1957 e "A Countess of Honk Kong" (A Condessa de Hong Kong), de 1967, onde juntou outros dois nomes maiores do cinema: Sophia Loren e Marlon Brando.
Chaplin influenciou irreversivelmente a maneira e o modo de filmar, a narrativa, a montagem, o desempenho, a partitura musical, a coreografia, juntando a tudo, e sempre, o humor, a beleza, a crítica, a poesia, o riso e as lágrimas.
Todos nós ficámos melhores e muito mais humanos, depois de ver e sentir um filme de Chaplin!
De Fellini a Peter Sellers, Marcel Marceau a Jacques Tati, Rowan Atkinson a Johnny Depp, e mesmo Michael Jackson ( o seu Moonwalk, a par do andar de Charlot são consideradas 2 coreografias únicas), todos beberam da água cristalina do mestre vagabundo. 
Em 1972 receberia um Oscar honorário pelo seu contributo único para a história do cinema. Hollywood nunca assistira, nem viria a assistir, a uma ovação de pé durante 10 minutos.
Charlot, que criou o cinema, mereceu-o.
Nós tivemos a honra e o privilégio de ainda sermos contemporâneos desse génio único.
Morreu no Dia de Natal de 1977.
Decerto com um sorriso, acompanhado de uma lágrima ao canto do olho...

("Smile", de "Modern Times" (Tempos Modernos), de 1936, interpretada por Michael Jackson)






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