terça-feira, 6 de maio de 2014

O CHARLATÃO

 
Coelho anunciou, com pompa e circunstância, a saída "limpa" do programa de ajustamento.
De imediato, o Sr. Silva de Belém fez publicar na sua página no Facebook a seguinte mensagem:


"O que mais me vem à memória, no dia de hoje, são as afirmações perentórias de agentes políticos, comentadores e analistas, nacionais e estrangeiros ainda há menos de seis meses, de que Portugal não conseguiria evitar um segundo resgate. O que dizem agora?
Neste tempo pré-eleitoral é apenas isto que respondo a todos aqueles que pedem a minha reação ao anúncio de ontem de que Portugal não recorrerá a qualquer programa cautelar, ao mesmo tempo que lhes recomendo a leitura integral – e não truncada – do prefácio que escrevi para Roteiros VIII, disponível na página oficial da Presidência da República na Internet."
(negrito da responsabilidade do autor deste blogue)

Sua Excelência imiscui-se no debate político, apoiando, clara e literalmente, um dos lados do debate.
Sua Excelência, assim, transforma o órgão institucional Presidência da República num apoiante confesso da linha ideológica e programática do actual Governo e de quem o sustenta.
O que, convenha-se, não é digno de quem ostenta o cargo de Presidente da República.
Diga a verdade, porém, que não é algo de admirar quanto à habitual postura política de Sua Excelência.
Mais, quanto à sua postura ideológica.
Mas, com a sua soberba de que nunca se engana e raramente tem dúvidas, Sua Excelência tropeça nas suas palavras.
Há menos de um ano, Sua Excelência aventava a hipótese de um segundo resgate.
Há menos de dois meses, Sua Excelência defendia um programa cautelar.
Pegando nas suas próprias palavras, o que dirá agora Sua Excelência?
Desenganem-se com quem nunca nos enganou.
Sua Excelência, pela sua clara falta de cultura, pela sua mesquinhez e raiva incontida, pelo complexo de inferioridade, é o verdadeiro rosto da troika.
Sua Excelência há quase trinta anos é o rosto da mediocridade e do despesismo neste país.
Sua Excelência que gastou milhões não reprodutivos ou produtivos, em obras de fachada, para português ver e abrir a boca.
Sua Excelência que não arriscou na inovação, na investigação, no futuro.
Sua Excelência que tudo fez para que o actual Governo se alçasse ao poder e pudesse aplicar, enfim, a sua agenda ideológica.
Sua, do Sr. Silva de Belém.
Que despreza as leis do seu país.
Que consente que outros se imiscuam na actividade de um órgão de soberania como o Tribunal Constitucional, como ainda agora sucedeu com a Comissão Europeia.
Em clara violação do Tratado constitutivo da União Europeia. 
Sua Excelência que apenas admite uma teoria, uma prática, um comportamento, uma unanimidade, uma união nacional.
Sua Excelência sempre pretendeu um país manso, abúlico, pobrezinho mas honesto, rural, provinciano.
Que cale e consinta.
E se vergue.
Como ele, que inveja quem pretenda, e prove, ser mais evoluído e libertar-se de estereótipos.
E pensar diferente.
Durão Barroso, Coelho, Portas, não passam de títeres nas mãos escondidas de Cavaco.
Mãos atrás dos arbustos de Belém.
Mas talvez este calculismo frio e desapiedado lhe saia furado.
E que a criatura venha a matar o criador.
A vingança, às vezes serve-se fria.
É melhor ir aprendendo, Sr. Frankenstein de Belém.
Por muito que deteste o ensino.
Apesar de lhe ir escasseando o tempo...
("O Charlatão - Sérgio Godinho)

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