quarta-feira, 28 de maio de 2014

ELEIÇÕES EUROPEIAS (?) - II - A EUROPA ESTILHAÇADA

O resultado das eleições europeias de 25 de Maio último foi, de facto, um terramoto político.
Os europeus mostraram, de facto, estar cansados de uma União(?) autista, burocrática, cega, surda, muda, que se entregou nos braços de uma potência dominante, a Alemanha.
Em Portugal, o poder vigente é quase varrido, mas um inseguro Seguro não consegue capitalizar o descontentamento, enquanto um populista Marinho e Pinto arrebata votos de protesto, sob a capa, sempre extremamente perigosa, do anti-partidarismo, da ausência de ideologia, o que não deixa de ser uma posição ideológica onde se pode acolher toda a demagogia e todo o potencial golpismo anti-democrático.
Alguém que se intitula sem ideologia é potencialmente mais pernicioso do quem assume o seu credo, seja de direita ou de esquerda.
E como classificar que 1/4 dos franceses, da Pátria da Liberdade, da Igualdade, da Fraternidade, do Maio de 68, se entreguem a quem, dentro da União, a combate, prega o chauvinismo, a xenofobia, o isolacionismo, sob a bandeira da Frente Nacional?
E os assomos fascizantes e nazis na Dinamarca, Alemanha, Hungria?
Salve-se o Syriza na  Grécia, pátria da civilização e da democracia.
Disto tudo sai uma União Europeia esfrangalhada, decadente, numa encruzilhada na qual, voluntariamente, meteu o pescoço.
A Europa era visto como um continente de solidariedade, entre-ajuda, fraternidade, progresso.
Com Reagan e Thatcher os mercados deixam de ser controlados, a desregulação é total. Todo o poder aos capitais e à sua libérrima circulação e influência.
E a Europa, especialmente depois de Maastricht,1992, vai na onda.
O Estado social europeu começa a ser atacado, não por falta de recursos para o sustentar, como arengam Camilos e Ferreiras lacaios, mas porque a transferência, cada vez em maior escala, dos recursos produzidos, do trabalho para o capital produz essa artificial escassez de financiamento, crescendo exponencialmente a acumulação capitalista não produtiva.
E quando os fundadores da Europa renegam o seu passado, a crise acentua-se, e os povos da Europa vêem-se órfãos e sem alternativas.
Especialmente quando os partidos da chamada Internacional Socialista, e mesmo alguns Partidos Comunistas recusam o seu ADN, seja ele Marx, Engels, Lenine, Jaurès, Proudhon ou até Keynes, e adoptam a acéfala "Terceira Via", adaptando ao seu discurso a narrativa ultra-liberal de direita, para quem os mercados são o Deus e a Igreja (e a direita mandando às malvas a chamada "doutrina social da Igreja"...).
No fundo, e essencialmente, é essa descaracterização da esquerda, que parece complexada depois de Gorbachev e da queda do Muro de Berlim, aliada às decisões ineptas da União, designadamente uma mal arquitectada União Monetária, uma inexistente política externa comum (vejam-se as asneiras praticadas na ex-Jugoslávia e, agora, na Ucrânia), a ausência de políticas comuns no âmbito financeiro, fiscal, bancário, social, que precipita a Europa no abismo, nos braços de quem mais se aproveitou da situação (a Alemanha), e os europeus no regaço daqueles que, dissimuladamente, pegam nas bandeiras que a esquerda deixou cair para, posteriormente, as transformar no domínio das teses ultra-liberais, do autoritarismo, da extinção progressiva da democracia, que será transformada num empecilho para o completo domínio do capital, e da aniquilição de qualquer política social.
Amargamente, a Europa resvala para o precipício, a menos que se torne, de facto a Europa dos povos.
E não será com pessoas que enterram a cabeça na areia como Barroso, Rompuy ou Ashton que conseguirá renascer. São demasiado medíocres e incompetentes para tal.
Os povos europeus terão de lutar de novo pela sua emancipação, e a ideologia retomar o lugar que nunca deveria ter perdido, especial, e fundamentalmente, a que construiu a Europa Social, porque sem um estado social, e cultural, não há democracia nem um nível de vida decente, humano e sustentável, como já provou sê-lo.
Definitivanente, não foi por e para esta actual Europa que os nossos avós morreram nas praias da Normandia... 



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