segunda-feira, 20 de abril de 2015

ABRIL EM ABRIL - I

(Mariano Gago)
 
Abril de Abril

Era um Abril de amigo Abril de trigo
Abril de trevo e trégua e vinho e húmus
Abril de novos ritmos novos rumos.

Era um Abril comigo Abril contigo
ainda só ardor e sem ardil
Abril sem adjectivo Abril de Abril.

Era um Abril na praça Abril de massas
era um Abril na rua Abril a rodos
Abril de sol que nasce para todos.

Abril de vinho e sonho em nossas taças
era um Abril de clava Abril em acto
em mil novecentos e setenta e quatro.

Era um Abril viril Abril tão bravo
Abril de boca a abrir-se Abril palavra
esse Abril em que Abril se libertava.

Era um Abril de clava Abril de cravo
Abril de mão na mão e sem fantasmas
esse Abril em que Abril floriu nas armas.
(Manuel Alegre)

Para os mais esquecidos, ou para os que sofrem de amnésia súbita e selectiva, convém recordar que havia um país antes de Abril.
Um país, onde, em 1970, se contavam quase 1.800.000 analfabetos, em comparação com os menos de 500.000,  40 anos depois.
Ou um país que, em 1970, contava menos de 50.000 licenciados, em absoluto contraste com, 40 anos depois, os mais de 1.200.000 portuguesas e portugueses com formação superior.
Um país que não sabia o que era Ciência, Inovação, Investigação & Desenvolvimento, onde ler, escrever e contar seria o essencial, onde o lugar da mulher era na cozinha e onde estudar era olhado de lado e com desconfiança.
Um país que, 40 anos depois, contava mais de 2.600 doutorados, mais de 15.000 publicações científicas e mais de 44.000 investigadores.*
Uma riqueza não mensurável em termos simplórios de deve/haver, mas que é, para quem o saiba projectar no futuro, a base de um país desenvolvido.
Mariano Gago, homem de Abril, sabia-o, e colocou a Ciência, a I &D, a Inovação, no centro do debate político.
Homem que faz muita falta a este país.
E cujo legado está, fria e ideologicamente, a ser destruído, por quem deseja, ardentemente, um país pobre.
Pobre nos bolsos, pobre nas ideias.
Pelo que não admiram o "elogio" desprezível e mesquinho de Passos Coelho e a indiferença parola do zombie de Belém, infinitamente longe da estatura de Mariano Gago.
Ignorantes e analfabetos.
E, por isso, perigosos, muito perigosos.
 
* - Dados do portal "Pordata".
 

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