terça-feira, 7 de abril de 2015

A MORTE NÃO É IGUAL PARA TODOS

 
No dia 2 de Abril, um grupo terrorista, alegadamente ligado a organizações que pregam uma leitura fanatizada do Islão, entraram na Universidade de Garissa, no Quénia, e assassinaram 148 jovens estudantes.
No Quénia, África, Terceiro Mundo...
Onde estão os "Je suis Charlie", onde estão as pázadas de chefes de estado de mãos dadas, onde estão os desfiles de desagravo, os artigos inflamados, as reportagens manipuladoras, o horror a entrar em directo, com enviados especiais e tudo?
Afinal  , a mesma maciça cobertura jornalística que foi dedicada à queda do Airbus da Germanwings, provocada, alegadamente, pelo co-piloto Andreas Lubitz, vítima de depressão e com tendências suicidas, e que assassinou 149 pessoas.
Claro que nada disto justifica o assassinato cobarde dos jornalistas e polícias franceses, ou a atitude tresloucada de um ariano alemão.
Mas enquanto estes acontecimentos foram alvo de intenso acompanhamento mediático, de tomada de posições públicas por parte de inúmeros responsáveis políticos, de mobilizações populares, no que a Garissa diz respeito...quase nada.
Tal como em relação à guerra civil no Iémen, aos assaltos do Boko Haram na Nigéria ou às ofensivas do criminoso Estado Islâmico (curioso: quem diz representar a pureza do Islão não deveria eleger o estado desestabilizador de Israel como o principal inimigo...?).
No fundo, é apenas o espelho de um racismo colonialista ainda latente, para quem os problemas do Terceiro Mundo não existem. Encolhem-se os ombros e varre-se para debaixo do tapete.
Como seria diferente se os 148 universitários mortos fossem alunos de Nanterre, da Sorbonne, de Oxford ou Cambridge...
Ou se o co-piloto do avião da Germanwings, em vez de um alemão ariano e loiro, tivesse o rosto mais escuro e se chamasse Hassan ou Yussuf. Seria logo um terrorista, como Lubitz o foi. 

("Vejam bem" - José Afonso)

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