sábado, 17 de maio de 2014

17 DE MAIO: É HOJE! É HOJE! O RELÒGIO DO PAULO MARCA A HORA!



Isto hoje aqui no bairro vai numa corrida e numa barafunda, o gaiato Paulo, de pochette cor-de-rosa debaixo do braço, não pára de correr, aos pulos, a berrar "é hoje! é hoje!", até parece que andou a fumar uns drunfos, está eufórico, parece que uns danados pindéricos que dão pelo nome de troica vão bazar, e nem trocos nos dão, vai fermoso e bem seguro, bem, seguro talvez não, que este não é do bairro, da malta de cá é o Coelho da toca do dito, que quer preparar uma reunião da família dele, até foi desencaminhar uns marujos camones ao Cais do Sodré, perdidos de bêbedos, que, diz ele, é para os bifes da estranja saberem que "é hoje", até rebocou para a festa o chinoca Barroso, que anda lá por fora a ser o rafeiro dos boches, "é hoje que reconquistamos a independência", ou o catrino ou o camandro, seja lá o que for, bifes talvez não, que ele diz que no bairro não há possibilidade de viver de acima dos bifes, só carapaus alimados, e vivó Silva, o tal Silva dos pastéis, a gente anda à cata dele, parece que se perdeu na loja do chinês, enfim é com ele, que não diz coisa com coisa, e depois quem perde é o Benfica, a propósito o meu papá ainda não acordou do desgosto, ainda está de borco, a ressonar como um porco, em cima das cervejas, com uma cardina do tamanho da dívida, na tasca da Assunçãozinha, a tal que quis convidar uma bruxa para a festa, lá coisas do além, ou dos santinhos, quer-se dizer, a gente também queria o Jesus para a festa de "é hoje!", mas ele disse-nos "tu tens de ver que não têramos tempo para festa, têramos de ganharmos a Taça, tá", e deu de frosques, felizmente fica-nos o puto Dálmata Rangido e peludo, que com o Melo que tem a mania que é fino e não passa de casca grossa, já  estão a comemorar desde ontem, já se alambazaram com meia dúzia de espumantes, é para a festa, quer-se lá saber da economia a minguar, o que a gente quer é futebol e festa, e "é hoje! é hoje!", o Paulo delicado e deliciado, até diz que o máximo vai ser quando o relógio dele, o tal que marca a hora como o Tony de Matos (sei lá quem é!) bater as doze horas na torre do alambique do São Dinis das ferragens, vai ser foguetório, porque "é hoje! é hoje!", é baril, o máximo, bué da fixe, graças ao Paulo, ao Coelho, ao Silva, a cambada toda, seja lá o que for, que de há três anos a esta parte ainda não cheirei népia, até dizem que vão atirar gente pelas janelas, como fizeram há anos a um tal Vasconcelos, eu cá não sei é verdade, mas gostava de ver o Paulo, o Coelho e o Silva voarem por aí, mas aqui no bairro ninguém liga puto, ainda acaba tudo entornado e feliz no Marquês de Pombal, e eu vou aproveitar, topam, digo, ao Pombal, baixinho, para o bairro não ouvir: "Marquês, vem cá abaixo que eles estão cá outra vez!".
E prontxo!!
("Portugal na CEE" - GNR - enfim, algo sério) 

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