domingo, 25 de maio de 2014

JOSÉ MÁRIO BRANCO, EH COMPANHEIRO!


("Eh Companheiro" - José Mário com Carlos do Carmo e António Vitorino d'Almeida)

José Mário Branco nasceu no Porto a 25 de Maio de 1942, frequentou o curso de História na Universidade de Coimbra, e interrompeu os estudos, em 1963, fugindo à guerra colonial e exilando-se em Paris.
Talvez seja injusto para muita gente, mas pode dizer-se que há uma música de intervenção em Portugal antes de José Mário, e outra depois.
Até 1969, e desde os finais dos anos 50, que o canto político é associado à balada (Zeca Afonso, Luís Cília, Adriano, entre outros distintos músicos), acompanhada geralmente por guitarra. É o chamado tempo dos "baladeiros" (sem qualquer carga depreciativa), que seria consagrado nesse programa fracturante da RTP que, em 1969, deu pelo nome, ainda inesquecível, de "Zip-Zip".
Em 1971, surge, vindo de Paris, o álbum "Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades", de José Mário Branco, que agitou, definitivamente, as águas das canções de intervenção.
("Perfilados de Medo", poema de Alexandre O'Neill, música de José Mário, do álbum "Mudam-se os Tempos...")

Ao canto de intervenção pressente-se que já não bastam a qualidade da música e do poema. É preciso orquestração, instrumentos, arranjos, harmonias, vestir as músicas para as transformar em Canções. 
José Mário Branco, já então dotado de enorme bagagem técnica, a nível da composição, regência de orquestra e orquestração, é o grande responsável por esse salto qualitativo dos "baladeiros".
Nesse mesmo ano de 1971 produz e colabora no primeiro disco de Sérgio Godinho ("Sobreviventes", lançado em Portugal em 1972) e, acima de tudo, veste as grandes músicas e poemas de José Afonso, e presenteiam-nos, também em 1971, com "Cantigas do Maio" que, ainda hoje, para muitos músicos e críticos, continua a ser o expoente máximo da música portuguesa e do qual, por exemplo, "Coro da Primavera" justifica porque já é parte da Grande Música:
 
Antes do 25 de Abril, em 1973, José Mário ainda grava "Margem de Certa Maneira".
Com o regresso à Pátria natal após a Revolução dos Cravos, profundamente empenhado na dinamização política e cultural permitida por esse dia "inicial, inteiro e limpo", José Mário Branco é um dos fundadores do Grupo de Acção Cultural-Vozes na Luta que, durante perto de três anos, anima colectividades, cidades, aldeias, campos, fábricas, bairros, publica quatro álbuns (os dois últimos já sem José Mário), desperta consciências e vontades adormecidas, e utiliza a arma que melhor conhece: A cantiga.

 
("A Cantiga É Uma Arma" - G.A.C. - Vozes na Luta)

Mas o trabalho de José Mário não se restringe ao GAC ou ao trabalho a solo realizado posteriormente.
Colabora activa e militantemente (é o termo!) em trabalhos de companheiros das cantigas, como Sérgio Godinho, Fausto, Gaiteiros de Lisboa, Amélia Muge, Janita Salomé, Camané, José Jorge Letria, Carlos do Carmo ou o sempre jovem José Afonso, até ao seu último alento.
Compõe para cinema e teatro, realiza espectáculos pelo país e pela diáspora.
Em 2004 publica o que, até à data, é o seu último trabalho, "Resistir é Vencer", especialmente dedicado ao povo de Timor-Leste, e, como curiosidade, diga-se que em 2006 completou a licenciatura em Linguística, na Faculdade de Letras de Lisboa.
Se ainda há muito a esperar do imenso talento deste homem da nossa Cultura, o facto é que parece que a Grande Música do nosso país lhe deve uma homenagem e um respeito mais do que merecido.
José Mário Branco é uma figura incontornável desta terra que é nossa e, como diria o poeta José Fanha, continua sempre com o mês de Abril a voar-lhe dentro do peito.
  
 
("Eu Vim de Longe", do álbum "Ser Solidário", de 1982)

   

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